A Reforma da Política
Os preocupantes sintomas do descrédito da política na
nossa sociedade são cada vez mais evidentes e não se resumem
aos crescentes níveis de abstenção eleitoral ou
ao desprezo com que muitas vezes se olha os políticos.
Os mais lúcidos incentivam e promovem iniciativas
que visam a reforma do sistema político, alterando regras de
financiamento de partidos, limitando o exercício de mandatos
ou discutindo novos sistemas eleitorais. Ainda assim, tudo isto será
insuficiente, será como um penso que esconde a ferida mas não
a cura. Restaurar a credibilidade dos políticos implica mais
do que meras mudanças conjunturais, exigindo também uma
mudança de mentalidades e comportamentos na acção
política.
Será irresponsável continuar a sustentar a demagogia
de certos políticos que na oposição prometem tudo
e exigem o impossível e, depois no poder, como se de um ataque
de amnésia se tratasse, não fazem nada do que antes disseram.
Paulo Portas constitui um bom exemplo de um mau
político que derruba ministros na oposição, que
por pouco e por muito mais (razões MODERNAs) não larga
o lugar de ministro. A lavoura e os reformados já lá vão…
como um autêntico fardo que circula nos corredores do poder, o
grande crítico dos JOBS é hoje o “Rei” das
nomeações e está acompanhado de uma “Corte”
de assessores onde se ganha mais que o próprio ministro. Em contraste,
honra seja feita aos Ministros que, dignamente, assumiram as suas responsabilidades
no passado como Vitorino, Coelho ou até mesmo Isaltino.
E o que pensar de um Governo legitimado num programa de promessas e
ideias virtuais. Será que o próprio Durão Barroso
acredita que seria Primeiro-Ministro se tivesse assumido em campanha
que não iria baixar os impostos, que iria aumentar o IVA, que
iria acabar com crédito bonificado, que retomaria as portagens
na CREL, que retiraria direitos aos trabalhadores em especial à
Função Pública, que venderia ao desbarato o património
do Estado ou que aumentaria as propinas?
Só o sentido de Estado e o compreensível imperativo de
estabilidade política podem impedir o Presidente da República
de demitir um governo fraude, que governa com uma duvidosa legitimidade
democrática.
Até junto do poder autárquico, que tanto faz pela melhoria
da qualidade de vida das pessoas, paira uma nuvem de hipocrisia entre
partidos e de justificada suspeição de promiscuidades
que é visível aos mais desatentos, bastando para isso
questionar donde vem tanto dinheiro que sustenta tantas campanhas eleitorais
“de luxo” de todas as cores partidárias por esse
país fora.
Com estes exemplos, penso que mais urgente que qualquer reforma do sistema
político feita à medida de quem a aprova, é importante
que todos os políticos e partidos façam uma verdadeira
reforma da sua acção política assente nos princípios
da verdade, seriedade, transparência e responsabilidade, antes
que a reforma da política seja pôr os políticos
na reforma.
A renovação na política que tanto se apregoa, só
é desejável e viável com novas ideias e novos protagonistas
soltos de vícios antigos e descomprometidos com os maus exemplos
do passado. Como disse Jorge Sampaio: “Devemos saber preparar
o futuro. Prepara-se o futuro reforçando a ética da responsabilidade
e do trabalho, que é muitas vezes substituída pela da
facilidade e do imediatismo. Temos de nos habituar a premiar as obras,
o mérito e os resultados, não as promessas e as ilusões.”
Pedro Almeida
O Estado da Nação
Como vai o nosso Portugal desde a tomada de
posse do novo Executivo? Como vai o Mundo? A fobia norte-americana
em busca de terroristas agravou-se, os grandes da Europa teimosamente
fincam pé ao ímpeto norte-americano (num misto entre salvar
os interesses da ELF e compromissos eleitorais ancilares, pois há
quem ganhe eleições agitando a bandeira contra a guerra)
e os restantes... vão a reboque.
Que dizer? Lá por fora, a diplomacia protagonizada pelos falcões
da Casa Branca, domina. Os britânicos e os americanos descobrem
que a grande ameaça à hegemonia da coligação
na península arábica são…eles próprios!
Tanto friendly fire faz-nos pensar.. como raio é que se consegue
ganhar uma guerra quando se auto-inflinge mais baixas do que o próprio
inimigo? Está explicado o desaire no Vietname: tanta selva e
tanto americano vestido de verde propiciavam um clima incrível
ao friendly fire (bem mais propício do que confundir a tecnologia
aeronáutica da coligação com os temíveis
aviões da morte de Saddam, que mais parecem brincadeira de fim
de semana de qualquer aeromodelista)
Cá por dentro faz-se política à
portuguesa: os impostos sobem, o desemprego sobe (já vinha a
subir desde 2000), a Assembleia da República descobriu que se
pode fazer comissões de inquérito para tudo e mais alguma
coisa. Ferro Rodrigues ora é considerado culpado, ora
é absolvido de uma trapalhada socialista no Terreiro do Paço.
Com o choque fiscal, desculpem, com o perdão
fiscal (o choque deve andar perdido) o Estado salvou o défice
(o perdão e umas concessões a uns grupos privados), a
Ministra das Finanças não se importa com as ilegalidades
daí provenientes, e eu sonho vir um dia a ser taxista em Genebra.
O Bloco e o PCP são contra a guerra (categóricamente,
no matter what), o PS não sabe bem, o PSD/PP aplaude a aliança
transatlântica, o Freitas decidiu piscar um olho à esquerda
com a estória da guerra, já que na direita candidatos
não faltam.
O Manel chateou-se com esta democracia, e vai fundar uma nova Ideologia
para esta nova democracia?! Tanto faz, desde que seja à direita
do PSD e antes do PP, seja lá o que isso signifique! Que dizer?
Portugal no seu melhor.
Esquecia-me de uma coisa sobre a guerra: Carvalho da Silva, secretário-geral
da CGTP, no interesse dos trabalhadores de Portugal, achou por bem discursar
na famigerada manifestação contra a mesma. Não
era já suficiente fazer os trabalhadores desfilarem semana sim,
semana não, até São Bento? protestar contra o pacote
laboral, do qual só sabem que é mau? E mesmo para dizerem
o que é mau têm que recorrer a uma cábula? (um bom
exemplo de circulação de informação) Para
quando um lugar para este jovem? O Mário Soares já andou
a tecer-lhe largos elogios, condecorando-o com o eminentíssimo
lugar de uma das maiores figuras da democracia portuguesa, para breve
um Carvalho da Silva a circular no Rato de rosinha no peito (não
se esqueçam do Ferro, ele ainda é o Secretário-Geral,
vão falando com ele).
Grande sinal positivo: a paulatina decadência dos reality shows.
O povo português descobriu que verdadeiramente empolgante não
são as casas nem as Academias, verdadeiramente empolgante são
os noticiários. Entradas, expulsões, reviravoltas melodramáticas:
tudo aquilo que tanto apreciamos.
Este país imutável ao longo dos
tempos continua, e continuará a resistir…ao bom senso.
Nélson Faria