Voltando
a pedalar - 01 e 02 - 11- 2006.
Minhas férias
já estavam começando e recebi por e-mail um convite de uma colega
cicloativista para ir de bicicleta até Timbó, onde seria realizado
o Encontro nacional de Cicloturistas. A Hila já tinha recebido o
convite de um outro colega que é meu amigo há anos e pelo qual me
sinto culpado por ele ser cicloturista, o Sniper, resolvi que era
hora de voltar ao pedal tão esquecido durante o último ano.
Passei
três dias tentando arrumar minha reclinada, alterei a forma de direção
e consegui deixar ela guiável, não totalmente segura, mas guiável.
A direção seria por baixo do quadro, articulada
e multiplicadora. Pelas minhas contas o movimento do guidon amplifica
o giro da roda em 2,6 vezes. Quase uma temeridade.
Como
pra variar eu arrumo tudo na hora H, desta vez não foi diferente,
a Bicicleta só foi ficar pronta no dia da Saída, as 16:00h, e eu
teria que estar as 16:30 na cabeceira da Ponte, para encontrar a
Hila.
01-11-2006
- Florianópolis - Balneário Camboriú.
Eu
encontraria a Hila na cabeceira da Ponte as 16:30h, depois encontraríamos
o Sniper as 17:00h em Barreiros e depois o André as 17:30h em Biguaçu.
Esse
trecho foi programado por nós para ser feito a noite, pois o André
ainda tinha compromissos profissionais durante a tarde.
Tudo já começou atrasado, Esperei a Hila por
uns 20min e depois liguei para o Sniper e pedi que tentasse entrar
em contato com ela enquanto eu ia até Barreiros. Cheguei em Barreiros
e a Hila ainda não havia sido localizada.
Seguimos
de Barreiros pela Br-101 e até então nada da Hila. Após alguns contatos
descobrimos que ela havia se atrasado na saída e estava pedalando
forte para tentar alcançar o grupo.
Considerando a minha velocidade média seria muito fácil ela
nos alcançar. Por incrível que pareça, recebemos essa notícia enquanto
estávamos parados, e ao desligar o telefone a vimos passando feito
um foguete pela marginal da BR que passa em frente ao posto onde
estávamos. Caso eu estivesse sozinho a Hila seguiria sozinha, minha
salvação foi o Sniper pegar a bike e disparar aos gritos atrás dela.
Agora
éramos um grupo de 3 ciclistas rumando ao norte, ou melhor, dois
e meio. Eu me sentia muito mal, pedalando muito devagar e muito
fraco. Mal havia saído de Barreiros e eu já não agüentava as curvas
verticais da BR-101.
Ainda
antes de Biguaçu eu resolvi que não seria justo eu atrasar toda
a viagem deles por conta do meu despreparo. Informei aos colegas
que estaria abandonando a viagem e voltaria pra casa tranquilamente
com um telefonema de pedido de socorro ou pedalando vagarosamente
até em casa, o que seria mais honroso, se é que há honra nisso.
Foi um momento muito difícil pra mim, os que me conhecem sabem muito
bem que essa atitude de desistir não combina com minhas histórias
passadas, mas meu estado físico estava me causando preocupação.
Além é claro da Bicicleta que estava completamente experimental,
e montada de forma frágil, sendo ela um elemento de risco muito
grande para a não conclusão da viagem em caso de algum problema.
Entreguei,
ao Sniper, os Alforjes que levava para o André e me despedi dos
colegas. Fiz a primeira de cerca de três ligações para a Helena,
a minha namorada [Helena]. Fui vagarosamente avançando, passei Biguaçu
e logo em seguida parei no Posto da Polícia Rodoviária.
Ali parado, vejo chegar o Sniper a Hila e o André. Eles haviam
demorado em Biguaçu, pois não entenderam como se prendia o alforje,
que eu mesmo acabei prendendo na bike do André. Se eles não me encontram
as mochilas iriam começar a despencar da bicicleta. Naquele momento
eu falei que não fazia a menor idéia se chegaria em BC, e se chegasse,
não fazia também a menor idéia de que horas isso seria. Pedi o telefone
da nossa hospedagem em BC e os mandei pedalarem despreocupados,
eu me arrumaria de algum jeito.
Refletindo
com mais clama e com o tempo que agora me separa do dia do ocorrido,
acredito que eu queria no fundo era sofrer sozinho, queria aquela
dor causada pelo esforço físico extremamente além do meu hábito
de 12 meses de despreparo, fossem só minhas.Eu precisava vencer
o meu despreparo sozinho. Pelo menos sozinho na estrada, e ainda
queria que a Minha namorada tivesse o mesmo espírito, que me incentivasse
que não me deixasse retornar depois de tudo. Foi fantástico, ela
me incentivou como nunca e eu consegui superar meu primeiro dia
indo passo a passo.
