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JUVE NEO


(Trechos tirados de uma rubrica da revista Expresso do dia 11 de Maio de 2002)

Esta foi uma rubrica publicada na revista expresso do dia 11 de Maio de 2002, aqui fica uma parte dessa mesma rubrica, não completa, pois o que queremos realçar são as infiltrações da extrema direita na Juve-Leo e não o grupo em si.

OS CARECAS
Dar largas às emoções, muitas vezes excessivamente e de forma negativa, é uma das imagens de marca das claques: a ideia que passa é a dos feios, porcos e maus. Também os há. Entre os que inspiram mais desconfiança, e são tidos como mais agressivos, estão os «skinheads». São conhecidos como os «carecas». Formaram, há meses, um núcleo, o 1143 — data da fundação de Portugal — e foram, desde logo, alvo das mais duras críticas. Diz-se que são uma das facções mais importantes da claque. Um dos pontos de discórdia, que se tem vindo a intensificar, vem dos «carecas» estarem representados na direcção da Juventude Leonina. Quem o diz é o Miguel de Almada, assim conhecido por ser dessa cidade da margem Sul, membro da direcção e do 1143. É dos elementos mais mediáticos da claque e tem uma loja de material para os adeptos de vários clubes. Vive para o mundo ultra: «Há uma guerra de poder. Neste momento, os elementos do chamado núcleo de Sintra dizem que não têm ninguém na direcção. Os ‘carecas’ têm o Barraca e eu estou conotado.» Correm rumores de cisões, para a próxima época, mas Miguel nega a possibilidade.

Da conversa possível com alguns «carecas», que se quiseram identificar — por vários deles terem processos pendentes e estarem referenciados pela polícia —, ficou a insistência de que não estavam a fazer política na curva. Aliás, como um deles referiu mais tarde, «não há infiltrações de extrema-direita na claque». Só que não caiu muito bem aos outros elementos da claque ver elevar-se na Superior Sul, em Alvalade, um estandarte branco com letras negras onde se lia «Sporting SSempre», sendo que os dois «esses» eram idênticos à siglas das SS hitlerianas.

À pergunta provocatória — e óbvia — um respondeu: «Ninguém vai para ali discursar!» Mas outro jovem contrariou-o: «Nós fazemos política na 'curva', não nos tentamos é impor.» A esta réstia de verdade, o primeiro recuou e justificou-se: «Os símbolos políticos não querem dizer que estejamos a fazer política. É por isso que na bola pode haver uma ‘totenkopf’ (caveira que era um dos dísticos das SS) ao lado de uma folha de cannabis. Se fizéssemos política, na «curva» só havia ‘totenkopfs’.» Falou um dos mais carismáticos e respeitados do grupo, que anda com a claque há mais de uma década. Apesar disso, nenhum deles chegou ainda aos 30.

OS PIORES
Conseguiram criar o grupo, que se quer restrito, coeso e de amigos, com apenas 14 pessoas, quando, por norma, são necessárias 20. A excepção é tida como sinal de respeito e de poder dentro da claque. Com a maioria dos outros membros da Juve Leo não há relação possível — «fora das quatro linhas, acabou-se, não há amizade» — o que já não acontece com adeptos de outros clubes, desde que partilhem os mesmos ideais. É uma convicção que também lhes vale críticas por parte do resto da claque. Os «carecas» defendem-se com distorcido bom senso: «É impensável um ‘skin’ bater noutro ‘skin’ só por causa do futebol.» Quanto a não-«skins», a conversa é outra, mesmo que andem de verde e branco. Foi o caso em Alverca. Um rapaz negro, com a camisola do Sporting, passou em frente à claque e foi pontapeado por um jovem «careca». A GNR, responsável pela segurança do recinto, apenas afastou esse elemento da Juve Leo do resto da claque, obrigando-o a ver o jogo longe dos companheiros. Dois juntaram-se a ele, por solidariedade. Não se coíbem de continuar a chamar nomes a outros negros que vejam, nomeadamente jogadores, a quem gritam: «Macaco volta para a selva!» São adolescentes, têm ainda feições de miúdos, mas, como sublinhou o alferes Barros, que controlava nessa noite os movimentos da Juve Leo, «os mais novos são os piores». Da mesma opinião é um outro «skinhead» — que também não se identifica — que há muito segue a Juve. «As porcarias que há na claque são mais feitas pelos putos do que pelos mais velhos», resume o jovem. Mas também realça que «a claque é uma cena violenta por origem. Sempre que há violência, pelo menos 50% do grupo 1143 está lá metido».

O próprio Fernando «Mendes», presidente da claque, já foi relacionado com a extrema-direita, ligação que rejeita: «Apareci na capa de uma revista a fazer a saudação nazi e a segurar a bandeira céltica. A cruz celta está conotada com os ‘skinheads’ e é uma estupidez. A cruz celta quer dizer paz aos seus e à glória. Levantei o braço direito e jurei à bandeira: isso é fazer uma saudação nazi? Fiz tal e qual como nos pára-quedistas. Admiti que foi mais uma questão de exibicionismo. A Comunicação Social não dava imagens da claque.» Quem preconiza um papel mais activo e positivo dos «media» é a psicóloga do Desporto e das Actividades Físicas, Maria João Neves. «Não evidenciar, não reforçar os actos negativos das claques, valorizar mais o espectáculo em si, as bandeiras, as músicas, a entrega ao desporto», propõe. Talvez a violência diminua. Ela é, no seio da claque, desdramatizável.

Dessa opinião é Nélson, 24 anos, que trabalha no ramo da segurança, depois de ter estado vários anos ao serviço da Legião Estrangeira. Tem a cabeça rapada por hábito, e não ideologia, e emana tanto tranquilidade como razoabilidade quando fala, apesar do passado que o vincula a conflitos bélicos: «Há uma certa violência nestas claques, como é óbvio. A mentalidade das pessoas com 20 e tal, 30 anos, é sempre um pouco agressiva quando diz respeito a provocações. A malta nova não consegue controlar esses impulsos.»


OS OUTROS
Nesta mesma rubrica saiu tambem uma reportagem com elementos da Juve-Leo que estavam a cumprir pena no Estabelecimento Prisional do Linhó, deixamos aqui uma alinea, da qual nos orgulhamos, ao saber que tambem existem aqueles que lutam por uma Juve-Leo sem racismo ou fascismo.

“Agora, o «Musta» faria as coisas de outra maneira. Quando puder regressar à liberdade, quer voltar à vida de ultra: «Vou ter o meu lugar e nunca vou deixar a Juve Leo.» Fica o aviso. E o desejo também: «Custa-me ver um jogo e olhar para aquelas bandeiras nazis, chamar macacos a pretos. Se o Sporting tem ciganos, pretos, porque é que a massa associativa não os há-de ter?», questiona, triste. Certo é que se o «Musta» estivesse lá, na «curva», as coisas não se passariam assim. Por enquanto, acalenta o sonho «de acabar com o racismo, as bandeiras e os símbolos». Quem tenta dar continuidade ao trabalho e materializar esses anseios é o amigo Luís Mendes que está, agora, à frente do núcleo do Pica Pau. Também cumpriu pena, mas no Estabelecimento Prisional de Sintra. Um dia depois de ter saído, já estava num autocarro a caminho de Guimarães, para ver o Sporting jogar. E viu o seu clube ser campeão. Em liberdade.”

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