Mãe Cleusa debaixo do quadro de mãe Menininha e entre
quadros de Maria dos Prazeres Nazareth e Maria Júlia Nazareth, sua
avó e bisavó
A história agora se repete - com tons de modernidade. Sua filha
mais velha, Mônica, se recusa a assumir o "trono". Carioca, Mônica
não foi criada em uma casa de candomblé como a mãe.
Seu maior interesse é música: é percussionista e até
95 tocava com Marisa Monte.
"Acho que a sucessora será uma das minhas primas, filhas de
mãe Carmem. Elas têm mais jeito para assumir as funções
do candomblé do que eu", diz. Mãe Carmem é a irmã
caçula de mãe Cleusa, seu braço-direito e responsável
pelas tarefas administrativas do terreiro.
Mônica diz que o seu trabalho com os meninos do Gantois não
tem ligaçao com o candomblé. "Trabalho com música
e escolhi as crianças daqui, mas poderiam ser de qualquer outro
lugar."
Mas Cleusa diz que joga nas mãos de Deus a escolha da nova guia.
"Será quem Deus e os orixás decidirem. Mas a sucessão
tem de ser hereditária. Quando não estiver mais aqui, serei
substituída por alguém da família." Sobre a rebeldia
de Mônica, mostra-se compreensiva.
"Quando tinha a idade dela, jamais passava pela minha cabeça assumir a
casa. Mas mamãe já preparava o caminho sem que eu sentisse." Cleusa
parece tentar repetir a estratégia da mãe. Atraiu a filha ao Gantois
também com um trabalho comunitário. Hoje, Mônica é
maestra de uma banda formada por adolecentes pobres do Gantois. Se a tática
não der certo, Cleusa tem outra pretendente. Embora tenha outra filha (Ana
Carolina, 13, que é adotada), quem empolga mesmo mãe Cleusa é
a neta Andréa, de apenas sete anos. "A Andréa tem tanto jeito para
cuidar do axé que até me surpreende. Ela só tem sete anos,
mas é muito dedicada e séria. Você não vê um
sorriso no rosto dela." Ela assume que também não fala abertamente
do assunto com a filha ou a neta "Acho isso tudo da Andréa, mas nunca contei
a ela. Também não falo com Mônica ou Carolina. Será
quem Deus quiser." Pode parecer cedo alguém de 65 anos pensar em sucessão,
mas esse é um processo muito demorado - e delicado - no candomblé.
Envolve disputa de poder e a sucessora tem de ser preparada longamente para tornar-se
sacerdotisa.