Entrevista com... Jorge Miranda
Pedro
Meireles
Ana Santos Raimundo
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Prato preferido
Pescada Cozida
Género literário
Romances e livros de contos (embora seja um leitor compulsivo)
Livros preferidos
Os Contos, de Eça de Queirós e Guerra e Paz, de Leão
Tolstoi
Livro que mais prazer lhe deu escrever
Manual de Direito Constitucional (todos os volumes)
Filmes preferidos
A Grande Ilusão / Roma cidade aberta / O Leopardo / O homem
que matou Liberty Valence / O homem que sabia demais (também
é um cinéfilo compulsivo)
Música preferida
clássica (e ligeira, se for boa)
Personalidade portuguesa mais marcante
Infante Dom Henrique
Personalidades Mundiais mais marcantes
Cristo / São Francisco de Assis / Tomás Morus |
Em entrevista ao ES, Jorge Miranda, assume-se como constitucionalista.
Na sua faceta mais pessoal, este homem, que nunca se sentiu isolado
do Mundo, desvenda algumas das suas opiniões acerca da política,
religião e sociedade em geral.
Estado de sítio (ES.): Comente os seus sonhos de jovem
tendo em conta o seu percurso pessoal e profissional?
Jorge Miranda (JM.): Na adolescência
o meu grande sonho, para lá da realização pessoal,
passava pela advocacia, em termos profissionais. Em termos colectivos
o meu maior sonho era que Portugal fosse um país democrático,
que fosse um Estado de Direito. Desde muito pequeno que tive consciência
de que se tratava de uma ditadura, desde pequeno que tive uma
rejeição a essa ditadura por influências
do meu pai e de outras pessoas de família. No seio familiar existiam
pessoas a favor e contra a ditadura, mas aquelas que mais me podiam
influenciar eram o meu pai e um tio meu professor na universidade de
Coimbra, estes contra o regime. Sendo eu cristão, não
podia entender nem admitir um regime assente na censura e na polícia
política que falsificava eleições, que não
garantia liberdades fundamentais. E, finalmente por razões
de ordem jurídica. Mesmo antes de entrar na Faculdade já
demonstrava uma certa vocação para o direito, uma certa
ideia de normatizar a vida colectiva. Dificilmente entendia
como poderia haver um regime que escapava ás regras por ele próprio
estabelecidas.
Este era o grande sonho da minha juventude, muito animado,
ainda era eu um estudante de liceu, pela campanha do General Humberto
Delgado em 1958.
Para além deste tinha outros sonhos, como todas as pessoas, ter
uma vida feliz, constituir família...
Contudo o grande sonho da altura era ter um Portugal democrático.
ES.: O professor é reconhecido como uma referência
da Faculdade de Direito de Lisboa (FDL). O seu percurso como docente
começou logo após a finalização do seu curso?
JM.: Não, não foi logo de seguida... Eu acabei
o curso, fiz o que se chamava de 6º ano, correspondente ao mestrado
actual, estive em Itália com uma bolsa de estudo e ainda cumpri
serviço militar durante quase 3 anos. Hoje em dia não
se imagina o que era serviço militar e o que isto representava.
Apesar disso o meu foi consideravelmente ligeiro porque foi na Marinha
e não no Exército, ao contrário do que aconteceu
com o meu irmão e os meus primos. Mesmo tendo sido ligeiro, o
serviço militar ocupou-me 3 anos. Só depois disso é
que comecei a leccionar.
ES.: O que mais o atrai no ensino, na carreira de docente?
JM.: Aquilo que mais me atrai
no ensino são 3 coisas. Em 1º lugar para ensinar é
preciso estudar. Eu gosto de estudar, estudar desinteressadamente,
não estudar em razão de um determinado objectivo como
na advocacia. Isto explica um pouco a razão porque a partir do
6º ano preferi orientar-me para o ensino. Esta é a 1ª
razão mas há mais 2. A outra está ligada ao facto
de poder contactar com a juventude. Esta é uma profissão
em que nós, todos os anos, encontramos a renovação
da juventude, da vida e isso é maravilhoso! Só
um professor tem esse privilégio, o de estar com a juventude.
