Campinas - Porto Seguro - Campinas em 4 dias
O motivo de minha viagem foi a troca de uma de minhas motocicletas (Kawasaki Vulcan 800). Encontrei na Internet uma moto que me agradou (KTM LC4 Adventure R) e comecei a tratar com o vendedor. A moto estava em João Pessoa - PB e ele fez questão de fecharmos negócio pessoalmente. Então tracei uma mediatriz entre Campinas e João Pessoa e lá estava Porto Seguro. Clique
sobre as fotos para ampliá-las |
|
A
viagem
Saí
de Campinas às 3h00 de sábado (03/06/05) e peguei a Rodovia
D. Pedro I em direção a Jacareí. No final, peguei
a Carvalho Pinto até Taubaté, onde caí na Dutra,
seguindo até o Rio de Janeiro. Todo este trecho foi feito sob forte
neblina, até umas 9h00. Raramente consegui andar a mais de 80 km/h,
pois a visibilidade estava péssima. Meu plano de ganhar tempo nas
estradas boas de SP tinha ido por água abaixo. |
|
Parei
para o primeiro abastecimento em São Gonçalo - RJ, com 530
km de viagem. Segui pela BR-101 sob chuva forte e constante até
Vitória - ES, onde parei novamente para abastecer, quando o hodômetro
marcava 1040 km de viagem e o cronômetro indicava 13 horas dirigindo.
Pernoitei em Vitória. |
|
Saí
de Vitória às 6h00 de domingo (04/06/05) e peguei a BR-101
sob chuva forte e constante até Eunápolis - BA, onde então
rumei pela estrada de acesso a Porto Seguro. Abasteci na entrada de Porto
Seguro, quando o hodômetro marcava 637 km e o relógio indicava
8 horas de direção. Dormi em Porto Seguro. |
|
Na
segunda (05/06/05) saí de Porto Seguro às 11h00, segui até
Eunápolis e peguei a BR-101 novamente rumo sul. Parei para abastecer
em Viana - ES quando o hodômetro marcava 622 km e 8 horas de viagem.
Segui até Guarapari - ES (a 50 km dali) onde pernoitei. |
|
Terça
(06/06/05) saí de Guarapari e peguei a BR-101 rumo ao RJ. Parei
para abastecer depois do Rio de Janeiro, já na Via Dutra, após
rodar 596 km. Segui pela Dutra, Carvalho Pinto e D. Pedro I até
chegar novamente a Campinas, quando havia rodado, neste dia, 1040 km,
em 12 horas de direção. |
|
Carregando
as motos
Não é fácil carregar uma moto grande como uma Vulcan 800 numa picape pequena como a Saveiro. Para tanto, tive que desmontar a roda e o paralama dianteiros da moto e apoiar seu garfo sobre um batente de madeira. Fiz isso com o auxílio de um macaco hidráulico e de dois amigos (e de algumas Skol...). Mesmo sem roda, a Vulcan ainda não cabe na Saveiro, e a porta traseira ficou semi-aberta. Mas a placa traseira da picape ficou bem visível, então não tive problemas quanto a isso. |
|
Para
mim, é lenda que a Saveiro é capaz de carregar 700 kg. A
minha estava carregada com cerca de 300 kg na caçamba e 100 kg
na cabine, e seu desempenho, tanto em termos de motor quanto de estabilidade,
foi bastante afetado. |
|
Já
a KTM é tranqüila de carregar. Apenas murchei seus pneus e
deixei novamente a porta traseira semi-aberta. Não precisei desmontar
nada. A KTM pesa cerca de 100 kg a menos do que a Vulcan, e a picape agradeceu
bastante este alívio no peso. |
|
Apesar
de ter ficado bastante preocupado com o modo como prendi a Vulcan na caçamba,
tive um único contratempo durante toda a viagem: já na Bahia,
ao passar por uma forte depressão a cerca de 80 km/h, a porta traseira
se soltou e abriu. Tive que retornar 1 km para buscar um encerado que
caiu da caçamba, prendi a tampa novamente e fui embora. |
|
As
estradas
Tirando
as estradas de SP, reconhecidamente boas mesmo porque contam com caros
e freqüentes pedágios, as melhores estradas encontrei no ES.
