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Hoje é terça-feira. O vestibular é em uma semana. Eu não quero entrar agora na faculdade. Quero entrar daqui a seis meses. Quero arrumar os meus papéis. Desenhos que fiz em cantos de toalhas de papel. O café no meu copo acabou mais uma vez. A faculdade é no Campo Limpo e eu moro no Butantã. Meu pai entrou aqui ontem e me mandou parar de escrever e ir estudar. Hoje eu comecei a pensar que esse movimento de não estudar tem a ver com alguma coisa que está acontecendo comigo. Alguma coisa maior que medo simples ou que birra. Não estudar tem um sentido.
(noite)
Terça-feira, Dezembro 02, 2003 // ***

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Conforme o tempo vai passando eu vou percebendo o que eu sou. Queria que fosse assim, que essa idéia de eu ficasse mais clara. Mas o que eu posso dizer é que as coisas mudaram tanto. Muito tempo que eu não saio na balada. Conversei com a Mari P no telefone e já não sabia falar. A Mari P, uma amiga antiga. O Maurício diz que eu criei um corpo triste. Ele chama assim mesmo, de corpo triste. Corpo triste é o corpo de quem corta todos os prazeres exuberantes de fora pra construir uma estrutura miúda dentro que sustente os próximos passos megalômanos. Então eu e o dito corpo caminhamos agora prum levantar das restrições. Nós dois juntos, a menos de duas semanas do vestibular, vamos conhecer a cidade, suas linhas de ônibus, as casas dançantes, as moças tímidas e...
(noite)
Terça-feira, Novembro 25, 2003 // ***

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A questão principal sobre a qual eu me concentro é que eu tenho que criar alguma coisa. Tem que ser alguma coisa sob a influência de psicotrópicos. Mas eu não uso mais nenhuma das drogas da trinca (cigarro, álcool ou maconha.) Então fica complicado porque é como um impasse. E esse é o impasse que eu elegi como o mais importante. Na terapia eu chamo as idéias que surgem sob a ação da trinca, de sonhos.

Idéias fantásticas, maravilhosas, saborosas. Sonhos que acalentam os meus dias sem sal.
(noite)
Terça-feira, Novembro 25, 2003 // ***

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Terça-feira, dia de calor extremo. Toca alguma música no computador. Não estou suportando ouvir nada, minha cabeça está cheia. Uma irritação colossal sobe pela minha espinha porque eu tenho certeza que eu tenho coisas importantes pra escrever mas elas não estão chegando no teclado. O que fazer? O que fazer? Uma irritação maior ainda me toma e eu abro o programa do email pra ver se chegou alguma coisa, nada. Fui na terapia essa tarde. Peguei um ônibus e um metrô pra chegar e um ônibus e muitas milhas caminhando pra voltar. Estava com sono e quase dormi na sala de espera. Peguei uma revista e li sobre a comercialização do hip hop. E chega a ser ridículo: uns sujeitos indecisos decidindo se se vendem ou não. E a maioria deles se vende e acha que isso não vai diminuir o sentido contestador, o “movimento”. Idiotas.
Terça-feira, Novembro 25, 2003 // ***

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Sinto uma inquietação imensa. Como se eu estivesse solto na vida. Como se nada me apoiasse e eu fosse dar o giro no escuro e cair. O giro... Essa noite que passou eu acordei muito assustado pensando estar em perigo iminente. Fechei as janelas, verifiquei se não havia um assaltante no banheiro e voltei pra cama. Tenho medo na rua de ser assaltado; todo dia. Então é noite outra vez e eu sinto esse ar sinistro. Fiquei acordado muito pouco tempo, o dia já chegou no fim; eu estudei o dia inteiro, não escrevi. Estou angustiado como nunca havia acontecido. O ar desse sonho da noite passada está no ar e eu tenho medo de ir pra casa e encontrar outra vez esse medo no novo sono.
Quarta-feira, Novembro 19, 2003 // ***