Primeiro
objetivei chegar até Tijucas antes da meia noite. Consegui, eram
aproximadamente 23:30h quando cheguei. [Acredito que tenha sido
isso]
Porto-Belo,
Itapema e BC pareciam agora muito próximos, segui sem parar de pedalar
de Tijucas até chegar a Itapema, onde fiz uma parada num posto bem
movimentado, tomei mais uma latinha de Coca-Cola, que me acompanhou
em quase todas as paradas e segui rumo ao Túnel. Eu sabia que passando
o túnel tudo estaria finalmente acabado por aquele dia, saí da BR-101 a 1:00h.
Pouco
depois de chegar em BC consegui ligar para o nosso contato de hospedagem
e falei com o Sniper, que ficou Feliz e me pareceu nada surpreso
com a minha chegada, pra meu relativo espanto, ficaram mais surpresos
foi com a pouca diferença de tempo entre a chegada deles e a minha.
Eu levei só 1:30h a mais que eles. Primeiro dia terminado, exausto
e feliz por ter completado o primeiro trecho.
Como
a viagem foi a noite e eu fui praticamente sozinho, tenho poucas
fotos deste dia: http://varda.multiply.com/photos/album/13
Relato
do trecho do dia 2-11-2006, BC – Timbó, nas páginas seguinte.
Obrigado,
Marcelo Varda.
Florianópolis – Timbó. 02-11-2006.
Depois
de um primeiro dia sofrível, era hora de encarar o segundo e último
dia da viagem. Sairíamos de Balneário Camboriú cedo, mas o sono
e o cansaço do primeiro dia nos impediu de cumprir o primeiro combinado.
Acabamos por partir para o pedal quase as dez horas da manhã.
Na
foto, Eu, o Sniper, Angélica, André e a Hila !!
O
objetivo do dia era único, chegar a Timbó. Com uma breve análise
do mapa, resolvi definir os objetivos de pedal do grupo, sugeri
que deveríamos pedalar forte, sem paradas entre certas cidades,
ficando definido que seguiríamos por Itajaí, Ilhota, Gaspar, Blumenau,
Indaial e finalmente Timbó. Seriam seis trechos de pedal.
BC – Itajaí: BR-101, um belo dia de sol.
Estávamos todos muito empolgados, e eu ainda cansado do primeiro
dia, tentando de todas as formas tentar manter um ritmo bom de pedal,
não queria eu ser novamente um freio no ritmo dos colegas.
Como
estávamos somente no primeiro trecho do dia e precisávamos ainda
achar o nosso ritmo de pedal, acabamos por dar umas paradas extras,
o que pra mim foi ótimo, pois eu precisava esquentar.
Na
foto: André, Hila, a minha bike [a frente da bike da Hila] e o Sniper.
Chegamos
bem ao trevo de Itajaí com a SC-470, com uma boa média de velocidade
e eu acreditando que agora seria mais fácil chegar.
Itajaí - Ilhota. Pelo meu mapa são 16 Km de estrada, de uma pista
de bom acostamento e sem grandes elevações, um trecho que pode ser
considerado plano. Foi um trecho de pedal muito bom, consegui imprimir
uma boa velocidade e não deixei que minhas pernas me segurassem.
Eu estava começando a voltar a pedalar alguma coisa.
Foi
um trecho tão fácil que chegamos rápido a Ilhota. Nesse trecho da
SC existem muitos estabelecimentos do tipo “bar”, onde se consegue
caldo de cana a um preço bem razoável. Em Ilhota tomamos um, para
comemorar o bom início de pedal e o belo sol que nos acompanharia
por todo o dia.
Ilhota – Gaspar . Depois de um caldo de
cana, resolvi pedalar forte, comecei a liderar o grupo no pedal,
até que na metade do trecho começaram os problemas. Eu estava liderando
com o André, quando escutamos o grito de Help do Sniper, que havia
parado com problemas.
Após
averiguar que era problema de pneu, e que ele tinha todo o ferramental
para conserto e ainda que estavam o André e a Hila ajudando, decidi
que seria melhor eu seguir pedalando até Gaspar, onde ficaria esperando
no primeiro trevo que houvesse no caminho. Eu iria pedalar uns 5 Km até o próximo trevo, com o único objetivo
de não atrasar ainda mais a viagem. Fui confiante da minha decisão
e acreditando que eles logo estariam de volta ao pedal e chegariam
ao trevo pouco depois de mim. Eu
só lembro que fiquei esperando no Trevo de Gaspar, por muito mais
que meia hora.
