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ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM

DA CRUZ VERMELHA PORTUGUESA

 

 

2º Curso de Licenciatura em Enfermagem

 

 

 

 

 

 

 

 

GRUPOS E SUAS TERAPIAS

 

 

 

 

 

Docente:

Profª  Cacilda Nordeste

 

 

 

 

Ana Maria Pereira de Almeida Santos

Dora Isabel Parreira Aragão

Énio Dinarte Taboada Amaral

José António França de Oliveira Mascarenhas

 

Lisboa, Dezembro de 2001

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“A arte de viver

É simplesmente arte de conviver...

Simplesmente, disse eu?

Mas como é difícil!”

 

Caudio Martines

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 ÍNDICE

 

 

 

1.  GRUPO

1.1.  COESÃO

1.2. COALIZÃO

1.3. COMUNICAÇÃO

1.4. FORMAÇÃO DE NORMAS

1.5. LIDERANÇA

1.6. STATUS E PAPEL

2. TERAPIA DE GRUPO

2.1. CARACTERISTICAS DA TERAPIA DE GRUPO

2.2. IDENTIFICAÇÃO DA FACTORES NA TERAPIA DE GRUPO

2.3. APRENDIZAGEM INTERPESSOAL

2.4. TAREFAS BÁSICAS DO TERAPEUTA NA TERAPIA DE GRUPO

2.5. TÉCNICAS DO TERAPEUTA DE GRUPO

2.5.1. Técnicas do Aqui-e-Agora

2.5.1.1. Importância do Aqui-e-Agora

2.5.1.2. Dinâmica do grupo no Aqui-e-Agora

2.5.1.3. Comportamento do terapeuta no Aqui-e-Agora

2.5.2. Transferência do terapeuta

2.5.3. Transparência do terapeuta

3. MUDANÇA

4. MÉTODOS DE ESTUDO E DE AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM               GRUPO

5. ASSOCIAÇÃO COM A ENFERMAGEM

6. CONCLUSÃO

7. BIBLIOGRAFIA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

0. INTRODUÇÃO

 

O estudo dos grupos diz respeito ao campo da psicologia social. A psicologia social é o campo da psicologia que estuda o comportamento social do Homem, o modo como reage aos outros e ao ambiente que o rodeia. A psicologia social é, então, o estudo do conjunto dos processos complexos inerentes à interdependência do indivíduo e da sociedade. Desde o nascimento que o ser humano está marcado e marca a sociedade em que se encontra inserido. Desde que nascemos que estamos em interacção com os outros e o comportamento individual de cada um é influenciado pelo contexto social. Na vida em sociedade o ser humano é integrado em grupos. Cada um de nós pertence, simultaneamente, a vários grupos: família, equipa de trabalho, amigos, recreativos... Em cada um destes grupos desempenhamos um papel diferente, papel este que é fixado pelos estatutos do grupo e imposto pelo seu líder (pai de família, superior hierárquico profissional, presidente duma associação) ou que somos levados a assumir através do jogo das relações múltiplas entre as diferentes personalidades que o compõem. Estes e outros assuntos relevantes no estudo dos fenómenos psicossociais no grupo serão posteriormente referidos.

Os objectivos deste trabalho são, então, compreender os processos resultantes da dinâmica dos grupos e a terapia que se poderá efectuar no mesmo, tendo como finalidade a mudança de comportamentos e atitudes. Nesta terapia, as relações interpessoais serão avaliadas pelo método sociométrico de Moreno.

Esta pequena abordagem dos assuntos anteriormente referidos é estruturada da seguinte forma: introdução, grupo e características inerentes, terapia no grupo e aspectos mais relevantes, mudança e o seu modo de avaliação (sociometria), aplicação à enfermagem e por último a conclusão.

 

1. GRUPO

 

Grupo é o conjunto estruturado de pessoas, definido pelas inter-relações que se estabelecem entre os seus membros e pela consciência que têm de pertencer a este conjunto. Deste modo, para que haja grupo, é necessário que se estabeleçam interacções entre os membros do conjunto, ou seja, que os seus comportamentos tenham uma preponderância recíproca. É necessário também que este conjunto tenha uma estrutura definida, continuando a existir mesmo quando os seus membros não estão reunidos.

Na classificação dos grupos considera-se um grupo primário ou restrito, aquele que se baseia em motivações afectivas, não se centrando essencialmente no alcançar de objectivos.  Os membros destes grupos vivem sentimentos de solidariedade e de partilha de valores e crenças comuns. São exemplos deste tipo de grupos a família e a vizinhança. Grupos secundários podem também ser designados de associação ou organização e são um grupo colectivo mais alargado. São mais organizados, menos espontâneos, e a sua comunicação é mais formal e mais impessoal do que nos grupos primários. Estes grupos são característicos do clube de jogadores e dos membros de um sindicato ou de um partido político. A família além de grupo primário é um grupo natural, pois estes definem-se na relação de parentesco de sangue. Em “oposição” estão os grupos artificiais, como as empresas, que se baseiam em factores racionais.

Para além desta classificação, pode-se caracterizar um grupo, quanto à sua dimensão, à sua composição (homogéneo ou heterogéneo) e à estrutura. A estrutura diz respeito à organização do poder, da autoridade e das influências dentro do grupo.

Neste estudo dos grupos, consideramos um grupo como o íntegro conjunto de pessoas, que buscam atingir metas comuns e que possuem crenças e costumes semelhantes. Neste grupo as pessoas a que ele pertencem, conhecem-se e é frequente a interacção e dinâmica entre elas. De seguida falaremos de processos que ocorrem em grupos, como a coesão, a comunicação, o status, o papel, as normas sociais, a liderança e o poder, isto é, estudaremos as interacções, as actividades e os sentimentos das pessoas em atmosfera de grupo. Esta atmosfera não é estática, sendo alterada progressivamente à medida que o grupo evolui.

 

1.1. COESÃO

 

Coesão é o conjunto de forças, de esforços e de pressões que são exercidas ou influídas sobre o grupo, para que os seus membros nele permaneçam, isto é, tudo o que actua e intervém sobre um determinado indivíduo para que ele persista no grupo.

