Lenda da praia do Olho d´Água
Uma das mais aprazíveis praias de São Luís, distante
cerca de quinze
quilômetros do centro da Cidade, é a do Olho d'Agua. Ainda
hoje, apesar da
existência de outras muitas igualmente belas e às vezes mais
próximas do
centro urbano, continua muito procurada pelos banhistas.
Entre o mar e o sopé do conjunto de dunas alvas, um vasto estendal
de areia
esbanja beleza e alvura, sob a luz do sol ou do luar.
Conta-se que primitivamente houve ali uma aldeia indígena, cujo
chefe era
Itaporama. Sua filha apaixonou-se ardentemente por um jovem da tribo. Mas
este, por ser muito belo, igualmente provocou a mais acesa paixão
da Mãe
d'Água, que, por seus encantos e poderes sobrenaturais, conquistou-o
definitivamente, levando-o para seu palácio encantado, nas profundezas
do
mar.
Perdendo para sempre seu grande amor; a filha de Itaporama caiu em grande
desolação. Disposta a não mais alimentar-se, foi para
a beira da praia, onde se
entregou, resignada, a seu martírio sentimental, chorando copiosa
e
interminavelmente, até morrer.
Surgiram, de suas lágrimas, duas nascentes que até hoje correm
para o mar;
formando o riacho perene em que os banhistas vão "tirar o sal do
corpo", como
popularmente se diz.
É o eterno pranto da filha de Itaporama por seu amado que a lara
lhe
conquistou.
Stella Leonardos assim termina o poema Lenda da Praia do Olho d'Agua, de
seu Cancioneiro de São Luís, um dos mais belos livros 'de
poesia sobre a
Cidade:
(A iara cauda de escama,
voz de vaga, fluida flama.
Ai filha de Itaporama!
A voz da iara é uma trama.
Diz adeus a quem não te ama!)
Depois, as dunas e as águas
do estendal de areias alvas
viram rolar muita lágrima
da cunhã dos olhos-mágoa
que se finou de chorar.
Foi quando dois olhos d'água
de uma doçura lendária
se espraiaram pela praia.
E ainda correm para o mar.