Site hosted by Angelfire.com: Build your free website today!

O Encantador de Serpentes

 


O APRENDIZ DE FEITICEIRO
Micro Hiper Textos d
O Encantador


 

  1. Hipertexto, o texto complexo[scroll down]

  2. O que é Jornalismo On Line[scroll down]

  3. A Forma é o Conteúdo[scroll down]

  4. Educação & Comunicação[Down]

  5. Realidade Virtual[scroll down]

  6. Teoria do feedback e do retorno imperfeito[scroll down]

  7. A Convergência das Mídias[scroll down]

  8. Introdução ao Estudo do Ciberespaço[scroll down]

  9. Comunicação e Futuro

  10. Bibliografia sobre Mídia Digital


Hipertexto, o texto complexo(1)[scroll up]

 
Existem pelos menos 3 sentidos distintos para a noção de Hipertexto:
 
1) O Hipertexto é o texto em HTML (HyperText Markup Language) – ou a linguagem usada para criar documentos em Hipertexto para uso na World Wide Web. HTML parece muito com os códigos antigos, em que cercava-se um bloco de texto com códigos (tags) que indicavam como ele devia parecer. Ainda, no HTML pode-se especificar se um bloco de texto ou palavra serve como um link para outro arquivo na internet. Nessa definição, o hipertexto se subdividiria em três gerações de sites e homepages: os indiciais (listagens de links de arquivos e programas); os icônicos (ou aqueles que se organizam em torno de um conceito e que querem 'representar a realidade' de um determinado púbico alvo); e, finalmente, os metafóricos (também chamados de 'artísticos' porque trabalham diretamente com o simbólico e utilizam recursos multimídia).
 
2) O hipertexto é um texto coletivo. Essa definição esteve em voga antes da internet e foi muito utilizada como ferramenta didática para elaboração de textos coletivos. O texto jornalístico, por exemplo, sobrepondo os discursos do pauteiro, do repórter e do editor, é, nessa definição, um hipertexto industrial. Como tanto pode ser um discurso escrito quanto audiovisual, costumo chamá-lo de Multitexto - em uma analogia aos termos multimídia e hipermídia (2).
 
3) O hipertexto é aquele em que o leitor interage com o discurso. Essa terceira definição para mim é a mais precisa porque abarca tanto o essencial das mudanças tecnológicas (a interatividade) como a tradição literária sob a ótica da leitura e do receptor (e não de sua produção autoral ou maquínica). De forma que o hipertexto, como estrutura aberta de múltiplo sentido, é aquele texto que beira a polissemia e permite o máximo de interpretações (3). Tomando os Hai-Kai como paradigma, diríamos que o que caracteriza o Hipertexto é o fato de um discurso escrito poder ser definido como um Sistema Complexo.
 
Dessa lógica, Julio Cortazar e Ítalo Calvino são hiperescritores porque deixam aos seus leitores o direito de participação na estrutura narrativa. Aliás, o professor André Lemos da Facom/UFBA tem um site bem interessante sobre o tema: www.facom.ufba.br/hipertexto/
 
Porém, também existem contribuições mais antigas que podem ser revisitadas. A professora Eni Orlandi (4), por exemplo, propõe três categorias de discurso em relação à participação do referente entre os interlocutores de uma mensagem, deslocando a discussão do tradicional debate sobre forma/conteúdo/contexto para ressaltar o modo como os discursos são produzidos.

Discurso Autoritário - O emissor impõe as suas necessidades de transmissão à realidade-referente da linguagem. O discurso tende à ‘paráfrase’, ou seja, à repetição da identidade do sentido e da ordem subjacente à sua transmissão. O resto é ‘ruído’. Esta tendência à causalidade caracteriza a linguagem como redundância.

Discurso Lúdico - O receptor (ou a percepção) se apropria da realidade-referente, submetendo a transmissão a fatores aleatórios e/ou às necessidades da própria linguagem. O discurso aqui tende à mudança, à polissemia e à multiplicidade do sentido. Aqui surgem as diferenças e o novo.

Discurso Polêmico - O sentido é construído pela reversibilidade dialógica entre os pólos interlocutores da linguagem. O discurso, neste caso, é uma ‘tensão’ entre a paráfrase e a polissemia, entre a identidade e a multiplicidade. Esta tensão caracteriza, devido ao seu efeito estruturante do sentido, à reorganização da linguagem. 


Muitas outras abordagens trabalham diferenças semelhantes. A interpretação hermenêutica, por exemplo, chamará de 'Ciência' os discursos do EU na terceira pessoa; de 'Arte', o discursos do EU na primeira pessoa e de 'Política', os discursos do EU na segunda pessoa. Atualizando as idéias sobre Análise do Discurso da professora Orlandi pelas Tecnologias da Inteligência de Pierre Levy (5) poderíamos comparar o discurso autoritário ao advento da escrita e da unilateriedade da linguagem (e também do tempo histórico e do armazenamento contínuo de informações) - em que a produção do discurso segue sempre o modelo do 'um-muitos', como na Comunicação de Massa.

