
REVISTA: FILOSOFIA
Ciência & Vida
EDITORA:
Escala
ANO
I – Nº 09 – MARÇO/2007
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TENDÊNCIA – p. 50 - 59
Denise Aparecida
Lopes é jornalista e escreve para esta publicação |
MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO por DENISE APARECIDA LOPES |
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No século
XXI, com o caminhar da globalização e a difusão da ideologia neoliberal na
esfera política do mundo, o fim do emprego tornou-se uma questão de extrema
relevância para a sociedade contemporânea. |
Muito se
tem falado, refletido e produzido a respeito do fim do emprego a partir das transformações
transcorridas no âmbito do trabalho no último século. Pensar sobre o tema leva
a questionar os processos que nos trouxeram a este estado de coisas e também a
desfazer, de antemão, a confusão conceitual entre emprego e trabalho. O que
está em crise é o trabalho assalariado e, pelo menos nesta fase de transição
que vivemos, parece que o pleno emprego é uma possibilidade remota, como
analisou o filósofo Robert Kurz no artigo O Fim da Normalidade, no semanário
Freitag, em fevereiro do ano passado. “Já ninguém está à espera de Godot. Todos
sabem: o pleno emprego tornou-se uma impossibilidade objetiva sob todas as
condições econômicas e políticas ainda imagináveis do capitalismo
transnacional. E ainda não estão nada esgotadas as capacidades de racionalização
da microeletrônica e da globalização”, disse ele.
Vivemos um
tempo marcado por contradições e progressos científico-tecnológicos que trazem
profundas alterações na relação do homem com o trabalho. Quando se trata de fim
do emprego, fala-se no trabalho com carteira assinada, salário, férias, décimo
terceiro, enfim, garantias e benefícios legais que ainda existem e que os
sindicatos e categorias profissionais lutam para manter diante de um cenário de
incertezas e exigências maiores.
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Se a existência do bloco
socialista e as lutas dos trabalhadores contiveram a liberdade do mercado, a
derrota do socialismo trouxe o declínio do emprego e a ideologia neoliberal
ganhou força |
Juntamente com
a globalização econômica, tais avanços têm levado a sensíveis transformações no
sistema produtivo: cada vez mais o trabalho vem se organizando de forma
diferente, não mais baseado nos princípios tayloristas e fordistas (produção em
série), mas pela integração de tarefas executadas por uma mão-de-obra flexível,
terceirizada, tecnicamente qualificada e diversificada. Mas isso não é regra;
depende da realidade de cada país, região e tipo de setor.
Isso leva a
pensar em desemprego estrutural e sofisticação do trabalho com demanda de
capacidades cognitivas e competências múltiplas. Se essas transformações levam
a uma empregabilidade possivelmente mais compensadora e livre para alguns, para
outros acaba sendo um fator de exclusão. A compreensão crítica das mudanças na
esfera do trabalho passa, então, pelo questionamento filosófico da
flexibilização e suas problemáticas sociopolíticas, como avalia o professor
adjunto do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa
Maria, Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira,
historiador com especialização em Filosofia e doutorado em Educação.
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Com a Revolução Industrial e o aumento de produção, a
partir do uso de máquinas, o desemprego surge como um efeito colateral do
sistema |
Esse
questionamento precisa ser tecido a partir de uma perspectiva interdisciplinar
que envolva a Filosofia, a Antropologia, a Sociologia, a História, e a Ciência
Política, salienta Holgonsi Siqueira, que coordena também o site Pós-modernidade, Política e
Educação e tem se aprofundado no estudo das transformações do modelo de
trabalho.
Para ele,
as mudanças na natureza do trabalho são conseqüência das novas formas
organizacionais que resultaram da nova etapa do capitalismo. “Essa etapa
configurou o que se chama de fase “multinacional” ou “tardia” do capitalismo
(ou ainda “capitalismo globalizado”) e gerou profundas transformações, não só
no mundo do trabalho, mas em todo o sistema social do fi nal do século XX”,
comenta. Siqueira relaciona a esfera do
trabalho com novos desenvolvimentos nas esferas socioculturais, políticas e na
tecnociência.