Segundo Back, podem ser diversos os aspectos que levam o indivíduo a sentir alguma afinidade em relação a um certo grupo, nomeadamente o facto de se verificar uma atracção pessoal entre os membros do grupo, ou uma atracção pela tarefa a desempenhar. Pode ainda acontecer que o indivíduo tenha esperança em adquirir um elevado prestígio por pertencer a esse grupo. Daqui pode-se concluir que diferentes atracções podem conduzir a comportamentos semelhantes.

A coesão do grupo, segundo outros autores (Thibaut e Kelley), está relacionada com o grau de satisfação dos seus membros, no que diz respeito à proporção entre resultados obtidos e as respectivas recompensas.

Pode-se dizer que, a coesão do grupo, é proporcional ao grau de satisfação dos seus membros, à quantidade de comunicação e influência entre os mesmos e ao nível de produtividade.

 

1.2. COALIZÃO

 

Ocorre coalizão, quando alguns membros de um determinado grupo se juntam com o objectivo de atingir melhores resultados.

Segundo Caplow, quando em termos de distribuição de poder A>B e B=C e A<(B+C), a coalizão esperada é BC. Quando, por exemplo, A<B e B=C, a coalizão esperada é AB ou AC.

Destes estudos efectuados sobre os grupos que sofrem fenómenos de coalizão, pode-se ainda tirar outra conclusão. Quando existem diferenças iniciais de poder entre os membros de um grupo, estas podem desaparecer caso se dê uma coalizão. Assim, se um membro com pouco poder se une a um outro de grande poder, podem atingir, em conjunto, um poder mais elevado do que o, até então, membro com mais poderio.

 

 

1.3. COMUNICAÇÃO

 

Em todos os grupos se estabelecem redes de comunicação. Existem situações em que todos os membros dos grupos têm direito a comunicar entre si, contudo, outras há, em que existe limitação no que diz respeito a esta liberdade de comunicação. Estes aspectos são mais facilmente analisados através de configurações representativas do processo comunicacional elaboradas por Leavitt, que procurou analisar aspectos como o número de mensagens emitidas, o número de erros cometidos, o tempo necessário para resolver determinado problema e o grau de satisfação dos seus membros. 

 

 

 

O grupo organizado na rede centralizada em (1) estrela resolve mais rapidamente os problemas, sendo os erros cometidos irrelevantes. O número de mensagens emitidas é muito reduzido. Na rede em (2) círculo, os membros dos grupos levam mais tempo a resolver os seus problemas e os erros cometidos  e as mensagens emitidas são em maior quantidade. Contudo, os membros deste grupo apresentam maior satisfação na elaboração das suas tarefas do que os da rede em estrela, no qual a satisfação é muito reduzida. Por último, na rede em (3) cadeia, a comunicação é muito lenta, existindo fortes probabilidades da informação se deturpar ou até se perder.

As estruturas de comunicação foram inspiração para outros estudiosos, nomeadamente Shaw, que baseado em processos experimentais, demonstrou que a eficácia e a rapidez de um grupo em resolver os seus problemas depende da estrutura de comunicação nele instituída. Existem outro factores que também influenciam a eficiência de um grupo, como por exemplo, o tipo de tarefa, o ruído, a distribuição dos dados, a personalidade dos membros e as experiências anteriores dos mesmos. No entanto, de todas as variáveis acima enunciadas, a mais significativa é, sem dúvida, o tipo de tarefa. As estruturas centralizadas, isto é, aquelas em que existe um membro que tem maior possibilidade de comunicar do que os restantes, são mais eficazes quando a tarefa se baseia na colheita de dados em determinado lugar. As estruturas descentralizadas, que são aquelas em que todos os membros têm igual oportunidade de comunicação, são mais eficazes, quando a tarefa requer a colheita de dados e a realizações de operações adicionais.

 

 

1.4. FORMAÇÃO DE NORMAS

 

Um grupo só consegue sobreviver se nele existirem normas, que o rejam e que conduzam as linhas do comportamento dos seus membros. Estas normas podem ser consideradas padrões e expectativas acerca do desempenho dos membros do grupo, julgando os sentimentos, percepções e comportamentos dos mesmos. Caso estas normas não sejam cumpridas os membros do grupo sofrem as consequências dos seus actos.

O estabelecimento de normas pode substituir o líder. Muitas vezes a existência de um líder provoca tensão, contudo este pode não usufruir constantemente da sua superioridade e poder sobre os outros, caso exista um sistema organizado de normas que lhe facilite o trabalho. No entanto, quando o grupo não é coeso torna-se difícil o consenso de interesses no estabelecimento das normas.

A alteração ou manutenção das normas definidas, diz respeito à decisão do próprio grupo. Grupos em que alguns membros são não-conformistas, isto é, quando agem de forma oposta às expectativas ou não concordam com as normas, tendem a desorganizar-se.

 

1.5. LIDERANÇA

 

A liderança é resultado da interacção entre os membros de um grupo e, como tal, quase todos os grupos possuem um líder, isto é, um elemento coordenador da actividade colectiva que se centra essencialmente no atingir dos objectivos definidos e na afirmação do próprio grupo. É importante que características como a inteligência, a autoconfiança, a sociabilidade, a persistência, a dominância e a criatividade se conjuguem de uma forma harmoniosa com as finalidades e a atmosfera do grupo.

Um aspecto importante é o facto de existirem estilos diferentes de liderança, isto é, diferentes formas de o líder exercer a sua influência e poder e de se relacionar com os elementos do grupo.

No caso do líder autoritário é ele que toma decisões, sendo estas efectuadas sem consultar o grupo. O mesmo fixa as tarefas de cada um e o modo de as concretizar, isto é, não há espaço para a iniciativa pessoal. Sendo assim, este tipo de liderança é gerador de conflitos, de atitudes de agressividade, de frustração, de submissão e de desinteresse. A realização das tarefas não é acompanhada de satisfação, mas contudo a produtividade é elevada.

No líder laissez-faire, o líder funciona como elemento do grupo e só intervém se for solicitado. O grupo não dispõe realmente de um líder. É o grupo que levanta problemas, discute soluções e decide. Neste caso, o líder não intervém na discussão das tarefas, limitando-se a fornecer informações se a sua intervenção for solicitada. Quando o grupo não tem capacidade de auto-organização, podem surgir discussões com o desempenho de tarefas pouco satisfatórias.

