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ENSAIOS DE FENOMENOLOGIA RELIGIOSA

 

 

Por T.A.G

e-mail: fichte@zipmail.com.br

 

  • Introdução

 

Fenomenologia: Método e atitude filosófica inaugurado pelo filósofo Edmund Husserl ( 1859 – 1938 ). A fenomenologia tem como fundamento ser um método e não uma doutrina filosófica, isto é, encontrar e discutir a questão do conhecimento no qual seja suficiente para restabelecer o estatuto do saber e das relações do homem com mundo, seguindo um critério de segurança e rigor. O objetivo fundamental de Husserl era encontrar o fundamento de todas as ciências afim de garantir que o ato de pensar tivesse uma segurança inabalável. Husserl desenvolve uma critica à Teoria do Conhecimento e inaugura a Fenomenologia.

Husserl parte para a análise da consciência e a compreende como fluxo temporal de vivências; estuda a consciência como estrutura imanente ( imanência aqui adquire o sentido do cogito enquanto visando a si mesmo ) e a específica realizando assim uma análise da consciência em sua manifestação. Resumindo, a fenomenologia é : "descrição do fluxo imanente das vivências da consciência, isto é, é a análise da estrutura da consciência em seu movimento, descrição dos modos da consciência atrelar – se ao objeto e estabelecimento da consciência vinculada como condição a priori do conhecimento."(1)

O método fenomenológico tem suas vantagens, porque ele se direnciona diretamente para aquilo que aparece, aquilo que se dá, e não fica preso a hipóteses ou deduções, assim como não tem a intenção de provar nada, e sim mostrar aquilo que acontece em na vivência do ser humano.

Fenomenologia da Religião: À partir da fenomenologia, o fenômeno da religião caminhou para outra perspectiva, pois teve a interferência desta metodologia que deu base para o estudo essencialista da religião. A fenomenologia da religião teve seu primeiro representante o filósofo Gerardus Van der Leeuw ( 1890 – 1950 ), com sua obra Phänomenologie der Religion. Segundo Piazza, "A fenomenologia religiosa é o estudo sistemático do fato religioso nas suas manifestações e expressões sensíveis, ou seja, como comportamento humano, com a finalidade de apreender o seu significado profundo."(2)

Seguindo esta definição , a fenomenologia da religião tem como objeto o estudo do fenômeno religioso ( fenômeno sendo aquilo que se mostra em si, é o que é patente e ato de significar ), busca a compreensão do significado profundo numa interpretação existencial e como método a redução fenomenológica ( é o recurso para se chegar ao fenômeno como tal, na sua essência ). Assim a religião, em vias gerais, pode ser descrito fenomenologicamente na "identificação com o culto religioso, porque este engloba e estrutura todas as ações que se dirigem ao Sagrado, quer este seja concebido como um Ser transcendente, quer como um Deus antropomorfo, quer como um Absoluto impessoal."(3)

Segundo Croatto, a fenomenologia da religião é o estudo dos fatos religiosos em si mesmos e sua intencionalidade. "No lo que significan para el estudioso sino para el homo religiosus mismo que vive la experiencia de lo sagrado, y la manifieta en aquellos testimonios o ‘fenómenos’."

Pode – se citar outros autores que estudam o fenômeno da religião à partir da análise das estruturas específicas, tais como: ( pré – fenomenologicos ) Friedrich D. E. Schleiermacher e Rudolf Otto; fenomenológicos da religião, como G. Van der Leeuw, H.Duméry, Mircea Eliade, Ugo Bianchi; e alguns pensadores fenomenológico que também discutiram sobre o religioso: Conrad-Martius, Edith Stein e Gerda Warther, Max Scheler, Karl Jaspers, assim como outros.