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Passou muito tempo, uma imensidão dele. Peguei todo tempo na mão e brinquei o dia todo (com as fichas verdes do tempo). Passou muito tempo em mim e fora de mim. Eu estou aqui escrevendo essas linhas tortas. Meio preocupado com o porvir e o porpassou. Eu desejava mulher, mulheres. Eu desejava bebida. E fumo. E amor. E cigarro com café. Desejava... Tem esse site em que está escrito -- feito sob o efeito de fumo -- e são umas viagens de programação. Tem até um pequeno selo. Então eu pensei em fazer faculdade de matemática. Acho que era pra criar umas coisas assim no computador. E os desejos vem e passam por mim e levantam tanta poeira. Mas passou tudo isso. Eu deixei pra trás. Amanhã eu começo a estudar pro vestibular. Quem sabe ainda hoje. Mas me dá medo o que eu sou hoje. Porque é muito solitário e against the system. E na verdade a coisa toda me pega de um jeito tão sinistro. Eu me sinto vazio e desamparado sem o companheiro cigarro. Hoje eu me sinto revivendo tristezas antigas. Nem sei ao certo porque. O porque... O que eu sei é que eu estou num bom caminho. Eu vou me proporcionar tudo o que eu preciso. Tão longe o tempo das baladas. O tempo em que eu dançava. E eu já dançava, no fim do ano passado, sem beber. Não bebia nada e ficava lá, bobo. Não fiquei com nenhuma menina o tempo inteiro. Eu sei o que eu faço comigo. Mas eu queria... Eu queria agora conversar com a minha terapeuta e contar pra ela as coisas que tem acontecido. Porque ela me conforta um pouco e me diz que tudo não é tão estranho assim quanto parece.
Quarta-feira, Novembro 19, 2003 // ***

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Faz muito muito tempo que eu não escrevo. Tenho tentado escrever coisas no diário. Mas parece que as coisas no texto não se organizam, não contam nenhuma história, não são nada. Se eu fosse escrever eu diria que eu estou com susto. Um susto profundo que impede a minha cabeça de se organizar. Um susto muito bom de coisas muito novas. Eu vou fazer faculdade. Eu mudei do garoto que eu era em um dia. Em um dia eu deixei de ser tantas coisas, inclusive o garoto que escrevia aqui. Aí eu pensei que se eu escrevesse pro blog eu conseguiria retomar alguma coisa na minha cabeça, eu conseguiria dizer alguma coisa com alguma ordem. Estou lendo Caio Fernando Abreu também. E -- se eu chorasse... -- eu estou chorando em cada página do livro. Acho que eu não gosto mais de dizer pras pessoas as transformações pelas quais eu estou passando; eu quero dizer pra mim essas coisas, essa maravilha.

O que eu posso dizer pra mim? Eu posso dizer “parabéns meu menino, você está brilhando.” Mas isso não basta, eu me acostumei a desdobrar no computador os sentimentos, unfold. E eles não estão se deixando pegar porque são sentimentos 2.0. Caralho! que coisa complicada! A coisa na qual eu me transformei é muito nova. Eu parei com todas as drogas. Eu usava de três tipos: maconha, cigarro e álcool; parei com os três. Você não imagina o que é a sobriedade chegando. Minha cabeça ficando mais e mais presente no mundo. E as coisas não lisérgicas mas com cores mais brilhantes. Sobriamente intensas; é uma porrada no estômago. É foda. Ai o texto tá muito confuso e não é bom assim. Mas acho que falar das coisas faz sentido. Falar coisa, troço, negócio, sentimento. Sem chegar nos detalhes. Os detalhes quase que não existem. Mas normalmente a narrativa e os detalhes são a mesma coisa. E eu não lembro detalhe nenhum. Como e vou falar do meio da minha confusão que sexta eu fui na terapia e falei isso e aquilo. Eu nem lembro da sessão. Tudo tão rápido, quase uma piada. Mas ela, a terapeuta, e forte, e ela falou que eu estava me escondendo, que eu estava com medo. Medo de fazer a coisa mais direta e certa que era pegar essa faculdade paga. Aí eu peguei a faculdade paga, não tinha jeito, era óbvio demais que eu tinha que pegar ela. E eu peguei e no momento em que eu encostei a mão não tinha mais céu nem terra, nem planeta, nem pessoas, nem coisa nenhuma. No momento em que eu peguei eu identifiquei sentimentos muito antigos de sair na rua e me divertir com o fluxo. E poder olhar meninas com olhos gordos porque elas não iam me notar como sendo uma mosca varejeira.

