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WEBJORNAIS LABORATÓRIOS


‘Ensinar investigando, investigar ensinando e ensinar a investigar: o professor que não investiga não tem condições de acompanhar os progressos de sua área’. Mas, as dificuldades quadruplicaram: a informática inverteu a relação pedagógica e, hoje, os alunos ‘sabem’ (em conhecimentos técnicos) mais que seus professores. Como fazer desse novo relacionamento de aprendizado recíproco professor/aluno algo realmente produtivo e não em uma dupla resistência a verdadeira educação?

Tudo começou quando, sentindo necessidade de participar do debate nacional sobre o currículo de Comunicação, criei a primeira versão d'O Encantador de Serpentes.  Nele, defini a divisão metodológica entre pauta/ciência (objetividade), reportagem/arte (subjetividade) e edição/interatividade (intersubjetividade).

Meus alunos, no entanto, insatisfeitos com o fato do nome 'O Encantador de Serpentes' fazer uma alusão a um professor encantador diante de uma audiência de cobras, me surpreenderam quando colocaram minha teoria em prática e no ar a sua própria revista 'Encantadores de Serpente' (com o singular e plural invertidos) - para, segundo eles, 'além de trabalharmos a nível nacional as questões do ensino de Comunicação Social, possamos também interagir com as demandas locais do nosso curso e de nossa universidade'. 

E deste casamento interativo, entre o ensino local e o aprendizado global, nasceu o  projeto Aprendiz de Jornalista, como uma via de mão dupla: eu aprendo sobre internet com meus alunos e ensino para eles o ofício de redigir e noticiar. Trabalho com calouros do primeiro e segundo período. Não há bolsas ou qualquer incentivo: apenas as matérias valem nota nas disciplinas. Talvez as matérias não sejam tão boas como se fossem feitas por alunos mais adiantados, mas em termos de animação é bem mais fácil de trabalhar com quem está entrando. Além do que, um bom número dos calouros já sabe editar em HTML e usar FTP e até já trabalham em algum veículo "não-laboratório". Alguns acham até que não tem nada a aprender na universidade e só precisam do diploma. Mas como também tem a turma que não sabe de nada, a dificuldade, muitas vezes, é nivelar o trabalho dos grupos. E convencer a todos a aprender uns com os outros. Esse é o desafio. Estamos na terceira edição, mas apenas a atual e a anterior estão disponíveis.

A proposta de um jornal laboratório na internet desencadeou uma verdadeira revolução no curso. De um lado, fomos ameaçados oficialmente, pela chefia e outros professores, com inquérito administrativo e processo judicial pela utilização indevida no nome do departamento. Por outro, estudantes de todos os níveis ávidos por aprender e usar a internet para expressar suas opiniões com liberdade e alcance público. Formatamos até um projeto de servidor  para que cada turma tenha uma senha e um espaço para publicação desde o primeiro período e localizamos um  pacote de programas de educação à distância ( o Projeto Aulanet da PUC/RJ), incluindo além dos recursos tradicionais (lista de discussão, chat e publicação via FTP para cada aluno) possibilidades de implantação de rádiosweb e TVs interativas. E, é claro, tudo foi silenciosamente engavetado.

O primeiro resultado destas 'discussões' foi, para mim, o fim do mito do jornal laboratório. Com a hipermídia e o virtual, a possibilidade de interatividade desmascarou a falta de interatividade: a universidade não quer uma relação interativa com a sociedade; os departamentos não querem interagir uns com os outros em um saber interdisciplinar; os professores e estudantes não querem interagir uns com outros. E todos se justificavam até hoje através da ausência deste veículo redentor, capaz de reunificar todas práticas acadêmicas às suas teorias científicas. E até "influir na vida social"! Aqui em Natal, durante algum tempo, o movimento estudantil nutriu-se da ilusão de que não havia um jornal-laboratório verdadeiro porque isto ameaçava os interesses profissionais e empresariais dos professores, principalmente em relação ao mercado publicitário, uma vez que "é na universidade que se concentra o maior público leitor de poder aquisitivo do estado". Situação que descobri semelhante a de outros estados mais afastados dos grandes centros urbanos.

Mas é claro que existem exceções! Quem começou com a idéia de jornal laboratório on line aqui no Nordeste foi o professor Afonso Jr. e o pessoal do Projeto Virtus da UFPE, em 96. Em 98 fiz um curso à distância de JOL no projeto Sala de Aula da Facom/UFBA sob a coordenação do grupo da Ciberpesquisa (André Lemos e Marcos Palacios). Também em 98 fiz o Curso Online de Jornalismo Online da Unisinos com os professores Antonio Meira Rocha e Jairo Ferreira. Eles também já faziam jornais laboratórios na web, com a revista C@minha. Nesses dois cursos, aprendi, não apenas a editar em HTML, mas, sobretudo, O que é Jornalismo On Line.

É claro que existem também muitas outras iniciativas importantes e válidas de jornais virtuais, em outros cursos e universidades. É impossível citar todos aqui. Mas, devido em parte à lei cartorial que proíbe o estágio supervisionado fora das universidades, em parte devido a deficiência das assessorias de comunicação das instituições de ensino superior, a  maioria das iniciativas incorreu em pelo menos dois equívocos. 