Por último, existe o líder democrático. O grupo participa na discussão da programação do trabalho, na divisão das tarefas, sendo as decisões tomadas colectivamente. O líder assume uma atitude de apoio, integrando-se no grupo, sugerindo alternativas sem as impor. Este líder procura ser objectivo nas observações que faz do desempenho do grupo e é capaz de sentir o que se está a passar no mesmo e de o ajudar a ultrapassar os problemas. A produtividade é boa e a satisfação e a criatividade no desempenho das tarefas é elevada, bem como a intervenção pessoal e a solidariedade entre os membros do grupo.

Pode-se então concluir que por mais diferentes que sejam os grupos, isto é, por mais que o tipo de tarefas, a estrutura, a organização e as normas varie de grupo para grupo, há um facto que é comum a quase todos eles: a existência de um líder. É sempre extremamente complicado escolher uma pessoa que se considere que será um líder eficaz e, como tal, este terá de emergir do grupo, da interacção entre os membros.

 

1.6. STATUS E PAPEL

 

Em todos os grupos cada membro tem um determinado estatuto e um determinado papel a desempenhar.

Cada um ocupa uma posição diferente no grupo a que pertence e esta sua posição vai determinar o seu estatuto. Sendo assim, estatuto é o conjunto de comportamentos que um indivíduo espera por parte dos outros tendo em conta a sua posição no grupo. Como tal, pode-se dizer que o estatuto está relacionado com o prestígio que o indivíduo adquire no grupo. Quando o indivíduo considera que atingiu bons resultados em relação aos outros, adquire um status subjectivo. Quando não está estabelecida uma proporção entre o status subjectivo de um indivíduo e as recompensas por ele obtidas podem ocorrer perturbações no grupo, como conflitos e insatisfação. O status subjectivo pode ou não corresponder ao status social, que se verifica quando há um consenso de todo o grupo em relação ao mesmo indivíduo, no que diz respeito às vantagens que ele poderá trazer no alcançar de satisfação para todo o grupo. É importante que se estabeleça no grupo um sistema de status. Um sistema de status existe quando todos os membros de um grupo concordam com o status de cada indivíduo. Este proporciona um funcionamento mais adequado, mais eficiente e mais harmonioso do grupo.

Em respeito ao papel de cada indivíduo pode dizer-se que este está relacionado com as normas que coordenam o comportamento do mesmo. O papel de determinado indivíduo é, assim, o conjunto de comportamentos que os outros esperam do indivíduo tendo em conta a sua posição no grupo. Sendo assim, a cada estatuto corresponde um papel social. Um conjunto de pessoas podem ter todas o mesmo papel. Tal como em relação ao status, também existe um papel subjectivo, que é o papel que o indivíduo atribui a si mesmo. É de extrema importância que os restantes membros do grupo concordem com o papel definido pelo indivíduo, de modo que o grupo funcione harmoniosamente. Para além disto, como cada pessoa desempenha simultaneamente vários papéis podem ocorrer conflitos. Estes conflitos geram-se frequentemente quando as pessoas pertencem a dois grupos diferentes. Neste caso, cria-se um conflito interpapel, quando a satisfação das expectativas relativas a um papel implica a incapacidade de responder às expectativas do outro. Gera-se um conflito intra papel em casos em alguns membros do grupo não concordam com o papel de determinado indivíduo. Existem muitos factores que influenciam o estabelecimento de papéis de cada indivíduo, como a idade, o sexo, o nível educacional, as normas culturais, o status e o tipo de grupo. 

 

 
2. TERAPIA DE GRUPO

 

Após tudo o que foi dito atrás sobre o relacionamento entre os seres humanos, faz sentido abordar o tema Terapia de Grupo, visto que pode ser um meio útil para solucionar problemas inter-relacionais.

Foi uma expressão introduzida em 1930 por J. Moreno, inspirada no teatro, desde a sua infância, proporcionando o uso da crucial técnica de grupo do psicodrama, bastante difundido e praticado na actualidade.

Ao longo dos tempos esta forma de psicoterapia tem sido largamente praticada, vindo a ser empregue numa enorme quantidade de settings clínicos com elevada eficácia clínica. É praticamente pacífico com constatação de evidências de pesquisa que diversos tipos de terapia de grupo são favoráveis a todos os intervenientes que nela participam. Alguns investigadores ao fim de vários anos verificaram que o tratamento de grupo é tão eficaz quanto a terapia individual no tratamento de transtornos psicológicos.

A terapia de grupo começou por ter uma vertente prática facilitando o tratamento  de um grande número de indivíduos (20/30) no caso de tuberculosos, realizando-se uma a duas vezes por semana. Esta massificação terapêutica, deu-se no virar do século em Boston por Joseph Pratt sendo denominado por “encontros de grupo”. Estes aspectos de economia de tempo, de conveniência, bem como, de outros recursos são mantidos nos dias de hoje. Esta fórmula revelou-se vantajosa também no pós Segunda Grande Guerra onde o número de doentes (psiquiátricos) era grande e o de pessoal especializado era escasso. Em 1986 um estudo feito por Toseland e Siporin “concluiu que o tratamento de grupo é mais consistente, eficiente e com melhor custo benéfico”.

 

2.1. CARACTERÍSTICAS DA TERAPIA DE GRUPO

 

Actualmente, na terapia de grupo consideram-se três características que se inter-relacionam, e que são, o setting do grupo, a sua duração e os seus objectivos.

·          O setting reveste-se de extrema importância já que consiste no estabelecimento das “regras do jogo”, ou seja, é a soma de todos os procedimentos de organização, normas que possibilitam o funcionamento do grupo. Assim resulta da junção das regras atitudes e combinações, como é o caso, do local das reuniões, os horários, a frequência, o número de participantes e outros aspectos que se revelem importantes.

