Isto aqui não é um diário. Já vou avisando caso algum babaca resolva ler este caderno e comece a duvidar da minha masculinidade. Dizem os pré-históricos deste planeta que escrever é coisa de menina melosa. Eu não acho. E dizem que brinco é coisa de menina também. Eu tenho um furo, e daí?

Aqui em casa foi um pé-no-saco. Meu pai machista, meu irmão babaca, minha irmã insensível e até minha mãe careta disse que eu parecia uma boneca. Pro inferno, eles. Eu gosto e acho até que dá um certo charme. Porque isso de usar brinco até acabou me aproximando de muitas garotas, que ficavam olhando pro meu brinco, com aquela cara de quem descobriu a América, achando que eu não sei o que coloco na minha própria orelha.

Eu, hein, parece que a maioria faz até um certo esforço pra serem tão bobas. Por isso que eu digo e repito que isso aqui não é nada parecido com aquilo que aqueles seres do sexo feminino adoram chamar de "meu querido diário" que tem até a cara do Brad Pitt colado na capa. Machista, eu? Insensível? Uma pinóia. Depois do que eu passei, tenho todo o direito de falar assim.

Hoje está tudo um tédio. Tudo um saco. Nenhuma vontade de ir jogar bola no campo, nenhuma vontade de ir para a casa do Reinaldo jogar Diablo II. O Fábio me ligou trocentas vezes mas eu não estou com a menor paciência de escutar a voz de ninguém. Até por que nada mais me interessa nessa minha vida patética.

Saco. Já briguei com todo mundo aqui em casa, inclusive minha irmã insensível que ficou falando que eu andava muito nervosinho e que o que eu precisava mesmo era de uma mulher. E quem precisa de um bicho desses? Ainda mais pra mim, que tive a pior experiência que um cara de 17 anos podia ter na sua vida. Mulher, eu passo longe. A não ser que seja só pra ficar analisando as curvas da minha vizinha do 303.

Hoje, na escola, ela ficou na minha frente se esfregando com aquele come-peru-arrota-frango do Paulo. Aliás, não só na minha frente como na da escola toda. Todo mundo comentou. E no final do recreio, acho que a maioria ali descobriu que a cor da calcinha dela era rosa. E com rendinhas.

Os caras da turma ficaram comentando, me deu uma raiva. Não só deles como dela, principalmente dela. O Fábio vive me dizendo que ela não presta, que ela é cínica e falsa e que me faz de bobo, mas como é que eu posso dizer não quando ela sorri pra mim e me diz o quanto ela gosta de mim? Como é que eu faço meu corpo parar de tremer quando ela passa por mim? Eu até tento, mas não consigo resistir.

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