Em 3º lugar a liberdade. Um professor, particularmente,
um professor universitário não está sujeito
a patrões, ensina aquilo que estuda à sua maneira de ver,
e isso é um ponto extremamente importante. Devo dizer
que na FDL, antes do 25 de Abril, esse espírito de liberdade
já se cultivava.
Eu fui discípulo do professor Marcelo Caetano (e numa homenagem
que lhe tenho prestado várias vezes) ele também cultivava
esse espírito de liberdade nos seus alunos. Não se impunha,
deixava-os libertar e estimulava a liberdade, gostava que tivessem as
suas próprias opiniões e apresentassem diferentes teses.
É uma tradição na FDL que acho extremamente
importante e que não existe em todas. Aqui sempre a
houve, mesmo no tempo do regime autoritário.
ES.: Diga-nos os princípios pelos quais rege a sua vida,
os que são inabaláveis?
JM.: São principalmente os princípios cristãos
aqueles que eu procuro que formem a minha vida. A fidelidade e a coerência
com estes valores.
ES.: Considera-se uma pessoa religiosa? Qual é a melhor
maneira de se relacionar com a ideia de Deus? Será num culto
colectivo ou na intimidade?
JM.: Não há só
uma maneira de se relacionar com Deus, e não há só
uma maneira de as pessoas professarem a sua religião ou fé,
há muitíssimas. É um direito fundamental prestar
culto a Deus, ou aqueles que não o aceitem, o de não o
prestarem. É algo que tem de ser feito à maneira
de cada um. Tanto o culto individual como o comunitário
são importantes. O culto comunitário é importante
porque vivemos em sociedade. A pessoa não se pode isolar da sociedade.
Mas há múltiplas maneiras de prestar culto a Deus; aliás
a história do Cristianismo mostra experiências completamente
diversas de prestação de culto.
ES.: Acredita que o movimento ecuménico tem força?
JM.: Quando se fala do movimento
ecuménico é basicamente dentro do cristianismo. Depois
há as relações entre as várias religiões.
Eu acho que têm feito grandes avanços no sentido do diálogo
e do contacto entre as religiões graças ao Papa João
Paulo II e a várias organizações religiosas, incluindo
o Islão. Apesar de haver fundamentalismos, e não podemos
olhar para o Islão e dizer que só há fundamentalismo.
Relativamente aos contactos entre as várias confissões
cristãs, tem havido progressos e recuos mas acho difícil
que a médio prazo se consiga a unidade dos cristãos,
apesar de a situação actual ser radicalmente diferente
da que existia antes do Papa João XXIII.
ES.: A afirmação
do 1º Ministro “Quem aos 18 anos não é de esquerda
não tem coração, quem aos 40 anos é de esquerda
não tem razão”. Comente.
JM.: Bom, é apenas
uma frase pessoal e auto-justificativa, de um percurso que
eu respeito. É o percurso que o 1º Ministro adoptou e eu
respeito-o; não é o meu, mas eu respeito todos os percursos.
Essa frase, dele não é original. Quem disse uma
parecida foi Willy Brandt “Quem aos 20 anos não é
radical aos 40 anos não é social-democrata”. Só
que social democracia, tal como eu a entendo não é direita.
ES.: Será possível comparar a juventude de 1962
com a de hoje, tendo em conta o seu próprio percurso como estudante?
JM.: Eu vivi e participei activamente
na crise académica de 62, estudava aqui (na FDL). Não
tive nenhum papel dirigente ou saliente, fui um dos muitos milhares
de estudantes que participaram nesses acontecimentos. Desde 24 de Março,
quando tudo começou aqui na Cidade Universitária, sempre
estive em todas as manifestações até ao final.
Foi um grande movimento da juventude com muito idealismo, muita
generosidade, muito sacrifício da parte de alguns que foram expulsos,
presos, fizeram greves de fome. Aliás eu tenho esses acontecimentos
registados num diário, que então escrevi, e espero ainda
a vir publicar; foi um tempo dramático, mas ao mesmo tempo de
grande generosidade.
Mas dá-se mais valor ao mérito do que naquela altura.
