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Matéria publicada na revista Spektros número 02 da Editora Maciota de São Paulo.

 

Watson Portela é dos novos quadrinhistas do gênero “sério’ o mais cultuado pelos leitores, tanto que existe um fan-clube de quadrinhos com seu nome, o Clube Watson. Seus trabalhos atingiram nivel internacional, e já é publicado em alguns países da Europa. Sua série “Paralela” Iniciada na SPEKTRO da Editora Vecchi, em 1978 tirou-o do quadrinho regional de um jornal de Recife, sua cidade natal, para as páginas das editoras do Brasil e do mundo.

Watson encarnou o movimento dos quadrinhos dos anos 80. Saiu de Recife em 1978 para o Rio. Em 1980 foi para Curitiba trabalhar para a Grafipar, a nossa “Vera Cruz” dos quadrinhos. Lá seu desenho se agigantou e sua técnica narrativa criou asas, alçando vôos dos mais inusitados. Uma das características mais marcantes nos trabalhos de Watson, é sua constante evoluçio. Ele realmente ama o que faz e procura incansaveimente a perfelção e incrívelmente se supera a cada novo trabalho.  A entrevista que apresentamos a seguir foi feita por Giovanni Voltolini em 27 de abril de 1982, em Curitiba. Hoje Watson mora em Recife. Voltou quando da fase negra dos quadrinhos, nos anos de 83 e 84. Mas agora, junho de 85, com a PRESS as coisas já estão melhorando.

GIOVANNI: Como foi seu início nos quadrinhos?

WATSON: Comecei no Diário de Pernambuco fazendo algumas tiras para o Suplemento de sábado, fiz também quadrinhos em publicidade e depois de algum tempo fiz uma revista com roteiros de meu irmão Wllde. Uma revista chamada ÁGUIA com histórias de guerra. Preparamos toda a revista para ser impressa em Arapiraca, totalmente em clichê, mas ela não saiu.

GiOVANNI: Quando você começou a publicar nas editoras?

WATSON: Eu mandei meus trabalhos para todas as editoras do Brasil, mas só recebia negativas. O primeiro que aceitou meu trabalho foi o Aizen. ele gostou e encomendou o Caçador de Esmeraldas que não foi publicado até hoje, em seguida fiz um trabalho para a Vecchi que comprou logo de cara. Depois de um certo tempo o editor da época, o Otacilio, me convidou para ir ao Rio de Janeiro, fui e fiquei. Cheguei a produzir para a Ebal uma HQ sobre a vida de Napoleão Bonaparte, mas também não foi publicada. A partir daí comecei a trabalhar para a Vecchi.

GiOVANNI: Você tem material inédito em outras editoras?

WATSON: Antes da Vecchi e da Ebal. havia mandado para a Ed. Talka, que encomendara um material, 2 ou 3 histórias. mas não publicaram e não recebi os originais até hoje. Não tenho nem cópias deles.

GIOVANNI: Você fica com todos os seus originais?

WATSON: Eu tenho pouquíssimos originais, porque a maioria sumiu, uma parte eu dei, e a outra ficou nas editoras. A Vecchi mesmo tem uma porção de originais. As editoras não dão nenhuma atenção aos originais depois de publicados. Jogam num canto e acabou. Na Grafipar a gente não tem esse problema, porque os originais são sempre devolvidos. (N. do E. a PRESS também devolve os originais).

GIOVANNI: Você usa algum pseudônimo?

WATSON: Meu nome é Watson Portela, mas assino Watson ou Barroso que é o sobrenome de minha mãe.

GIOVANNI: Quantas páginas você já chegou a fazer em um dia?

WATSON: Já cheguei a fazer 20 páginas com roteiro, lápis e nanquim. Agora, só a lápis fiz mais de 30 páginas.

GIOVANNI: Não é um ritmo muito puxado?

WATSQN: O trabalho é muito comercial, prefiro fazer uma única página mais bem transada, por dia, por que eu curto o que eu faço, adoro minha arte e por isso vou sempre procurando evoluir. Vivo aprendendo diariamente.