Caralho. Caralho caralho caralho. Tô sozinho e contente com a vida. Como um cara bruto, tosco. Eu me sinto assim. Incapaz de perceber as coisas com ordem. A sobriedade é desorganizadora dos nichos. Estou esperando a nova forma assentar mas isso vai demorar meses. Acho que eu preciso passear pela cidade. Foi isso que o Cisma disse. O Cisma disse preu desviciar desses ezines de design e ir passear na cidade. Que louco isso. Passear pela cidade, perceber as pessoas, eu com interesse renovado pela sobriedade. Mas não pense que a sobriedade chegou agora, ela está chegando já há dois anos. E cada camada vai sendo construída. Mas é uma piração. Como usar óculos escuros. Tô confuso, é domingo de noite. Eu vou pra casa e esquecer tudo isso. O fim de semana é curto. A Li foi no cinema com a Cissa. Bom... A Li está muito bem, melhorando pra caralho. Eu também. Mas meu coração está assim tão louco. Tão louco de verdade. “E a lua absurda sobre nós, DNA, DNA...”
Domingo, Outubro 26, 2003 // ***

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A minha vida se planta em bases fortes. Sou um menino de pernas espaçadas. Mas minha cabeça é doente. Quer chorar e chorar. Alguma coisa me diz que eu preciso expressar toda a minha dor. A dor que essa dureza que eu vesti me causa. Sou de todas as pessoas a mais severa comigo. Porque estou sozinho. Porque meu pai passa longe de mim e minha mãe só se olha. E minha irmã só se olha e passa longe de mim. Ou será que fui eu que me afastei. Eles são podres e eu também. Eu respiro fundo e me digo que tenho que continuar. Que todo dia é uma grande batalha. Que não há paz. Só momentos de descanso. Desculpa que está tão mal escrito. Hoje eu vou seguir e também me expressar. Me expressar é essencial. Eu tinha o cigarro, a solidão, as madrugadas e o café. Agora eu não tenho nada. Só o esforço crescente a cada dia. Um dia minha alma vai precisar descansar. Quando eu me sentir em segurança. Eu olho pra vida e vejo que tudo é perigoso.
Domingo, Outubro 19, 2003 // ***

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Depois do umbral tem uma sala de pedra

Não estou com a menor vontade de escrever. Estava escrevendo: “Cruzei o umbral.” Na verdade eu cheguei num lugar novo, completamente novo. A impressão que eu tenho é que a libertação do álcool, da maconha e do cigarro está produzindo uma outra pessoa dentro de mim. “O que corre dentro?” Dentro corre um rio de lava. No lençol de dor. O que essas linhas querem dizer é que uma pessoa não drogada vai se descobrindo e percebendo que não precisa de uma porção de coisas. O que eu vou percebendo é que essa pessoa está caminhando decidida. Livrando-se dos entulhos enormes. E ela foi tão rápido que as palavras, seu diário, não chegaram juntas. As palavras estão metros atrás. O lugar é tão novo que a vontade é de atulhá-lo. Não quero sexo. Não quero amigos bacanas. Não quero realização intelectual. Quero sustentar o vazio. Quero acomodar o carinho. Quero estremecimento e um corpo forte. Pernas velozes. Não sei ainda como descrever o outro lado do umbral. Não sei como me acomodar. Tenho medo que a vida acabe agora. Medo de pifar. Ahhhh.
Segunda-feira, Setembro 29, 2003 // ***