A sociedade portuguesa era muito fechada, hoje já
é muito mais aberta e isso vem explicar o facto de a juventude
não recorrer a formas de participação e manifestação
mais activas, como há 30 ou 40 anos. Hoje há mais
preocupação com o que se vai fazer a seguir ao curso,
deixando-se levar pelo consumismo dos tempos actuais, o que
não significa que não existam jovens muito activos, interessados
e idealistas como por exemplo os jovens que vão para Angola,
Guiné... em serviço comunitário, e o caso de Timor
no ensino; há dezenas de professores em Timor, sob condições
muito difíceis de alimentação, habitação,
saúde, segurança... Não podemos generalizar
quando dizemos que é uma juventude completamente instalada.
Tudo depende das circunstâncias. A chama da juventude está
sempre pronta a revivescer quando há razões para isso.
ES.: Passando para a política,
o professor é conhecido pela sua participação política
desde a juventude. Como explica essa viva atracção pela
política? O querer participar, intervir...?
JM.: O idealismo que
me marcou desde cedo atraiu-me para a política. Também
a minha própria opção pela área das ciências
humanas, História, Geografia, um pouco de Sociologia, o Direito
Constitucional. Ali sim, sempre admirei as pessoas que lutavam
na oposição ao regime. A minha participação
foi apenas através da SEDES, e do apoio que dei à CEUD
em 1969 e de alguma colaboração que dei à Ala Liberal
da Assembleia Nacional extremamente restrita.
ES.: Acha que existe uma verdadeira democracia com maioria
absoluta?
JM.: Acho que deve existir. O
mais natural no sistema político em que o Governo é responsável
perante a Assembleia da República é que existam maiorias
absolutas e a Democracia é possível desde que
haja ao mesmo tempo um sistema de controlo de poder. A Democracia
representativa é o governo da maioria, mas com garantias da minoria
(que, amanhã, numas eleições, se pode tornar em
maioria). É isso que consta da Constituição; mecanismos
de controlo, que alguns até consideram excessivos. Mecanismos
jurisdicionais, o controlo da constitucionalidade das leis, os direitos
da oposição parlamentar e finalmente o Presidente da República,
como órgão regulador de todo o sistema.
Desde 76 tivemos governos minoritários e maioritários
e embora num ou noutro caso tenha havido alguma tendência para
o abuso, em todos os casos os mecanismos de controlo funcionaram
sempre. Além disso o sistema não a nível
de Estado; é baseado numa grande descentralização,
havendo uma grande autonomia no que respeita a Regiões Autónomas,
Poder local, autonomia das Universidades..
ES.: O facto do poder “tender
a abusar” não será devido ao fenómeno de
partidarismo não só no poder central mas também
nas bases do poder?
JM.: Isso é outra questão.
A Democracia representativa actual é uma democracia de
partidos, quer queiramos quer não. O sufrágio
universal conduz aos partidos, pela necessidade de canalização
das correntes de opinião e de criação de mecanismos
organizativos para conduziram as campanhas eleitorais e a actividade
permanente quer do governo quer da oposição. Nenhum
país escapa a isso ou há democracia com vários
partidos, ou então regimes de partido único.
O excesso de partidirização é condenável,
mas a nível parlamentar sou a favor do monopólio
das candidaturas partidárias. Já a nível
de autarquias locais acho que os grupos de cidadãos poderiam
ter um papel extremamente importante, muito mais do que aquele que têm
tido. Também a nível de referendos acho que os partidos
deveriam abster-se, ou pelo menos retraírem-se mais, nas suas
intervenções para deixar aos cidadãos uma
maior margem de liberdade. É na Administração Pública
que a situação é particularmente grave e má.
Aí não se tem realizado aquilo que defendo há muito
tempo que é o princípio da carreira. Todos os lugares
da Administração Pública, mesmo os de direcção
superior devem ser ocupados por pessoas de carreira e não na
base de escolhas partidárias, de clientelismos políticos,
como acontece entre nós. Escolhas de carácter
político só entre os chefes de gabinete, secretários
de ministros, pessoal de confiança política; agora um
director regional, um presidente de um instituto público, empresa
pública... devem chegar lá na base da carreira. Infelizmente
não é isso que se verifica.
