Black Box
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Décadas:
80, 90 Estilos: Club Dance, House
Segundo os livros de história, a Disco Music morreu no início dos anos 80 do século passado. Afinal, evoluir é preciso, e não se poderia ficar para sempre preso a um som que não tinha nenhuma mensagem além de "dance, dance, dance!" Sim, vejam que heresia: os Top 10 tomados por cantoras estridentes, batidas monótonas, fórmulas esgotadas... Sabemos que a década de 80 foi o que se chamou de "a morte da música", pois nada surgiu causando grande impacto. O que se viu foi artistas como Phil Collins e Brian Ferry mostrando como se repete uma boa e melosa fórmula. E a chatice era total, pois tinhamos um Heavy Metal também esgotado de sangue novo e o Synthpop que ninguém aguentava mais! Entretanto, em 1985/86 uma música chamou a atenção da mídia mundial, pois apontava no Top 10 britânico em 1º LUGAR: "Jack Your Body" do produtor de Chicago Steve "Silk" Hurley. A música, era composta de: uma batida monótona, uma fórmula nova e um vocal não estridente. Na verdade, o único vocal era uma voz "comum" repetindo a frase "jack your body" por longos 6 minutos, o que soava completamente alienígena para os cansados ouvidos "made in 80's". Pronto! Estava dada a largada em uma das últimas manifestações de cultura de massa de que se tem notícia até os dias de hoje: o movimento Acid House! Como bem sabemos, o House acabou fazendo muito mais sucesso na Europa, contando com ampla aceitação e apoio do público, das rádios oficiais, das rádios piratas e dos produtores em geral. Inglaterra, Holanda, Alemanha, Bélgica, todos atacaram com suas releituras da invenção americana. Entretanto, talvez tenha sido na Itália que a House Music encontrou a recepção mais calorosa. O país, que havia sido um dos expoentes da Disco Music européia, nunca chegou a abandonar totalmente o estilo dançante na música Pop, e foi só aparecer alguma novidade, que os italianos se apressaram em cuidar que ela se transformasse em mais uma explosão. E aqui, com as mesmas batidas monótonas, vocais estridentes e a fórmula esgotada, surge um dos maiores clássicos da Disco Music moderna: o grupo Black Box. Ah, esqueci que a Disco Music tinha morrido nos anos 80! Então, vamos chamar agora a "novidade" de DANCE MUSIC!!! :-) É bem verdade que os criadores do Black Box já estavam na praia eletrônica a bastante tempo, tendo emplacado uma série de sucessos pré-Black Box, como "Numero Uno" do pseudônimo "Starlight", "Don't Stop" como "Rosso Barroco" e "Grand Piano" como Mixmaster. Todos estes empreendimentos eram fruto da criatividade do grupo, conhecido coletivamente como "Groove Groove Melody". Mas foi como Black Box que Daniele Davoli (DJ), Mirko Limoni (expert em computadores e samplers) e Valerio Semplici (multi instrumentista) experimentaram o verdadeiro sucesso de mídia e pistas de Dança. Este encontro de mestres resultou em um dos Top 10 mais celebrados da Dance Music: "Ride on Time". "Ride on Time" era tudo que uma música moderna devia ser: pulsante, frenética, "eletrônica" (amplo uso das baterias TR-909 e 707 da Roland) e vocais cortantes como uma lâmina. Muitas pessoas chegaram a identificar a música com um outro hit da década de 70: "Love Sensation" da cantora Gospel/Soul Loleatta Holloway. Mas espere! Os vocais não eram parecidos! Eram da própria Loleatta! Sim, esse era um costume muito comum na música House, o "empréstimo" de trechos e vocais de outras músicas. E "Ride on Time" pegava alguns trechos da cantora Soul e o repetiam infinitamente, criando um vocal completamente novo, e mais de acordo com a fórmula House. Tanto que a gravadora que detinha os direitos de "Love Sensation" tentou processar o Black Box, mas um amigável acordo entre as partes garantiu a felicidade de ambas. Afinal, quem não gostaria de tirar proveito de um single que vendeu apenas 800 mil cópias só no Reino Unido? Seguiram-se então outras músicas de enorme sucesso nas pistas de dança do mundo inteiro: "I Don't Know Anybody Else", "Everybody Everybody" e "Strike It Up". Para estes singles, a trupe chamou ninguém menos que a Disco Diva Martha Wash, com seus vocais de turbina de avião, para trazer um pouco de "soul" à frieza eletrônica das batidas hipnóticas. A esta altura, o álbum "Dreamland" já aportava nas lojas, vendendo igual água em ambos os lados do atlântico. No disco, além dos já citados singles, um cover do Earth, Wind and Fire em "Fantasy" e algumas instrumentais fizeram de "Dreamland" um dos maiores clássicos da Dance Music da década de 90. O único problema é que os caras "se esqueceram" de creditar Martha Wash pelos vocais, o que gerou um processo por parte da Diva (famosa por seu gênio temperamental e seus processos, entre eles contra o grupo C+C Music Factory por "Gonna Make You Sweat"). Mas, e daí?! Como não são bobos nem nada, os caras trataram de dar uma remixada em seus hits, trazendo, em 1991, o disco "Mixed Up!". A primeira vista, alguém pode pensar: "Aahhhh! As mesmas músicas? Saco!" Não se engane: "Mixed Up!" era uma experiência complemtamente nova, com uma roupagem ainda mais fina do que Dreamland! Há até quem diga que "Mixed Up!" era melhor que o primeiro álbum... Entretanto, ao contrário do que se poderia imaginar, o Black Box deu um tempo nos estúdios, preferindo trabalhar nos bastidores de outros Dance Acts e produzindo e remixando outros. O que é um perigo no mundo Dance, pois novos artistas surgem a cada dia, tomando de assalto as paradas de sucesso, deixando outros para trás. Talvez possa ter sido o que aconteceu, quando o Black Box decidiu voltar aos charts como seu novo disco, já em 95: "Positive Vibration" (e não "Positive Attitude", como costuma ser chamado pela imprensa internacional). Talvez porque o álbum tenha sido lançado pela brasileira Spotlight Records do DJ René Michel, o álbum pode não ter tido tanda divulgação no primeiro mundo, assim como aconteceu com o grupo também italiano Double You. E embora "Positive Vibration" conte com ótimas músicas dançantes e baladas como "Native New Yorker" "The Beat of Your Heart" e "So Long" (nada de samples roubados) ele acabou por passar despercebido pela crítica especializada, mais preocupada com Haddaway, Real McCoy, Ace of Base e Culture Beat. E o Black Box desparece na poeira da música Pop, deixando apenas seu legado de talento, esperteza e - por que não? - qualidade e bom gosto. Quem sabe algum dia nos encontremos com o Black Box em qualquer pista saudosa de algum "baile anos 90", exatamente como acontece com a Disco Music na atualidade? (estarei esperando por este dia...)
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