CRACKERJACK


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Há muitos anos, quando o rock curitibano ainda era criança, começou a despontar uma banda composta por três irmãos, chamada Brotherhood. Naquela época, tempo em que ditadura dava seus últimos suspiros, as frias noites curitibanas fervilhavam rock'n'roll. A poesia de Paulo Leminski ecoava no concreto do centro da cidade. Alguns anos antes o Blindagem de Ivo Rodrigues, Paulo Teixeira e companhia, havia sido o centro de um grande escândalo ao entrarem nus no palco em uma apresentação no TUC. A Chave, de Ivo, Paulo, Orlando Azevedo e Carlos Gaertner havia conquistado o Brasil com uma longa turnê acompanhando o então todo poderoso Secos e Molhados. O Carne Podre fazia o punk mais pesado da cidade, os Metralhas eram a melhor opção para os beatlemaníacos, o Etecétera não ficava para trás e os Missionários eram a verdadeira tradução do new wave.

"THANK YOU, GRACIAS, MERCI BEAUC... O RESTO A GENTE NÃO PODE FALAR"

O Brotherhood não era tão conhecido. Eram sempre lembrados por serem os gaúchos que moraram tanto tempo nos EUA que eram quase americanos. E por este motivo desfilavam um sotaque interessantíssimo. Cláudio e Carlos Souza eram dois destes irmãos que, para assumir o americanismo da banda, que tanto chamava a atenção dos seus admiradores, passaram a se chamar Claudio e Charlie Thompson. Claudio é um monstro. Toca bateria e canta ao mesmo tempo com uma destreza que poucos bateristas têm ao somente tocar. E sua voz é bonita, com um alcance grande. Faz lembrar aquela voz melódica de cantores de rock'n'blues americanos, no mais fino estilo Doobie Brothers. Charlie também canta, em algumas músicas. Tem uma voz suave, com facilidade para o agudo, o que o ajuda para fazer os vocais para as músicas cantadas por Cláudio. Mas o que chama a atenção mesmo é a virtuosidade com a guitarra que Charlie tem, tornando seus shows em uma noite inesquecível por conta de seus solos.

"ESTA É MAIS UMA MÚSICA NOSSA" (Stand By Me)

De Brotherhood para Crackerjack foi um passo. Antes de voltarem para o Brasil, os irmãos Thompson já haviam formado uma banda nos EUA, que se chamava Crackerjack. Em 1983, Gerson Marçal entra para a banda. Seu baixo é ao mesmo tempo preciso e suingado, combinando com o espírito alegre da banda, que sempre tocou blues como quem joga uma pelada num fim de semana, brincando com as notas, misturando harmonias parecidas, fazendo vocalizes, mudando as letras tornando-as pornográficas. Gerson, um figurão de quase dois metros de altura, parece sempre ser um sujeito muito sério quando está palco, o que não o impede de fazer com gosto todas as brincadeiras que seus companheiros de banda fazem como iniciar uma música do Wando logo após tocar um clássico do Led Zeppelin, ou tocar o início de um samba e logo gritar: Pára, pára, esse som me dá gases.

"CARTAS E MAIS CARTAS CHEGAM AO PALCO" (Quando mandam guardanapos pedindo certa canção)

Em 1994, Charlie, Claudio e Gerson resolvem chamar para tocar na banda um garoto de 15 anos, recém chegado dos EUA, sobrinho dos irmãos Thompson, que tocava teclado. Christopher Harris entrou e logo em seguida a banda foi convidada pelo grande músico Celso Blues Boy a acompanhá-lo em sua turnê. Foi uma época maravilhosa com shows no Brasil inteiro. Hipódromo Up, no Rio, lotado. Em Niteroi, lotado. Em Joinville, lotado. Aparições no Jô, etc...

"LEMBRANDO SEMPRE: QUANTO MAIS VOCÊS BEBEM MELHOR FICA O NOSSO SOM"

Porém, a banda sentia saudades de fazer a que sempre fez. Tocar seu repertório, voltar a viver sem uma pessoa que liderasse, e sim por decisões balanceadas por todos. Isso os levou a sair da gig de Celso Blues Boy e voltar a se apresentar em bares dedicados ao blues com seu próprio repertório. A Banda atualmente toca de quinta à sábado no Crossroads, uma casa dedicada exclusivamente ao blues e ao Rock'n'Roll.

"DELE PARA ELA, DELA PARA ELE. QUEM SERÁ ELE, QUEM SERÁ ELA?" (Para apresentar uma música de amor)

1999 foi ano muito especial. Crackerjack lança seu primeiro CD. Um verdadeiro tapa na cara daqueles que insistem em achar que o rock curitibano não tem raízes. O disco é muito bem elaborado e tem canções lindas e muitos blues alegres, como Big Mama, o grande hit do CD.