GIOVANNI: Qual o roteirista nacional que você mais gosta?

WATSON: Eu gosto muito do Julio Emilio Braz que faz muita coisa boa, agora não puxando, o melhor é meu irmão Wilde.

GIOVANNI: Como você gosta de receber os roteiros que você quadriniza?

WATSON: Prefiro um rafe (esboço) que me deixa mais a vontade.

GIOVANNI: Como você faz uma HO?

WATSON: Primeiro eu pego um bloco de papel e um lápis, e fico sentado na cama, vendo televisão, e procurando inspiração, quando pinta o estalo começo a escrever, faço a história à noite entre 7 e 10 horas e no dia seguinte começo a desenhar, desenho direto esboçando de uma vez só e depois passando tinta.

GIOVANNI: Qual de suas HO que você mais gostou de fazer?

WATSON: Bom, a história não é propriamente mInha, era uma cópia de uma americana, mas foi o trabalho que eu mais gostei, é a HQ “Uma Alma para o Demônio” que foi publicada na revista Pesadelo da Vecchi.

GIOVANNI: Quais os desenhistas que influenciaram sua carreira?

WATSON: No começo foi Jack Kirby, atualmente é o Giraud. Acho que ele é o maior de todos os desenhistas. Entre os nacionais quem eu gosto pacas em primeiro lugar é o Shima, acho ele incrível, segundo, o Colin, que tem um estilo totalmente diferente, moderno, que eu gosto muito e ainda o Mozart e o Ofeliano.

GIOVANNI: Dos quadrinhos internacionais o que você mais gosta?

WATSON: Gosto do estilo europeu, leio o Asterix, o Tintim que acho muito cinematográfico e como não podia deixar de ser o Giraud. Sou fã do Salinas,  principalmente do Cisco Kid. Quanto aos Super-heróis gosto dos X-Mens, do Quarteto Fantástico e do Demolidor de Frank Milier.

GIOVANNI: O que você mais curte dos Super-heróis nacionais?

WATSON: Um dos que eu mais curto é o Raio Negro do mestre Gedeone. O que mais me atrai é a simplicidade do trabalho, da história, o traço limpo, a narrativa objetiva. Agora fugindo dos Super-heróis tem muita coisa boa no Brasil e posso citar duas delas: o Lobisomen e a Múmia com roteiros do Gedeone e traços do excelente Sergio Lima de quem sou admirador.

GIOVANNI:Porque você capricha mais nos trabalhos para os fanzines como a HQ para a Historieta e a capa para o Universo?

WATSON: O trabalho depende muito do clima. Quando estou fazendo para uma editora, estou pensando na grana, no prazo; no fanzine não, eu geralmente me  proponho a fazer, faço com carinho, sei que o cara não tá cobrando, não vai pedir nada. um trabalho que eu gosto de fazer.

GIOVANNI: Fale sobre seu trabalho com HQ erótica?

WATSON: No começo eu ficava meio chateado em fazer, mas hoje acho um material normal, mas faço por sobrevivência.

GIOVANNI: Como todo desenhista de quadrinhos você gosta de cinema, que tipo de filme você curte?

WATSON: Os filmes que eu curto são da linha de ficção ou faroeste, filmes como Superman, Alien, Guerra nas Estrelas, Caçadores da Arca Perdida e o E.T. que eu assisti umas 20 vezes, ele tocou fundo na minha sensibilidade.

GIOVANNI: Como leitor de HQ o que você sente falta quando vai nas bancas hoje em dia?

WATSON: Sinto falta do formatão que publicava a Ebal, aquelas séries do Batman, Flash, Gavião Negro, hoje além dos formatinhos não tem mais nada.

GIOVANNI:Fale um pouco sobre a influência da música no seu trabalho?

WATSON: Eu só consigo desenhar ouvindo música. E o meu estúdio também tem que estar cheio de plantas e brinquedos. Tenho uma coleção de brinquedos e gibis, só assim eu me sinto bem e crio um clima para pintar as idéias.

 

Fim