Quando ficou célebre aquele dito de António Guterres
“no jobs for the boys” mas afinal houve “jobs for
the boys”, e o actual Governo segue no mesmo caminho.
Nesta situação estamos talvez pior do que estávamos
no regime anterior.
Outro fenómeno condenável de partidarização
dá-se na magistratura, quando juizes de carreira aceitam lugares
de natureza política, de designação partidária
essa uma situação que um juiz, que, por dever ter um espírito
independente, não deveria aceitar. Não nego que juízes,
Directores-gerais, Militares o direito a ter as suas opções
pessoais, agora aparecerem identificados com um partido não!
ES.: Seria necessário fazer distinção
entre cargos de confiança política e cargos de carreira
e cargos meramente técnicos?
JM.: A distinção parece-me óbvia. Na prática
é que tem havido confusão entre nós.
ES.: Quais são os valores essenciais num político?
JM.: Eu diria em 1º a coerência, em 2º a coerência,
em 3º a coerência, depois em 4º lugar o sentido de futuro
e em 5º o sentido de tolerância. Seriam estes os valores...
coerência, sentido de futuro e a tolerância.
ES.: Considera-se um político, um politólogo
ou um idealista político?
JM.: Político não
sou, tive uma actividade política entre 1974 e 1982, no nascimento
da democracia. Muito intensa entre 1974 e 1976 na Assembleia Constituinte
e depois progressivamente menos intensa e politólogo
também não me considero, porque não sou
especialista, propriamente dito, em ciência política, sou
antes um curioso nesta área. Essencialmente sou um constitucionalista.
Idealista talvez seja em larga medida.
ES.: Pode fazer uma consideração geral sobre
o fenómeno da globalização?
JM.: A globalização
tem efeitos positivos e negativos. Os efeitos positivos são a
comunicação entre todos os povos e a circulação
das pessoas, bens, a informação. E também a consciência
da unidade da Terra e da Humanidade. Agora os efeitos negativos:
o uso da força em todas as suas facetas, a falta de solidariedade
para com o 3º Mundo e os PVDs, um comércio internacional
só favorável aos países ricos, a hegemonia cultural
norte-americana (pois a riqueza da humanidade está exactamente
na sua diversidade). Portanto sou ambivalente; não se
pode dizer que a globalização seja maravilhosa, mas certamente
não é horrorosa.
ES.: Qual é o papel que antevê para a Europa do
século XXI? É o de bloco de oposição aos
EUA? Qual o rumo que deve ser dado à construção
europeia?
JM.: É difícil
responder a essa pergunta, a qual considero ser a mais difícil
que até agora me colocou. Eu próprio tenho muitas hesitações
e muitas dúvidas em respeito a tudo isso. Antes de mais nada
creio que a Europa deve manter, impreterivelmente, a sua riqueza
e diversidade cultural; que não se deixe subordinar e dominar
pela cultura americana, mesmo que esta tenha os seus aspectos
óptimos. Hoje em dia creio eu que há uma quase completa
subordinação à cultura anglo-americana em especial
no cinema e na música. Portanto em 1º lugar gostaria
que a Europa mantivesse o seu espírito de liberdade e a diversidade
das suas culturas e das suas nações. Este é
o ponto mais importante. Creio que se deve aprofundar a integração
europeia especialmente nos domínios dos direitos fundamentais
e na defesa de valores fundamentais. O trabalho que o Conselho da Europa
realiza nestas áreas é primordial e deve ser aprofundado.
Num domínio já puramente político, quanto à
emergência de uma estrutura política europeia é
que a minha posição é de maior reticência.
Sou favorável à integração europeia,
mas acho que essa integração não deve traduzir-se
politicamente na criação de um super estado federal que
seria, em meu crer, uma cópia dos EUA; deve sim traduzir-se em
formas imaginativas como imaginativas e progressivas foram as formas
descobertas, nos anos 50 por Jean Monnet, Robert Schumann, Adenauer,
Di Gasperi. Acredito também numa união abrangente a todo
o continente, mais flexível em que se admitem variadas formas
de integração, umas mais outras menos reforçadas,
o que, de certa forma, já acontece hoje em dia. Aquilo
que eu não gostaria é que a Europa fosse algo de muito
rígido, e que pusesse em causa o princípio do Estado nacional.
