Lang quer provar que é filho do blues
Com `Wander
This World', único astro do blues no festival mostra sucessão
de baladas
Difícil
dizer se um bluesman é um grande bluesman até ouvi-lo fazer
a guitarra chorar no palco. Jonny Lang ainda nem tinha
saído
dos cueiros quando B.B. King, atravessado por uma heroína mal misturada,
tirava a camisa e as calças num palco em
Chicago.
Mas, em disco,
Jonny Lang, bluesman branco de 18 anos, menino prodígio de Minneapolis,
realmente impressiona. Wander
This World
(PolyGram), seu trabalho mais recente, é o repertório básico
que ele apresenta em seu show no domingo, 17 de
outubro, no
palco New Directions do Jockey Club.
Ele abre o
disco com Still Rainin'. A voz é ainda imberbe, sabe-se de antemão
que não é um homem que está ali cantando.
Mas Lang não
se poupa, abre a garganta sem cerimônia. Afinal, desde os 14 anos
está no palco - contam que o pai o levava
para cantar,
já que não tinha idade para ficar no bar até altas
horas da noite.
Depois, Lang
emenda Second Guessing, uma baladona blues-pop, na qual toca a guitarra
ainda sem demonstrar que tem
approach.
Parece estar-se poupando. Na funkeada I Am, a terceira faixa, Jonny brinca
com a guitarra e a voz lembra um
pouco a de
Robert Cray, que também não é poderosa e cujos solos
também não seguem a tradição verborrágica
do blues.
Lang considera-se
influenciado pelo rhytm'n'blues de Ottis Reding e Stevie Wonder, o que
é bem razoável. Em I Am, a
influência
de Reding é bem visível. Ele não convenceu só
a indústria do disco. Vejam o que diz dele Luther Allison: "Os
grandes músicos
têm o poder de quebrar todos os ismos, de raça, idade, sexo,
etc.; Jonny Lang é um desses músicos."
Certo é
que algumas coisas de Lang são insípidas, como a faixa Breakin'
Me, na qual parece uma versão de bolso de Joe
Cocker. A
faixa-título vem a seguir, Wander This World. É mais blues,
mas ainda assim, com lamentos-clichê, pouco
convincentes.
Walking Away continua a linha das baladas inócuas. The Levee é
mais pungente, mais na linha do blues cru de
B.B. King.
Lang estreou
em disco com Lie to Me, em 1997. Tinha 16 anos, na época. Dali em
diante, abriu shows para Aerosmith,
Rolling Stones,
B.B. King e Blues Traveler.
"O blues teve
um bebê, e eles o chamaram de rock & roll", disse Lang certa
vez, citando Muddy Waters. Jonny Lang é
certamente
um filho do blues, mas o fato é que jamais teremos certeza ouvindo
apenas suas baladas em Wander This World.
Precisaremos
ver como empunha sua guitarra. Aí, o teste será definitivo.
(J.M.)
--------------------------------------------------------------------------------
Copyright
1999 - O Estado de S. Paulo - Todos os direitos reservados