 

 

Experiência Religiosa: Seguindo alguns pontos da Fenomenologia da Religião, pode-se dizer que a experiência humana não se resume apenas na vivencial relacional ( mundo, outro, grupo social ) ou na dimensão individual ( construção do projeto existencial ), mas também na instância transcendental ou religiosa. Isso ocorre pois o homem encontra-se em uma situação de limitação existencial, finitude e experiências sem sentidos ( contingência da vida ), e é neste momento que aparece a instância religiosa, isto é, o surgimento do sagrado. A experiência do homem no mundo ocorre sempre de forma fragmentada, isto é, tende sempre a totalidade do ser, tantos em seus projetos como em suas realizações. A superação dessa experiência de finitude existencial vem com a experiência religiosa, na qual faz o homem abrir-se para a infinitude de seu ser.

Se referindo a experiência religiosa propriamente dita, Paul Tillich escreve que "a experiência religiosa se dá na experiência em geral, podem ser distintas, porém não separadas"(4) É neste sentido que se pode pensar a experiência religiosa como radical ou originária dentro da vivência do homem, pois é a experiência adquire um status existencial no sentido de ser a relação experiencial entre nós e o mundo. Com a fenomenologia da religião se permitiu descrever os tipos de experiência e de manifestações religiosas no panorama histórico-existencial do homem.

Para a Fenomenologia da religião a experiência vivencial é o ponto de partida para as questões ontológicas e pela experiência religiosa é que se tem condições para a revelação. "A verdade de Deus como ser não se limita à experiência, mas é dada na experiência". (5)

O primeiro autor a fazer uma Fenomenologia da Religião propriamente dita foi G. van der Leeuw, que desenvolveu sua obra nas orientações husserlianas, como também teve uma grande influência de W. Dilthey na questão da análise histórico-cultural. Van der Leeuw teve um grande trabalho, pois não é uma tarefa fácil juntar estes dois autores, devido a certas diferenças metodológicas, contudo, graças a sua genialidade ele conseguiu juntar os aspectos mais significativos dos dois pensadores.

Neste sentido, Van der Leeuw segue o caminho de Dilthey, segundo o qual é necessário que o objeto de estudo em questão deva ser também o objeto de nossa experiência vital ( vivência ), isto é, "precisamos viver aquele conteúdo particular de experiência a fim de poder, em seguida, entender como um outro ser humano por sua vez poderia experimentá-lo."(6) E de Husserl, utiliza a metodologia na qual busca examinar o fenômeno nas suas estruturas essenciais ( reduções fenomenológicas ).

Desta forma, Van der Leeuw chega em sua pesquisa a um conceito importante, que é a idéia de Poder. O homem busca sentido para o seu plano existencial e essa busca se manifesta pelas suas capacidades. Deste modo é que nascem então, a cultura, a organização econômica e a política. Entretanto estas produções não esgotam o potencial humano e não satisfazem a sua busca de sentido, por se tratarem também de manifestações finitas. Ocorre então a busca do sentido último, "o extremo significado é o religioso, por ser aquele além do qual não pode haver outro sentido mais amplo e mais profundo, porém, é um sentido que se apresenta e se oculta, que está sempre no além."(7) E é neste sentido que o homem religioso procura por poderes superiores ( poder supremo ) para entender e dominar a vida. Assim, a idéia de poder vem do fato de que o homem não se limita a finitude da vida e pede poder, "procura fazer entrar na sua vida o poder em que acredita, isto é, procura elevar a sua vida, aumentá-la, conquistar-lhe um sentido mais amplo e mais profundo."(8)

Na descrição da experiência religiosa, por exemplo, Rudolf Otto ( 1869 – 1937 ) sintetiza claramente o conteúdo específico dessa experiência, deixando de lado as implicações totalizadoras da razão. Esclarece como pode realizar um estudo do elemento não-racional ( experiencial ) na idéia do divino e sua relação com o racional. É neste contexto que surge a experiência do Sagrado, entendendo como uma experiência que está envolto do Numinoso, isto é, do Divino manifestando-se no sentimento religioso. Deste modo, a fenomenologia da religião não apenas descreve a experiência religiosa, mas também a compreende como uma experiência intencionada ao sagrado.