Podemos também comparar o lúdico aos discursos míticos e cíclicos, à simultaneidade sagrada da oralidade e de suas imagens arquetípicas.  O discurso aqui é produzido no modelo do 'um-a-um', da 'Dialógica Clínica' de Sócrates e Freud. Mantida a analogia, o polêmico representaria a terceira tecnologia da inteligência, o terceiro paradigma comunicacional que encontramos. É o discurso da 'Dialógica Ternária' de Cremilda Medina (6),  em que o público ou o grupo media a relação entre os diversos interlocutores reversíveis: o modelo 'muitos-muitos' - a que se associam tanto a noção de 'Cibercultura' quanto o conceito de 'Complexidade'.

A diferença entre a dialógica clínica (a transferência analítica) e a dialógica comunicacional (o hipertexto) é em parte política, em parte técnica. É política porque a polêmica subentende a polis como audiência e é técnica porque é amplificada através de instrumentos e artefatos que paradigmatizam a produção do discurso dentro de determinadas características.

Mas o lúdico e o polêmico sempre lembram as preferências etárias: as crianças brincam, os adultos brigam. Durante o império da escrita, o lúdico e o polêmico se confundiram e intercalaram em vários níveis. Ressalto dois: quando os adultos brincam e quando as crianças brigam. Adultos brincam: Os jogos olímpicos foram inventados pelos gregos para evitar a guerra entre as cidades-estados. Este dispositivo permanece até hoje: o lúdico é uma sublimação do polêmico. As crianças brigam: Quem é o dono do objeto-referente? É o conflito que na brincadeira que permite aos egos aprenderem o coletivo. Mas sem os discursos autoritários, tanto o polêmico descamba para o conflito quanto o lúdico grassa à loucura e à incomunicabilidade. É por isso que o código sempre institucionalizou a nível de sua transmissão.

Hoje, no entanto, chegamos ao Hipertexto, em que os receptores (a percepção) despertam da passividade para construção interativa de um referente. E não se trata apenas de fomentar polêmicas (como fazem, por força de seus ofícios, há um bom tempo, jornalistas e educadores). Com o advento do Hipertexto, a  generalização do modelo 'muitos-muitos' deve, em escala ampliada, produzir uma nova forma de democracia (7).

Porém não se deve esperar que o Hipertexto substitua a unidirecionalidade da mídia e das instituições sociais. Aliás, é preciso estabelecer os limites (mesmo que movediços) entre comunicação e organização. Uma rede hipertextual (ou grupo de afinidade), por exemplo, comporta diferentes ferramentas interativas (sala de chats, lista de discussão, páginas web com senha de ftp em comum) e pode não produzir um Hipertexto. Em contrapartida, como vimos, um indivíduo armado apenas de papel e caneta pode ser um hiperescritor, caso seu discurso estabeleça uma narrativa aberta aos seus leitores. A organização de uma rede é feita de procedimentos e pactos; a comunicação através do Hipertexto é menos técnica/política que afetiva e depende mais do entrelaçamento amoroso das almas que da capacidade cognitiva das máquinas.

 
E mais: o Hipertexto nos remete à idéia de tapeçaria. Não apenas no sentido definido por Edgar Morin (8), isto é, de que o hipertexto é, ao mesmo tempo, mais e menos que a soma de todos seus textos/partes; mas, sobretudo, no sentido de uma trama tecida entre pessoas e coisas - através de links, referências e vínculos - em uma costura e descostura de bits e bytes que lembra o mito do Manto de Penélope. Nem perene como o suporte gráfico, nem instantâneo como o audiovisual; o Hipertexto é um constante reescrever o mesmo sentido de outras formas. É o eterno retorno da diferença.

O que é Jornalismo On Line (JOL)[scroll up]

É costume entre os jornalistas mais antigos a afirmação de que, assim como o rádio não acabou com o impresso e a televisão não acabou com o rádio; a internet e a multimídia não vão esvaziar as mídias já consolidadas e que o computador é (feitas algumas adaptações formais) apenas um novo suporte para o bom e velho jornalismo.

Mas o computador não é 'mais uma mídia', ele é o veículo da Convergência das Mídias, isto é, da fusão de todas as mídias em um único ambiente/veículo.

Por isso, entendo por "Jornalismo On Line, JOL", não apenas os sites de notícias e de informação, mas toda iniciativa de planejamento, redação e edição de hipertextos, independente de seu conteúdo temático. Nesse sentido maior, (de 'Comunicação em Redes) o JOL inclui o Webdesign e se confunde com noção de Mídia Digital.

No entanto, é preciso reconhecer que a grande maioria dos pesquisadores do JOL utilizam o sentido mais restrito de 'jornalismo na internet', deixando de lado a discussão sobre as mudanças sociais engendradas através das novas tecnologias comunicacionais. Jonh December (9) e Steve Outing (10) são os dois mais conhecidos. Essa tendência JOL, autodenominada CMC (Comunicação Mediada por Computador), costuma minimizar a idéia de que a internet pode segmentar a comunicação de massa ou mudar as relações sociais. Nessa perspectiva mais técnica e específica, é possível encontrar na rede cursos inteiros sobre o assunto (como o da universidade de Columbia, por exemplo).

