Lang é um Leonardo DiCaprio endemoniado
Jovem guitarrista de apenas 18 anos mostrou que conhece os meandros do blues
(Escrito por Jotabê Medeiros)
Buddy Guy e B.B. King tinham razão: o garoto é mesmo bom.
Jonny Lang não só convenceu em sua
performance
no palco do Jockey Club, como foi além, mostrando que é um
fenômeno real de um gênero que
já
andou à beira do esgotamento.
Destaque da derradeira noite do Free Jazz Festival, a apresentação
de Lang era aguardada com
ansiedade.
Um bluesman de 18 anos com o estilo babyface de Leonardo DiCaprio? Que
ainda por cima canta
como
se tivesse um calo na garganta? Parecia ser apenas mais uma fraude da prodigiosa
indústria fonográfica.
Mas
não era.
Lang fez sua apresentação com base no seu disco mais recente,
Wander This World, um amálgama de
canções
que mistura do mais recôndito rhythm'n'blues a baboseiras pop do
tipo Bon Jovi (e até imitações de
Prince).
Mas, no palco, tomou outra direção: armou-se da mais genuína
verve blueseira, maltratou a guitarra e
botou
a platéia na palma da mão. Era como se Leonardo DiCaprio
tivesse passado por um ralador de queijo,
o rosto
deformado por uma careta e movimentos nervosos com o pescoço para
frente e para trás.
Além de tudo, Lang arrumou um tecladista (o maravilhoso Bruce McCabe)
que tocava com uma caixa
de amplificação
valvulada ao fundo, o que dava um tom meio sixties ao som. Lang abriu o
show com a melhor
canção
de seu último disco, Still Rainin, que serviu como cartão
de apresentações para o que viria em seguida.
De Wander This World, ele tocou a cortante The Levee (com solos de guitarra
que pareciam não ter
fim),
Walkin' Away, Second Guessing, Leavin' To Stay e Breakin' Me. Exige muito
da garganta, que alterna
momentos
de pura fúria rocker com lamentos que não parecem saídos
do seu corpo franzino. Das duas uma:
ou Lang
entra para o panteão dos grandes mestres do blues ou ganha um câncer
na garganta. É impressionante
seu
esforço vocal.
Ovacionado pela platéia, ele manteve também uma atitude de
bluesman: falou pouco, um "yeah" aqui e
ali,
outro "thank you" acolá. Tem um baixista fraco (Douglas Nelson)
e um baterista barulhento demais (William
Thomes),
mas no restante seu show é um petardo.
Lang fechou a noite de domingo no palco New Directions, noite que foi aberta
pelo grupo nova-iorquino
Medeski,
Martin & Wood. O grupo, liderado pelo tecladista John Medeski, é
de uma modernidade a toda
prova.
Com ele, tocam o baterista Chris Wood e o baixista William Martin.
Medeski, Martin & Wood afrontam as convenções do trio
clássico de jazz, brincando com ruídos,
dissonâncias
e incorporando recursos do DJ de club. O resultado é mais ou menos
como um cruzamento de
Beck
com Ron Carter (creiam, não se trata de uma heresia: o baixista
Chris Wood é uma grande promessa do
instrumento).
Pena que tocaram quase nada do seu mais recente disco, Combustication,
que é ótimo. Eles abriram
com
Macha, do CD Bubblehouse, um verdadeiro cruzamento da dance music com o
jazz. Depois, veio Buster
Rides
again e Wiggly's Way, essa última de um CD antigo, It's a Jungle
in here (1993). O baterista e
percussionista
Billy Martin, que já tocou samba em casas de brasileiros de Nova
York, esforçava-se para dizer
algo
em português à platéia. Mas o tom do Medeski não
era de amadorismo: tocaram muito e não era uma
música
fácil. No final, saíram com as toalhas nas costas. Missão
cumprida.
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