Tal seria extremamente penoso, especialmente para Portugal devido à
nossa fraqueza nos mais variados aspectos e devido ao risco de isso
ir quebrar o elo que temos com os países da comunidade de língua
portuguesa, o Brasil, a África Lusófona, Timor,
o que é uma dimensão de Portugal que não podemos
esquecer ou perder. São povos e nações com os quais
temos laços afectivos e culturais mais fortes do que os que temos
com os povos do Norte da Europa. Até porque a ligação
com os países de língua portuguesa ajudar-nos-á
a manter vivas a nossa língua e cultura que são partilhadas
por mais de duas centenas de milhões de pessoas. Neste
campo da língua posso ser considerado um fundamentalista (risos)!
É fundamental, mesmo com a entrada de novos países preservar
o papel de todas as línguas da União. É claro que
sai caro mas é mais barato que um avião militar ou um
submarino.
Portanto a Europa quanto muito uma confederação; uma federação
já não aceito!
Por tudo isto ainda, este anteprojecto de Constituição
Europeia que refere não deve ser confundido com uma constituição
“strictu sensu” como a de Portugal ou a de França
ou outras. É outra coisa. Ainda que haja uma vantagem numa racionalização
e simplificação dos tratados que hoje são quase
incompreensíveis.
ES.: Viveremos sob o “Império da Lei”?
JM.: Como sabem a norma jurídica
nunca tem, por definição, um cumprimento a 100%; este
é graduado, umas vezes 90%, outras 80%... enfim e podemos falar
de muitos fenómenos como a corrupção, a evasão
fiscal, a criminalidade de colarinho branco... mesmo os órgãos
de poder por vezes não respeitam a lei, como por exemplo, a legislação
urbanística ou a ambiental; o horror que são as nossas
cidades. E às vezes até temos leis bastante boas
e progressivas, e, não são respeitadas. E, apesar
de tudo, e não esquecendo os poderes fácticos,
como os lobbies ou grupos de pressão, que influenciam a nossa
sociedade, creio que a lei ainda prevalece embora haja complicados
problemas quanto à sua total aplicação; mas justamente
por isso os cidadãos, os juristas, e a juventude jurídica
têm uma responsabilidade muito grande no sentido de definir o
rigor, sem farisismos, sem formalismos, no cumprimento da lei.
ES.: Poderia fazer uma apreciação
sobre o fenómeno da desumanização da sociedade
actual, sobre o “Admirável Mundo Novo” do século
XXI?
JM.: Há visivelmente
uma desumanização da riqueza e da pobreza nas relações
humanas. Nota-se uma grande quebra do espírito de fraternidade.
A nível mundial, esta hegemonia dos EUA com os satélites
e as novas tecnologias atribuem-lhe o papel de “Big Brother”
e a arrogância com que o poder americano se mostra ao Mundo. Creio
que nas próximas décadas o poder se vá tornando
mais arrogante e desumano. A grande esperança é
que sendo os EUA uma democracia, a opinião pública norte-americana
possa mudar esse cenário. Depois há os abusos da informática,
a possibilidade de, através dela, se penetrar na privacidade
de todas as pessoas, o risco da engenharia genética, da clonagem,
há portanto factores que são
perigosos e que representam um risco para os nossos valores e a nossa
sociedade; por exemplo pode haver ou não armas de destruição
maciça no Iraque mas certamente as haverá noutros países
de 2ª ordem, havendo o risco de se devastar massivamente o Mundo,
mas apesar de tudo também há esperança,
o papel das ONGs, a criação de uma opinião pública
Mundial, fenómenos de solidariedade em pequenos grupos, a preocupação
do diálogo entre as religiões, (apesar de se falar, muitas
vezes, do “Choque das Civilizações”, como
teoriza Samuel Huntington no seu livro), a consolidação
dos princípios democráticos na Europa Meridional, na América
Latina, e em certos países de África, no papel
da ONU e a sua revitalização que é necessária
apesar das suas insuficiências. Há portanto grandes
desafios o que significa que há a possibilidade de lutar e a
juventude terá sempre um papel central nessa luta e nessa revitalização
dos nossos princípios.