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Equipes de Nossa Senhora

Setor de Blumenau

Nossa Senhora das Coisas Pequenas

Muitas e muitas vezes, paro, fico recolhido em silêncio e procuro imaginar-me diante da Virgem Santíssima. Vejo-a com os olhos da alma. Bonita, sim; imensamente bela. Especialmente contemplo-a tranquila, irradiando uma serenidade celeste. Alegre, com um sorriso amável; diria mesmo com uma alegria que é a transparência dum coração que ama imensamente. Tenho certeza, em mim não paira a menor dúvida sobre este ponto: ninguém passou pelo caminho de Maria sem que ela o amasse.

Não me contenho, porém, em vê-la; vou mais adiante. Sem barulho, sem que alguém perceba, bem de mansinho, vou entrando pela porta entreaberta da pequenina casa de Nasaré. Eis-me na intimidade da Sagrada Família. E assim fico seguindo a vida da Virgem Santíssima.

Os Evangelhos falam muito pouco de Nossa Senhora, mas não me importo com isto. Na minha fantasia, eu completo o que os Autores Sagrados não chegaram a escrever. Pela imaginação, eu a acompanho nas atividades de cada dia.

Contemplo-a nos seus pequenos deveres de esposa e mãe. Naquela morada tudo é pobre, imensamente pobre, muito simples e rústico. Vejo-a cozinhando, varrendo o chão, tirando o pó, lavando umas peças de roupa, sentada diante duma tina. Depois, vejo-a levantar-se, com um pano na cabeça, à semelhança das outras mulheres da região, e tomar uma grande bilha de barro. Agora ela me aparece descalça a caminhar alegre em direção à fonte; lá, com calma e mansidão, espera a sua hora de encher o jarro. Toda a água para a higiene e a cozinha da pequena família é Maria quem a busca. Era uma das obrigações das mulheres pobres da Galiléia.

E assim fico pensando, era imensamente simples a vida de Maria. Durante toda a sua existência fez estas coisas pequenas. Colocou amor, muito amor nestes nadas de cada hora. Transformou-os pela intensidade de seu amor numa expressão de energia completa a Deus. E como o Pai acolheu com um gáudio infinito a sublimidade dessas pequeninas ações, convertidas em poemas de amor!

Temos certeza de que é o amor que dá valor às nossa ações? Uma ação heróica ou retumbante, mas feita sem amor, não passa de barulho diante de Deus. Uma coisa pequenina, ainda que seja como as duas moedinhas daquela simples mulher dos Evangelhos, vale imensamente para Deus.

Vejo Deus como o Criador do imensamente grande e do imensamente pequeno. Falam-me da grandeza do Senhor o brilho das estrelas, o esplendor das galáxias, a imensidão dos espaços em que a luz percorre centenas de anos até chegar a nós; assim como a estrutura da mais pequenina célula, a complexidade duma molécula ou as constelações dum simples átomo. A amplidão dos espaços não canta para mim com mais força do que a sublimidade das mínimas partículas das coisas mínimas.

Considero o mundo físico imagem da ordem moral: fazer com perfeição cada pequenina coisa do cotidiano; agir na hora determinada, evitando toda negligência, mas igualmente sem precipitação; executar tudo com muito amor; colocar num pequeno ato toda a intensidade dum coração que realmente sabe amar; fazer desta ação a expressão duma entrega completa. Para mim isto é maravilha. É assim que eu vejo o cotidiano de Maria, assim contemplo toda a vida de Nossa Senhora.

E nós, que somos fracos e pequenos, que não temos condições de copiar as façanhas grandiosas dos santos, estes grandes heróis, por que não imitamos Maria nestas pequeninas ações dos nossos deveres habituais? Quem poderia afirmar que não tem oportunidade de agir à semelhança de Maria nestes pequenos deveres? Haverá alguém que possa ter a ousadia de declarar que lhe é impossível fazer estas coisas mínimas com amor?

Olhando para Maria, imitando a sua vida nessas pequenas oportunidades de todas as horas, nós nos aproximaremos cada vez mais de Deus, encheremos de amor toda a nossa existência.

Nossa Senhora das Coisas Pequenas, dai-nos a força de seguir por esta trilha que vós me apontais.

Dom Cristiano de Araújo Pena

Bispo Emérito de Divinópolis