Tudo começou em 1613, com um garoto de 16 anos numa pequena vila chamada Domino,
fora de Kostroma. Ele era um Romanov e, embora todos os Romanovs tivessem sido
exilados pelo czar Boris Godunov, eles ainda eram considerados parte dos
boiardos, ou seja, da antiga aristocracia russa. A dinastia Rurik terminara com
a morte do czar Fiodor e Boris Godunov, temendo perder o trono, decidiu acabar
com a familia Romanov. Na verdade, alguns astrologos haviam predito
a Boris que da familia Romanov sairia o czar que reinaria sobre o Imperio Russo.
Isto desencadeou inumeras perseguiçoes que obrigaram os pais de Mikhail
a refugiarem-se em conventos, adotando a vida monastica. O czar Fiodor,
que morrera, descendia do czar Ivan IV,chamado " o terrível". Assim era chamado
por seu gênio irrascível. Muitos diziam que ele havia enlouquecido por causa da
morte de sua esposa Anastasia, a quem amava apaixonadamente. Ivan encomendara a
construção da catedral de São Basílio em Moscou e gostou tanto do resultado do
trabalho que mandou cegar o arquiteto para que ele nunca mais pudesse construir
outra obra prima como aquela. A catedral de São Basílio, seguramente um dos
edifícios mais belos do mundo, ainda hoje ornamenta a Praça Vermelha, encantando
a todos com suas cúpulas coloridas em forma de cebola.
Enquanto Boris Godunov sonhava com a eliminaçao dos Romanov, o sonho do
príncipe Dimitri Pozharskiy era trazer o jovem Mikhail para reinar sobre a
Rússia. O príncipe Dimitri e seu aliado de Nizhny Novgorod, Kozma Minin, ficaram
à frente de um movimento contra a opressão religiosa. Eles sonhavam com um czar
que unisse a Rússia e colocasse tudo no lugar. A resposta para seus anseios
estava no jovem Mikhail, que vivia com sua mãe, Marta. Os poloneses queriam
acabar com Mikhail, por temer que ascendesse ao trono, mas o garoto foi salvo
por Ivan Susanin. Mãe e filho se mudaram, então, para o Mosteiro Ipatiev, por
motivo de segurança. Dois meses depois, uma delegação chegou para notificá-los
de uma eleição e pediram que Mikhail assumisse o trono. Eles ficaram muito
preocupados e recusaram, mas foram persuadidos de que estavam a salvo e Mikhail
aceitou a coroa da Rússia, tornando-se o czar Mikhail, o primeiro czar Romanov.
Mais de 200 anos depois, o czar Romanov era Alexandre II, o czar libertador,
chamado assim por Ter libertado os escravos e por se dedicar a obras de
caridade. Ele se casou com uma linda princesa alemã, Marie de Hesse, teve oito
filhos, mas não era feliz, pois não a amava. Então Alexandre conheceu Ekaterina
Dolgoruky, a quem todos chamavam Katia, quase trinta anos mais moça do que ele e
por quem Alexandre se apaixonou perdidamente. Anos depois, tendo sofrido vários
atentados, Alexandre viria a colocar Katia e os três filhos que tivera com ela
debaixo do mesmo teto que sua mulher, a czarina Marie. A czarina, em seu leito
de morte, poderia ouvir os gritos dos filhos de Katia brincando no andar de
cima.
Alexandre II morreu num atentado a bomba, jogada em sua carruagem. O grupo
responsável foi o grupo nihilista Narodna Volya (A Vontade do Povo).
Seu herdeiro era seu filho mais velho, Nicolau, que veio a falecer antes do czar
morrer assassinado. O herdeiro passou a ser então Alexandre, o segundo filho,
que se casou com a noiva do irmão, a princesa Dagmar da Dinamarca. A princesa
Dagmar passou a chamar-se Marie Feodorovna. Alexandre e Marie eram os pais do
último czar, Nicolau II.
A dinastia Romanov foi a mais poderosa se seu tempo e a mais rica também. As
jóias da coroa czarista faziam as jóias das outras casas reais da Europa
parecerem bijuterias. Eles reinaram sobre 1/6 da terra, num regime autocrático,
o que vale dizer que o czar representava Deus na terra. Sua vontade era lei e
tinha nas mãos o destino, a vida e a morte, de todo o povo russo. Os Romanovs
viviam numa opulência sem precedentes, em ricos palácios ou em suntuosos iates e
davam as mais glamurosas festas. O que arruinou a dinastia Romanov foi a falta
de percepção dos novos tempos e a dificuldade de se adaptar a eles. A Rússia
continuava feudal no século XX. Tivesse Nicolau II feito concessões e algumas
reformas, talvez o seu destino e o destino dos Romanov tivesse sido outro.