Quando o
alemão Karl Marx discorreu sobre o trabalho, pensou-o como mecanismode
construção e desenvolvimento histórico da espécie humana. Como em sua concepção,
a essência humana é o vir-a-ser, determinado pelo desenvolvimento das forças
produtivas; o ser humano é o reflexo das relações sociais, dinâmico e histórico
como a própria sociedade. Para Marx, o trabalho é manifestação da liberdade
humana à medida que cria a própria forma de existência — não se trata de
liberdade absoluta, mas relacionada às condições materiais, isto é, com os
fatores limitantes presentes em toda a história. E é também uma construção
coletiva e vital.
Ao longo da
história, no entanto, o trabalho assumiu um aspecto degradante para grande
parte da humanidade: na forma de trabalho escravo nas sociedades
pré-capitalistas, em que o homem era comprado e vendido como mercadoria ou como
animal, e nas sociedades capitalistas, como aquele que vende (ou aliena) a sua
força de trabalho para quem detém os meios de produção em troca de um salário.
Daí vem o conceito de sociedade salarial, que tem seus primórdios entre os
séculos XVI e XVIII e se intensifica a partir da criação do sistema fabril de
produção. Com a Revolução Industrial e o incremento da produção a partir do uso
de máquinas, as sociedades passam a lidar com o desemprego e a existência de um
exército de reserva ou a massa sobrante do sistema capitalista.
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Para Marx, o trabalho é manifestação da liberdade
humana à medida que cria a própria forma de existência |
É a partir
desse cenário que surgem, como contraponto, as novas formas de organização do
trabalho: terceirizado, informal, precário e a economia solidária, cooperativa
e popular. “Como dar direito à vida digna neste contexto é o problema social e
ético mais agudo do final do século XX e início do século XXI. O capitalismo
não tem resposta para isso”, analisa Gaudêncio Frigotto, filósofo e professor
do Programa de Pós-graduação em Políticas e Formação Humana da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro e membro do comitê diretivo do Conselho
Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
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EDUCAÇÃO E CIBERCULTURA As transformações ocorridas na
organização do trabalho indicam que hoje trabalhar equivale cada vez mais a aprender,
transmitir saberes e produzir conhecimento, como avalia o filósofo e
sociólogo francês Pierre Lévy, autor do livro Educação e Cibercultura e
estudioso da inteligência coletiva. E esta possibilidade não está mais
reservada a uma elite, mas diz respeito à massa das pessoas em sua vida
diária e seu trabalho. Segundo ele, a maioria dos saberes
adquiridos no início de uma carreira torna-se obsoleto antes mesmo do final
do percurso profissional. Essa aceleração da temporalidade social é
precipitada pelas evoluções técnico-científicas que se traduzem num
“saber-fluxo caótico cujo curso é difícil prever” e isso chama a raciocinar
em termos de competências variadas das quais “cada um possuiria uma coleção
singular”, afirma. Otimista, Lévy fala de formação contínua
e em alternância, os dispositivos de aprendizado na empresa, participação na
vida associativa, sindical, entre outros, que está se constituindo entre
tempo de formação por um lado, e tempos de experiência profissional e social
por outro. O autor afirma que, para parte crescente da população, o trabalho
já não é a execução repetitiva de tarefas prescritas, mas uma atividade
complexa, com espaço para a “solução inventiva de problemas”. No entanto, a realidade parece ser bem
outra para quem observa as tantas transformações sob um prisma mais social. |
Se a
existência do bloco socialista e as lutas dos trabalhadores ao redor do mundo
puderam conter a liberdade do mercado, com a derrota do socialismo e o declínio
do emprego a ideologia neoliberal ganhou força. Em paralelo, a
internacionalização do mercado financeiro sem regulamentação deu início a uma
etapa de desestabilização e fragilidade das economias dos países em
desenvolvimento, com efeitos nos países desenvolvidos, que também tiveram de
lidar com a pobreza interna.
“A cartilha
neoliberal reza como postulados básicos: a desregulamentação, que significa
revogação das leis que asseguram direitos, descentralização ou flexibilização
mediante um estado social mínimo, ampliação do Estado como garantia dos
investimentos do mercado e a privatização: passar à iniciativa privada todas as
instituições públicas que garantiam serviços públicos”, observa o professor
Frigotto sob a perspectiva social.