Realmente fiquei surpreso com a qualidade da BR-101 por lá, muito
superior ao RJ e, principalmente, à BA, que é onde mais
a picape e as motos sofreram. |
|
RJ
- É sempre um estorvo dirigir na Av. Brasil. O limite
de velocidade é condizente com o trecho, mas ninguém respeita,
e te passam pela direita, pela esquerda, pela faixa exclusiva para ônibus,
etc. Passando o Rio, rumo ao norte, não há placas de limite
de velocidade, você simplesmente segue o fluxo. De vez em quando
há uns radares de 50 km/h, é preciso ficar atento. |
|
O
trecho mais chato, porém é em Campos de Goitacazes, no norte
do Estado, onde a BR-101 corta toda a cidade, inclusive com inúmeros
semáforos. O primeiro semáforo, aliás, atravessei
no vermelho, pois não o identifiquei. É daqueles tipos de
semáforos horizontais, parecem sinal de largada de F-1, bem confusos.
Quando o avistei, ele estava piscando no amarelo, achei que fosse um sinal
de atenção, mas quando me aproximei acenderam as luzes vermelhas
ao lado, estava chovendo, eu estava carregado, meti a mão na buzina
e passei. Não sei por que cargas d'água inventam moda com
coisas que deveriam ser universais, como um semáforo. |
|
Peguei
3 congestionamentos na volta, no RJ. Um próximo a Niterói,
por causa de um atropelamento. Outro depois da cidade do Rio, na Serra
das Araras, pois os dois sentidos de tráfego estavam na mesma pista
(uma das pistas interditada). E o terceiro já na Dutra, devido
à passagem de um caminhão com excesso de altura pela pista
da contramão, devidamente sinalizado pela Polícia Rodoviária. |
|
ES
- Como já disse, é o melhor trecho da BR-101. Asfalto
bom, sinalizações horizontais e verticais boas. O asfalto
fica ruim e o trecho fica perigoso nas proximidades de Vitória
(50 km antes, 50 km depois). Passa-se pelo meio de muitas cidadezinhas,
há lombadas, gente e carros cruzando a pista. Vi um atropelamento
por lá. |
|
Paradoxalmente,
a coisa mais estúpida que eu vi, em termos de estradas, nesta viagem,
foi justamente no ES. Chegando em Pedro Canário, cidade no extremo
norte do Estado, indo sentido BA, há uma forte descida com muitas
indicações de proximidade de uma curva perigosa. Diminuí
a velocidade pra uns 60 km/h e entrei na curva. No meio desta, uma alta
lombada (quebra-molas) antecede uma ponte. E pra parar nesta lombada,
na descida, no meio da curva, com o asfalto molhado e o carro carregado?
Passei meio de lado, invadi a contramão, um sufoco! Na verdade,
o que faz aquela curva perigosa é a própria lombada que
colocaram, e não o raio da curva em si. Uma estupidez. De resto,
nota 10 ao ES! |
|
BA
- Aqui, a coisa pega! Você passa a divisa do ES e já
vê o que te espera: buracos, sinalização imprópria
ou inexistente e ausência de acostamento. Nos trechos em que o asfalto
está bom (recapeado), a estrada é "self-service".
Como não há sinalização nenhuma, você
escolhe a velocidade, se pode ou não ultrapassar, se a curva à
frente é aberta ou fechada, etc. Uma vergonha! |
|
Os
motoristas - Nas cidades, os cariocas e os capixabas se eqüivalem.
São todos meio loucos e apressados. Entrei em Vitória sob
um temporal daqueles e o pessoal voava, jogando água pra todo lado.