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Tão linda, é a Lina.
Sábado, Setembro 27, 2003 // ***

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O post que deu errado, a vida que se foi e deu errada

Posso escrever coisas estelares. E me enfiar num banho de sais. Hoje eu sai com o Fernando. Fomos ver um filme francês, um documentário. Depois fomos comer. Depois ele se despediu de mim. Depois nós nunca mais nos vimos. Pessoas mortas do passado não deveriam voltar. Ele voltou. Eu retornei. Sinto estranhamento na ponta dos dedos. Falta meia hora e então eu vou me dirigir pra minha casa. Eu estou dissonante. A terapia que foi maravilhosa e antecedeu o Fernando badala na minha cabeça. Eu quero escrever que eu sinto agora que tudo é novo. A maneira pela qual eu me relaciono. Como eu organizo o meu tempo. Com setenta anos eu vou ler essas palavras e eu não vou lembrar. Eu nunca lembro coisa alguma. Maldição.
Sexta-feira, Setembro 26, 2003 // ***

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Acho que eu estou delicado. Sinto uma enorme vontade de chorar. Um choro pra me recompor. Pra me acolher. Muita tormenta. Não foi tanta assim, mas foi. Se eu posso hoje me recolher e lembrar e esquecer do que me aconteceu. Escrever o acontecido pra enterrar ele. E seguir. Como um estruturador combinando as peças.
Quarta-feira, Setembro 24, 2003 // ***

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Um oceano de inefável alegria

Meu desespero pode ser profundo. Talvez porque as dores sejam grandes. As dores são grandes. Maiores. Sinto que uma parte de mim é roubada. Antes de forjar a armadura eu me recolho sem armadura num canto e me envolvo em algodão. A maciez da solidão. Enorme é o sono. Em que se dorme transtornado e se acorda sereno.
Quarta-feira, Setembro 24, 2003 // ***

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É quarta feira fim da manhã e aconteceram tantas tantas coisas que eu fiquei aturdido, tonto. Fui três ou quatro vezes na faculdade e foi confuso. Cada encontro trazendo tristezas e alegrias. E então hoje eu me debrucei sobre mim mesmo. Fui descobrir o que eu era um bocadinho de tempo antes, 15 dias, um mês.
Quarta-feira, Setembro 24, 2003 // ***

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Segunda-feira, Setembro 15, 2003 // ***

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Segunda-feira à noite, depois da aula de atletismo. A segunda em que eu vou. Estou desconfortável. Por conta da burocracia eu fui na faculdade. Aquele prédio deve estar magnetizado de alguma forma porque minhas pernas tremeram lá dentro, a pulsação aumentou. Odeio e adoro o prédio. Odeio e adoro a vida universitária. Olho os universitários, de quatro a oito anos mais novos do que eu. Sou velho pra estar lá dentro. Me sinto imediatamente humilhado. Até o fim da minha vida eu vou estar me perguntando porque eu me criei tantos problemas enquanto estava na faculdade. Nesse momento difícil eu quero sair do meu corpo. Quero esquecer que meus olhos estão apertados. Quero me ausentar de uma vida que vive se penitenciando por erros passados. Tomou-me uma severidade. Não desculpo, não sou indulgente, não cedo. Há um impasse interno. Pra viver eu tenho que jogar fora esse carro amassado, essa lataria despedaçada. Mas é impossível pois não se volta oito anos no tempo.

Hoje corre em mim uma raiva. O tempo está passando, o cronômetro ligado. Tenho que dar certo na vida. Tenho que dar certo na vida. Tem que ser rápido. O tempo come a possibilidade. Inválido aos 26. Ostracismo.

