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© Jack H.

Crossdresser Um dia na infância, na puberdade, na adolescência, sentimos um clique qualquer. Não sabemos como e muitas vezes esquecemos quando. Mas isso é o início. Uma imagem, uma rapariga que passa por nós (recordo-me de uma colega de escola a mostrar-me as suas meias com costuras atrás), uma gaveta aberta por acaso ou uma peça de roupa esquecida num canto. Desperta o fascínio. Surge a interrogação. Por que não posso eu usar essas roupinhas tão lindas? Depois instala-se a tentação. E então aproveitando uma saída da família ou uma casa de uma familiar ausente aparece ou cria-se a oportunidade de experimentar. De vestir a roupa da mãe, da irmã ou mesmo da namorada, furtivamente desviada para a nossa intimidade. Não sem algum sentimento de culpa, pela ousadia, pela clandestinidade do acto e simplesmente porque somos rapazes. Mas domina a vontade e o prazer logo se revela. O toque dos tecidos de que desconhecíamos a textura e a suavidade e de que desconhecemos também o nome. O gozo de ter nas mãos esses objectos delicados, graciosos, rendilhados, sensuais e perfumados. E acontece a magia. As cuequinhas que sentimos subir pelas pernas, pelas coxas e que prendemos nas ancas. A estranha energia sentida nas pernas recém cobertas por meias de seda que se colam à pele. Os saltos altos que nos mostram uma nova dimensão de sentir o chão e de ver o mundo. Enfim, a consciência da riqueza imensa dos acessórios femininos, dos perfumes, dos gestos e depois, gradualmente, de uma forma geral de sentir, de estar e de pensar.

E agora? Numa fase precoce o Crossdresser talvez não tenha ainda noção da sua condição e pode mesmo nunca vir a tê-la. No entanto vai repetir vezes sem conta estas sessões de transvestismo. Vai também amplamente interrogar-se quando a excitação abranda e lhe permite que o cérebro pense mais lucidamente. Vai muito possivelmente rejeitar também tudo o que sente e mesmo chegar a enojar-se de si próprio questionando-se seriamente se é homossexual porque algumas ideias dúbias lhe passaram pela cabeça. Pode destruir ou atirar para o lixo alguma roupa que entretanto teve coragem de adquirir e jurar que nunca mais faz “aquilo”. Pode então suceder que algum ou bastante tempo passe sem que a necessidade de vestir roupas de mulher se faça sentir. E enquanto tudo isto aconteceu a sua vida normal de rapaz que inclusive namora com raparigas certamente continuou sem problemas. Só que no âmago a condição está lá para se revelar novamente outro dia qualquer com uma intensidade até mesmo muito maior que anteriormente. Todo este percurso pode afinal, com elevada probabilidade, dar origem a grande desconforto emocional e a estados mentais extremamente confusos e angustiantes. O indivíduo sente que em parte está a ser impelido por uma força estranha em sentido contrário ao dos outros e ainda não conseguiu perceber porquê.

Ser ou não ser  A fase em que termina o bloco anterior pode ser considerada como um limbo. Se o Crossdresser não procurar compreender o que sente e se por si só não for capaz de chegar às respostas que busca, não passará deste limbo. Para mim, nunca se definirá e certamente optará por manter a sua condição de heterossexual que é de certa forma o caminho que lhe parece mais natural dado que é o mais fácil perante os outros. Irá reprimir tudo o resto, o que pode funcionar mais ou menos bem, durante mais ou menos tempo, mas que nunca funcionará para sempre nem totalmente. Alguns indivíduos poderão por outro lado e por um processo que entendo como de desorientação, assumir a condição de homossexuais quando o não serão verdadeiramente. Eu vejo esta possibilidade também como uma permanência no estado de limbo porque em primeiro lugar o Crossdresser não é homossexual ou heterossexual (embora isto também não signifique que não o possa ser uma coisa e outra). E esta é a pedra de toque. A condição de que falamos não é uma condição de opção sexual estrita e simples. Esta envolve todo um universo que é a palavra adequada para definir toda a abrangência da condição. No entanto, e eu penso assim, o conceito do Crossdresser heterossexual é mais desconcertante que o inverso. Quem adora vestir-se de mulher, agir e sentir-se como mulher ou mesmo pensar como mulher não pode certamente manter-se de forma isenta do lado de lá do seu género masculino biológico. No meu ponto de vista, que é o que naturalmente considero o correcto, o Crossdresser é esmagadoramente bissexual. Compreender a sua sexualidade sui genreris é por isso fundamental, embora não seja tudo, antes que o Crossdresser consiga passar para uma fase de aceitação de si próprio.

