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EU PREFIRO SER CHAMADO DE RADICAL, PRETENCIOSO OU EXTREMISTA, DO QUE DE EMO

Como sabemos que certamente seremos rotulados como “emo,” este texto expressa nossa posicão a respeito de “emo” e porque não gostamos de sermos associados a este termo. Pois, ao descrever algo como emo, vários outros aspectos são automaticamente embutidos neste rótulo, como descrito no texto abaixo. Embora este texto se aplique a realidade americana, decidimos inclui-lo aqui apenas por uma questao de opiniao, e, porque nao, de impedir que isto aconteca no Brasil tambem. Escreva-nos com sua opiniao. Obrigado.



 

Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que isto não tem nada a ver com aqueles textos que dizem “emo não é mais como Embrace…” ou “esses sons de hoje já não são mais emo…”. Estes textos me deixam incrivelmente entediados, e é claro que emo não é mais como Embrace. Um argumento parecido é usado por pessoas que dizem que qualquer banda que não tenha uma bateria rápida não é hardcore. Mas estas pessoas não veem que hardcore, ou emo, não tem nada a ver com um específico estilo musical. Hardcore, ou emo, são (ou deveriam ser) movidos por palavras, idéias, sentimentos, abstratos ou complexos. Esta é a base para qualquer tipo de música que tenha um mínimo de substância. E estas idéias, estes sentimentos, também podem ser expressados através de experimentalismo e expressão musical, por tentar, inventar, descobrir novas maneiras de composicões e estruturas. Algumas bandas ainda usam aquele velho estilo de hardcore rápido (como TRIAL), enquanto outras também fazem uso de expressão e experimentalismo musical para expressar suas idéias e emocões (como SUBMISSION HOLD). Eu diria sem dúvida que ambas expressam profundamente o que é hardcore, mas usam diferentes métodos para chegarem a um resultado semelhante. Se você não consegue enxergar hardcore em uma banda como SUBMISSION HOLD simplesmente porque eles não tem uma bateria rápida, desculpe, mas este é um problema seu, não deles. Mas por favor não venha me dizer que eles não são hardcore.

Mas o que eu queria dizer sobre emo não tem nada a ver com música. Eu não me importo com o tipo de música que você toca, desde que contenha SUBSTÂNCIA. Seja você um músico negro de jazz ou um grupo de rap, uma cantora de folk gorda e lésbica, ou um garoto hardcore branco, eu darei valor ao que você faz.

Mas o negócio é que, transferindo para minha vida pessoal, quando parei de me considerar Straight Edge e comecei a escrever coisas mais pessoais, não tinha nada a ver com “ largar o hardcore,” mas o oposto – eu precisava de questionar, saber porque, eu precisava de conhecer melhor a mim mesmo, eu precisava de ir ao lado de fora por algum tempo. Mas nunca, em momento algum, senti ou pensei em “largar o hardcore”, nunca senti que tinha abandonado os ideais que fizeram tanto sentido para mim quando comecei a me envolver com o lado mais político do punk rock. Aquele tempo passou, eu não faria ou escreveria o que escrevi antes, mas eu não me arrependo de uma só palavra (mesmo que elas tenham me causado alguns problemas irreversíeveis). E hoje, enraizado como nunca no que o punk rock significa para mim (mais em seu ideal do que na cena), eu reconheco a importância daquela época em minha vida e como me ajudou a ser o que sou hoje. E sim, durante aquele tempo tive influência do que hoje é chamado de “emo” – ao menos, o que eu achava que era. Eu nunca vi o emo como algo separado do hardcore, muito pelo contrário – o que era emo para mim – o questionamento e reavaliacão de nós mesmos e do ambiente onde estamos – fazem parte do princípio mais básico do punk rock. Simplesmente porque, se não questionarmos, ficamos estagnados, nos tornamos redundantes, deixamos de considerar todos os lados de uma questão em consideracão.