No entanto o setting não se restringe a uma forma passiva ele é um elemento técnico que representa importantes funções como por exemplo:

1.      É uma forma de estabelecer uma indispensável restrição de papéis e de posições, de direitos e deveres, entre o desejável e o possível;

2.      Os principais elementos a ter em linha de conta na configuração de um setting são: se o grupo é homogéneo ou heterogéneo, se é fechado ou aberto, se a sua duração é limitada ou ilimitada, se o seu número de participantes é reduzido ou alargado, assim como, a sua frequência (semanal / mensal) e a duração de cada sessão, bem como tudo aquilo que for estipulado.

 

 

·         A duração é variável no tempo podendo ser limitada quando a terapia de grupo é elaborada para ter um determinado número de sessões, sendo ilimitada quando independentemente dos seus membros elas se realizam.

·         Os objectivos estão directamente relacionados com o tipo de grupo para o qual estão traçados, isto é, podemos considerar diferentes tipos de objectivos, uns mais imediatos e outros a longo prazo. Os imediatos baseiam-se no funcionamento psicossocial e a longo prazo procuram o alívio sintomático e mudança de carácter, no entanto entre estes situam-se os objectivos da larga maioria dos grupos terapêuticos, como são os casos de bulimia, toxicodependência e alcoolismo. São de aplicação comportamentalista tendo como objectivo a mudança de comportamentos. Embora o objectivo de extrema relevância seja a manutenção do funcionamento psicossocial adequado.

 

2.2. IDENTIFICAÇÃO DE FACTORES NA TERAPIA DE GRUPO

 

Se considerarmos que uma psicoterapia individual é de extrema complexidade compreenderemos facilmente que ao trabalhar com um grupo essa complexidade é colossal. Num grupo cada indivíduo tem os seus “ais”, as suas necessidades e problemas ou seja um carácter distinto. É um trabalho de tal forma gigantesco que por vezes aos olhos do terapeuta é assustador.

À medida que o tempo passa os elementos do grupo começam a relacionar-se com os outros membros da mesma maneira, tal como, com as pessoas fora dele, criando assim um mundo idêntico ao exterior.

Devagar, mas, previsivelmente os membros do grupo começam a revelar a sua arrogância, impaciência, narcisismo, grandiosidade, sexualidade e outros traços. O comportamento no grupo permite dados claros e imediatos.

É necessário levantar a questão: “de todos os acontecimentos desconcertantes e complexos das transacções de um grupo, quais verdadeiramente ajudam o paciente?”. Na terapia de grupo devemos reconhecer a mecânica real da mudança, separando assim o principal daquilo que é aparente.

Como à frente se irá ver a mudança é a razão da existência da terapia de grupo, sendo esta o meio para alcançá-la.

Foi preciso quase meio século para compreender o que realmente promove a mudança, chegando-se à conclusão que os mecanismos de mudança são os factores curativos ou terapêuticos. Vários  investigadores propõe diferentes sistemas de classificação, podemos referir o de Yalom, que inclui onze factores que interferem nos mecanismos operantes da terapia de grupo, tais como:

1.      Instilação de esperança

2.      Universalidade

3.      Troca de informações

4.      Altruísmo

5.      Desenvolvimento de técnicas de socialização

6.      Comportamento imitativo

7.      Catarse

8.      Reconstituição correctiva do grupo familiar primário

9.      Factores existenciais

10. Coesão do grupo

11.  Aprendizagem interpessoal

 

Estamos assim na presença de factores terapêuticos que se constituem como um princípio central de organização.

 

 

 

 

2.3. APRENDIZAGEM INTERPESSOAL

 

Um dos mecanismos fundamentais, se não o mais importante que contribui para a mudança em grupo é a aprendizagem interpessoal, o que aliás é normalmente expresso pelos elementos do mesmo. No entanto, nem todas as terapias de grupo se baseiam neste tipo de aprendizagem mas apesar disso ela ocorre naturalmente sempre que um grupo se reúne.

Existem três motivos reformadores que podem actuar sobre os mecanismos terapêuticos do grupo, são eles:

§         Tipo de grupo

Estudos há que demonstram que os elementos de grupos ambulatórios interactivos de longo prazo elegem um conjunto de três factores como os mais importantes, são eles: aprendizagem interpessoal, catarse e auto-entendimento. Já no caso de sujeitos hospitalizados, dão especial relevância: à introdução de esperança e à auto-reconhecimento de responsabilidade. Estes últimos grupos estão sujeitos a grandes oscilações de membros e a uma enorme variedade de identidades. Temos ainda os grupos de auto-ajuda, como é o caso dos alcoólicos anónimos que se regem pelas regras de universalidade, orientação, altruísmo e coesão.

§         Estágio de terapia

Durante o período em que decorre o processo de terapia as necessidades, objectivos e factores terapêuticos do grupo alteram-se no intuito de se tornarem mais benéficos. Numa primeira fase o grupo tem como prioridade a manutenção dos seus elementos, a introdução de esperança, a orientação e a universalidade. No caso do altruísmo e coesão do grupo estes factores estão presentes ao longo das sessões no entanto modificam-se com o decorrer das mesmas.

§         Diferenças entre os pacientes:

Como atrás foi dito, cada indivíduo tem a sua especificidade própria e como tal terá que haver diferentes tipos de abordagem terapêutica de acordo com aquele a quem esta é dirigida. Podemos comparar uma terapia de grupo a um “supermercado”, onde os motivos de mudança são variados e cada um pode escolher aquele que melhor lhe convir para satisfazer as suas necessidades e problemas. Aquele que é passivo e reprimido pode experimentar e expressar emoções fortes, tal como, aquele que é impulsivo pode beneficiar de um auto-control.                                                                                                                                                                                                                                  

 

2.4. TAREFAS BÁSICAS DO TERAPEUTA NA TERAPIA DE GRUPO

  

Muito antes das terapias de grupo começarem já o terapeuta está a trabalhar para esta na procura de um local para a sua realização. Então o terapeuta reúne o grupo disponibilizando-se profissionalmente, o que se constitui como a razão para iniciar a terapia. O terapeuta tem como tarefas básicas para estabelecer e manter o grupo e para resolver os problemas típicos encontrados no setting grupal, seleccionar os seus membros e estabelecer o tempo, lugar para os encontros.

