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Nada trazem consigo. As imagens
Que encontram, vão-se deles despedindo.
Nada trazem consigo, pois partiram
Sós e nús, desde sempre e os seus caminhos
Levam só ao espaço como o vento.

Embalados no próprio movimento
Como se andar calasse algum tormento
O seu olhar fixou-se para sempre
Na aparição sem fim dos horizontes

Como o animal que sente ao longe as fontes
Tudo neles se cala p'ra auscultar
O coração crescente da distância
E longínqua lhes é a própria ânsia

É-lhes longínquo o sol quando os consome
É-lhes longínqua a noite e a sua fome,
É-lhes longínquo o próprio corpo e o traço
Que deixam pela areia, passo a passo.

Porque o calor do sol não os consome
Porque o frio da noite não os gela
E nem sequer lhes dói a própria fome
É-lhes estranho até o próprio rastro

Nenhum jardim nenhum olhar os prende,
Intactos nas paisagens onde chegam
Só encontram o longe que se afasta
As aves estrangeiras que os trespassam
E o seu corpo é só um nó de frio
Em busca de mais mar e mais vazio.


o mais belo poema de Sophia de Mello Bryner Andresen