Em português, existem os excelentes trabalhos desenvolvidos pela Facom/UFBA, que apontam no sentido de superação do modelo imposto pelo jornalismo impresso aos veículos on-line (11) e prenunciam a chegada da linguagem multimídia e da banda larga. Outra navegação obrigatória é a visita às páginas dos principais jornais e profissionais brasileiros, como por exemplo Sérgio Charlab e Pedro Doria.

Mas o tema é vasto e complexo. E cheio de detalhes para os quais não temos respostas seguras. Como datar e colocar a hora em uma matéria jornalística? Atualizando o texto várias vezes durante o mesmo dia ou colocando um script java que reajusta a hora e os minutos? "O 'tempo à moda do impresso' vale apenas para as revistas virtuais; o tempo da mídia audiovisual só é adequado aos jornais on line de atualização diária" - me responderá um. "No tempo real só o passado é cronometrado, por isso o hipertexto é sempre escrito no presente do indicativo"- adiantará outro. A verdade é que ainda não sabemos como escrever segundo esse novo tempo emergente, contínuo e simultânea ao mesmo tempo.

O Manual de estilo Webwriter de Carole Rich pode ser um excelente ponto de partida para uma discussão sobre escrever de forma não linear e sobre as características intrínsecas do hipertexto: sua usabilidade e sua interatividade. 


A Forma é o Conteúdo[scroll up]

Outro equívoco freqüente é pensar que da mesma forma  que os jornalistas não precisavam conhecer nada sobre diagramação nos impressos ou da edição de imagens na televisão, o profissional de comunicação atual não precisa saber webdesign. A verdade é que o computador eliminou a existência de diagramadores e editores de imagem e não, ao contrário, que o webdesign seja um correlato dessas funções na hipermídia. É claro que em uma escala de produção industrial sempre se separará a sintaxe formal da produção de conteúdo, mas, no plano da criatividade individual e do desenvolvimento da própria linguagem, esses dois fatores (espaço e informação) estão cada vez mais inseparáveis. O Hipertexto é, assim, uma arquitetura da informação.

Uma página na web, vista assim como um conjunto de forma e conteúdo, tem dois valores complementares e concorrentes: o  seu Valor de Uso (ou Usabilidade) e o seu Valor de Troca (ou Interatividade). O Valor de Uso é para o que a página serve, quais suas finalidades, seus objetivos imediatos, seu público-alvo, sua estratégia. E o Valor de Troca seria a capacidade deste site ganhar vida própria a partir de seus usuários através da interatividade.  Toda informação para ser formatada necessita de ser balizada por esses dois fatores para ganhar corpo na rede. Sem valor funcional e inter-relacional,  não há webdesign mas apenas um arranjo de elementos gráfico-visuais.

A distinção entre forma e conteúdo, entre (web)design e (hiper)texto só se justifica em situações de atualizações freqüentes de grande quantidade de dados, como um jornal diário, por exemplo. Em sites e páginas mais frias, em que reina uma estética mais minimalista e menos entrópica, essa diferença não é apenas desnecessária, como perniciosa sob vários aspectos: forma em contraste com conteúdo, redundância semântica, pobreza sintática, entre outros possíveis descompassos.

Há vários sites da internet ensinando o básico do ponto de vista técnico (Dicas de como fazer Home-Pages, Associação de autores, Aprenda a publicar na Web - por exemplo), porém, em português, existe muito pouco do ponto de vista geral. A Escola de Webdesigner apresenta algumas idéias interessantes. Também vale a pena navegar pelos sites internacionais (Web Communications' Comprehensive Guide to Publishing on the Web  e Multimedia Authoring Web - por exemplo) e visitar os principais concursos de sites existentes na internet, se atualizando dos novos recursos e tendências do momento.

O fundamental, no entanto, depende da criatividade de cada um. Não existem regras ou normas nesse campo e existem várias abordagens teóricas em construção. 

O professor Paulo Vaz, por exemplo, no texto Agente em Rede, definiu os quatro nós que envolvem a produção da informação: o excesso, o acesso, o processo e sucesso. O excesso de informação nos coloca a questão da inteligência seletiva e dos métodos de busca; o acesso, a questão da exclusão tecnológica em seus diversos níveis; o processo, como a informação é trabalhada como linguagem; e, finalmente, o sucesso, ou seja, qual é seu resultado diante dos objetivos propostos. 

Por teóricos e distantes que pareçam ao webdesigner técnico,  esses quatro pontos, tomados em conjunto, norteiam involuntariamente a arquitetura da informação na web. O debate, no entanto, ainda está em aberto e aguarda novas colaborações. 


Educação & Comunicação[scroll up]

Em parte pelo fato de que a alfabetização no mundo anglo-saxão ter se realizado dentro de casa, quando Martinho Lutero traduziu a Bíblia para o alemão; em parte pela Escola ser uma instituição tradicionalmente latina, encontramo-nos hoje, nos tempos da internet, em um estranho paralelo histórico. Por um lado, existem os que acreditam que a revolução da informática na educação acaba com o ensino escolar e potencializa o aprendizado independente. É o caso de Seymour Papert , inventor do programa Logo e um dos principais pesquisadores do Lab Media do Massachusetts Institute of Technology - MIT; e do movimento de educadores norte-americanos que se denominam radical-construtivistas. Por outro lado, temos os que compreendem o advento da Cibercultura com a possibilidade de uma nova educação, como é o caso do movimento construtivista francês, que tentam recuperar a idéia de Escola em um contexto não disciplinar.

