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Fairuz
Nascida e educada em Beirute, ela começou sua carreira musical como membro de coro na Estação de Rádio Libanesa. No final dos anos 50, seu talento como cantora foi amplamente reconhecido. Recebidas com um entusiasmo sem precedentes, as primeiras canções de Fairuz, com seu distinto timbre de voz, traziam letras românticas de amor e saudade da vida no campo. Entrelaçavam, na orquestração delicada, instrumentos árabes, que tinham grande destaque, com alguns instrumentos europeus e ritmos de danças populares européias.
Às vezes cantava também adaptações de músicas do folclore árabe. No início dos anos 60, Fairuz já era uma das principais atrações do Festival Anual de Baalbeck e uma celebridade não só no Líbano, como em todo o mundo árabe. Suas centenas de músicas, peças musicais e filmes se espalharam, fazendo sua audiência atingir os árabes morando na Europa e Américas.
Durante a maior parte de sua carreira, Fairuz fazia parte de um trio que incluía os dois irmãos Rahbani. Geralmente as letras eram escritas por Mansur Rahbani, e as melodias compostas e arranjadas por seu irmão 'Assi, primeiro marido de Fairuz. As músicas de Fairuz devem muito à genialidade musical e poética desses dois artistas libaneses. Nos últimos anos, elas também contaram com o talento do filho de Fairuz, Ziad Rahbani, para compor. Mas também mostram a larga formação musical de Fairuz, que comporta formas litúrgicas cristãs e tradições leigas da música árabe.
O legado de Fairuz-Rahbani é um fenômeno peculiar do século XX. Durante as primeiras décadas do pós-guerra, grande parte das comunidades urbanas no mundo árabe sofreram uma rápida expansão, em parte por causa do êxodo rural. A cidade de Beirute, particularmente, recebeu um grande número de pessoas cujas raízes étnicas e sociais eram de variadas cidadezinhas libanesas, principalmente das regiões montanhesas do centro e norte do Líbano. Influentes politicamente e socialmente, esse segmento trouxe um solo fértil para novas tradições artísticas - música, dança, poesia, moda, artesanato - onde o contexto era urbano, mas com alma campesina e rural.
Beirute também experimentava o crescente impacto da ocidentalização "modernizante". Essas mudanças tornaram as expressões artísticas nativas menos assessíveis e menos queridas por muitos libaneses. Beirute também se tornava uma comunidade bastante cosmopolita. Um grande número de habitantes vinham de famílias que não eram libanesas, ou nem árabes. Esse desenvolvimento e o aumento da importância das mídias de entretenimento modernas - radio, televisão, salões, teatros públicos - levou ao aumento da massa de audiência urbana. Ele também foi pré-requisito para o desenvolvimento da linguagem musical moderna, de grande apelo, que manifesta-se magnificamente nas músicas de Fairuz.
Outra grande influência na obra de Fairuz-Rahbani foi o sentimento nacionalista que se seguiu à independência do Líbano (1943). Esse sentimento, que afetou profundamente a música e a arte libanesas, baseava-se em várias premissas. Por exemplo, na de que o Líbano era cultural e historicamente diferente de seus vizinhos do oriente próximo, e em muitas coisas mais semelhante ao Ocidente. Um importante objetivo do governo libanês era desenvolver a imagem cultural do país e melhorar seu reconhecimento e prestígio internacional. Para as artes, isso trouxe para o Líbano (assim como aconteceu com vários outros países) a idéia de que a arte popular das comunidades rurais era muito representativa da nação, mas que, na maneira como ela existia em seu ambiente natural, estava "primitiva" e precisava ser desenvolvida para ser uma expressão nacional respeitável, realizada por especialistas habilidosos.
Tais aspirações fizeram com que o governo patrocinasse um novo movimento artístico, inspirado no povo, que ficou conhecido como "folclórico libanês". O movimento folclórico no Líbano procurava estudar movimentos semelhantes que aconteciam simultaneamente em outros países, como a União Soviética. Em maio de 1965, o coreógrafo russo Igor Moiseyev foi oficialmente convidado a examinar os dabkes das várias vilas libanesas e criar interpretações modernas baseadas nessas danças.