Hoje está tudo agudo. A visita ao prédio aguçou tudo. Maldição. Força força força e não sei se no final vai dar certo.
Segunda-feira, Setembro 15, 2003 // ***

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Amor. Ela me mandou um conto do Caio Fernando de Abreu. Sobre amor. Acho que era uma declaração de amor que ela fez pra mim. Então, a gente se encontrou duas vezes, com duas semanas de espaço, e então ela me mandou o conto pela internet. E eu vou considerando se fico com ela ou não. Se entrego meu coração desesperadamente solitário pra ela ou não. Amor. Mas o que me pega hoje é de outra qualidade. Fico lembrando que fumei cigarros por oito anos. Oito meses que eu não fumo. Eu olhava pra vida de um jeito diferente. Mais como uma balada. Tenho uma dificuldade de entender esse tempo passado.

Aqui. Sentado na cadeira estofada do escritório. Noite fria, das mais frias.

Estou precisando contar sobre o ano. Foi um ano submerso. Todos os processos foram desenvolvidos debaixo, dentro, na carne, na intimidade. Não houve manifestações externas. Me olho e vejo que aparentemente nada aconteceu desde 15 de dezembro. E nada aconteceu. Sinto tristeza. Medo. Tanto trabalho pra não sair do lugar. Horror. A vida vai caminhando pra extinção.

Acho estranho que tenha sido assim. E se é assim sou obrigado a reconhecer o meu jeito de ser. Diria que o ano passado foi de explosão e muitos estímulos. Não estava escolhendo de verdade. Nesse ano o Angelo de verdade se apresentou. E ele é triste e insignificante. Ele tende a não existência. Ele se esconde do mundo. Ele não se relaciona. Mais um pouquinho e ele vai sumir.

Posso agora caminhar livre pelos campos. Já sei o que sou. Esse fardo pode ser jogado fora. Reconhece-se o que é-se pra nunca mais sê-lo.

Mas é curioso que o ano tenha sido dessa forma. Quem diria do apogeu do ano passado que o que se seguiria seria um ano intimista? Se eu, do ano passado, fosse prever esse ano, diria que eu iria pro mundo. Que abandonaria as minhas conchas e me entregaria as orgias. O bacanal da socialização.

Sou solitário.
Quinta-feira, Setembro 11, 2003 // ***

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a)
Tarde de domingo. Nada acontece. Minha vida estacionou. Blogs antigos. Tempo ameno. Nada de bom. De realmente bom. Velhos hábitos. A escrita gasta. Não serve pra nada. Minha amiga está demorando pra chegar. Mas não importa. Não estou esperando. Um tempo estranho porque é como dia de semana na fazenda. A escrita gasta porque não tem mais segredos. Não me acompanha mais de corpo e alma. A alma foi passear, sobrou a casca. A escrita gasta porque a dor extrema já não faz sentido. Eu não estou mais sofrendo e isso é uma pena pra escrita. A escrita gasta. Sem anedotas cotidianas. Tédio. A internet gasta. Eu gasto. Sem segredos. Velho. Aqueles que me cercavam estão entediados também. Todos morrendo de tédio. Não há mais ânimo numa conquista amorosa. Não tem mais frio na barriga. A escrita gasta porque ninguém se anima a pegar no telefone. Minha família na praia. Não tem mais briga pra animar o cotidiano. Tudo gasto, sem graça, fiquei velho.

b)
Tarde de domingo. Nada acontece. Minha vida estacionou. Blogs antigos. Tempo ameno. Nada de bom. De realmente bom. Velhos hábitos. A escrita gasta. Já tem três anos que eu escrevo. Escrevia pra salvar a minha vida. Tudo era desespero, balançava. Eu em pânico dia depois de dia. Planos muito mirabolantes pra salvar a minha vida das catástrofes anunciadas e presentes. Me sinto triste pelo que passei. Então essa super ferramenta chamada diário chegou. E ela me colocou num mundo de fantasia à parte. E também na realidade. A escrita era um enorme lagarto complexo com mil órgãos. Pra cada coisa ela servia. Ela me ajudava e atrapalhava. Tão ambígua que eu não consegui distinguir. A escrita me ama. Ela foi meu cobertor. Escrita, longínqua.