Mas eu estava errado. Emo é pintar o cabelo de preto escuro, usar suéteres de lã, óculos engracados, calcas pega-frango(ou, dependendo de onde voce mora, calcas "pula-brejo"), sapatos de nerd e vestidos de bolinhas. Emo é encontrar em “o hardcore me decepcionou” razões para comecar a beber e a fumar novamente, e fazer coisas que se aproximam de uma vida “normal.” Emo é PROMISE RING, a banda mais pop, feliz e descompromissada, que hoje está na MTV (e acho que podemos prever EXATAMENTE a direcão que o emo está tomando, ao olharmos a capa do novo 7” do PROMISE RING, que mostra um garoto e uma garota usando roupas esterotipicamente emo). Emo é Indie Rock e Deep Elm Records, com a auto-intitulada coletânea “The Emo Diaries” (qualquer um que possa se considerar “emo” deveria se sentir envergonhado por esse disco). Emo é assistir a shows sem nenhuma expressão, com mochilas de jornaleiro (a última moda) e esquecer o que é ser realmente movido por música e palavras. Emo é ser excessivamente preocupado com algo tão sem importância como moda e style, e esquecer que quando nos envolvemos com o punk rock, foi para FUGIR do vazio da moda e style. Então eu diria que não, emo não é parte do punk. Emo é depois do punk. Emo é para adultos. Emo é o mais perto que chegamos de um estilo de vida “normal,” sem dizer que totalmente largamos o nosso movimento juvenil. Emo é vender discos a um preco ridiculamente alto (ver Jade Tree, Crank!, Deep Elm, etc) e usar truques de propaganda dignos de uma empresa de tabaco (ver aqueles mesmos selos). Emo é escrever músicas sem nada a dizer (nem ao menos os sentimentos que tinham sua razão de ser quando o emo surgiu). Emo é tocar um estilo de música que está em alta hoje, sem ao menos saber porque, e com praticamente nenhuma substância. Até a subdivisão do emo que é supostamente mais próxima do punk, o chamado “screamed emo” ou “emo gritado,” se tornou tão previsível e tem tanta falta de substância, que quando você vê uma banda cair no chão ao som dos primeiros acordes, ou ser absolutamente abstrata, faz você pensar porque é que eles fazem isto (e eu sinto falta de Constantine Sankathi e do LP duplo do Still Life…)

Eu também gostaria de deixar claro, antes de receber cartas furiosas, que eu não acho que haja algo particularmente errado em ser envolvido com emo. Cada indivíduo sabe como viver sua própria vida, e última coisa que quero é dizer as pessoas como viver. Se alguém quiser largar o punk rock, que direito tenho em dar palpite? É apenas triste ver um movimento juvenil ser inundado de música, letras, e conversacões sem substância alguma. Em outras palavras, de tudo o que tentamos fugir ao nos envolvermos com punk. E é algo que eu quero me distanciar o máximo possível. Quando vejo que cabelos oxigenados, tênis de skate, calcas largas, e camisas de bandas sXe foram apenas substituídas por cabelos preto escuro, sapatos de nerd, calcas pega-frango e suéteres de lã, vejo que estou no lugar errado. Emo tem tanto a ver com moda e style quanto straight edge ou clubber. Quando vejo as pessoas à minha volta caminhando cada vez mais em direcão a um estilo de vida “normal,” entendo o que Kent McClard quis dizer quando escreveu “O Hardcore me ajudou a crescer, as também me mostrou um caminho que poucos tomam. Quando alcancar o meu destino, será que alguém estará lá?”.

O que fazer então? Não é necessário desistir. Tudo o que precisamos é de mais pensamento crítico, mais discussão, mais questionamento, porque nos comportamos da maneira que o fazemos. Mas, claro, posso estar falando para paredes se emo realmente significa desistir de nossos ideais punks e lentamente (e disfarcadamente) voltar a uma vida “normal,” provando mais uma vez a visão mainstream de que o punk rock é uma subcultura juvenil que os jovens fazem parte quando se sentem revoltados, mas que logo passará. Também não estou muito certo se vale a pena lutar por algo tão abstrato como uma "cena", quanto existem outras questões mais reais e mais significativas para se gastar energia. Qual é o significado do emo? Você é quem decide. Eu estou fora.

Eu prefiro ser chamado de radical, pretencioso, ou extremista, do que de emo.


“E o garotinho que gritou “O emperador está pelado!”
ganhou alguns brinquedos novos e calou a boca.”

Saddest Day
 

Em outras palavras, ele virou emo.