Não foi surpresa quando encontrei carros batidos sob a placa "Bem-vindo
a Vitória". |
|
Nas
estradas, 80% é caminhão, 10% é vendedor, 5% é
ônibus e 5% é meio besta que nem eu. Os caminhões
na maioria das vezes te ajudam nas ultrapassagens, mas sempre há
os babacas (minoria) que tentam te atrapalhar. Todos os caminhões
de eucalipto do ES e sul da BA me ajudaram nas ultrapassagens, sinalizando,
diminuindo velocidade, saindo para a faixa da direita. Ponto pra eles,
que têm noção do tamanho de seus veículos (treminhões)
e que têm consciência da dificuldade de ultrapassá-los
por isso. |
|
Os
vendedores estão sempre com pressa, fazendo ultrapassagens perigosas,
mas via de regra são habilidosos e conhecem as estradas, portanto
não há tanto problema. Só dá dó dos
carros das empresas, porque eles passam nos buracos como se estivessem
sobre um tapete... Os ônibus... se eu tivesse que ir ao NE de ônibus,
só iria de Itapemirim. Foram os únicos ônibus que
eu vi andando com segurança. O resto, Deus nos livre! Velocidades
altíssimas, ultrapassagens proibidas sem visibilidade alguma, às
vezes era possível ouvir os pneus dianteiros de alguns ônibus
arrastando nas curvas, no limite da aderência. |
|
No
geral - na ida, de 20 horas dirigindo, 18 foram sob neblina ou
chuva forte. Portanto, nem pensar em andar à noite por estas estradas.
Na volta, de Porto Seguro a Guarapari, fiz a besteira de sair tarde e
pegar bom trecho de estrada à noite, com chuva, próximo
a Vitória. Foi com certeza o trecho mais tenso da viagem, onde
vi 3 acidentes (um atropelamento) e um caminhão andando de lado,
derrapando na chuva ao tentar desviar de um canteiro de pista que apareceu
"de repente". Mesmo nos trechos com pista boa, é comum
aparecer algum panelão no meio da pista. Por isso, é importante
sempre manter distância do carro à frente, para se ter tempo
para desviar. |
|
Sociedade
- Economia - Política
Devo
salientar que esta parte envolve apenas as cidades que a BR-101 cruza,
ou seja, não estou analisando os Estados em si, mas sim as cidades
que vi de passagem. |
|
RJ
- A cidade do Rio tem uma vista linda, mas está tão
fedida quanto São Paulo no trecho que cruzei. Saindo da cidade
do Rio, se passa por poucas cidades. A BR-101 atravessa toda Campos, que
é uma cidade feia e com quilômetros de favela ao seu redor. |
|
ES
- Foi minha melhor surpresa. Vitória é uma cidade
muito bonita. Fiquei num hotel na Praia do Canto, onde há vários
barzinhos bacanas, com gente bonita. A indústria papeleira devastou
boa parte da Mata Atlântica às margens da BR (e eles ainda
chamam aquilo de reflorestamento, faz-me rir - pra não chorar).
Daqui a pouco o animal símbolo do ES será o coala... |
|
Mas
na mesma BR se encontram vários parques com áreas de preservação.
Estes parques são tão bonitos que dá vontade de chorar
quando se volta a encarar novamente quilômetros e mais quilômetros
de eucaliptos. Devo confessar que eu pensava que o ES era aquele Estado
que separava o Rio da Bahia, mas vi que tem muita coisa boa e bonita por
lá e, de fato, foi onde eu vi as maiores belezas desta minha breve
viagem. |
|
BA
- A maior decepção. Descobri porque o pessoal do
Sul do Brasil só vai a Porto Seguro de avião, além
da economia de tempo e dinheiro: pra não ver o sul da Bahia. Que
tristeza! Difícil se divertir em Porto Seguro depois de ver tanta
miséria. O sul da BA eu traduziria como a "Terra das Barrigas".
Só vi mulheres e crianças miseráveis. As mulheres,
com barrigas de gravidez, e as crianças com barrigas de verme.