Contribuição significativa neste sentido é o método/diagrama das 'Árvores do Conhecimento', do pensador francês contemporâneo Pierre Levy, um programa de gerenciamento do saber (o Gingo), que credencia e patenteia 'habilidades' e 'competências', permitindo, em tempo real, uma visão de conjunto e detalhe do conhecimento técnico das instituições. A idéia básica é muito simples e pode ser facilmente adaptada em diferentes modelos: apresentar uma imagem do saber da instituição, cartografando todas as habilidades subjetivas da organização, reproduzindo seus atos administrativos em tempo real e até simulando situações futuras. 

As 'Árvores do Conhecimento' são um instrumento de visualização do quadro geral da 'empregabilidade' - o que não diminui o desemprego tecnológico ou aumenta a democracia, mas organiza melhor as demandas entre a escola e o trabalho. Para nós, sua importância decorre de sua múltipla aplicabilidade às instituições de ensino superior: a avaliação do conhecimento dos estudantes integrada à pesquisa do professor, a avaliação do desempenho do professor integrada ao ensino e à sua pós-graduação, a avaliação do conhecimento técnico dos funcionários integrado ao desempenho institucional, a avaliação institucional da universidade frente às demandas sociais e, finalmente, como prestação de serviços, a avaliação institucional do conhecimento técnico dos parceiros externos (governos, escolas, empresas, outras universidades) pela instituição que o utiliza. Ao oferecer uma imagem holográfica, o modelo da árvore permite que a instituição conheça em detalhe cada um de seus elementos e que cada um formate melhor seu projeto de desenvolvimento dentro do conjunto da organização. Permite organizar o ensino segundo às demandas sociais e planejar as estratégias sociais de acordo com as qualificações. 

Assim, enquanto os americanos pesquisam mais diretamente o papel educativo da nova mídia, os franceses estudam o caráter interativo da nova escola. E no 'Olho do Tufão' deste debate, o ensino de Comunicação Social está se tornando cada vez mais 'iniciático', pois além de ter que treinar a viver contra o tempo (o 'dead-line', a resistência ao estresse e à pressão psicológica, a maturidade emocional e intelectual), deve também transmitir a arte de escrever em tempo real, reunindo teoria e prática num texto mágico transformador dos cenários que espelha, em um discurso social que cria novos universos cognitivos e enterra velhos paradigmas e formas de pensar. Ou seja, o ensino deste ofício deve também produzir profissionais ao mesmo tempo sensíveis e criativos, capazes de resolver problemas éticos e técnicos que ainda não se colocam para nós.

Superando 'franceses' e 'americanos', os novos comunicadores deverão ser Encantadores enquanto pessoas mas inteligentes e práticos como Serpentes.


Realidade Virtual[scroll up]

O pensador alemão Dietmar Kamper diz que “a realidade é o sonho de Deus; o simbólico, o sonho dos homens; e o imaginário, o sonho das máquinas”. (12) O Virtual, no entanto, é, ao mesmo tempo, maquínico, humano e divino. Ele é uma conjunção dos três sonhos, uma intercessão das três realidades autoproduzidas - o imaginário, o simbólico e a realidade. Ou melhor: a realidade virtual é a desmaterialização do espaço físico (o 'fim das distâncias') e da dessacralização da imaginação, que passa a ser utilizada como um método de investigação: a simulação.

Foi através da simulação de quedas d'águas e cachoeiras (mecânica dos fluídos) que chegamos à teoria do caos e a noção de atractor estranho (13). Também foi a simulação que permitiu reconstituir a história térmica do universo na teoria da entropia e das estruturas dissipativas entre a luz e os buracos negros (14).  A simulação holográfica fez da imaginação ampliada pela máquina uma ferramenta de reconstituição do real com um nível de objetividade e precisão muito além da percepção biológica e de suas interpretações. Os universos  microcósmicos do átomo e das bactérias e o macrocosmo são mundos virtuais, por exemplo.

A simulação tridimensional se tornou não apenas um critério de verdade (15) científica, mas também uma garantia de objetividade em várias áreas da vida social, como no futebol e no direito. A computação gráfica faz com que o pênalti e o impedimento deixem de ser questões de interpretação (dos juízes e banderinhas) para serem vistas realmente como foram. Vídeo e foto não são provas judiciais; mas simulações gráficas, são. É que a subjetidade maquínica é destituída de intencionalidade e por isso reconstituí a objetividade dos fatos perdida no tempo não apenas com uma memória destituída de sentimentos e opiniões, mas sobretudo como um holograma que visibiliza suas tendências gerais e projeta possibilidades de mudança. Ou seja: filosoficamente, o contrário do virtual é o atual, não é o real (16). Não se trata de parecer diante do Ser, como imaginou Baldiou (17).