Uma das tarefas do terapeuta é o estabelecimento de um grupo de terapia. Para o estabelecimento de um grupo de terapia, o terapeuta deverá criar um setting importante que ofereça a ausência de distracções, devendo tomar ainda em linha de conta o tamanho do espaço e o conforto do mobiliário. A disposição dos assentos deverá ser circular permitindo que todos os indivíduos se vejam uns aos outros. O tamanho ideal de um grupo terá que ter em linha de conta os seus objectivos terapêuticos.

 

 

Ao contrário do que se passava há algumas décadas atrás, hoje em dia preconizam-se sessões terapêuticas de grupo entre 60 – 120 minutos, já que geralmente são necessários 20 – 30 minutos para que o grupo “aqueça” e cerca de 60 minutos para a abordagem dos principais temas da sessão. Um aspecto fundamental a reter é que se dá um decréscimo de rendimento e que aproximadamente após 2 horas os terapeutas manifestam sinais de cansaço; e os grupos tornam-se aborrecidos e repetitivos. Por regra, grupos com encontros mais frequentes rendem mais com sessões com mais breves, e grupos que se encontram esporadicamente necessitam de sessões com pelo menos 90 minutos.

Estes grupos podem ser abertos ou fechados. Os primeiros são flexíveis no que diz respeito ao tamanho, os membros poderão ser substituídos por outros membros, existindo nestes maior número de objectivos terapêuticos. Em relação aos outros o numero de membros mantém-se inalterável ao longo das sessões, estas por sua vez, têm um número limite (geralmente 8 a 12 sessões).

 

Em alguns casos o terapeuta gosta de trabalhar com um assistente que pode ser denominado de co-terapeuta, isto porque permite que o terapeuta troque ideias, opiniões e pontos de vista em relação aos utentes. É importante que não haja divergências acentuadas entre o terapeuta e os co-terapeutas, para evitar conflitos entre os elementos do grupo, e comprometer os objectivos terapêuticos, embora seja de salutar que cada um mantenha os seus pontos de vista e opiniões.

 

Quanto à formação dos objectivos na terapia, primeiramente o terapeuta deverá analisar cuidadosamente os factos clínicos, que se dividem em dois. Factos intrínsecos (comparecimento obrigatório), são inalteráveis devendo o terapeuta  adaptar-se a eles. Factores extrínsecos são aqueles que se tornam normas do setting. De seguida, deverão ser estabelecidos os objectivos clínicos do grupo, o que se reveste de extrema importância já que objectivos desajustados podem resultar num fracasso terapêutico. O grupo deverá ser um sucesso, pois os pacientes entram nele sentindo-se desmoralizados e derrotados, e o que menos necessitam é de um novo fracasso.

O terapeuta deverá procurar criar um ambiente de coesão, não há nada que ameace mais esta do que a presença de um elemento desviante, pois a integridade grupal deve ser a base para a selecção dos membros. O terapeuta quando exclui algum paciente é porque considera que o paciente assumirá um papel desviante ou porque não lhe encontra motivação para a mudança.

A selecção dos membros deve ter em vista o compromisso terapêutico, assim como, a viabilidade de permanência no grupo.

Também  fundamental preparar o paciente para a terapia de grupo, diminuindo desta forma a taxa de abandono, aumentando a coesão e acelerando a dinâmica.

Sendo assim, o terapeuta é responsável pela construção e manutenção de um ambiente terapêutico, sempre que um grupo de pessoas se reúne, quer sejam familiares, pertençam ao mesmo estrato social ou área profissional, desenvolvem-se regras normativas não escritas que determinam os comportamentos aceitáveis dentro do grupo. Aquando da terapia de grupo cabe ao líder (terapeuta) criar uma cultura de grupo. Este desenvolve duas formas distintas de estabelecimento de regras:

1.      Durante a preparação da terapia no grupo pode actuar directamente moldando as regras inerentes, onde se incluem as regras de comportamento no seio do grupo;

2.      O terapeuta estabelece um modelo, as normas terapêuticas. Há uma regra base que devia ser incentivada em todos os tipos de grupos que é a auto-monitorização, que consiste em que o grupo aprenda a assumir a responsabilidade pelo seu funcionamento.

 

2.5. TÉCNICAS DO TERAPEUTA DE GRUPO

 

Há técnicas que são específicas da terapia de grupo, como é o caso da técnica do Aqui-e-Agora, do uso da transparência e da transferência do terapeuta e a aplicação de várias normas adicionais que podem intensificar o desempenho do grupo.

 

2.5.1. Técnica do Aqui-e-Agora

 

Trabalhar no Aqui-e-Agora e usar a aprendizagem interpessoal revela-se mais eficaz em grupo interactivos, o que não invalida que estas técnicas sejam alteradas com intuito de poderem ser utilizadas noutros tipos de grupos  e revestindo-se de uma importância fundamental para o terapeuta.

 

2.5.1.1. Importância do Aqui-e-Agora

 

A base desta técnica é a focagem no momento, no que se passa em cada minuto que é respirado pelo grupo. A focagem no Aqui-a-Agora permite uma participação activa de todos os membros exponenciando a capacidade e eficácia, assim, reveste-se de menor importância o passado histórico e a vida individual dos membros fora do grupo. Isto não significa menosprezar estas vertentes. Para uma terapia de grupo ter sucesso terá que ter uma componente afectiva e outra cognitiva. O Aqui-e-Agora consiste assim numa cadeia entre a recordação afectiva e a posterior análise desse afecto. A terapia ficará comprometida se na utilização da técnica do Aqui-e-Agora não existirem os elementos cognitivos e afectivos. Nada se alterará se os elementos não assimilarem o que lhes ensina o Aqui-e-Agora, já que não podem transferir esses ensinamentos para o quotidiano. Na mesma linha líderes que intelectualizam excessivamente podem aniquilar qualquer contexto afectivo natural. A invocação do afecto e a sua análise terão que ser consideradas como duas etapas distintas, mas com igual nível de importância. Na primeira, o da vivência emocional, serão utilizados pelo terapeuta métodos para estimular o grupo a interagir de uma forma imediata. Na segunda etapa, a análise afectiva, o terapeuta recorre a técnicas para que o grupo se ultrapasse analisando e avaliando a sua experiência. Avaliemos cada uma dessas etapas.

