Instruções de Allan Kardec - III
Pergunta:
Algumas pessoas vêem no Espiritismo um perigo para as classes pouco esclarecidas que, sem poder compreende-lo em sua pura essência, poderiam desnaturar-lhe o espírito e fazê-lo degenerar em supertição? Que responder-lhes?
Isso não passível de suceder com tudo quanto julgamos de maior utilidade, e se fôssemos suprimir as coisas das quais pode-se fazer um mau uso, eu não sei bem o que restaria, a começar pela imprensa, com o auxílio da qual podem-se difundir doutrinas perniciosas, da leitura, da escrita, etc. Aqui seria mesmo o caso de perguntarmos a Deus porque deu Ele língua a certas pessoas. Abusa-se de tudo, mesmo das coisas mais sagradas. Se o Espiritismo tivesse emergido das classes menos esclarecidas, sem nenhuma dúvida a ele estariam enredadas muitas supertições: ele, entretanto, nasceu em meios esclarecidos e só depois
de se ter aí depurado e elaborado foi que penetrou, nos dias que correm, nas camadas menos cultas da sociedade, onde chegou desembaraçado, pela experiência e a observação, de todas as implicações espúrias. O que poderia se tornar realmente perigoso para o vulgo, seria o charlatanismo. Assim sendo, nunca será demais demasiado, de modo constante e cuidadoso, a exploração, fonte inevitável de abusos, e isso por todos os meios lícitos ao nosso alcance.
Já não estamos mais no tempo dos parias, em que, relativamente ao esclarecimento, dizia-se: Isto é bom para estes, isto para aqueles outros! A luz penetra sempre na oficina de trabalho, mesmo sob a choupana, à medida em que o sol da inteligência se ergue no horizonte e dardeja seus raios mais intensos. As idéias espíritas seguem esse movimento. Elas estão no ar e não é dado a ninguém contê-las. O único necessário é dirigir-lhes o curso. O ponto capital do Espiritismo é o lado moral. Ele que é preciso – fazer compreensível, e, note-se, que é assim que ele é visto, mesmo nas classes menos
esclarecidas. Por esse motivo o seu efeito moralizador já é manifesto.
O Espiritismo fala ao coração e, para falar a linguagem do coração não há necessidade de diplomas. Fazei-o penetrar, por este caminho, na mansarda e na choupana, e ele realizará milagres.
Referência: A Viagem Espírita 1862.