Fonógrafos e Gramofones
É exatamente em 1902 - quando se inicia, a 15 de novembro, o quadriênio de Rodrigues Alves - que o israelita tcheco Fred Figner, instalado na Rua Ouvidor, 107, no Rio de Janeiro, com a sua Casa Edison, começa a espalhar máquinas falantes (fonógrafos e gramofones) e os primeiros cilindros e discos pela cidade e interior. Nesse ano é impresso e distribuído o primeiro catálogo de Fred Figner - arquivo da Casa Edison. Nesse catálogo, estão relacionados diversos cilindros e os primeiros discos brasileiros. A capa é uma alegoria, reunindo fotos de Edson e Fred Figner com as bandeiras norte-americana e brasileira. Em matérias de cilindros, além de fonogramas de árias e duetos de óperas, marchas, aberturas e hinos, solos instrumentais, há nele um extenso repertório de modinhas, cançonetas e lundus, interpretados pelos grandes cantores da época - Cadete e Baiano - e valsas, mazurcas, dobrados, etc., pela Banda do Corpo de Bombeiros, Regida pelo maestro Anacleto de Medeiros. A Protofonia do Guarani, de Carlos Gomes, executada pela Banda do Corpo de Bombeiros, estendia-se por nada menos do que três cilindros.
Em relação a discos propriamente ditos, então chamados chapas, e que haviam sido inventados em 1887, por Emile Berliner (gravação lateral, dita de um lado só), esse catalogo de 1902 apresenta-os em dois tamanhos. Os grandes, um pouco maiores do que os discos comuns de 78 rpm, pertenciam à série X-1000; os pequenos, aproximadamente do tamanho dos atuais compactos , formavam a série 10.000. O primeiro disco brasileiro - pelo menos o que recebeu o número 1 de ordem - apresenta, em selo Zon-n-phone (e não Odeon), o lundu Isto É Bom, de Xisto da Bahia, e tinha o número 10.001. Esta descoberta foi publicada em 1958, por Ary Vasconcelos no jornal Música e Disco, tendo como fonte o primeiro suplemento de discos de Fred Figner. Da relação de chapas grandes, a primeira, que teve o número 1 de ordem, foi também Isto É Bom, com o mesmo Baiano. O segundo disco brasileiro, também cantado por baiano, foi o lundu Bolim Bolacho (um ano ou dois mais tarde foi gravada pelo antigo palhaço de circo Eduardo das Neves).
Entre as músicas que constam do primeiro suplemento da Casa Edison, algumas já vinham do século passado: As Laranjeiras de Sabina; O Gondoleiro do Amor; Lundu Baiano; Mulata; Perdão; Emília. Esta, Melo Moraes Filho em Cantares Brasileiros (Rio 1900) já considerada "popular e anônima". O cenário é o mais lúgubre, pois o diálogo entre algoz e vítima já morta se passa em um cemitério, quando "a turva lua vem surgindo além".
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Atualizado em 20/11/2000