
Lususnatura é o nome do grupo de skinheads portugueses que mais recentemente criou uma página na Internet. Em Espanha, foi detido o cabecilha de uma rede de sites de conteúdo nazi.
«O extermínio da raça existe de duas maneiras possíveis de acontecer, matar todas as pessoas de certa raça e fazer com que seja extinta, ou da maneira politicamente correcta: mistura racial. Este último genocídio democraticamente acolhedor está a verificar-se cada vez mais nesta sociedade apodrecida em que vivemos.» Esta é uma das «pérolas» que se pode encontrar num site de Internet de origem portuguesa (Lususnatura), de várias páginas de conteúdo xenófobo que de há um ano para cá ocupam o espaço virtual.
Já em Maio de 2001 a VISÃO havia descoberto 11 sites de conteúdo nazi alojados em servidores portugueses. Apenas um deles – Imigport – está a ser investigado pela Polícia Judiciária (PJ) depois de ter sido apresentada uma queixa na Procuradoria-Geral da República por parte do deputado António Filipe, do PCP. A página será mais uma a juntar a uma lista que vai longa, mas cuja investigação ainda não produziu resultados. Para além de artigos sobre a Revolução da Raça Branca e ligações a endereços internacionais nazis de grande consulta, os autores desta página chegam ao ponto de elaborar um manual sobre como lidar com a polícia. A justificação é: «Sabendo que mais tarde ou mais cedo todo o skinhead, nacionalista, nacional socialista, racialista poderá ser preso (...) criámos esta secção na página, para ‘dificultar’ um pouco o trabalho à polícia! (hehehe)». Os conselhos são do género «Tens de ter cuidado com o que dizes que te podes incriminar, responder apenas ao básico, se começar a fazer perguntas de mais, diz apenas as famosas cinco palavras ‘Não tenho nada a declarar’.»
Alvo: imigrantes e homossexuais
Em Espanha a história é outra. A polícia madrilena em colaboração com autoridades americanas conseguiu, na passada semana, desmantelar uma rede de skinheads que espalhava conteúdos racistas e xenófobos através da Internet e que, para além disso, atacava imigrantes romenos durante a noite e pintava frases racistas nas paredes dos prédios do bairro madrileno de Canillejas e outros. O endereço electrónico estava alojado num servidor americano. Isto obrigou as autoridades espanholas a solicitarem ajuda. As investigações conduziram à residência do criador da referida página. Fernado L.P foi imediatamente detido após uma busca domiciliária, na qual os agentes policiais encontraram facas, machados, soqueiras, matracas e bandeiras com a suástica.
Em Portugal, Lisboa é o palco principal destes grupos. Pelas contas de José Falcão, presidente da Associação SOS Racismo, tem havido um aumento de agressões planeadas por skinheads, sobretudo na zona da Grande Lisboa. «Só no mês de Fevereiro registámos cinco espancamentos, sobretudo a imigrantes, africanos, homossexuais e activistas dos direitos das mulheres», refere.
No sábado, 9, oito cabeças-rapadas agrediram dois elementos do partido Bloco de Esquerda. Este grupo, que se crê já ter estado envolvido noutros desacatos, está a ser alvo de uma investigação por parte da Direcção Central de Combate ao Banditismo.
O ataque-surpresa
De balde e pincel na mão, Luís Branco, 27 anos, preparava-se para colar uns cartazes do Bloco de Esquerda numa parede junto a um restaurante russo, na Calçada da Tapada, em Lisboa. Poucos minutos depois de iniciada a tarefa, surgem dois carros cheios de homens corpulentos, de cabelo rapado e todos vestidos de preto. O diálogo nem sequer aconteceu. Dos oito skinheads, três vigiavam a zona enquanto os restantes espancavam os dois jovens com murros, pontapés e facadas. «Foi tudo muito rápido, mal tivemos tempo de reagir.»
Luís Branco e o colega defenderam-se com pincéis e o balde de cola, que foi atirado na direcção da cara de um dos agressores. Um composto de farinha, soda cáustica e água que poderá ter dado origem a queimaduras de pele e permitir que ele seja identificado pela Polícia Judiciária, que já está a investigar o caso. «Assim que o meu amigo foi esfaqueado na perna eles meteram-se dentro do carro e fugiram», relata Luís Branco.