 

2.5.1.2.Dinâmica do grupo no Aqui-e-Agora

 

Terapeutas de grupos, com experiência, focalizam com grande constância o Aqui-e-Agora, assim quando se verificam desvios para o passado, vida exterior ou para a intelectualização, estes devem ser interrompidos ou discretamente reorientados para o Aqui-e-Agora.

Normalmente, há um membro que começa por partilhar com o grupo algo de importante da sua vida que desperta nos outros apoio e sentimentos de identificação, dando-se desta forma a interacção. Outros momentos há em que um qualquer elemento, não se sente à vontade para falar sobre si nessa altura e então, cabe ao terapeuta perguntar-lhe o que é que ele pensa que se passaria se ele arriscasse partilhar algo que lhe fosse difícil. Se ele respondesse que temia risos ou críticas o terapeuta deveria então perguntar-lhe: “Quem aqui no grupo acha que iria rir-se de si?”. Desta forma ele revelaria quem suponha que iria reagir, estando assim aberto o caminho para uma boa interacção.

Não é fácil nem espontâneo o envolvimento no Aqui-e-Agora. Este é desconhecido e temível, principalmente para aqueles que nunca experimentaram relacionamentos próximos e sinceros, ou que as suas vidas têm sido baseadas em pensamentos e sentimentos recalcados. O grupo deve ser consciencializado que o Aqui-e-Agora não significa confrontação e conflito. Muitos indivíduos não têm problemas de raiva, mas sim de aprofundamento relacional e de ser honestidade. Desta forma, deverá ser encorajada a expressão de sentimentos críticos e positivos.

Deverá haver ensinamento por parte do terapeuta para que os elementos do grupo saibam pedir e dar feed-back, devendo estes serem específicos e directos para serem eficazes.

 

2.5.1.3. Comportamento do terapeuta no Aqui-e-Agora

 

Se numa primeira fase o Aqui-e-Agora implica a experiência emocional do presente, numa fase posterior esta técnica terá que ser reflectida explicada e interpretada.

O terapeuta deve orientar a sua atenção para o decurso da comunicação, devendo avaliar a celeuma do grupo, à forma como as palavras são trocadas entre eles. Depois da revelação de um membro, os outros incidiram as suas questões em jeito de “revelação vertical” que consiste, no pedido desta ser mais pormenorizada. Ao contrário do terapeuta que está mais concentrado na obtenção de uma “revelação horizontal” que se centra nos aspectos relacionais da revelação, que consiste em: “Porquê hoje, e não noutro dia?”, “O porquê de correr esse risco hoje?”, “O que o impediu de não ter contado antes?”, “Como espera que o grupo reaja?”.

Para compreender o processo é necessário anotar diariamente a escolha dos lugares, quem são os atrasados, quem troca de olhares com quem, quem acompanha quem no final, como o grupo reage quando há ausências.

De grande importância são as reacções do terapeuta, sentimentos de impaciência, frustração ou tédio, que representam informações valiosas e devem ser lidadas. Quando um terapeuta se sente envolvido e estimulado é sinal de que o trabalho está a ser eficaz.

 

2.5.2. Transferência do terapeuta

 

A actualização de sentimentos e emoções como desejos, medos, ciúmes, invejas, ódio, ternura e amor, que eram dirigidos à família e aos amigos, são agora transferidos agora para o terapeuta. Este processo designa-se por processo de transferência e quando o terapeuta sente e compreende esta passagem de sentimentos é importante que devolva ao paciente a ligação desses sentimentos transferenciais com o que se passou na sua vida pessoal.

Noutro aspecto é frequente os pacientes considerarem os terapeutas como um ser com características sobrenaturais, com um saber colossal sobre a natureza humana, que ele usa como defesa em relação à ansiedade da vida. É visto aos olhos dos pacientes como um ser justo e sensato, realista e capaz de sentimentos poderosos, que ele conhece e compreende melhor que ninguém, é calmo nas apreciações que profere, quer elas se baseiem na razão quer na intuição. Eles não podem ser destituídos, aumentar o número de membros, ou expulsar membros. Sendo ainda capazes de mobilizar todo o grupo em torno do que entenderem.

 

2.5.3. Transparência do terapeuta

 

Os terapeutas podem, para desmistificar a imagem que os membros do grupo têm deles, partilhar sentimentos e experiências de uma forma sensata e responsável. As revelações do terapeuta poderão ser importantes para a interacção do grupo.

Para concluir, deve-se dizer que o terapeuta transparente e auto-revelador poderá promover a estruturação cognitiva, só assim os elementos poderão transportar as experiências grupais para o quotidiano.

Tal como acontece com os membros também o terapeuta sofre alterações graduais no desempenhar das suas funções.

 

2.6. PROCEDIMENTOS AUXILIARES

 

O terapeuta frequentemente tem a necessidade de se apoiar de meios que facilitam o curso da terapia, como é caso dos resumos escritos, vídeos e exercícios estruturados:

§         Resumos escritos

O terapeuta regista de uma forma franca e resumida cada sessão, esses resumos poderão ou não ser distribuídos pelos elementos do grupo. É uma forma de prever situações indesejáveis permitindo a sua minimização e aumentando a coesão do grupo realçando as semelhas entre os membros.

§         Vídeos

Estes oferecem feedback de uma forma directa. Ao se auto-observarem os pacientes são surpreendidos pelos seus comportamentos, e pela forma como os outros lhes reagem.

§         Exercícios estruturados

São actividades de grupo geralmente orientadas pelo terapeuta. É frequente ser através destes exercícios que os elementos do grupo numa fase inicial se desinibem acelerando a interacção entre os indivíduos. Não há uma duração pré definidas, variando com o tipo de exercício.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3. MUDANÇA

 

A mudança social acontece em grupos, sendo estes sistemas vivos, que possuem os seus próprios modos de ser. Este é constantemente sujeito à mudança, sendo esta resultado de factores externos e internos. As forças que impelem para a mudança são contrariadas por uma resistência criada no seio do grupo. Contudo, o equilíbrio das forças antagónicas acaba por se romper. Dá-se lugar a uma segunda etapa, onde existe dois meios de alcançar essa mudança: quer aumentando as forças tendentes à mudança até a resistência ser vencida (a mudança efectua-se, mas é acompanhada por tensões violentas), quer reduzindo as resistências (é geralmente mais aconselhável já que ocorrem menos riscos de ruptura no seio do grupo).