Menos que o imaginário, mais do que projetaríamos planejar; a simulação holográfica do virtual é hiperreal. E esta é a idéia deleuziana adotada por Pierre Levy (18). O Virtual não é a verdade ideal que transcende o real (Platão), ele é imanente ao real como uma potência de realização. Ele é o produto e o produtor da subjetividade maquínica e do projeto de uma subjetividade humana coletiva.
 

 

ATUAL 

VIRTUAL

POSSÍVEL 

CONDIÇÕES SÓCIOTÉCNICAS (Phylum)

VALORES E  REFERÊNCIAS

REAL

FLUXOS  ENERGÉTICOS NO ESPAÇO/TEMPO

TERRITÓRIOS EXISTENCIAIS


Teoria do feedback e do retorno imperfeito[scroll up]

Ao enunciar os princípios da teoria cibernética da informação, Nobert Wiener já reconhecia dois tipos de 'feedbacks' ou retornos mecânicos: os de auto-regulação (em que um esforço é equilibrado pelo seu inverso, assim: ‘quanto mais x, menos y; quanto menos x, mais y’) e os de auto-reforço ou a retroalimentação galopante (em que quanto mais x, mais y também). No primeiro caso não faltam exemplos: a mão invisível entre a oferta e a procura de Adam Smith, o controle mútuo das instituições americanas, o equilíbrio das bicicleta, o próprio zig-zag do timão dos barcos que deu nome à cibernética. Porém, com exceção das epidemias, não há realimentação de auto-reforço e crescimentos exponenciais da mesma ordem na esfera da natureza, e o estudo das progressões geométricas de opinião pública, lugar-comum entre marketeiros e políticos, foi esquecido tanto do ponto de vista sociológico quanto estatístico.

São três, as principais versões do fenômeno:

O ‘efeito popularidade’ ou a tendência de uma causa ganhar apoio simplesmente devido ao número crescente dos que aderem a ela. (Quanto mais, mais!)

A ‘profecia’ ou a maldição que se auto-realiza, na qual ‘os temores originalmente infundados levam a ações que fazem os temores se tornarem verdadeiros’.  (Quanto menos, menos!)

O ‘círculo vicioso’ em que fatores causais opostos e complementares se realimentam ao infinito: “os biscoitos não vendem porque estão velhos e estão velhos porque não foram vendidos”. (Quanto menos, mais; quanto mais, menos!)

O efeito ‘círculo vicioso’ ou a retroalimentação por duas (ou mais) causas co-recorrentes, no entanto, nos coloca a questão da dependência e da auto-organização, ou melhor, da não-desenvolvimento de um sistema devido à sua redundância interna. Um sistema com baixo nível de organização vive em constante conflito relacional em que situações recorrentes se repetem de forma compulsiva e involuntária. Quando o próprio sistema cria fatos novos e toma consciência desses padrões de repetição, rompe-se o círculo vicioso e há uma reorganização cognitiva irreversível e cumulativa, uma mudança progressiva na estrutura interna  do sistema.

Porém, como passar de “os biscoitos não vendem porque estão velhos e estão velhos porque não foram vendidos” para famosa dialética dos biscoitos Tostines (que “vendem mais porque estão sempre frescos e estão sempre frescos porque vendem mais”)? Ou melhor: como passar de uma realimentação de auto-reforço de uma situação recorrente e estagnada para ‘um círculo virtuoso’, ou para uma realimentação de equilíbrio dinâmico?

Um publicitário responderia sem titubear: fazendo uma campanha publicitária para alterar a imagem do produto. Aliás, a imagem não, o próprio produto. A publicidade atual não cuidaria só da embalagem (que seria trocada), mas do próprio biscoito (seu gosto, aparência, consistência). Transpondo essa idéia para um campo de reflexão mais geral chegaríamos a conclusão de que é necessário uma espécie de trabalho comunicacional (antigamente: um  ritual mágico) para romper com  os círculos viciosos e transformá-los em virtuosos. Aliás,  palavra virtual veio de virtude. Os biscoitos são sempre os mesmos, são o 'atual'; o que muda é sua virtualização.

Esta é uma  forma antiga realmente e um teoria do feedback atual (que leve em conta a polifonia e a multiplicidade de respostas) não classificaria as coisas desse jeito, pois todos 'retornos plurais' são de auto-reforço e de auto-regulação ao mesmo tempo. Porém, o que existe nos processos de crescimento exponencial que citei (popularidade, maldição, círculos) são desequilíbrios estatísticos em sistemas não-lineares, estudados através de modelos matemáticos complexos: caos determínistico, estruturas dissipativas, vidro de spins, etc. Para passar de um círculo vicioso para um círculo virtuoso é necessário mudar o modo de virtualização do momento atual.

O modo de virtualização não é a imagem (ou a representação social) de um objeto, mas uma refração através da qual percebemos algo. Uma duração/subjetiva (ou Linguagem) que interdepende de uma duração/objetiva (a que muitos chamam Realidade). O modo de virtualização se dá por metáforas e associações retroalimentantes (biscoitos velhos/não vendem; biscoitos frescos/vendem).

