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PARTE I - SENHORAS DA PAIXÃO, MÁGICA, ARGÚCIA E PODER:

DEUSAS DA MESOPOTÂMIA


Visão favorita do Divino Feminino na Mesopotâmia, Museu do Louvre, Paris, 3000 Antes da Nossa Era

De Lishtar

Para o restabelecimento do equilíbrio da história religiosa da humanidade, talvez o mais importante fato dos últimos dois mil anos seja a volta do Divino Feminino em igualdade de força, paixão, mágica, sabedoria, autoridade e alegria com o Divino Masculino. Infelizmente, a imagem predominante do Divino nos últimos dois mil anos tem sido a do deus sem a deusa. Este nem sempre foi o caso, se olharmos a história e o desenvolvimento das religiões ao longo da história da humanidade.

Portanto, estou fazendo-lhes um convite para se juntarem a mim ao longo de uma jornada ao longo dos caminhos da alma, para recuperarmos as imagens do Divino Feminino que inspiravam nossos antepassados de alma da Mesopotâmia. Por quê Mesopotâmia? As imagens do divino feminino e masculino que vêm daquela região pertencem aos primórdios da expressão da consciência humana, trazendo consigo percepções que são ao mesmo tempo antigas e válidas para os nosos tempos. A razão para tal modernidade é que tanto o feminino quanto o masculino eram vistos como vibrantes, apaixonados, cheios de mágica, sabedoria e poder, refletindo fundamentalmente uma visão do mundo que não restringia a experiência do Feminino à visão definida apenas pelo masculino. Um primeiro olhar às deusas da Mesopotâmia será suficiente para ver histórias onde o Feminino, Divino e humando, ressurgem com força e impacto tão transformadores que vai ser muito fácil de entender por quê tais deusas tem sido freqüente e sistematicamente apagadas da consciência e da história humanas.

Isto porquê as deusas da Mesopotâmia têm sido detratadas ou raramente mencionada em termos positivos, uma vez que elas raramente se inserem nas categorias de apenas mães prestimosas e/ ou sofredoras, virgens ou donzelas piedosas somente. Todas estas imagens são subservientes, falando raramente por si mesmas. Além de serem assexuadas, naturalmente.

Ao invés destes espelhos quase masoquistas ou empobrecidos de feminilidade, na Mesopotâmia temos Namu, a Primeira Grande Mãe ou as Águas do Mar, a Terra Fértil e que Tudo Produz (Ninhursag-Ki), que também é a amada do Firmamento. Temos também a inflexível Juíza da Mansão dos Mortos, Ereshkigal, e a Noiva Vingadora, ou Ninlil, que se transformará na esposa do maior dos jovens deuses da Mesopotâmia, Enlil. Também vamos encontrar a Noiva Adorada (Ningal), Shamaht como a Iniciadora Erótica, Inana/Ishtar, a grande Deusa do Amor e da Guerra, e Enheduana, a Alta Sacerdotisa de Ur, muito humana, letrada e administradora do maior templo de uma das maiores cidades da antiga Mesopotâmia, famosa por Ter sido o lar do Bíblico Abraão, um dos pais do Judaísmo. Estas são imagens do feminino que inspiram e envolvem uma percepção de compleitude que abre novas possibilidades de ser e se transformar, expandindo a forma com que o Feminino se relaciona com o mundo em todos os níveis e esferas. Há uma necessidade cada vez mais vital em nossos dias, eu diria, para que homens e mulheres entendam que ambos podem tomar papéis complementares a fim de tornar suas vidas mais completas e mais auto-transcendentes. Juntos ou separados, conforme suas escolhas pessoais ou conjuntas.

De todos os panteões da antigüidade, talvez alguns dos mais poderosos, apaixonados, mágicos, sábios e alegres espelhos de compleitude feminina possam ser encontrados na Antiga Mesopotâmia. O foco da série de ensaios que seguem será a recuperação de algumas das muitas faces do Divino Feminino como arquétipos (imagens primordiais), ou deusas mesopotâmicas.

Para os fins deste trabalho, os arquétipos das deusas aqui abordados devem ser vistos como imagens primevas e padrões interiores que fazem parte da psique humana, e que refletem verdades espirituais universais e espirituais, revelando assim formas de Ser e se Transformar. A análise dos arquétipos escolhidos do Divino Feminino será baseada em mitos da Mesopotâmia. Mitos podem ser descritos como narrativas através das quais as civilizações tentam tornar claros padrões que fazem parte da condição humana e que refletem verdades espirituais e universais. Os mitos são portanto histórias grandiosas, que trazem consigo imagens de conteúdo filosófico que conferem significado aos fatos da vida, do mundano ao extraordinário. Mitos também são instrumentos através dos quais podemos penetrar e entender os valores mais profundos de uma civilização. Fundamentalmente, os mitos abordados a seguir pretendem mostrar representações dramáticas das aspirações humanas e consciência do universo que irão revelar o Divino como um caleidoscópio de múltiplas facetas representando vários aspectos da experiênicia de ser mulher em todos os mundos.