2)
Bizarra MA. Te escrevo depois que me abandonaste. Eu sou trapo agora. Eu não tenho voz pro tamanho enorme da vileza do seu comportamento. Bizarra MA, nunca um abraço foi tão quente e dois corpos na cama tão cândidos. Eu fui, tu foste. Depois que o tempo passou. Que eu me joguei debaixo do trem e volto das trevas. Raios nas minhas mãos. Um trovão no seu peito. Explosões. Depois que o tempo passou eu chego num dia e olho, só olho, nada demais. Olho e vejo você, na minha lembrança, já borrada. Não tem nada mais bonito que uma mulher de maquiagem borrada. Não tenho mágoa. Mas essa sequer é a pergunta certa. Na vida a gente se machuca, não importa muito. Eu agora sou um apaixonado. Não por você, você foi mesquinha. Mas pela batalha.
Domingo, Setembro 07, 2003 // ***

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Fim de um dia bizarro. Que ódio. Um ódio calado de toda a minha impossibilidade. (Impossibilidade) de terminar o trabalho hoje. Sabendo que esse é apenas mais um dia que eu adiciono na pilha. Pequenas conquistas diárias à custa de sangue. Li um conto do Pellizzari. Um que o sonho ia embora quando a fumaça do cigarro ocupava o lugar do sonho. Um descarrego de energias, é assim que eu me sinto. Encostando em assuntos passados. Tem três meses que estão presentes na minha vida; em que eu escrevi seguidamente. Minha estatura de hoje me permitiu estar nesse tempo passado. Mas o que importa é o sangue. A raiva. O esforço metódico. Tudo. Lembrando que um diário pessoal não está tão interessado assim na literatura e sim na dramaticidade do próprio cotidiano. É bom que doa. Queime. Machuque. É bom que seja uma batalha. Diária. É bom que seja sério. É bom que as lágrimas selem o trato. Sangue.
Sábado, Setembro 06, 2003 // ***

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Fiquei pensando que conseguiria organizar um texto. Um que contasse do que eu tenho vivido. As pessoas que eu encontrei e as conversas que tive. Porque escrever tem me acompanhado esse tempo todo e eu querendo fazer algo mais literário. Então deixa isso pra lá. A Olívia tem sido uma pessoa constante na minha vida. Uma das mais constantes. Meus pais, minha irmã e o casal de portugueses que estavam lá em casa foram viajar pra casa de praia da minha tia rica. Eu não quis ir. Acho minha mãe muito louca, meu pai um tímido medroso. E minha irmã não consegue me enxergar. Os portugueses são uma graça, mas eu sou muito tímido. Além do que, eu estou fazendo esse esforço enorme pra acordar cedo, uma conquista.

Às vezes fico com muito medo de escrever claramente. Penso que alguém lendo pode deduzir quem eu sou e assim saber meus segredos; dos quais me envergonho. Mas é só mais uma página na internet. Então não dá pra ficar preocupado em demasia.
Sexta-feira, Setembro 05, 2003 // ***

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O carinho com que eu falava do cigarro, que era o meu companheiro de aventuras e a gente ia junto pelas estepes geladas, levando fumaça de amor pras pessoas. Cigarro, meu querido companheiro, amigo das noites frias. Minha vida ainda está muito vazia.
Sexta-feira, Setembro 05, 2003 // ***

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Sexta-feira, Setembro 05, 2003 // ***

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Sexta-feira, Setembro 05, 2003 // ***

