Divina comédia
Ao Céu, ao Inferno e ao meu Purgatório!
Deambulo com os olhos pela multidão constante no distante calcorrear
que praguejam.
Movimentos divinos de faces angélicas, aquelas que procuram o
horizonte como forma de tudo negar.
Passo corrido, esbatido, vencido, acolhe o transtorno da calçada
suja e gasta de todos aqueles sapatos a devorarem.
Lá longe, bem longe, sinto que alguém me toca - um múrmurio
repentino feito de íris azul cravado em ouro ondulado e cheiroso.
Penetra-me com todo o seu fulgor, desbasta-me a fronte sem sequer pestanejar,
e eu perplexo, diabolicamente encarcerado em toda a sua magia, pergunto
àquela bruxa toda a razão do seu fazer... e a dúvida
morre, a incerteza tropeça, o seu desejo cumpriu-se... e a paixão
suspensa no ar cai sobre o corroído chão da minha casa
num breve, suspirante e sibilado tilintar...
Eco agreste de pena e ternura, afinal eu era apenas mais um horizonte
e a sua simpatia patética desvaneceu-se numa obrigação
impelida pelo seu alter-ego, de se auto confortar, pensando que me conforta.
Nunca o vil metal teve um sabor tão amargo, pelo menos hoje será
feito de massa cozida mais tenra, mas nem assim, sem o sabor seco que
só a minha lágrima ajuda a empurrar.
Mais um que não parou, mais um que nada disse, mais uma comunhão
de preces não ouvidas, e eu divino mensageiro da palavra do envagelho
prego com o olhar...
Cai o dia, vem o crepúsculo, acena-me a lua e nunca a escuridão
deixou de me fazer companhia.
A saudade que leve, a saudade que te traga, eu prometo sonhar para deixar
de ver a verdade que me envolve...
Bruno Barros
Xico
Sopas
Baixa Chiado, R\C 3ª ou 4ª casa de cartão .
A\C dos únicos que me ouvem;
Á lua que dorme todos os dias comigo
Aos pássaros com quem partilho o jantar...........