Neste
contexto de supremacia do mercado sobre a sociedade organizada em torno do
trabalho, faz-se notar a primazia do individual sobre o coletivo. “Essa
valorização do mérito pessoal, que ganha força nos meios de comunicação de
massa, nos remete à concepção hobbesiana da sociedade formada por indivíduos
atômicos, isolados”, explica Cassiano Terra Rodrigues, doutor em Filosofia e
professor da Pontifícia Universidade Católica e do Centro Universitário Senac.
O resultado
disso tem sido a desintegração da força política da classe trabalhadora. Essa
maneira de pensar o trabalho é antagônica à concepção marxista do trabalho como
construção coletiva. “Mesmo inserido no mercado, seja de forma precária ou como
autônomo, não significa que o indivíduo seja sujeito político”. Ele toma como
exemplo o drama diário dos mexicanos que arriscam a vida para atravessar a
fronteira que leva aos Estados Unidos — 3.140 quilômetros protegida por um
imenso muro de concreto — em busca de trabalho. “Pouco se divulga, mas
anualmente a Califórnia abre a fronteira para a colheita das vinícolas. Então
os mexicanos têm a entrada permitida para fazer o serviço pesado, a baixíssimo
custo, que os norte-americanos já não fazem porque atingiram um grau de riqueza
material que permite não se sujeitarem a este tipo de trabalho. Terminada a
colheita, eles são novamente expulsos sem direitos, enquanto alguns tentam
sobreviver na clandestinidade”, conta o professor.
Não é
preciso ir longe; nos últimos anos milhares de bolivianos têm atravessado a
fronteira à procura de oportunidades de trabalho no Brasil. Quando não se
tornam ambulantes, sujeitam-se a trabalhar para coreanos em regime de
semi-escravidão, como tantas vezes a imprensa denunciou. E se olharmos em nosso
próprio território, nos depararemos com a crueza imposta a imensas camadas de
homens na cidade e no campo em busca de emprego e lidando com as demandas
completamente novas do trabalho.
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A cartilha neoliberal reza a desregulamentação, que
significa revogação das leis que asseguram direitos |

Para o
professor Rodrigues, a dificuldade da classe trabalhadora em se organizar
internacionalmente frente à capacidade que o capital tem para fazê-lo, tende a
se aprofundar e coloca em xeque o papel dos sindicatos. Tomando como exemplo as
greves dos trabalhadores da Volkswagen e do sindicato dos bancários, no ano
passado, ele comenta que “as lutas passaram a ser por garantias adquiridas no
Estado Novo (salário, férias, 13º, entre outros), mas não por decisões
políticas genuínas”. Explica ainda que ao defenderem posições corporativas, os
sindicatos distanciam-se dos demais segmentos sociais que não se reconhecem
naquelas categorias determinadas e não conseguem formular uma posição política
coesa.
O fenômeno
não é exclusivo dos países em desenvolvimento, mas mundial. A própria onda de
manifestações levadas às ruas de Paris, pelos jovens, e que logo se espalhou
por toda a França, contra as mudanças na Lei do Primeiro Emprego (CPE), em
2006, é o reflexo de uma nova realidade que aprofunda os sentimentos de
incerteza sobre o futuro da sociedade diante do novo modelo de trabalho em
formação. Em artigo comentando as reivindicações da juventude francesa, o
filósofo italiano Toni Negri e o cientista político Giuseppe Cocco, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, observaram algo novo neste movimento:
enquanto o famoso maio de 1968, referência simbólica explicitada pelos próprios
manifestantes, eclodiu como uma primavera de vida contra a opressão do pleno
emprego industrial para um futuro preestabelecido e a disciplinarização de toda
a sociedade sob o regime de fábrica, os eventos de março de 2006 nasceram de
razão completamente oposta: as angústias da crise do pleno emprego.