Forma(s) de estar Quando o Crossdresser consegue entender-se e aceitar-se a si próprio pode em potência desfrutar do melhor de dois mundos como vulgarmente se diz. O Crossdresser possui dentro de si uma mulher psicologicamente viva. Então, a primeira coisa que deverá fazer é não a matar. A segunda é deixá-la viver. Depois deve dar-lhe a melhor dimensão que puder porque existir só não chega. E aqui surge a grande dificuldade de grande parte dos Crossdressers. A maior parte embora o queira ardentemente não arranja forma de proporcionar existência física à mulher que faz parte de si. Este problema é uma fonte de angustia e de depressão tão ou mais violenta como a da fase da rejeição que vimos mais acima. O assumir ou não a condição de Crossdresser encontra-se no eixo de toda a problemática. Estou convencida que os que o fazem são uma minoria. Do lado oposto encontra-se uma vasta multidão de mulheres amordaçadas nas quais me incluo. Quer queiramos quer não o mundo encontra-se organizado em função dos heterossexuais e quem sai deste grupo encontra todas as dificuldades inimagináveis. No entanto a coragem permite que se ultrapassem todas barreiras possíveis da vida. Acredito assim que quem empreende essa viagem maravilhosa e sem retorno jamais se arrepende. E também acredito que existe um elo forte de solidariedade e de compreensão mútua entre quem fica e quem parte. E isto é algo admirável que nos distingue, entre muitas coisas, face a outras opções de vida. Por que o Crossdressing não é uma condição sexual marginal mas uma forma de estar na vida muito bela e positiva. 

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Travesti Pelo dicionário é uma pessoa que se veste com roupas do sexo oposto. Ou um espectáculo em que actuam pessoas dessa forma. Pela minha definição  o Travesti é uma pessoa que na generalidade dos casos transforma o seu corpo com ajuda de cirurgia plástica e de tratamentos hormonais. Por norma não mutila os seus órgãos sexuais (ver aqui em baixo a definição de Transsexual) mas vive como mulher a tempo inteiro. O Transformista  pelo contrário veste-se de mulher principalmente para actuar em espectáculos. Não confundir porém este último com as Drag Queen que se aproximam mais da caricatura enquanto o Transformista anda mais próximo do género real. Algo erradamente o Travesti possui uma carga negativa porque é quase ideia geral que todos são promíscuos e se prostituem.

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Transexual  Pessoa que mudou de sexo através de intervenção cirúrgica que lhe transformou a genitália. A cirurgia por norma é antecedida de tratamento hormonal e psicológico. Esta mudança não é legal na maior parte dos estados do mundo que não reconhecem assim a mudança de sexo. Por isso, o indivíduo que muda de sexo para além dos problemas que possa enfrentar socialmente depara-se também com uma barreira legal. Ocorre com homens e mulheres. São pessoas que passam a viver física e psicologicamente como indivíduos do sexo oposto. Antes da mudança sentem-se aprisionados num corpo que não lhes pertence e abominam o seu sexo biológico. Veja também Hermafrodita que é o indivíduo que nasce com genitália de ambos os sexos.

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Homossexual Pessoa que se sente atraída sexualmente por indivíduos do mesmo sexo. A designação universalmente aceite é Gay para os homossexuais masculinos. Para as mulheres em português o termo usado é Lésbica. O Homossexual usualmente  não se transveste e também não repudia o seu sexo biológico. Sente-se bem no seu corpo mas deseja pessoas do mesmo sexo para se relacionar emocional e sexualmente. A bissexualidade pode ser introduzida paralelamente dado que desde que se seja bissexual é-se em parte homossexual. O Travesti, o Transexual e o Crossdresser normalmente distanciam-se do universo Gay dado possuirem uma relação diferente com o corpo. Penso ainda que o universos Gay goza de alguma desvalorização entre os transgéneros acima referidos. 

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Crossdresser
Travesti

Transexual

Homossexual
 

Nesta página o texto principal assenta fundamentalmente na minha experiência pessoal e no contacto que tenho vindo a ter com o universo Crossdresser. Saliento que o mesmo não possui nenhuma pretensão de passar por um documento cientifico mas tão só por um ensaio de opinião.
Os restantes textos são notas breves ou "as minhas definições".