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Um sentido ético para globalização e governação

"A natureza se explica; a cultura se compreende" - Dilthey

 

 

 

Vivemos uma época de mudanças tanto a nível sócio-económico, político, como de toda dimensão cultural da humanidade. Esta revolução de mentalidades do fim do século faz com que, figuradamente, estejamos como que numa encruzilhada, á procura e a escolha de um sentido de um melhor caminho para a nossa aldeia global, onde o valor do mercado tem subalternizado todos os de mais valores.

Ao mesmo tempo, o conceito de Estado-Nação aparece desfocado dos grandes avanços tecnológicos, (da Cibernética e dos Medias), com o mundo aos nossos pés- ou nas nossas mãos, na ponta de um dedo, pelo toque do rato.

Existe quase que uma falaciosa identidade cultural-global, na medida em que as preferências tendem a uniformizar-se: coca-cola, levis, spice, lewin-sky, titanic, e a cachupa vamos internacionalizá-la.

Esta identidade que poderia, e deveria traduzir-se numa consciência colectiva de solidariedade e de progresso conjunto com vista ao desenvolvimento da humanidade, está, ao contrário, carregada de individualismo que descamba para um egoísmo podre e pobre. Não podemos pensar uma sociedade global de mercado em que o valor em si mesmo resida nela.

A economia do mercado, bandeira dos neo e dos ultra-liberais, não deve e nem pode basear-se só no valor do mercado, pois este é instrumental a outros valores que o fundamentam. É como se estivéssemos a perder de vista os desígnios da humanidade. Os cidadãos já não acreditam nas associações que têm por função defendê-los; a sociedade civil, também, não acredita nos políticos, nas instituições e, em última análise, no Estado;

O Estado está a perder para o mercado cada vez mais poder, o que põe em causa quer a sua natureza, quer a sua própia existência.

Neste quadro, que para uns significa deslumbramento e para outros confusão, qual deverá ser a saída?

Vivemos, por um lado, um estado de espiríto colectivo, conflitante, de amor ao passado, e pelo que este representa, e, por outro, um despertar para um amor da representação antecipada do futuro.

Esta dimensão ambivalente não se traduz num "handicap", antes pelo contrário, é a força motriz do desenvolvimento, em particular das sociedades e, no geral, de toda a humanidade.

Essa dialéctica é que nos permitirá que na diversidade e pluralidade de culturas possamos identificar a nossa universalidade, que consubstancia-se na consciência colectiva dos nossos invariantes axiológicos revelados pela intemporalidade histórica; tais como, a pessoa, valor-fonte, gravitadora dos de mais valores, (liberdade, democracia, Estado Direito, justiça social...)

Este património adquirido de bens histórico-culturais põe-nos em dívida que com os nossos predecessores, quer com os nossos sucessores, isto é, igual amor dedicado aos bens culturais adquiridos como os futuros, o que pressupõe e salvaguarda a matriz criadora e livre de pessoa humana.

Nesta medida, estamos condenados a conviver, (com nosso passado e perspectiva no futuro), num diálogo entre nações, na paz, no progresso, na solidariedade e fundamentalmente cooperando na valorização do nosso bem comum - o homem.

O mercado, (valor-meio), só pode existir como utilitário para o nosso progresso e nossa valorização e não para a degradação da condição humana.

Por isso, o Estado, mais do que nunca, ao invés de se abster dos seus fins, deve estar presente e interventor, fazendo a ponte nesse diálogo entre o mercado e a sociedade civil.

A intervenção do Estado deverá revelar-se na regulação da economia, e do mercado em particular, protegendo os mais fracos; no amparo e na inserção dos marginalizados sociais; na providência do emprego (como já defendia o Keynes), e no incentivo á criação de postos de trabalho; na promoção e realização de uma sociedade justa, redistribuindo riqueza e tornando-a tendencialmente igualitária (utopia possível); na defesa do nosso meio ambiente e no nosso desenvolvimento tecnológico com vista a novas conquistas.

Em suma, o Estado não deve deixar de ser providencial porque esta é a sua natureza e sua razão de existência, caso contrário privatiza-se.

Só existe um Estado, uma sociedade global de homens e para o homem (valor-fim).

 

 

Carlos Barreto Santos