Este fenómeno também ocorre num grupo terapêutico, sendo que neste caso é um grupo de pessoas que se reúne com o objectivo de alcançar, recuperar e melhorar a sua saúde física, psicológica e social.

Sendo a família um grupo primordial na nossa sociedade decidimos estudá-la em termos de mudança. A família não é uma entidade estática, pois encontra-se num processo de mudança constante. Observar uma família é vê-la como um organismo em desenvolvimento. Uma mulher e um homem juntam-se e formam uma entidade progenitora. Esta entidade desloca-se através de fases da vida que afectam cada indivíduo até que as entidades progenitoras envelhecem e morrem, enquanto outros começam o ciclo da vida. O sistema familiar tem a capacidade de evoluir e de se conservar. Contudo, os terapeutas ao analisarem as famílias,  “param” no tempo para as melhor poderem entender. Assim, a mudança é o resultado de uma actuação sobre o presente (“aqui e agora”). No entanto, esta mudança só se vai revelando, progressivamente, ao longo do tempo. A família é uma unidade dinâmica, que sofre flutuações, que são o resultado de aspectos intrínsecos e extrínsecos. Estes levam o sistema a uma nova estrutura, devido à instabilidade originada. Assim, a família sofre uma transformação, que resulta num diferente nível de funcionamento, que torna as alterações possíveis, ou seja, a mudança.

Para uma melhor compreensão e assimilação deste assunto, passamos a exemplificar o que foi anteriormente referido:

O terapeuta, sendo um agente facilitador da mudança, escolhe os dados que são transmitidos pela família e reorganiza-os. A realidade conflituosa e estereotipada da família recebe um novo enquadramento. À medida que os membros da família se experimentam a si mesmos e aos outros de maneira diferente novas possibilidades surgem. Assim, numa família composta por uma mãe e um pai de quarenta anos, com uma filha de quinze anos, procuraram a terapia devido à sua filha padecer de anorexia nervosa. A apresentação do problema pela família foi de que eram uma família típica, normal, com uma filha que estava perfeitamente bem, antes da enfermidade a transformar. Durante todo o ano anterior eles tentaram ajudar a sua filha, mudando a relação com ela, seguindo o conselho de amigos, do sacerdote, do pediatra e do psiquiatra infantil. Porém, agora sentiam-se impotentes e tinham muito medo. Um dia o terapeuta visitou a família na hora do almoço e começaram a comer todos juntos. Este pediu aos pais para ajudarem a sua filha a sobreviver, fazendo-a comer. A filha recusou-se a fazê-lo e respondeu aos pais com uma variedade de insultos surpreendentemente sofisticados. O terapeuta focalizou-se nestes insultos, apontando a filha como sendo bastante forte e capaz de derrotar ambos os pais. A sua intervenção produziu um reenquadramento. Os pais, que se envolvem, frequentemente, em conflitos triangulares não resolvidos com a filha, cerraram fileiras. Sentindo-se atacados e derrotados, aumentaram simultaneamente o distanciamento em relação à filha, removendo a superproteção e o controlo excessivo. Os pais e terapeuta juntos pediram que a filha, percebida inesperadamente como forte, competente e obstinada, controlasse o seu próprio corpo. Até então a filha culpava os pais. Contudo, os pais uniram forças tornado-se num só e responsabilizaram a filha por não se querer tratar, sendo ela a partir de agora a única responsável pela sua saúde. A mudança ocorreu, mas o resultado só poderá ser avaliado daqui a um tempo. Este tipo de reconstrução pode afastar uma concepção surpreendentemente nova da realidade, em que se percebe repentinamente o potencial para a mudança.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4. MÉTODOS DE ESTUDO E DE AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM GRUPO

 

Moreno foi o inventor do psicodrama e da sociometria, tendo os seus estudos como  objectivo a ideia de espontaneidade e de criatividade. Este considera que o homem só se realiza verdadeiramente, quando, apesar das condicionantes sociais, se pode exprimir livremente.

§         O psicodrama é uma técnica de improvisação dramática. Nesta cada um dos protagonistas deve improvisar o seu papel partindo de uma situação fictícia, tendo este por objectivo desenvolver a espontaneidade dos indivíduos. Apercebemo-nos, então, de que o sujeito expressa no papel que  desempenha as suas inquietações, os seus afectos, as suas repulsas; assim, revela-as ao observador e liberta-se dos seus problemas exprimindo-os abertamente. Esta técnica é muito utilizada em psicoterapia de conflitos interpessoais.

§         A sociometria procura medir as relações de simpatia e de antipatia que existem num grupo, isto é, é um método utilizado no estudo das preferências de uns elementos do grupo em relação a outros. Esta técnica deve permitir a um observador imparcial esclarecer os conflitos existentes nesse grupo. É útil em situações amistosas e informais (sem hostilidade, dúvida ou mistério), em situações nas quais a atmosfera seja pacífica e em grupos em que domine a liberdade de escolha. A sociometria é fundamental para solucionar e analisar os problemas do grupo, sendo estes expressos por perguntas que devem ser cuidadosamente formuladas, objectivas e adequadas à situação.  Estas perguntas são utilizadas principalmente para encontrar os pontos fortes e fracos do grupo; encontrar os líderes e os não participantes; indicar os directores responsáveis pelas comissões e distribuir as pessoas que trabalharam  nelas; sugerir quando e como se reorganizam os grupos e indicar o fluir das opiniões num grupo, para que este possa ser estruturado, segundo a representação das mesmas.

Os dados recolhidos através das perguntas permitem estabelecer um sociograma que resume graficamente as interacções existentes no grupo, a rede de simpatias e de antipatias anteriormente referidas. O sociograma uma verdadeira radiografia afectiva do grupo, tendo pouco valor, quando as interrelações não são baseadas num conhecimento íntimo dos indivíduos. Este permite um diagnóstico da sociabilidade e fornece indicações preciosas sobre o nível de integração dos membros do grupo.

