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3.3 - CAUSAS, CONDIÇÕES E EFEITOS DA DOLARIZAÇÃO.

O processo de dolarização da economia tem-se mostrado muito eficiente no combate à inflação, mas os seus "efeitos colaterais" são bastante penosos para o país, tais como a impossibilidade do controle de emissão de moeda (perda da autonomia da política monetária) e a futura estagnação econômica, por causa do pequeno volume de moeda disponível para desenvolver as atividades econômicas internas necessárias.

Existem certas condições que um país necessita para adotar a dolarização da economia. A implementação dessa política econômica pressupõe as seguintes condições: "a) a conversibilidade da moeda, que, nas condições de desconfiança absoluta, exige a correspondência entre o estoque de meios de pagamento da economia e as reservas cambiais; b) a fixação da taxa de câmbio, ou seja, dos termos em que a autoridade monetária aceita converter qualquer quantidade de moeda". O Brasil mesmo se entrar em um processo de hiperinflação, também necessitará destas condições técnicas para implementar a dolarização. Apesar do Brasil estar situado geograficamente próximo à Argentina, e também ser um país do terceiro mundo, estes dois países estão muito distantes, em termos de condições necessárias para a adoção da dolarização.

No curto prazo a dolarização pode realmente trazer uma estabilidade econômica. Apesar disso o governo passa a enfrentar alguns problemas com relação ao controle de dinheiro no país, pois o governo não controla mais a emissão de moeda e assim transfere este controle para o país emitente da moeda estrangeira adotada, passando assim a financiá-lo.

Na Argentina, o processo de dolarização se deu de uma forma um pouco diferente, pois em um primeiro momento haviam duas moedas em circulação, o austral e o dólar. Isto aconteceu para que as pessoas utilizassem os dólares que estavam sendo guardados como reserva de valor para as transações do dia-a-dia, e posteriormente tanto o austral quanto o dólar foram substituídos gradativamente pela nova moeda nacional, o peso.

Para a dolarização ocorrer em uma determinada economia, é necessário que esta economia esteja passando por um processo de inflação muito acentuado (ou até mesmo uma hiperinflação), é necessário também que os agentes econômicos não confiem mais nas estratégias governamentais (perda de credibilidade) de combate à inflação (as quais são executadas por meio de choques anti-inflacionários que não atingem os seus objetivos), fazendo assim com que haja uma demanda muito elevada por moeda forte (no caso, o dólar). É necessário também que não haja outros indexadores na economia como os títulos públicos, depósitos de poupança e depósito a longo prazo com rentabilidade acima do dólar, ou com base na variação do dólar.

O dólar passa a ter o papel de indexador da economia. Os aluguéis, os preços das mercadorias, as mensalidades escolares, os salários dos trabalhadores e até mesmo futuras transações imobiliárias serão reajustadas com base no dólar. Posteriormente, em um nível mais elevado, as transações serão realizadas diretamente com dólar, tendo assim uma verdadeira substituição da moeda nacional pelo dólar.

A fixação da taxa de câmbio é de fundamental importância no processo de dolarização pois, com ela, a moeda nacional, começa um processo de recuperação de sua credibilidade em virtude da não desvalorização da moeda nacional face ao dólar. Esta recuperação da credibilidade da moeda nacional é importante porque no momento em que for necessário resgatar a utilização da moeda , este resgate será realizado sem muito esforço.

A dolarização é bem assimilada pelos agentes econômicos e também pela população em geral, por causa da indexação dos preços e dos salários pelo dólar. Com isto passa a existir apenas um indexador, e não vários indexadores que faziam com que o aumento dos preços das mercadorias fossem diferentes dos aumentos dos salários. Além disso, com a dolarização, praticamente não existirá mais problemas com relação à periodicidade, pois o dólar é um indexador diário. Observa-se também que ao se fixar a taxa de câmbio, todos os preços em moeda nacional permanecem inalterados.

Para se fixar a taxa de câmbio, o país terá que enfrentar uma grande dificuldade, que é a de como mobilizar reservas internacionais para conseguir implementar a conversibilidade da moeda nacional à taxa fixada. Existem alguns pontos a serem analisados com relação a esta dificuldade.

Em primeiro lugar, a taxa de cobertura necessária para sustentar a conversibilidade varia de país para país, à medida em que se tem (ou não) confiança na política econômica adotada pelo governo. Quando existe confiança por parte da população, a percentagem da moeda nacional efetivamente conversível será pequena. Porém, se não existe confiança no governo, por causa da instabilidade que reina no país, esta percentagem da moeda nacional que será convertida tende a ser significativamente maior.

Nos países tradicionalmente sujeitos à instabilidade econômica observa-se uma perda de credibilidade tanto no governo quanto nas políticas adotadas por esse governo. Por essa falta de credibilidade no governo ( e em suas políticas econômicas), a taxa de cobertura , ou seja, a percentagem da moeda nacional que poderá ser convertida, estará em um nível bastante elevado, dificultando a mobilização das reservas internacionais para se implementar a conversibilidade. Com isso se torna fácil perceber como a instabilidade econômica de um país, é responsável por gerar uma perda de credibilidade nas políticas governamentais, fazendo com que se torne difícil atingir a conversibilidade por causa da elevada taxa de cobertura.

O montante de reservas internacionais necessárias para sustentar a conversibilidade varia de acordo com o tamanho do país. Nota-se que o valor da base monetária (em dólares) de um país com inflação alta tende a ser pequeno, com isto o governo não teria problemas com o seu lastro. O problema é que a quantidade de reservas internacionais necessárias para a conversibilidade tem que ser medida pela base monetária (em dólares) com inflação zero, e neste caso, o valor da base monetária seria significativamente superior ao seu valor com uma inflação alta. "Se hoje a base monetária no Brasil está em aproximadamente, 1,5% do PIB, seu valor com inflação zero, pode se multiplicar por algo em torno de 6 ou 8 vezes, dependendo ,evidentemente, de qual seja a demanda por base monetária a preços estáveis". Nota-se então que, quanto maior for o grau de monetização (M1/PIB) de um país, maior será o tamanho das reservas necessárias para se sustentar a conversibilidade, e consequentemente, maior será a dificuldade do país para conseguir as reservas necessárias.

E por último, o país deve aumentar o grau de abertura da economia (com relação ao comércio exterior) para conseguir um montante de reservas necessárias para a conversibilidade, pois com a abertura econômica se torna bem mais fácil a entrada da moeda norte-americana no país.

Não é nada complicado para uma economia, em que as exportações atingem um percentual elevado do PIB, mobilizar um percentual baixo do PIB em reservas. O problema é quando as exportações de um país não representam um percentual elevado do PIB, pois serão necessários vários meses para o país mobilizar um montante de reservas necessários para a conversibilidade.

Pela análise desses três pontos, observa-se que quanto mais instável for a economia, quanto maior for o grau de monetização da economia e quanto mais fechada for a economia, maior será a dificuldade dessa economia em atingir a conversibilidade.

 





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CAPÍTULO 3 - A AMEAÇA DE DOLARIZAÇÃO NA ECONOMIA BRASILEIRA NA DÉCADA DE OITENTA

3.1 - Introdução

3.2 - A Dolarização

3.2.1 - Conceito

3.2.2 - Tipos de Dolarização

3.3 - Causa, Condições e Efeitos da Dolarização

3.4 - A Dolarização no Brasil

3.5 - Conclusão




| CAPA |
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| CAPÍTULO 2 | | CAPÍTULO 3 | | CONCLUSÃO GERAL | | BIBLIOGRAFIA |