A) A questão da assessoria de imprensa. Os jornais-laboratório não podem, sob pena de perderem o espírito crítico e de se limitarem apenas aos temas acadêmicos, se confundir com as necessidades comunicacionais do ensino superior. Subempregar estudantes na universidade não é melhor que subempregá-los no mercado. E, justamente, pelo local privilegiado que ocupa e pela sua missão social de crítica, que os jornais devem sempre guardar sua independência institucional. Assim, é melhor ver a Universidade com os olhos da Sociedade do que o contrário. 

B) JOL não pode ser local, tem que ser em rede.  Senão estaremos apenas repetindo as estruturas cognitivas da mídia dominante sem explorar as novas possibilidades de mudança que se apresentam. Isto não apenas como um uso provinciano de um veículo feito para e pela globalização (privilegiando o 'local-e/ou-geral'  entre detrimento de públicos alvos segmentados aos níveis regional, nacional e global); mas, sobretudo, pela manutenção de uma atitude de telespectador, passiva, diante do ciberespaço ou de um individualismo anacrônico no uso da nova mídia incompatível com a idéia de inteligência coletiva. Ou seja: do impasse/paradigma entre o não-fazer ou o tentar-fazer-sozinho. 


Portanto, quando se fala em adequar mídia e escola em novos veículos, não se trata de levar a Internet para dentro dos cursos de comunicação (fazendo do computador um fetiche, colocando-o no 'centro' do aprendizado contemporâneo - como querem os críticos e os deslumbrados), mas sim de levar as escolas para dentro da Internet, de aprender a trabalhar de forma interativa e em rede(s). Por isso, nossa palavra de ordem para comunicação é  a inversão do slogan ecológico: pensar local, agir global.

Nosso próximo passo é tentar partir para um webjornal laboratório regional com outros cursos nordestinos. Já no encontro da Intercom de 98, em Recife, eu e alguns alunos tentamos emplacar o projeto de um jornal virtual a nível regional para os cursos de comunicação das universidades federais do nordeste: O Lampião Elétrico - o veículo do cybercangaço. A idéia era de fazer reportagens transestaduais sobre temas únicos (trânsito, eleições, esporte) a cada edição. O nome era uma alusão de que os veículos da mídia nordestina (todos de propriedade da classe política) são ocupados por 'jagunços cognitivos' e nunca fazem comparações entre os estados, limitando-se ao noticiário local e nacional. O jornal seria uma ONG para facilitar sua independência tanto do mercado como da burocracia universitária (fazendo parte de frentes e redes maiores, tais como o Projeto Prometeus do INDESC e a Rede de Informações do Terceiro Setor - RITS). 

A idéia foi recebida com entusiasmo por alguns; mas esbarrou na falta de interesse de outros - que acharam o projeto prematuro e arriscado, preferindo investir em projetos de intercâmbio a nível de pós-graduação. O movimento estudantil, controlado por posições políticas, também desconfiou da proposta. E desta vez - além do habitual imobilismo burocrata disfarçado de dificuldades técnicas e financeiras, que, ao se tentar tocar qualquer coisa entre departamentos ou universidades públicas, sempre se apresenta combativo, esbarramos também em interesses políticos e econômicos.

 Agora mudamos de tática e estamos tentando viabiliza um veículo terceirizando o provedor através da iniciativa privada. O texto antigo colocava o jornal como uma ONG  e agora queremos transformá-lo em uma proposta para provedores comerciais. O novo projeto agora vai incluir os cursos de comunicação das universidades privadas e outros parceiros como jornais e TVs de cada local, mas deve manter uma cara regional nordestina. Algo com um jeitão 'projeto educativo para novos jornalistas nordestinos' em que o provedor envia os projetos aos departamentos e pro-reitorias de extensão só precisando de assinatura. Um protótipo desta nova idéia, chamada provisoriamente de OLHAR REGIONAL, está em: http://www.ufrnet.br/~mbolshaw/office

A internet acabou com essa história de comunicação social é um conjunto de teorias sem prática e o jornalismo, uma prática sem teoria. Isso foi um paradigma que nos dividiu durante muitos anos entre professores egressos do mercado e professores egressos da academia, duas associações de pesquisa (Intercom e Compos), o próprio currículo era um conflito entre ciência e técnica. Agora, tudo mudou. Mas boa parte dos professores ainda não percebeu. A Realidade Virtual simplesmente aboliu esse abismo paradigmático entre teoria e prática, mercado e escola, pesquisa e ensino.

Na verdade, estamos seguindo um caminho que é resultado e processo de nosso próprio Aprendizado. Não seguimos nem guiamos ninguém, apenas interagimos (entre nós mesmos e outros grupos de comunicação com perfis semelhantes). E, nesse aprendizado recíproco, todos são bem-vindos.


MODELO DE PROJETO

ESTRUTURA CURRICULAR

AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL HABILITAÇÕES E ESPECIALIZAÇÕES