ENTREVISTA: LORO JONES

O guitarrista do Capital faz um balanço do primeiro ano após a volta do Dinho, diz que a banda está muito mais madura e planeja em gravar um disco ao vivo.


 

Você foi o único que falou com o Dinho durante estes cinco anos de separação. Você também chegou a ficar fora do Capital durante um tempo. Como foi a reaproximação com o Fê e o Flávio?

Loro - Eu mantive contato constante com o Dinho nesse tempo que ele esteve fora do Capital. Eu que chamei ele pra voltar. Aos poucos, a gente viu que era melhor juntar todo mundo de novo. O Dinho mesmo fala que o nome do Capital é muito maior do que o nome de cada um de nós separado. Tanto que ele saiu pra seguir carreira solo e quis voltar. Não podíamos jogar fora 15 anos de história. Aparamos as arestas, deixamos as diferenças de lado, colocamos os pés no chão e começamos a trabalhar. Nós quatro temos uma química legal; o público prefere a gente junto.

Faça um balanço do primeiro ano da volta do Capital.

Loro - Nosso maior ganho foi resgatar a amizade do começo. Hoje, somos muito mais compreensivos uns com os outros. Devemos subir no palco e dar risada enquanto pudermos. Quando tem alegria, confiança e respeito, tudo acontece de uma forma muito positiva. O clima da banda voltou e conseguimos fazer um disco legal. Acho que o lance é fazer o que se gosta sem tentar impressionar os outros. Não somos prostitutas. Nunca vamos nos vender. Se você fizer um disco muito comercial, você acaba fazendo porcaria.

“Atrás dos Olhos” foi considerado, por alguns críticos, o melhor disco do Capital. É rock moderno, que remete ao punk do início, sem ser modernoso. Qual é a sua avaliação dessa nova fase da banda?

Loro - Cada um de nós mantém suas influências do começo, mas a gente conhece outras coisas, aprende com elas, cresce e acaba mudando. Nós não mudamos só pra entrar no mercado. A mudança acontece  naturalmente, à medida que o tempo vai passando. Eu não escrevo mais do jeito que eu escrevia há 10 anos. Era uma época que a gente queria denunciar tudo. Hoje, eu nunca ia escrever “Psicopata”. ‘Papai morreu, mamãe também’ é uma idéia meio imatura. Atualmente, enfrentamos crise financeira, alta do dólar, moratória, tudo mudou. Tem muito mais coisas para serem ditas. E nós nunca fomos de ficar levantando bandeiras. Hoje temos muito mais cuidado para não escrever sobre os nossos problemas. Ninguém quer ser incomodado, cada um tem seus próprios problemas. Enfim, a maneira de compor do Capital não mudou. Acho que a cada dia aprendemos a falar das coisas com mais maturidade. Tem coisas que não têm nada a ver com o público, então é melhor nem falar sobre elas.

Que tipo de som você está ouvindo agora e o que você costuma ouvir sempre?

Loro - Não está dando pra ouvir muita coisa. Não compro CDs há algum tempo. Não tenho o hábito de ouvir música eletrônica. Gosto muito de rock dos anos 70, dos antigos. Ouço o básico do rock’n’roll: Stones, ZZ Top, um monte de gente...

O Capital pensa em regravar alguma música do início da carreira?

Loro - Por enquanto, não. Tenho trinta e poucos anos e ainda tenho muito pra dizer, tenho muito o que fazer. Ainda podemos criar muitas coisas novas. Se eu tivesse uns setenta anos, com certeza eu pensaria nisso. Mas o Capital tem apenas 15 anos e eu não acho que as músicas do início são tão antigas assim. Daqui pra frente, penso em fazer só discos inéditos e, quem sabe, um ao vivo, porque o disco de estúdio não transmite a energia que rola no nosso show. E, como diz o Faustão, quem sabe faz ao vivo.

Para o “Eletricidade”, vocês fizeram aproximadamente 40 músicas para escolher as 14 do disco. Se isso é verdade, onde foram parar as outras 26?

Loro - Realmente isso é verdade. Mas, o caso é que a gente compôs num clima de muita pressão; tinha que entrar logo no estúdio pra gravar. Na época, a gente estava viajando muito e a maioria dessas músicas foram feitas na estrada. Algumas ficaram para trás e outras não dá nem pra gravar porque nem eram muito boas.