Até agora, nos exemplos que apresentamos, para cada estrutura existia apenas um deslocamento
em análise e portanto, apenas um único coeficiente de flexibilidade e um único coeficiente
de rigidez, situação que serviu para explicar os conceitos de flexibilidade e de rigidez,
mas que em casos práticos não será aplicada, uma vez que na análise de estruturas usuais o
número de deslocamentos e ações é consideravelmenet elevado. Nestes casos, ao invés de
trabalharmos com coeficientes únicos, iremos utilizar matrizes de coeficientes, matrizes
essas que são nominadas de matriz de rigidez e matriz de flexibilidade.
Os casos que veremos na presente seção ilustram apenas a utilização das matrizes de flexibilidade
e rigidez nas equações que correlacionam ações com deslocamentos, ainda não discutiremos a obtenção
dos coeficientes de flexibilidade e de rigidez.
Para ilustrar a obtenção das citadas matrizes, analisemos o caso da viga de dois vãos
sujeita a três ações, conforme apresentado na Figura 15. Digamos que
para esse caso desejemos obter os três deslocamentos
,
e
indicados na figura, considerados positivos nos mesmos sentidos das ações aplicadas nos
pontos 1, 2 e 3.
Sabemos que cada deslocamento é composto de parcelas de deslocamento correspondentes
as ações aplicadas na estrutura, de forma que:
![]() |
(26) |
Sabemos ainda que se for possível aplicar o princípio dos trabalhos virtuais, as
parcelas de deslocamento
podem ser calculados considerando as ações atuando
isoladamente na estrutura. Assim, podemos expressar a parcela de deslocamento
,
considerando apenas a ação
. No caso específico apresentado na Figura 15,
podemos expressar
calculando o deslocamento no ponto 1 considerando
apenas a ação
atuando isoladamente. Assim, se soubermos qual é o deslocamento
que provocado por uma ação unitária no ponto 1 acharemos um coeficiente de flexibilidade
que correlaciona o deslocamento
com a ação
dado por:
Pelo mesmo raciocínio que nos permitiu escrever a Equação (1.27), podemos escrever que:
Nas Equações (1.27) e (1.28), os coeficientes
,
e
são obtidos através do cálculo do deslocamento no ponto 1 causado pelas ações
,
e
atuando isoladamente. Para ser mais específico, o coeficiente
é o deslocamento vertical
no ponto 1 provocado pela ação
, ao passo que
é o deslocamento vertical no mesmo
ponto 1 agora causado pela ação
, e finalmente
é o deslocamento vertical no mesmo
ponto 1 causado provocado pela ação
. Como já sabemos que o deslocamento provocado
por uma ação unitária é a flexibilidade, obtemos os coeficientes de flexibilidade
onde o índice
indica o ponto onde o deslocamento é considerado, e o índice
indica o ponto onde a ação unitária foi aplicada. Na Figura 15 esse processo
é graficamente apresentado.
Aplicando o mesmo raciocício com o qual obtivemos as Equações (1.27) e (1.28),
podemos escrever que:
De modo análogo, teremos que:
Assim, usando as Equações (1.27), (1.28), (1.29) e (1.30), podemos
correlacionar todos as ações
com os deslocamentos
, do seguinte modo:
As equações (1.31) podem ser matricialmente expressas na forma da
Equação (1.32).
Em termos genéricos para uma estrutura qualquer, temos que:
Onde:
A Equação (1.33) expressa os deslocamentos em função das ações,
utilizando para isso a matriz de flexibilidade
. Porém, se a partir
da mesma Equação (1.33) quisermos expressar as ações em função
dos deslocamentos, chegaremos a Equação (1.34):
Onde
é a matriz de flexibilidade invertida, de forma que para as mesmas
ações e deslocamentos apresentados na Figura 15, podemos dizer que
, e então escrevermos a Equação (1.35).
Na Equação (1.35) as ações são expressas em função dos deslocamentos e
a matriz
é uma matriz de rigidez para a estrutura apresentada, matriz essa
que pode ser obtida a partir da inversão da matriz
ou diretamente através
da identificação de valores de carregamento que provocam deslocamentos unitários
nas mesmas direções e sentidos indicados pelos deslocamentos
,
e
da Figura 15. Tal processo é graficamente ilustrado
na Figura 16.
Analisando o processo físico ilustrado na Figura 16 vemos que
o que se procura agora é quais são as ações que provocam deslocamentos
unitários, ou seja, quais os coeficientes de rigidez. Se analisamos o ponto
1 especificamente, e perguntamos quais as ações que provocam um deslocamento
unitário na mesma direção e sentido de
, fazendo com que
e
sejam nulos, obteremos os coeficientes
,
e
,
e assim suscessivamente, até obtermos a matriz de rigidez
, em raciocío
semelhante ao desenvolvido na obtenção dos coeficientes de flexibilidade
da matriz
. Os deslocamentos
e
são nulos no caso desses
três coeficientes, por que a pergunta que tentamos responder é quais são as ações
que provocam deslocamento unitário apenas no ponto 1. Quando repetirmos a mesma
investigação para os pontos 2 e 3, acharemos os demais coeficientes de rigidez
que compõe a matriz de rigidez.
Determinar os valores dos coeficientes de rigidez e flexibilidade de uma
estrutura genérica é uma tarefa muito difícil. O que usualmente se faz é
determinar esses coeficientes para certos tipos de estruturas de forma
específica e isolada, construindo-se assim uma tabela de valores desses
coeficientes para situações previamente determinadas. De posse desses valores
previamente conhecidos, divide-se a astrutura global de forma que os coeficientes
de flexibilidade e de rigidez da estrutura global possam ser obtidos a partir
das combinações dos coeficientes conhecidos à priori.