Em Mircea Eliade ( 1907-1986 ) encontra-se uma contribuição na descrição da experiência religiosa, porque ele entende que "o objeto da fenomenologia religiosa é o sujeito mesmo da experiência religiosa ! Por isso as experiências religiosas não podem ser reduzidas a formas de condutas não religiosas"(9) Em sua obra "O Sagrado e o Profano", ele descreve a experiência do sagrado como Otto já havia feito, mas diz que a primeira definição do Sagrado não pode ser radicalizada no sentimento religioso na qual Otto analisa. O sagrado tem como radicalização ( ou na sua totalidade ) a sua oposição ao profano. "O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manisfesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano". (10) É na relação com o mundo que a experiência do sagrado se opõe ao do profano delimitando e diferenciando a experiência existencial da religiosidade do homem, como por exemplo ao olhos daquele que vê a pedra como revelação sagrada, sua realidade se transmuta para uma realidade sobrenatural, isto é, "para aquele que têm a experiência religiosa, toda a Natureza é suscetível de revelar-se como sacralidade cósmica"(11), neste sentido deixando de ser profana.

Outro filósofo, mas que não pode-se dizer que possui uma Fenomenologia da Religião propriamente dita, é Paul Tillich ( 1886- 1965 ). Ele entende que para se falar de Deus temos que dizer Deus em termos de experiência, implicando ou não a revelação. Tillich diz: "nós devemos começar com a experiência ( Erfahrung ) que o homem faz de sua situação aqui e agora, e com a pergunta que ele faz sobre seu fundamento ( Grund ) a partir daí."(12) É neste aspecto que se pode entender Tillich sobre uma tipologia fenomenológica, na qual sua resposta ultima é teológica e baseada na experiência vivencial, pois ainda para ele "a experiência é o ponto de partida da questão ontológica e das condições de recepção da revelação". (13)

Concluindo, a fenomenologia da Religião possuem vários autores dedicados a descrição da experiência religiosa e nas suas manifestações, porém "não pode ser considerada apenas como uma ‘chave hermenêutica’, de caráter subjetivo, mas como um método de estudo, de caráter científico. Ela não nega a estrutura racional do fenômeno religioso, conforme é estudado na Filosofia da Religião, nem despreza o seu contexto histórico-cultural, que é objeto da História das Religiões, como também não procura construir um sistema religioso, mas isenta de toda a preocupação filosófica e teológica, procura determinar as razões profundas que motivaram o homem a praticar certos ritos e a enunciar certos mitos, para conhecer o significado próprio deles."(14)

 

Notas:

  1. Piccino. J.D. Apostila

  2. Piazza,W.1986

  3. Piazza,W. 1986

  4. Tillich, P. Systematic Theology I, 157. Nota de Josgrilberg

  5. Josgrilberg, R.de S. ‘Ser e Deus – Como Deus é recebido, por revelação em nossa experiência ?"

      6.  Bello, A A . p. 107

      7. Bello, A A . p.109

      8.  Bello, A A . p.109

       9. Croatto, J.S. p.46, 1994

       10. Eliade, M. p.17

       11. Eliade, M. p.18

       12. Tillich, P. Systematic Theology, p. 133 – Nota de Josgriberg

       13. Josgrilberg, R de S. p. 57

        14. Piazza, W. p.29

Bibliografia:

Bello, A A . "Culturas e Religiões – Uma leitura fenomenológica". Bauru: EDUSC, 1998.

Birk, B.O. " O Sagrado em Rudolf Otto". Porto Alegre: EDIPUCRS, 1993.

Croatto, J.S. "Los Lenguajes de la experiencia religiosa – estudio de fenomenologia de la Religión". Ed. Fundacion Universidad a distancia "Hernandarins", 1994.

Eliade, M. "O Sagrado e o Profano – A essência da Religião." São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Josgrilberg, R de S. "Ser e Deus - Como Deus é recebido por revelação, em nossa experiência ?"- Revista semestral de Estudos e Pesquisa em Religião Ano X, n* 10, julho de 1995.

Piccino, , J.D. "Noções Básica de Fenomenologia – o criador da Fenomenologia" Apostila da SOBRAPHE.

Piazza, W.O . "Introdução a Fenomenologia Religiosa" – 2* edição reformulada. Petrópolis: Vozes, 1986.

 

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