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Domingo à noite. Espero a Olívia que vai vir com o carro do pai me buscar aqui. Desliguei a música. O segurança do fim de semana fede muito. A garrafa térmica resiste e o café sai quente. Coisas estranhas e bizarras. E eu passei a tarde escrevendo e o dia caiu. Prelúdio de segunda feira. Péssimo. Na verdade ótimo. Mas eu não estou com um sentimento bom. Acho que escrevi demais e me estraguei. Saíram umas coisas bisonhas da minha boca. Salamandra cozida. Hoje era dia deu me emocionar. Ouvir a música leve, chorar. Chorar é bom. Eu quase chorei na sexta, me segurei. Meu peito, meu coração, meus sentimentos. As pessoas. A coisa é que eu não encontro mais o cantinho aconchegante que eu encontrava na escrita. Era como o Poo e seu pote de mel. Faz tempo que não compram mel lá em casa. É meio duro transformar uma coisa que já foi tão afetuosa em uma ferramenta. A escrita é uma ferramenta para o desenvolvimento pessoal. Brrrr... A Clarah vai lembrar. Não. Nunca contei pra ela. Que o meu sonho era viver num apartamento minúsculo cercado de prédios, com um computador velho e muitos cigarros e também café, escrevendo loucamente. Era o meu sonho de vida. Longe dos meus pais infernais. Longe dos meus amigos que me magoaram. Sozinho. Eu, as coisas e as ondas de prazer. Piffff... é óbvio que não aconteceu. Com esse texto, assim arrumadinho, até parece que eu sou gente, né? Eu não sou, é fake, eu aprendi, eu copiei. E também nem desejo isso. Ser um beat. Acho que eu sou da geração bit. Falei pro namorado da minha irmã, “Quero ser nerd.” É... cansou isso, né, de escrever. Cansou escrever e não achar mais o tampão do meu peito. Eu achava, era como uma pia com um buraco enorme com um tampão enorme. Brrrr... Na verdade -- querem a verdade? -- eu era estranho pra burro e deixei de ser. Agora eu sou normal, vocês já podem gostar de mim e me mandar emails. Vem! Manda! Hahaha. Eu não sou tão cruel assim. É só que é engraçada a vida com as suas coisas todas. Não é nem humor, é uma coisa engraçada mesmo. Bisonha, engraçada.
Domingo, Agosto 31, 2003 // ***

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Esse post é muito ruim

É madrugada, é bem de manhãzinha e eu estou começando o meu dia. Prefiro dizer também que é assim com a minha vida. Não importa que frases delicadas eu coloque aqui eu não vou conseguir transmitir a delicadeza dos momentos que vivo. Tá doendo, tem uma lança profunda enfiada dentro de mim, do meu peito. Meus olhos estão fechados. Eu exploro o mundo iniluminado. Eu nunca imaginei que a vida sem eu me chapar fosse tão sensível, tão delicada, tão dos sentidos e dos sentimentos e das dores de parto. E é tão novo e tão incrível que eu não quero. Quero a mesquinhez antiga, tudo antigo, o tempo retrocedido. E eu olho essas fotos dos tempos de euforia das drogas, das viagens pela Bahia e eu quero que isso se apague porque eu não sou mais capaz. O que eu quero mesmo é a madrugada, bem escura, o silêncio, meus toques no teclado e uma música dura. O joguinho do computador. Acordar pra ficar exausto pra conseguir dormir o máximo. Inconsciência. Cigarro pra se cansar e dormir mais. Dói horrores agora. E eu simplesmente não quero. Todo dia tento me empurrar pra trás mas não dá. Então eu sigo o fluxo, o fluxo, o fluxo alucinado desses dias. Não me pergunto, só luto. Minha consciência não ultrapassa o momento. Impossível refletir. É só estranhamento. Ela diz “Doeu dois anos pra não doer mais.” Eu digo “Não sou bobo, a dor vai aumentar em progressão geométrica.” “A dor não vai parar, eu sei.” E mesmo ela sendo mais velha eu não acredito. Não acredito numa palavra dela. E ela não quer mais me consolar. Eu cansei. Eu dei demais.
Quarta-feira, Agosto 27, 2003 // ***

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