A seguir, tentaremos recuperar imagens do Divino Feminino e nossas fontes serão as histórias, mitos e hinos inscritos em tábuas de argila com o sistema de escrita cuneiforme dos antigos mesopotâmicos, todos datados de tempos pré-bíblicos. A apresentação destes grandes arquétipos visa demonstrar a sabedoria a atualidade surpreendentes destas personagens de tempos tão antigos para as gerações presentes e futuras. Gostaria de enfatizar que estes são espelhos pré-bíblicos de compleitude feminina, porque para entender a mitologia e religião da Mesopotâmia deve-se tomar sempre as palavras dos antigos sumérios, babilônicos e assírios tal qual eles as escreveram, e descartar a forma como foram detratados pelos povos pós-Mesopotâmicos, que muito herdaram de nossos ancestrais de alma, mas jamais honraram à altura as fontes de suas crenças. Por exemplo, serei generosa e não falarei do enorme estrago feito à Mesopotâmia no Novo Testamento da Bíblia, descrevendo a Babilônia como centro de depravações e iniqüidades da antigüidade. Quando pensarmos em Babilônia, devemos compará-la às cidades de Nova York ou Londres ou Paris de nossos tempos, onde tudo pode ser encontrado, o que há de melhor e de pior também... se alguém estiver procurando pelo pior! Os mesopotâmicos é que eram os cultos e letrados. Ou melhor, os deuses da antiga cultura, mais sofisticada, tornam-se num primeiro momento os demônios de seus herdeiros. Desta forma, minha abordagem é baseada pura e inteiramente em fontes do cuneiforme apenas. Mesopotâmia não pode ser estudada de trás para frente, se quisermos estudá-la bem, dentro de seu contexto e verdade.

Em segundo lugar, porque estamos também abordando a recuperação do Divino Feminino, tradições posteriores à Mesopotâmica, em especial Judaísmo e Cristianismo, são as menos indicadas para servir de parâmetros para nossa tarefa. Infelizmente, no Judaísmo e Cristianismo, as visões do Divino Feminino são muito limitadas. No Cristianismo, a visão do Divino Feminino está tristemente reduzida a imagens da Virgem e da Mãe, com nenhuma autoridade ou poder religiosos concedido à mulher. Compare o poder e autoridade, secular e religioso, exercido por Enheduana, filha de Sargão, o Acádio, princesa real, alta sacerdotisa de Ur, poeta e escriba, considerada a primeira autora da literatura mundial, com as abadessas da Idade Média ou as Madres Superioras das ordens cristãs da atualidade, que nada decidem sozinhas sem passar pela sanção de seus superiores bispos e arcebispados de suas localidades. Tanto quanto se expande o meu conhecimento, não sou capaz de lembrar de um sinônimo que se aproxime ao conceito de uma Alta Sacerdotisa da antigüidade em nossos dicionários. Uma Alta Sacerdotisa na Mesopotâmia estava acima do clero local, era uma administradora de autoridade igual a do rei, bem como a consorte deste no Grande Rito do Casamento Sagrado. Ela era culta e senhora de suas ações. Em nossos tempos de alta tecnologia, as religiões tradicionais ainda têm de crescer muito para eliminar seus preconceitos com relação à aceitação de mulheres em pé de igualdade com seus prelados, o que é, sem sombra de dúvida, um sinal da pobreza espiritual de nossos tempos.

Este é um trabalho em progresso, pois na Antiga Mesopotâmia havia cerca de 3,000 divindades destas a metade sendo deusas. Se é difícil encontrar dados sobre os deuses antigos, dados sobre deusas ainda são mais difíceis de serem recuperados. Mas temos fontes disponíveis e confiáveis sobre Namu, a primeira Mãe e Águas de Mar, temos mitos que falam de Ninhursag, Inana/Ishtar, Ereshkigal, Ninlil, Ningal, mas tais mitos ainda são poucos para podermos reconstruir com toda fidelidade o Divino Feminino na Mesopotâmia. Mais dados sobre Sarpanitum, a consorte de Marduk, Nisaba, Tashmetum (esposa de Nabu, o patrono dos escribas babilônicos e assírios) devem ser descobertos e explorados pelo estudo de hinos e poemas, e assim fazer com que tenhamos uma visão mais completa do Divino Feminino vibrante, realizador e apaixonado da região. O trabalho de reconstrução iniciado aqui deve ser visto como um esforço genuíno, se bem que incompleto, e um tributo às Deusas de nossos ancestrais de alma, cujas histórias estamos tentando recuperar e cujas vozes queremos fazer ouvir aqui e agora. Minhas referências provém das melhores fontes disponíveis, mas infelizmente, elas não existem em língua portuguesa. Posso garantir, entretanto, a alta reputação de todas elas. Kramer, Jacobsen, Leick, Alster, Lambert, Frymer-Kensky, Harris, Dalley, Bottéro são Assiriólogos de renome, estudados por todos que gostam e cultivam o conhecimento da Mesopotâmia Antiga.

Este trabalho é dedicado ao Divino Feminino, que tem dado tanto encanto aos meus caminhos ao longo dos Mistérios. Ela primeiro apareceu derepente, surgida de um desejo que eu não sabia ser do fundo do meu coração, corpo, mente e alma. Ela se apresentou em primeiro lugar como Inana/Ishtar, mas também gosto de chamá-la de Maat (Egípcia) e de uma forma muito especial também, Freya (Nórdica) e Ninhursag-Ki.

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