O efeito ‘círculo vicioso’ ou a retroalimentação por duas (ou mais) causas co-recorrentes, no entanto, nos coloca a questão da dependência e da auto-organização, ou melhor, do não-desenvolvimento de um sistema devido à sua redundância interna. Um sistema com baixo nível de organização vive em constante conflito relacional em que situações recorrentes se repetem de forma compulsiva e involuntária. À medida que o próprio sistema cria fatos novos e toma consciência desses padrões de repetição, rompe-se o círculo vicioso e há uma reorganização cognitiva irreversível e cumulativa, uma mudança progressiva em toda sua estrutura interna do sistema.

Para entender/simular este efeito de ‘romper com o círculo vicioso’ utiliza-se o modelo de complexidade a partir do ruído (19), em que os fatores aleatórios passam a ser parte integrante da auto-organização em vários níveis de desenvolvimento simultâneos. Nessa formulação, que surgiu a partir do papel da informação como fator de organização biológica das espécies, a capacidade de auto-organização de um sistema resulta de desorganizações seguidas de reorganizações em níveis de complexidade mais elevados, ou dos mais simples aos de maior diversidade e menor redundância.


A Convergência das Mídias [scroll up]

A palavra 'mídia' traz consigo alguns mal-entendidos. A tradução correta da palavra inglesa 'media' é 'meio'. A palavra 'mídia' em português, no entanto, tornou-se um falso anglicismo que esconde, ao mesmo tempo, uma generalização e uma redução do termo original. Redução, pelo seu uso na publicidade como uma atividade bem definida, e, generalização, porque, utilizada sempre no singular, deu origem a outras palavras ('hipermídia', 'multimídia', 'midiologia') que perpetuam o equívoco inicial.

 

Por isso a idéia de que está em curso uma 'Convergência das Mídias' tem diferentes sentidos e várias dimensões, universos virtuais convergentes. Ela não se resume a um conjunto de redes digitais planetárias ou na materialização histórica de uma memória arcaica e do inconsciente coletivo - como dissemos em  A Cultura antes do Ciberespaço.

 

Nem tão pouco pode ser reduzida à fusão dos meios de comunicação social (rádio, tv e jornal) na web ou ao desaparecimento do computador como objeto de design - como colocamos na Desmecanização do Universo

 

A idéia é de que há uma convergência teórica da Arte, da Ciência e da Técnica em um novo saber  e também de convergência prática de todos os meios de produção, comunicação, circulação, enfim, de toda ordem institucional em torno de um modelo de organização em redes - como vemos em outros textos da Anatomia do Ruído.

 

Em breve, automóveis e aviões serão monitorados pela Internet através de satélites de microondas e das novas formas de telefonia móvel. A cultura de massas está acabando e as telecomunicações do planeta, a partir do marketing interativo das redes descentralizadas, se reorganizando em múltipla 'estratificação segmentada' da cultura de cada país, formando públicos internacionais especializados. E nesta conjuntura múltipla e globalizada, o intercâmbio em tempo real, o estudo operacional dos códigos das redes passará a desempenhar um papel central de mediação entre as culturas e entre as pessoas. Comunicação e informática estarão cada vez mais próximas e mais inter-relacionadas ...  

 

Estamos perto de ver os presídios e penitenciárias substituídos por um sistema de controle do tipo 'Big Brother', que combine penas mais leves para pequenos e próteses eletromecânicas para vigilância remota para os mais perigosos. As empresas e escolas começam a entrar em oposição complementar. 

 

Se a produção de subjetividade será a principal atividade econômica, como muitos crêem, então teremos dificuldade de distinguir o que foi a existência de organizações diferentes para produzir e ensinar. Os hospitais, o exército, os jogos públicos - a tudo a Convergência das Mídias parece reunir e transformar. As instituições de confinamento das sociedades disciplinares dando lugar aos novos dispositivos de controle de redes a céu aberto. E mais: a Convergência transforma conflitos em diálogos produtivos e os divergentes se excluem por antecipação.

 

Podemos chamá-la de 'Inteligência Coletiva' (Levy), ou de 'Cibionte' (Rosnay), podemos defendê-la como uma 'Reforma do Pensamento' (Morin) ou como um 'Parlamento das Coisas' (Latour). Não importa. A Convergência das Mídias é um movimento de sinergia complexa e reintegra os opostos (transformando adversários em parceiros) sem anular as diferenças e os atritos. 


Introdução ao Estudo do Ciberespaço [scroll up]

"Regenerar as cidadanias locais e gerar uma cidadania mundial, para ligar nossas várias terras natais formando uma única Terra Natal: o Ciberespaço. E eis também as duas faces das redes virtuais: desterritorialização do espaço físico e materialização do imaginário. Em um passado ainda recente, a memória arcaica do homem, concebida como uma unidade mítica das culturas, recebeu muitos nomes: 'inconsciente coletivo', 'cérebro planetário', 'alma do mundo', 'noosfera''. O Ciberespaço, no entanto, não é (apenas) um espaço imaginário formado por sonhos, mitos e imagens do inconsciente, mas sobretudo uma realidade da qual não podemos ser excluídos”(20).