Nos anos que se seguiram, vários grupos folclóricos se formaram no Líbano, entre eles o Grupo Folclórico Libanês, que apresentava novas músicas e danças e contavam com cantores celebrados como Fairuz, Sabah, e Wadi' al-Safi. Patrocinado pelo governo, esse grupo se apresentava nos Festivais de Baalbeck, que incorporava música sinfônica ocidental, ballet e dramaturgia, e trazia artistas como Joan Baez, Rudolph Nureyev, e Herbert von Karajan. No seu auge, no final dos anos 60 e começo dos 70, o movimento folclórico no Líbano atraía grande número de compositores, performistas, dramaturgos, coreógrafos, dançarinos, estilistas e produtores, oriundos de uma grande variedade de etnias e nacionalidades.
O principal veículo da nova linguagem eram os masrahiyyah - ou musicais. Neste tipo de peça, o enredo focava em eventos das vilas, ou, em alguns casos, em acontecimentos notáveis da história política do Líbano. Os trajes dos dançarinos e cantores eram baseados, grande parte, nas roupas das comunidades camponesas do centro e norte do Líbano. Diálogos falados no árabe coloquial libanês se misturavam com música orquestral e canções de algum cantor ou cantores famosos eram incluídas. Muitas dessas canções apareciam como acompanhamento para danças folclóricas de dabke.
As músicas de Fairuz, muitas das quais cantadas originalmente em peças musicais folclóricas, eram compatíveis com o quadro político e social do Líbano. Representavam uma síntese única de elementos das canções folclóricas locais, música árabe tradicional, formas populares européias e, em menor grau, as músicas da Rússia Soviética, Armênia e dos Balcãs. E essa síntese não acontecia isolada de assuntos árabes mais amplos. Exprimiam sentimentos amplamente compartilhados pelo povo árabe, e usava textos em árabe clássico de poetas renomados como Khalil Gibran. Algumas canções se baseavam na tradicional forma vocal muwashshah, cujas raízes datam da Espanha moura.
No repertório de Fairuz, ambos texto e música são marcados pela inovação. As letras são menos voltadas ao tema de amores impossíveis, como o fazem a maioria das músicas árabes, preferindo falar, por exemplo, da vida aldeã, da paixão pelo Líbano e da cidade de Jerusalém. Mas qualquer que fosse o tema, era apresentado com rara doçura.
Ao contrário dos cantores tradicionais árabes, cujo timbre tende a ser nasal e gutural, o timbre de Fairuz - chamado de muk hmali, "aveludado" - é macio e claro. Geralmente ela canta sem os ornamentos comuns na maneira de cantar árabe.
As melodias das músicas de Fairuz são como nas músicas tradicionais árabes, utilizando várias maqamat (modos). E vai além, usando as tonalidades ocidentais maiores e menores. Quando músicas folclóricas são adaptadas e cantadas, a entonação dada pelos camponeses é substituída por aquela comum às cidades. No entanto, ao contrário da maioria das músicas árabes tradicionais, as músicas de Fairuz praticamente não têm improviso.
A instrumentação das músicas compostas pelos irmãos Rahbani é grande responsável pelo sabor diferente que elas têm. Os instrumentos folclóricos das vilas (como o minjayrah e o mijwiz) raramente são usados; nem tampouco o qanun, o ud e o nai. No entanto, os instrumentos tradicionais de percussão são amplamente utilizados, mais precisamente o derbaque e o riqq.
Três instrumentos melódicos são essenciais para o cojunto Rahbani: o acordeon, que nesse caso é especialmente preparado para produzir os intervalos "neutros" presentes na música árabe; o buzuq e uma flauta pequena; tocando em uníssono e oitavado com ocasionais efeitos de zumbido. A parte tocada por esses instrumentos melódicos é geralmente reforçada por violinos. O piano delineia a melodia e preenche os espaços entre frases melódicas. Nas músicas de Fairuz, a polifonia não é rara, especialmente nas mais ocidentalizadas, da primeira metade da década de 1970.
O legado literário-musical dos irmãos Rahbani e Fairuz é considerado por muitos libaneses como um símbolo nacionalista, cultural e político. A música de Fairuz não ficou estática. Sua versatilidade e sensibilidade fez com que respondesse a várias tendências. Nos últimos anos, a mística do folclore das aldeias e o revivido interesse entre os árabes jovens na música tradicional árabe tiveram efeitos notáveis em sua obra. Em contrapartida, a arte de Fairuz também influenciou profundamente a música e a cultura árabes contemporâneas.
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