HABILITAÇÕES FUNCIONAIS E
ESPECIALIZAÇÕES PROFISSIONALIZANTES
A posição por vários professores de jornalismo de renome internacional (1) é que, face às novas tecnologias e o aparecimento de novas profissões, o ensino da Comunicação Social deve se complexificar em novas habilitações. Por exemplo: webdesigner, educação à distância, jornalismo on line. Outros, ao contrário, acham que ao invés de diversificar habilitações a nível superior, fazendo da comunicação social uma federação de profissões parecidas, deveríamos investir em um perfil de criatividade e sensibilidade para um novo profissional multimídia (2) - que facilmente se adapte a diferentes empresas de comunicação (agências, assessorias, produtoras e veículos).
Defendo, assim, a unificação das habilitações em uma única profissão porque entendo que é preciso pensar as particularidades dentro do seu conjunto e não o contrário (3). As habilitações, nesse caso, ao invés de configurarem diferentes profissões, ensinariam diferentes funções técnicas:
Produtor - Assim, tendo em vista que as mudanças tecnológicas tendem cada vez mais a diminuir a especialização técnica, podemos definir a função de ‘produtor’ como aquele profissional que planeja e executa estratégias que conciliem a necessidade do público e o interesse dos anunciantes, fazendo um micro-marketing em cada projeto ou em cada programa. É a mente do processo comunicacional.
Repórter - Além da atuação tipicamente jornalística (reportagem, entrevista e da apresentação de programas ao vivo), espera-se deste profissional o conhecimento de técnicas vocais, de representação teatral e até de expressão corporal. É o coração do processo comunicacional, seu agente emotivo.
Editor - Profissional dedicado a direção e coordenação, em tempo real, das estratégias e da visão de conjunto dos Produtores com os detalhes e as performances dos Repórteres. Deve entender de música (compor, tocar) e de fotografia (artes plásticas, cinema, etc). Enquanto a produção é a mente e o reportagem, o coração; a edição é a ação e o aspecto operacional do processo de comunicação.
Inspiradas na TV, essas funções podem ser utilizadas em qualquer mídia. Imaginemos uma festa, por exemplo. O produtor cuidaria dos convites e dos fornecedores (4). O repórter seria o animador do auditório. E o editor cuidaria da cenário, da música, da direção geral do acontecimento. Qualquer projeto comunicacional implica nesses três níveis de trabalho, que reproduz a estrutura cognitiva das memórias (de imagens, auditiva e cinestésica). A atividade do editor seria tanto cinestésica com 'c' (de motricidade, cinética, cinema) quanto sinestésica com 's' (uma síntese dos sentidos e das três memórias).
Nessa proposta, para se formar bacharel em Comunicação Social seria necessário cursar pelo uma das três habilitações. Porém para se tornar radialista, publicitário, jornalista, etc, e conquistar registro profissional, o egresso da graduação deve cursar uma segunda habilitação e uma especialização profissionalizante complementar de dois semestres. A especialização deve ser feita em paralelo a segunda habilitação e o tempo mínimo total de duração para se conquistar os dois títulos (bacharel e especialista) fica em cinco anos.
ESPECIALIZAÇÃO PROFISSIONALIZANTE | |
50% = SEGUNDA HABILITAÇÃO | 50% = ESTÁGIO SUPERVISIONADO |
NOTAS
(1) Posição que se encontra formalizada no artigo 'Paradigmas Curriculares' do professor José Marques de Melo na Revista Brasileira de Ciências da Comunicação n. 01.
(2)Particularmente considero um avanço sairmos da discussão 'clássica' se a Comunicação é uma Ciência ou uma Técnica (ou se seu currículo a nível superior deve priorizar os 'conceitos comunicacionais' ou o aprendizado dos 'processos midiáticos' - para usar a linguagem do professor José Marques de Melo). Mas antevejo que o advento das novas tecnologias, mais que propiciar o surgimento de novas profissões (ou habilitações), está fazendo da Comunicação uma Arte. Neste futuro paradigma, acredito que o ensino de comunicação irá enfatizar mais os 'conteúdos culturais' (principalmente a necessidade de disciplinas e atividades permanentes como teatro, música e artes plásticas).
(3) As habilitações em medicina não configuram diferentes profissões. O ortopedista e o pediatra são do Sindicato dos Médicos. Isto também acontece em outras áreas. Vários cursos de Licenciaturas deságuam em um mesmo Sindicato dos Professores, por exemplo. Em comunicação social, no entanto, há uma grande fragmentação: tem sindicato dos radialistas, dos produtores culturais, dos jornalistas, dos publicitários - cada habilitação do curso configura uma profissão diferente regulamentada por lei.
(4) É fundamental distinguir entre o produtor de eventos e programas televisivos (a Produção com ‘P’ maiúsculo) da função de produção de notícias; pois apesar de algumas características comuns, produzir shows é bem diferente que produzir informação jornalística Embora existam vários meio-termos, o Produtor de programas é o 'dono do talão de cheques'; o produtor, como função jornalística, é quem faz a pauta, a produção de notas e de matérias especiais. O telejornalismo norte-americano copiou os termos do cinema: produtor, diretor e editor (montagem); enquanto no Brasil esses termos têm outros sentidos. Chamamos de diretor quem faz parte da diretoria; utilizamos a palavra editor tanto para o profissional que edita imagens como para os jornalistas que assinam a responsabilidade dos textos nos telejornais; e confundimos a atividade de produção com as diferentes funções profissionais (produtor de VT comerciais, produtor de shows e de eventos, produtor como função jornalística). Nos organogramas, também há quem confunda a atividade de produção com as de engenharia, programação e até de administração de uma emissora de TV.