O Ciberespaço é formado por redes e conexões, não apenas entre os pólos natural e social, mas, sobretudo, entre o 'micro', os contextos interpessoais localizados, e o 'macro', as generalizações impessoais. Menos universais e abstratas que os sistemas e menos concretas e circunstanciais que os fractais, as redes do Ciberespaço são também agenciamentos intermediários entre o local e o global. As redes são produtos do duplo trabalho de combinação simultânea dos dois pares de opostos e de separação sistemática dos quatro pólos – como colocou Bruno Latour (21).

 

GLOBAL

NATURAL       CIBERESPAÇO      SOCIAL

LOCAL

 Leia mais em:

  1. O Ciberespaço é a hipermente de Gaia? - Marcelo Bolshaw Gomes

  2. Fundamentos Antropológicos do Ciberespaço - André Lemos

  3. O Cibionte - José Soares Junior

  4. A Cibercultura e Novas Formas de Sociabilidade - Mario José L. Guimarães Jr.

  5. Espiral Interativa - Alex Primo


Comunicação e Futuro

 

É o tempo do Ciberespaço e do Hipertexto: ao mesmo tempo contínuo e simultâneo, seqüencial e paralelo, histórico e circular, sucessiva e simultaneamente. Aliás, a própria idéia tradicional de revolução, de rompimento absoluto com um passado ultrapassado, é, para os pensadores contemporâneos, uma ilusão moderna. Por exemplo, para Latour; a Natureza está no passado e a Sociedade, no futuro. E no presente, a cultura moderna depende da continuidade do tempo histórico e de cortes epistemológicos a que estruturem como algo diferente.

 

MODERNIDADE

          

CIBERCULTURA

PASSADO + PRESENTE = HISTÓRIA

          

PRESENTE + FUTURO = VIRTUAL

Paulo Vaz, em Globalização e Experiência do Tempo (22), irá ainda mais longe, dizendo que na modernidade há um 'feedback' entre passado e presente, a história; e na cultura contemporânea o 'feedback' (ou a retroalimentação) é entre o presente e o futuro, entre o atual e sua simulação virtual. 

Porém se esta mudança tem um alcance cujos limites nem ao menos conseguimos vislumbrar, ela nos coloca, de saída, um sério problema de adaptação frente às novas possibilidades. Adaptação esta que não esbarra apenas no preconceito tradicionalista ou na simples incapacidade técnica, mas sim em uma resistência cognitiva e epistemológica diante de uma outra forma de pensar e de sentir a realidade, de um novo paradigma. Mas se este presente transitório de possibilidades ilimitadas tem realmente um novo estatuto (a integração cognitiva entre dois modos distintos de percepção), resta ainda a pergunta de como nos comportamos nestes tempos em que o futuro ainda não chegou e o passado acaba de se volatizar.

Não existem mais certezas absolutas e todas previsões são arriscadas. Porém, parace evidente que a Comunicação Social do futuro deve ter como missão essencial transformar os círculos viciosos em círculos virtuosos e que o Hipertexto, ferramenta e produto das redes que engendra, será uma delicada teia de relações pessoais e profissionais. 


  • NOTAS

(1) Marcelo Bolshaw Gomes é jornalista, Mestre em Ciências Sociais, professor de Teoria(s) de Comunicação Social (DECOM/CCHLA/UFRN).

(2) The Future of Hypertext,capítulo do livro Multimedia and Hypertext: The Internet and Beyon, de Jacob Nielsen, o engenheiro e teórico da noção de usabilidade.

(3) Cânone do Hipertexto literário: The Electronic Labyrinth Home Page

(4) ORLANDI, E.  O Funcionamento da Linguagem, as Formas do Discurso. A Análise do Discurso Pedagógico. São Paulo: Ed Brasilense. 1980.

(5) MEDINA, CREMILDA.  Entrevista - O diálogo possível. São Paulo, Editora Ática, 1986.

(6) LEVY, P. Tecnologias da Inteligência – o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.

(7) Aliás, esse é o espírito da experiência (de combinar Hipertexto e Democracia Cognitiva) que desenvolvemos a nível nacional na Página da COMPLEXIDADE <http://orbita.starmedia.com/~complexidade/>, um site que reúne textos de pesquisadores de diferentes áreas que tenham interesse comum pela teoria da complexidade. Para acessar mais rápido, digite <http://pagina.de/complexidade> ou simplesmente <http://complexidade>.

(8) MORIN, E. “La complexité et l’entreprise”  in Introduction à une pensée complexe, ESF, Paris, 1990 pp 113-124. Tradução do professor José Maria Tavares de Andrade (UFBA),  1997.

