Inicialmente veremos os fundamentos teóricos do método da flexibilidade, que
pode ser utilizado na solução de qualquer método estaticamente indeterminado,
ou seja, toda vez que existirem mais forças incógnitas do que equações de
equilíbrio disponíveis para a solução do problema.
Para enteder o mecanismo de funcionamento do método, vamos inicialmente analisar
a viga apresentada na Figura 17-(a).
Com a finalidade de poupar tempo e também evitando reinventar a roda, adotaremos
a nomeclatura semelhante a utilizada por [Gere e Weaver 1981] na denominação de ações, reações,
deslocamentos e matrizes em geral. Assim que os termos forem surgindo na solução
do problemas, iremos nominando os termos que se fizerem necessários.
Observando a estrutura apresentada na Figura 17-(a), vemos que
trata-se de uma estrutura plana com quatro reações de apoio possíveis. A partir
de agora, convencionaremos representar as reações de apoio, através de um traço
cortando a força ou binário que a constitui, isso diferenciará as ações das reações.
Como a viga da Figura 17-(a) é uma estrutura plana, significa que
existem três equações de equilíbrio possíveis para resolver o problema, ao passo
que a mesma estrutura apresenta quatro reações de apoio incógnitas, o que torna a
estrutura estaticamente indeterminada do primeiro grau, e dizemos então que a estrutura
possui um redundante estático, que pode ser obtido a partir da quebra de qualquer
um dos vínculos (restrição ao deslocamento nos apoios) da estrutura.
Na solução via método da flexibilidade, quebra-se um dos vínculos nos apoios, e para
manter a compatibilidade da estrutura acrescenta-se o redundante estático equivalente
ao vínculo rompido, que é a própria reação de apoio do vínculo que foi rompido.
Qualquer um dos vínculos pode ser rompido, mas no caso dos quatro vínculos
apresentados na Figura 17-(a), optou-se por romper o vínculo
que impedia o deslocamento vertical no ponto B da viga, fazendo com que a estrutura
assuma a forma apresentada na Figura 17-(b).
Como a viga da Figura 17-(a) era estaticamente indeterminada do
primeiro grau, ao se romper um vínculo obteve-se a estrutura estaticamente determinada
(isostática) apresentada na Figura 17-(b). Porém, ao se romper um
vínculo é mandatório que se aplique o redundante estático na estrutura na mesma
direção e sentido da reação do apoio rompido, aplica-se o redndante
como
o indicado na Figura 17-(c).
Desse modo, podemos representar os efeitos globais da viga da Figura 17-(a)
como sendo a soma dos efeitos isolados das vigas das Figuras 17-(b) e
17-(c).
Agora, para determinar o valor da redundante
, calcularemos o deslocamento em
B, para os casos das vigas das Figuras 17-(b) e 17-(c).
O cálculo desses deslocamentos é geralmente realizado através do método da carga virtual
unitária, tal qual foi realizado na seção 1.7.1. Aplicando a mesma técnica,
obtemos o valor de
(positivo no sentido
indicado na Figura 17-(d)). Da mesma forma, para a viga da Figura
17-(b) obtemos o valor de
,
positivo no sentido indicado pela Figura 17-(e).
Agora, convencionaremos que o sentido da redundante será sempre positivo, e
também que os deslocamentos no sentido da redundante serão sempre positivos.
Após adotar essa convenção escrevemos a equação de compatibilidade do nó
B da estrutura da viga original, apresentada na Figura 17-(a).
Sabemos portanto que o deslocamento vertical do nó B da Figura 17-(a)
é nulo, o que nos permite escrever a Equação (2.1):
Isolando o valor de
na Equação (2.1), teremos o valor do
redundante estático dado por:
Como a estrutura é estaticamente indeterminda do primeiro grau, ao se
obter o valor de um redundante estático (
), pode-se agora obter as
demais reações de apoio através das três equações de equilíbrio disponíveis
para a viga plana.
A Equação (2.1) que permitiu a solução do problema é chamada de
equação de compatibilidade, uma vez que determina os valores de deslocamentos
em nós da estrutura. É esta equação que exprime a condição de compatibilidade
de que o deslocamento vertical do nó B deve ser nulo, e a partir dessa equação
é que obtemos o valor de um redundate estático que nos dá a solução do problema,
uma vez que conhecido o valor de um redundante, as demais reações incógnitas
podem ser obtidas através das três equações de equilíbrio disponíveis para
estruturas planas.
Podemos ainda desenvolver uma solução mais sistemática que nos permita chegar
no mesmo valor de
. Esta sistematização nos permitirá expressar as
equações de equilíbrio e compatibilidade em termos gerais e matriciais,
caminhando assim no sentido da generelização matricial que utilizaremos na
análise das estruturas.
Um primeiro passo a ser dado no sentido dessa sistematização, é descobrir
qual é o deslocamento
no mesmo sentido e direção da redundante estática,
quando aplicamos no lugar da redundante uma carga unitária, como indicado na
Figura 17-(f). Desse modo, podemos expressar o valor do deslocamento
, causado por
como sendo o produto da força redundante
pelo deslocamento
causado por uma força unitária, assim teríamos que
. Com essa nova
abordagem, a Equação de compatibilidade (2.1) pode ser reescrita na forma
da Equação (2.3):
Na Equação (2.3)
é o deslocamento no ponto B, causado pela
Ação
na estrutura liberada. É tomado negativo porque é contrário ao sentido da
redundante no ponto B. Enquanto
, representa um coeficiente de flexibilidade,
uma vez que é o deslocamento provocado por uma ação unitária no ponto B, e numa forma
mais geral denotamos pelo símbolo F. O termo nulo a direita da igualdade é a condição de compatibilidade que determina qual deve ser o deslocamento do nó B, que em numa forma
mais geral denotamos por
, assim, podemos reescrever mais uma vez a Equação
(2.3) na forma generalizada apresentada pela Equação (2.4):