Demonstramos, em seguida, um sociograma, isto é, uma representação sociométrica de um grupo.

 

 

 

Num sociograma as pessoas são representadas por círculos. As linhas contínuas designam a escolha de uma pessoa por parte de outra e as linhas tracejadas indicam rejeição. Quando a escolha é recíproca os círculos são colocados mais próximos uns dos outros do que quando uma pessoas escolhe outra que a rejeita. Quando a rejeição é recíproca os círculos são colocados ainda mais afastados do que na situação anterior. Caso uma pessoa não seja escolhida nem rejeitada nenhuma linha a une às demais.

O sociograma permite-nos verificar a existência de “estrelas” (pessoas que recebem um maior número de preferências), “cliques” (conjunto de pessoas que se atraem reciprocamente) e “isolados” (os que não recebem nenhuma nomeação de atracção ou rejeição e que também não escolhem nem rejeitam os restantes membros do grupo). Permite também analisar o grau de coesão existente no seio do grupo, através de uma simples observação da proximidade dos círculos, isto é, da proximidade de uns membros em relação aos outros.

 

As escolhas e rejeições podem também ser representadas por uma matriz sociométrica, em que os números positivos indicam atracção e os negativos indicam rejeição.

Existe ainda uma terceira forma de representar os dados obtidos através do método de Moreno, que é pelo cálculo de um índice de coesão (IC).

 

 

 

 

 


Onde N é igual ao número de pessoas no grupo. Pelo mesmo raciocínio podemos obter um índice de coesão do grupo através da fórmula:

 

 

 

 


Concluímos, assim, que o método sociométrico de Moreno é um importante instrumento no estudo e avaliação das relações interpessoais , auxiliando a tomar medidas, por exemplo, em terapias de grupo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5. ASSOCIAÇÃO COM A ENFERMAGEM

 

Numa situação clínica específica, com um grupo de pacientes agudos hospitalizados, o terapeuta deverá adaptar os princípios e técnicas fundamentais da terapia de grupo, de acordo com as necessidades do mesmo. Deverá ter como alicerces os seguintes pontos:

1.      A apreciação da situação clínica é de extrema importância, dada a dificuldade deste tipo de setting clínico, já que há uma enorme volatilidade de elementos e uma grande variedade de psicopatologias.  

2.      Desenvolver objectivos adaptados às necessidades existentes, tais como:

§         Envolver os pacientes no processo terapêutico

§         Ensinar aos pacientes que falar ajuda

§         Localizar o problema

§         Diminuir o isolamento

§         Criar condições para que os doentes sejam úteis

§         Avaliar a ansiedade relacionada com a hospitalização

3.      Alteração da técnica tradicional. Baseada em quatro alterações fundamentais:

§         Usar uma estrutura de tempo reduzida, é um factor fundamental, devendo os terapeutas dar o máximo, já que a sessão pode ser única para determinado paciente.

§         Mostrar apoio directo, realçando os aspectos positivos do comportamento. Uma outra forma de apoio é a promoção de um grupo seguro já que os pacientes hospitalizados são por norma muito vulneráveis.

§         Enfatizar o aqui-e-agora, que se reveste também aqui de extrema importância, facilitando a aprendizagem das capacidades interpessoais dos pacientes hospitalizados.

§         Fornecimento da estrutura, que deve ser construída pelo terapeuta das seguintes formas: explicar a finalidade do encontro, a sua natureza e quais os seus objectivos.

A terapia de grupo para doentes agudos hospitalizados é muito específica e com estratégias e técnicas únicas.

 

 

 

 

6. CONCLUSÃO

 

Os seres humanos vivem em sociedade em interacção constante. A interacção origina grupos, que são conjuntos de indivíduos estruturados, com objectivos e interesses comuns e cujos membros estabelecem entre si relações. Os indivíduos pertencem a vários grupos e em cada um deles representa vários papéis. Como Goffman disse: “a vida é um palco onde nós representamos vários papéis”. Todos os grupos têm a sua própria estrutura, as suas próprias normas, os seus próprios objectivos, sempre com a preocupação de se manterem coesos. A liderança também é um aspecto importante que pode existir ou não nos grupos. O líder é um elemento que coordena todas as actividades do grupo essenciais para que se atinja os objectivos. Para além de todos estes fenómenos grupais, o que é imperativo é que um grupo funcione harmoniosamente, de uma maneira equilibrada. O que às vezes não acontece, podendo dar-se conflitos.

É então que surge a terapia de grupo, terapia essa que é usada como instrumento para a resolução destes conflitos inter-relacionais. A terapia de grupo é uma forma de tratamento largamente utilizada em inúmeras situações clínicas. Esta utiliza uma série de técnicas terapêuticas para produzir a mudança. Os factores terapêuticos normalmente encontrados em diferentes tipos de grupos são: a universalidade, o altruísmo, a catarse e a partilha de informações, mas também a aprendizagem interpessoal que requer a supervisão de um terapeuta. Ao terapeuta cabe entender o grupo e aplicar a estes diferentes factores terapêuticos, de modo a que estes proporcionem a mudança. Algumas intervenções são específicas do terapeuta, como a técnica do Aqui-e-Agora, bem como, a transparência e a transferência do terapeuta. As técnicas fundamentais podem ser objecto de alterações para se adaptarem a situações de grupos específicos, como é o caso de pacientes agudos hospitalizados. Na verdade o sucesso da terapia de grupo consiste na sua adaptabilidade. Outro aspecto importante é a sociometria que permite avaliar as interacções dos membros do grupo. Permite perceber quem simpatiza com quem, se existe ou não líder...

 

 

 

 

 

7. BIBLIOGRAFIA

 

GAUQUELIN, Michel F. et al – Dicionário de psicologia, 1ª ed. Lisboa: Verbo, 1987, 596 pp.

 

MONTEIRO, Manuela. et al – Psicologia, nova edição. Porto: Porto Editora, 1998, 351 pp.

 

VALA, Jorge. et al – Psicologia Social, 1ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993, 479 pp.

 

ZIMERMAN, David E. et al – Como trabalhamos com Grupos, 1ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1997, 424 pp.