 “Consideremos um tapete contemporâneo. Comporta fios de linho, de seda, de algodão, de lã, com cores variadas. Para conhecer esta tapeçaria, seria interessante conhecer as leis e os princípios respeitantes a cada um destes tipos de fio. No entanto, a soma dos conhecimentos sobre cada um destes tipos de fio que entram na tapeçaria é insuficiente, não apenas para conhecer esta realidade nova que é o tecido (quer dizer, as qualidades e as propriedades próprias de cada textura) mas, além disso, é incapaz de nos ajudar a conhecer a sua forma e a sua configuração. Primeira etapa da complexidade: temos conhecimento simples que não ajudam a conhecer as propriedades do conjunto. Umas constatação banal que tem conseqüências não banais: a tapeçaria é mais que a soma dos fios que a constituem. Um todo é mais que a soma das partes que o constituem. Segunda etapa da complexidade: o fato de que existe uma tapeçaria faz com que as qualidades deste ou daquele tipo de fio não possam exprimir-se plenamente. Estão inibidas ou virtualizadas. O todo é então menor que a soma das partes. Terceira etapa: isto apresenta dificuldades para o nosso entendimento e para a nossa estrutura mental. O todo é simultaneamente mais e menos que a soma das partes.” 

(9) Explore the Online World - Site de John December com links utilíssimos sobre Computer Mediated Communication (CMC). Em <http://www.december.com/ > Veja principalmente a seção de Recursos sobre CMC.

(10) Editor & Publisher Home Page Site original de Steve Outing. Uma revista para editores e publicadores. Em <http://www.mediainfo.com[remote]> Em português: Steve Outing Colunista do Parem as máquinas! do Universo Online (Leia os artigos mais importantes de 1998. Principalmente: <http://www.uol.com.br/internet/parem/par190499.htm>

(11) Guia do Jornalismo Online na Internet, de André Manta, da Facom[remote], UFBA[remote]. Em <http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/manta/Guia/index.html> Veja tb Jornalismo On Line - A cara do jornalismo on-line brasileiro e suas tendências. Material organizado pelos alunos Alice Vargas, André Xavier Costa, Laise Rabelo, Paula Janaína e pelos professores André Lemos e Afonso Junior Facom/UFBA, 1999.http://www.facom.ufba.br/com022/jonline.html

(12) CASTRO, G. (org.) Ensaios  de Complexidade. Natal: Edufrn, 1998.Nesta lógica, é necessário não deixar que a imagem substitua o símbolo, que o imaginário socialmente produzido substitua a expressão onírica do inconsciente, que noção de ciberespaço/paraíso virtual substitua a idéia de utopia, de construção de uma sociedade melhor.

(13) RUELLE, D. Caos e Acaso. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista  (UNESP), 1993. O modelo do caos determinístico surgiu através do estudo física da turbulência em fluídos para tentar explicar a ocorrência de redemoinhos e turbilhões. Este mesmo modelo  estatístico, por exemplo, serve para  reproduzir o efeito popularidade em sua súbita aceleração, em que pequenas diferenças nas condições iniciais de um sistema ampliam exponencialmente seu aspecto dinâmico, mudando sua história.

(14) PRIGOGINE, I.  A Nova Aliança. Paris: Galimard, 1986. Já no modelo das estruturas dissipativas da termodinâmica, o estado final do sistema independe das condições iniciais ou de seu aspecto dinâmico. Nele, a ênfase é dada à estrutura intrínseca do sistema, à auto-organização em função da entropia, da perda dissipativa de energia e calor. Este modelo corresponde ao efeito ‘profecia’ em que, através de uma sincronia descontínua de conjunto, os fatores restritivos condicionam o estado do sistema.

(15) Para Foucault, nas sociedades disciplinares, a verdade era sempre confessada ("o critério de  verdade é a sinceridade"). Hoje se um evento não for simulável, não será verdadeiro. O virtual e sua subjetividade maquínica não intencional é que são, nos novíssimos dispositivos de controle, os critérios de verdade. "A simulação é verdadeira; a dissimulação, falsa." (Baudrilard)

(16) ALLIEZ, E.  Deleuze Filosofia Virtual. Coleção Trans. São Paulo: Editora 34, 1996.

(17) BALDIOU, A. Deleuze - O Clamor do Ser.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.  Para Baldiou, o pensamento de Deleuze é uma estranha mistura de Platão com Heidgard: o real é a multiplicidade dos entes: o virtual sua transcendência no unicidade do ser.  Mas, na verdade, para Deleuze, o real , o potencial, o virtual e o atual são todos imanentes uns aos outros.

(18) LÉVY, P. O que é o virtual? Coleção Trans. São Paulo: Editora 34, 1996.

(19) ATLAN, H. Entre o Cristal e a Fumaça. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. Ou em bom português: pau que nasce torto só morre torto se quiser. Mas esse querer não é apenas uma questão de esforço ou vontade individual, mas sobretudo de sintonia e oportunidade simultaneamente com o conjunto imediato e com a multiplicidade de fatores dinâmicos. É preciso uma visão histórica e de conjunto para romper com os fenômenos estatísticos de retroalimentação causal, quebrando a cadeia de determinação interna dos fatores recorrentes com uma proposta global de auto-organização frente ao inesperado. Romper com o efeito  ‘círculo vicioso’ significa então aprender com os próprios erros e viver criativamente. Singularizar-se.

(20) Declaração de Natal, assinada durante o Encontro dos Pesquisadores do Ciberespaço, na reunião anual da SBPC de 1998.

(21) LATOUR, B. Jamais Fomos Modernos, ensaios de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: 34, 1994.

(22) VAZ, P.in Utopia e Controle.