Na frente de cada casinha de pau-a-pique na beira da BR há uma
placa com os dizeres "Precisamos de comida". Ao lado da placa,
crianças sujas e barrigudas tentam sensibilizar os passantes para
doações. |
|
O
pior é que não há perspectivas. Via de regra se vê,
de um lado da estrada, pasto e gado. Do outro, eucalipto. Ou seja, duas
atividades econômicas que acabam com a terra e que geram quase nada
para a população, seja na forma de empregos (são
indústrias que demandam pouquíssima mão-de-obra),
seja no custo dos produtos em si (os locais não consomem nem carne,
nem papel). Não há quase nada da Mata Atlântica por
lá, apenas pasto e eucalipto. Triste, triste... |
|
Porto
Seguro é uma cidade com excelente infra-estrutura turística.
Não é o tipo de lugar que gosto, turismo "artificial",
música baiana, álcool sem moderação. Mas,
pra quem gosta, fiquei numa pousada excelente, chamada Quinta do Sol,
na Praia do Curuípe, a 1,5 km do centro da cidade (Fone 73 - 268-8500).
Ah, e quando aparecer alguém gritando e correndo atrás do
seu carro em Porto Seguro, pode ficar tranqüilo que é só
mais um guia chato tentando pegar um pouco do seu dinheiro. É o
tempo todo gente correndo atrás de você, um saco! |
|
O
combustível
É sempre uma preocupação, quando se vai fazer uma longa viagem, a qualidade dos combustíveis utilizados. Eu não tive problema algum, por isso disponibilizarei os postos onde abasteci: Campinas/SP São
Gonçalo/RJ |
|
Vitória/ES
Posto Polus - Shell Av. Des. Santos Neves, 22 - Praia da Sta. Helena preço da gasolina aditivada: R$ 2,340 consumo com este combustível: 13,11 km/L Porto
Seguro/BA |
|
Viana/ES
Posto Canaã - Ipiranga BR-101/262 km 12,7 preço da gasolina aditivada: R$ 2,282 consumo com este combustível: 13,55 km/L Rio
de Janeiro/RJ |
|
O
ritmo da viagem
Parei apenas para abastecer durante toda a viagem. Levei no carro bebidas numa caixa térmica, salgadinhos e chocolates. Ao todo, foram 3339 km em 41 horas de direção, o que dá 81,44 km/h de média. O consumo médio de gasolina foi de 13,38 km/L. É menos cansativo do que parece. Assemelha-se a uma maratona: no começo da viagem se cansa mais, depois se pega o ritmo "aeróbico" e nem se sente o tempo passar. |
|
Óbvio
que, para isso, você deve estar num veículo impecável.
No meu caso, era uma Saveiro 1.6 Mi 98, tirada 0 km por meu pai, com todas
as revisões feitas em concessionária, 70 mil km rodados,
alinhada, balanceada e com pneus Michelin novos. Os pneus foram muito
importantes nesta viagem, pois andei a grande maioria do tempo sob chuva.
Se eu estivesse com pneus meia-vida ou de marca não tão
boa, com certeza o ritmo da viagem cairia bastante. |
|
As
motos
Tive a Kawasaki Vulcan 800 por 2,5 anos. Excelente motocicleta, rodei com ela cerca de 25 mil km neste tempo com raríssimos problemas. Troquei-a nesta KTM pois pretendo fazer viagens mais longas, por estradas piores do que as que pegava aqui por SP. Ainda não andei com a KTM mais de 2 km, mas deu pra sentir que sua suspensão é das melhores que já vi, e o motor tem um desempenho fantástico. |
|
Como
toda KTM, as peças são sempre dos melhores fabricantes,
tudo de excelente qualidade. Por fim, ela conta com um tanque de 28 litros
(contra apenas 15 da Vulcan), o que melhora muito a autonomia em viagens.
A moto está na oficina para uma revisão geral, no final
de semana poderei apreciá-la com mais calma. |
|
Obrigado
pela atenção e paciência de ler este relato. Quaisquer
dúvidas, dicas, etc, pode escrever para mim, Rodrigo Moraes, no
email alcohol@correionet.com.br. |