Que quer dizer: “ No fundo, é sempre o médium o responsável, mesmo que tenha faculdade inconsciente, por aquilo que vem através dele?
( Médiuns naturais ou inconscientes: os que produzem espontaneamente os fenômenos, sem intervenção da própria vontade e, as mais das vezes, à sua revelia. LM 2ª parte, cap. XVI, item 188 ).
A situação que envolve uma categoria de médiuns, enquanto nas faixas do transe, é por demais importante e bem pouco recebida por aqueles que se hão dedicado mais à colheita de resultados fenomênicos do que à observação detida das bases desses mesmos fenômenos.
São discutidas, no movimento mediúnico do Espiritismo, as questões da consciência, da inconsciência ou semiconsciência dos médiuns por muitas pessoas assinaladas por paixões justificadoras de equívocos; por ignorantes ousados que, quanto menos entendem, mais opinam e afirmam. Pelos que têm conhecimento claro das coisas, mas acomodados para não se indisporem com problemas que preferem deixar como estão, fugindo de ajudar para o bem; e pelos que conhecem a realidade dos fenômenos fazendo esforços por orientar e aclarar, de modo que a mediunidade legítima seja respeitada e, de igual
modo, os médiuns logrem produzir com lucidez e utilidade.
É muito comum, na esfera das produções mediúnicas, encontrarmos indivíduos que fazem rodeios inacreditáveis, a fim de se afirmarem médiuns inconscientes, ora supondo que o valor real das comunicações está nessa inconsciência, ora admitindo que a inconsciência blasona possa responsabilizar-se por incorreções doutrinárias, desarranjos emocionais que enfeiam a mediunidade, dislates verbais ou termos de baixo calão assestados contra os companheiros, como se o médium inconsciente fosse um joguete da casualidade ou não pudesse responder por aberrações surgidas no fluir do transe mediúnico.
Semelhantes concepções são equivocadas, sem dúvida, considerando que, na maioria das vezes, os médiuns chamados inconscientes são, ao mesmo tempo, sonambúlicos, isto é, desprendem-se do corpo físico para que os desencarnados atuem, se manifestem, utilizando sua estrutura psico-neurológica, ou por outro lado, valendo-se do seu sistema nervoso e da sua engrenagem psicológica.
Nos casos em que é patente o fenômeno da inconsciência , estando o médium desprendido do seu veículo somático, o que se passa é que ele, desdobrado, mantém-se atendo a tudo quanto esteja se dando entre o comunicante desencarnado e o corpo a ele emprestado, particularmente se o comunicante for um Espírito perturbado por sofrimentos ou revoltas, ou, ainda, instigado por desejos de vingança em processos de obsessão.
Não se justificaria que a Providência do Mundo Maior, a que programa os labores respeitosos e sérios da mediunidade, por meios de Espíritos Prepostos, deixasse o médium à mercê das ocorrências funestas ou desequilibrantes, pelo motivo de ser ele inconsciente.
O médium, por esses raciocínios, não é inconsciente enquanto desdobrado, uma vez que deverá estar mais atento ao companheiro desajustado que se exprime através de seu corpo. Ele se torna inconsciente, a partir do momento em que retorna ao corpo físico, findado o transe, ou seja, não se recorda do que haja transcorrido durante a desprendimento, porque todas as impressões das ocorrências mediúnicas foram fixada diretamente no corpo perispiritual e não na estrutura do córtice cerebral.
Tudo o que podemos relembrar com facilidade está ligado aos registros da chamada massa cinzenta do cérebro, isto é, do córtice cerebral. As impressões feitas diretamente sobre o “cérebro” perispiritual, embora se mantenham registradas para a realidade espiritual, não serão facilmente recordadas pelo médium. É o mesmo princípio que faz com que as pessoas não se lembrem dos sonhos, quando acordam, chegando algumas vezes a afirmar que não sonham, não obstante todos se desliguem do corpo no fenômeno do sono comum e estabeleçam contatos variados com outros Espíritos, no além.
Os estudos que o médium desenvolva sobre o Espiritismo, a respeito da sua faculdade, tanto quanto as necessárias reflexões em torno de si mesmo e do seu mundo íntimo; o conhecimento, gradativo e indispensável, sobre seu papel na Terra e na atividade mediúnica, dar-lhe-ão possibilidades de auto disciplina a tal ponto que perceberá a importância de torna-se conscientizado da gravidade da sua inconsciência mediúnica.
“Se o médium inconsciente, em estado de transe, libera palavrões ou desordens, instala balbúrdia de gritos e de golpes violentos sobre a mesa de trabalhos, poderemos concluir que ele não tem o conhecimento de que não é objeto inativo dos Espíritos; ou que permite porque também ele, médium, aceita tais coisas, por isso não as censura; ou, o que é bem mais grave, se acha num estado de perturbação obsessiva a ponto de não ter mais possibilidades de frear o que seja indesejado num labor equilibrado.
Assim, ninguém deverá justificar, com o fenômeno da inconsciência, os desatinos ou violências que cometa, enquanto na faixa do transe, sem que tenha que responsabilizar-se pelos estragos físicos ou morais que haja causado no ambiente e sobre os companheiros de trabalho.
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