Sobre a
reorganização no nível global e estatal do capitalismo, os autores observam a
busca de um trabalho difuso nos territórios sociais visando reduzir a
cooperação social e ampliar a potência da fragmentação da vida colocada para
trabalhar e competir entre si. Assim,o capitalismo reconheceria a dimensão
múltipla que assume um trabalho que se torna produtivo sem passar pela relação
salarial e que se organiza criando formas de trabalho livre e, no extremo
oposto, novas formas de escravidão notadamente nas periferias metropolitanas.
O desafio
que se coloca é o da inclusão social via trabalho e sua própria precarização e
perda da capacidade inclusiva, da mudança de sua natureza.
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A
valorização de competências se estende à educação para o atendimento da nova
forma de produção capitalista. É preciso mostrar serviço, criatividade e
competência no atual mercado de trabalho |
O professor
Holgonsi Siqueira analisa o novo paradigma do trabalho que permite um avanço
qualitativo em relação à lógica taylor-fordista. Diferente desta concepção que
reduzia as operações produtivas ao aspecto físico, desvalorizando o
conhecimento e a capacidade reflexiva do trabalhador na nova organização
flexível do trabalho, na era das novas tecnologiasde comunicação e informação,
o conteúdo qualitativo passa a ser privilegiado e isto contribui para a
construção da autonomia.
Nesse novo
cenário, as exigências que se colocam para os profissionais são muitas. As
novas práticas gerenciais e empregatícias pedem novos saberes e competências
definidas com base nas relações existentes entre sistema de formação
profissional, sistemas de relações industriais e formas de organização do
trabalho de acordo com cada país. Em resumo, cobra-se do trabalhador o desenvolvimento
de competências intelectuais, de gestão comunicativa, social e comportamental.
No entanto, este modelo está longe de ser atendido pela maioria dos
trabalhadores que se tornam desempregados ou se inserem em novas formas
precárias de trabalho. O número de trabalhadores nestas condições, segundo a
Organização Internacional do Trabalho, passa de 700 milhões de pessoas, o que
representa uma das questões mais complexas da pós-modernidade.
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Dados do IBGE apontam que
dos 8,9 milhões de desempregados no País em 2005, quase metade tinham entre
15 e 24 anos |
“Se de um lado começamos a ter, em
minoria, os vencedores do toyotismo (aqueles que vão se inserindo no novo para
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digma do trabalho, pois desenvolvem aquelas
competências), de outro temos os perdedores, os quais não conseguem responder
às exigências cada vez maiores de qualifi cações e vão numericamente aumentando
e constituindo o que William Wilson chamou de ‘subclasse’, com problemáticas
sociais bastante conhecidas entre nós”, afirma Holgonsi Siqueira.
Como
aspecto positivo deste novo modelo, o professor destaca, no caso das estruturas
de informação e comunicação, a melhoria em processos de trabalho que envolvem
criação, análise e tomadas de decisão. “A flexibilização do mercado de
trabalho, sem correspondência com a capacidade de absorção de trabalhadores, é
a grande contradição negativa do sistema atual, e com certeza fala mais alto”,
enfatiza Siqueira, observando a necessidade de se acentuar o debate sobre o
Estado e as políticas públicas, como o modelo dos atuais sistemas educativos e
outras agências formadoras.
A
professora de Filosofia do Ensino Médio, Dalva Aparecida Garcia, mestre em
Filosofia da Educação e coordenadora do Centro de Filosofia para Crianças,
concorda com a afirmação. “O modelo neoliberal e o discurso da valorização de
competências se estende à educação, agora voltada para o atendimento dessa nova
forma de produção capitalista. A própria Lei de Diretrizes e Bases (LDB) fala
em desenvolvimento das habilidades cognitivas e eficácia. É preciso mostrar
serviço, criatividade, competência ou você está fora do mercado”, afirma. Ela
ressalva que, apesar das limitações impostas pelo modelo, “a escola ainda é o
espaço de transformação do sujeito e cabe aos professores propor essa discussão
especialmente no Ensino Médio”.
A educadora
observa ainda que uma das promessas não cumpridas do modelo da supervalorização
da razão instrumental, que pauta em certa medida as mudanças na organização do
trabalho, foi a ampliação do espaço reflexivo para a subjetividade. “Hoje as
pessoas pagam contas, fazem mercado e quase tudo pela Internet; no entanto, o
que aconteceu com esse tempo que ela economizou? Ele se transformou em tempo de
trabalho", afirma.