Havia furado o pneu traseiro da bike do Sniper.
Ele havia consertado e logo em seguida o mesmo pneu estourou, foi
quando eles buscaram ajuda profissional, como percebe-se na foto
ao lado. Após todos esses pepinos resolvidos é que eles seguiram,
obviamente. Seguido o combinado, não me mexi enquanto eles não chegassem.
Ainda
havia muito a pedalar e já estávamos bastante atrasados, comecei
a temer por chegar em Timbó só a noite, o que a essas alturas era
inevitável. O importante é que estávamos pedalando juntos e se não
fosse a companhia dos amigos eu mesmo não estaria ali naquela viagem.
Gaspar – Blumenau. Passamos pelo contorno
viário de Gaspar, passamos pela periferia da cidade e fomos direto
para a saída para Blumenau, onde começa parte do pesadelo final
desta viagem. Acostamentos ruins para bicicletas. Não chegamos a
fotografar, mas os acostamentos por vezes eram somente lajotas,
que pra mim era um inferno, pois toda a trepidação vinha direto
nas minhas costas. Foi um trecho que pedalamos forte e eu consegui
me superar mais uma vez, liderando o pedal e guiando o grupo até
a entrada da Cidade, onde parei para que todos pudessem pegar seus
mapas da região! Blumenau tem um portal turístico que sempre que
precisei estava funcionando. FOTO: Portal Turístico de Blumenau.
Blumenau – Indaial. Já havíamos decidido que de Blumenau a Indaial,
não pegaríamos a BR-470, desta forma o caminho seria uma novidade
pra mim, mas aceitei o desafio de ir por estradas secundárias até
a Cidadezinha vizinha a Timbó.
Atravessamos
o centro de Blumenau quase as seis da tarde, seguimos pela saída
da cidade, e a fome já assolava a todos e ainda sem sair definitivamente
de Blumenau, paramos para o lanche e para receber a noite [foto
acima]. Essa é uma das partes boas de se pedalar por cidades relativamente
grandes, o comércio. Ter a disposição estabelecimentos comerciais
por vezes é uma dádiva.
Já era noite e seguindo viagem o meu pesadelo se torna realidade,
acaba o asfalto e a estrada passa a ser somente de paralelepípedos!
Era tudo o que eu não queria, estrada de terra era melhor pra mim.
A cidade de Indaial tem quase todas as suas vias neste tipo de pavimento,
o sofrimento foi grande. E pra piorar, eu resolvi andar pelo acostamento
que era da terra, mas com a noite eu quase não enxergava nada. O
grande problema da minha bicicleta era o sistema de direção, que
já estava me cansando os ombros e era muito instável e difícil de
manejar, principalmente com todas as irregularidades do pavimento.
Andar a baixa velocidade e naquele piso foi um teste de equilíbrio
e coordenação absurdos.
As
duas últimas fotos são num bar em Indaial, ainda longe do centro
da cidade, nem lembro se foi antes ou depois do evento que conto
a seguir .
Caí no acostamento.
Eu estava andando relativamente rápido pelo acostamento escuro e
não passei por uma poça de lama, uma poça ridícula, grande o suficiente
para abocanhar o pneu dianteiro da bicicleta e me fazer parar e
desequilibrar. Acabei por entortar o sistema de direção, quase chorei
por achar que poderia ser o fim da minha viagem. Tirei forças dos
meus colegas, desentortei o parafuso e segui em frente.
No
final das contas chegamos vivos e felizes ao centro de Indaial,
que é bem próximo a BR-470 e consequentemente ao trevo de Timbó.
Fiquei muito feliz, pois sabia que agora era só asfalto até chegar
em Timbó.
Indaial
– Timbó. Asfalto! Essa era a boa notícia. Foi uma
pedalada muito tranqüila, principalmente por conta do último trecho,
e por ser o último trecho da viagem. Eu já sabia que Timbó também
tinha paralelepípedos, mas pelo menos o acesso a cidade era asfaltado.
A única dúvida que eu tinha era com relação a quanto teríamos que
pedalar para chegar até o Jardim Botânico da cidade. Agora que tudo
doía menos, atravessamos a cidade nos paralelepípedos para poder
chegar ao destino final, por volta de nove na noite, se não me engano.
As
fotos do segundo dia : http://varda.multiply.com/photos/album/14
Um
abraço a todos e bom pedal.
Varda.
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