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Cabeça de Cuia (a lenda)


Um rapaz da chamada Vila do Poti (hoje apenas bairro do Poti Velho) - aquela mesma vila que nascera antes de Teresina ao menos sonhar em ser gente em matéria de cidade. Era uma vez aquele rapaz que morava com sua mãe viúva e pobre de não ter de seu um couro para morrer em cima. Isto antes de Teresina sequer pensar em Conselheiro Saraiva que naqueles tempos ainda era menino praticando estripulias e travessuras na velha Bahia com h. Quando certo e determinado dia, o dito rapaz foi pescar nas águas do Poti. Já estava com seu belo e bom pari preparado. Deixe que naquele dia foi dum azar sem nome. Por mais que forcejasse, não conseguia pegar sequer uma por mais fosse pequena piaba. Voltou à casa fulo de raiva e de fome - duas coisas que misturadas nunca que dão bom resultado, visto a segunda atiçar a primeira para qualquer ato desagradável. Chegou em casa e foi logo botando para cima uma briga tremenda com a velha sua mãe. Aconteceu que esta havia guardado para ele um prato de feijão com apenas de suporte um corredor de boi. Além do mais, o dito corredor limpo como Deus quer as almas. Não tinha de carne um naco. Então, passou ele a espancar a pobre coitada velha, batendo-lhe o corredor na cabeça. Depois, emborcou o corredor sobre o prato e, ao invés de tutano, escorreu mais foi aquele sangue grosso e vivo. Aí a velha, tonta e cambaleando de tão desadorada dor, saiu do terreiro, ajoelhou-se na areia quente e, de mãos postas, passou a amaldiçoar o filho. E as pregas pegaram, mesmo porque era meio-dia em ponto, hora em que os anjos estão cantando salmos e dizendo amém lá no patamar brilhoso do terreiro do Céu. Pois ela dissera que ele havia de se transformar num mostro; que ficaria penando para todo o sempre, eternamente, da terra para as águas. De repente, num átimo, o rapaz enlouqueceu. Perdeu a bola por completo. Ficou mais foi mesmo doido varrido. Aí correu sem sentido e gritando que era um infeliz e amaldiçoado. E atirou-se às águas do Parnaíba. Morreu afogado. E o interessante de tudo foi que ninguém conseguiu encontrar seu cadáver. Na mesma hora, a velha também se fora para o outro lado da vida, que aquelas pancadas sem temo do corredor não eram para menos. Deu uma sapituca, esticou as canelas, olhou para o dedo-grande do pé e fez a viagem-sem-frito. Morreu. Passa os seis meses de enchentes nas águas, matando gente afogada, tanto virando vapores, balsas, canoas e outras embarcações, como de qualquer maneira. Acredita-se que, por esta temporada, a gente chegando na beira do rio, às horas-mortas da noite e três vezes gritando: ô,ô,ô,... Cabeça-de-Cuia!!! ele aparece. Mas diz que vem com mil e uma marmotas de assombrações. Aliás, vem calmo, julgando ser sua genitora que o chama. Quando observa que não é a velha, pratica as mais horripilantes fantasias. Aquilo ele vem só mesmo por saber que a alma da velha também vive penando no mundo e só se salva quando ele deixar de penar. Mesmo assim, quer ver sua pobre mãe sofrendo por sua causa. É que mãe, para melhor definição, só se pode mesmo dizer que é mãe. Os outros seis meses ele passa em terra, também praticando fantasias. Pois é assim. E tem mais: o Cabeça-de-Cuia só deixará de penar no mundo quando devorar sete mulheres virgens de nome Maria. E diz que até o presente não conseguiu consumir uma sequer.

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