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MANIFESTO CONTRA O TRABALHO No final da década de 1990, o grupo
Krisis, que teve como expoente o filósofo alemão Robert Kurz — popularizado
no Brasil pela obra O Colapso da Modernização — surpreendeu o mundo ao
divulgar seu Manifesto contra o Trabalho, uma crítica à sociedade do trabalho
e sua crise. O grupo de estudos, que em 1986 criou a revista homônima (um
fórum teórico para a reformulação da crítica social radical), não poupou
ninguém de suas críticas. Leia trechos:
“É um absurdo: a sociedade
nunca foi tanto sociedade do trabalho como nesta época em que o trabalho se
faz supérfluo. Exatamente na sua fase terminal, o trabalho revela,
claramente, seu poder totalitário, que não tolera outro deus ao seu lado. Até
nos poros do cotidiano e nos íntimos da psique, o trabalho determina o pensar
e o agir. Não se poupa nenhum esforço para prorrogar artificialmente a vida
do deus-trabalho. O grito paranóico por “emprego” justifica até mesmo
acelerar a destruição dos fundamentos naturais, já há muito tempo
reconhecida. Os últimos impedimentos para a comercialização generalizada de todas
as relações sociais podem ser eliminados sem crítica, quando é colocada em
perspectiva a criação de alguns poucos e miseráveis “postos de trabalho”. E a
frase, seria melhor ter ‘qualquer’ trabalho do que nenhum, tornou-se a
confissão de fé exigida de modo geral”.
“Os poderes dominantes podem declarar-nos loucos porque arriscamos
a ruptura com seu sistema coercitivo irracional. Não temos nada a perder
senão a perspectiva da catástrofe para a qual eles nos conduzem. Temos a
ganhar um mundo além do trabalho”.
A íntegra do manifesto foi editada pela Conrad Editora, na coleção
Baderna, e também pode ser acessada pela Internet, disponível em diversos
sites, entre os quais: www.odialetico.hpg.ig.com.br/filosofia/Krisis ou ainda www.consciencia.org/contemporanea/krisis. |
A visão do
professor Gaudêncio Frigotto sobre o papel da educação converge também neste
sentido. Para ele, a educação tem tido dominantementen a função de reproduzir a
formação trabalhadores no âmbito técnico e ideológico. “Como lembra Carlos
Paris, fazer bem feito o que se lhes manda fazer. Trata-se de formar um
‘cidadão produtivo’ ajustado e alienado de seus direitos. Daí que a escola na
sociedade capitalista é dual: uma para as classes dominantes e outra para os
filhos dos trabalhadores. Para os primeiros uma formação de dirigentes, aos
segundos uma formação mutilada, pragmática e adestradora”, critica ele
observando que, apesar deste caráter alienante das massas trabalhadoras
difundindo a pedagogia das competências, a escola felizmente não é apenas isso,
pois ainda há luta.
A natureza
desta luta, comenta o professor aludindo ao educador Paulo Freire, é colocar em
prática uma educação que permita os fundamentos para ler a realidade em todas
as suas dimensões, a partir do contexto dos sujeitos. Para tanto, os educadores
e sindicatos devem apropriar-se de um instrumental analítico para uma leitura
crítica do nosso tempo e, mais do que isso, ter vontade política e compromisso
ético para transformar a realidade, buscando novas relações sociais
marcadamente solidárias e equalitárias.
O processo
de reestruturação produtiva que marca os diversos setores da economia aponta
para um horizonte de profundas mudanças na maneira de pensarmos o trabalho. A
curiosidade frente às amplas
possibilidades de conhecimento que se apresentam traz em si também a sensação de fragilidade e incerteza diante do
futuro. Não há respostas fechadas, mas é presente a necessidade do questionamento
sobre o papel das políticas públicas e da consciência de que o centro de todas
as transformações em curso não pode ser outro senão o homem. |
O trabalho hoje equivale mais a aprender, transmitir
saberes e produzir conhecimento |

reprodução de reportagem
autorizada pela
EDITORA ESCALA
para o site “Pós-modernidade, Política e
Educação”
