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Anemia Infecciosa Eqüina (AIE)

Introdução

A Anemia Infecciosa Eqüina (AIE) é uma doença viral que atinge todos os membros da família dos Eqüídeos. Todas as raças e idades são suscetíveis, porém, animais subnutridos, parasitados e debilitados têm maior predisposição. A AIE é causada por um vírus da família Retroviridae sub-família Lentivirinae, e está relacionado ao vírus da imunodeficiência humana, bovina e felina e também com o vírus da artrite-encefalite caprina e o vírus ovino Maedi/Visna.

Ocorrência

O vírus da AIE tem distribuição mundial especialmente em regiões úmidas e pantanosas onde existe uma grande quantidade de vetores. A doença foi reconhecida e descrita pela primeira vez em 1843 na França e desde então tem sido reportada em todos os continentes. É conhecida nos EUA desde 1896. Uma vez que a doença acomete somente membros da família dos eqüídeos, o animal infectado é o único reservatório da doença.

A taxa de morbidade varia de país para país (EUA = 1,5% a 2%; Canadá = 6%; Alemanha = 1,6%; Argentina = 15% a 25%), mas pode chegar a 100% em fazendas endemicamente infectadas onde há uma densa população do vetor e do hospedeiro. No Brasil, estima-se que no Pantanal a prevalência chega a 40%.

Sinais Clínicos

Os sinais clínicos da doença são bastante variáveis e podem produzir 3 diferentes síndromes: aguda, crônica e inaparente (carreador). Uma vez infectados, os animais persistem como carreadores do vírus pelo resto da vida.

Os sinais clínicos da forma aguda são não-específicos podendo ocorrer uma febre inicial de curta duração (menos de 24 horas). Como resultado, os proprietários ou veterinários podem não observar este sintoma inicial e este animal pode estar aparentemente saudável e ter contato com os demais animais. Normalmente, esta forma não é comum após a transmissão natural por tabanídeos, pois a quantidade de vírus transmitida por estes insetos geralmente é baixa.

Outros sintomas podem aparecer como:

Febre - a temperatura de um animal infectado pode subir repentinamente para 40,5oC ou mesmo para 42oC. Depois poderá retornar ao normal por um período indeterminado até o início de um outro episódio.
Petéquias hemorrágicas - aparecem nas mucosas, principalmente na língua e cojuntiva.
Depressão, Anorexia e Perda de Peso
Edema - principalmente no abdome, pernas e prepúcio.
Anemia - não é comum em infecções agudas, exceto em casos muitos severos.
Taquicardia e arritmia devido a miocardite.

Animais que sobrevivem ao episódio inicial podem progredir para a forma crônica. Neste caso, os animais apresentam a doença clássica, com os sinais clínicos característicos de anemia, edema e perda de peso.

Sucessivos episódios clínicos ocorrem na forma crônica e são devidos a novos mutantes do vírus gerados no animal infectado. Estes mutantes aparecem por causa de mudança nos genes que codificam para determinantes de superfície que são críticos (principalmente gp90 e gp45). As modificações estruturais resultantes permitem ao vírus mutante multiplicar-se mesmo na presença de altos níveis de anticorpos e outros componentes imunes produzidos cotnra a primeira linhagem.

O animal com a doença crônica é letárgico e anoréxico, tem baixo hematócrito e demonstra persistente decréscimo no número de plaquetas coincidente com a febre induzida pelo vírus.

Os ciclos recorrentes aparecem inicialmente a cada 2 semanas, e conforme a doença progride, o tempo entre os episódios clínicos aumenta para alguns meses. Aproximadamente 90% das recorrências ocorre dentro de um ano de infecção. Passado o primeiro ano, os sobreviventes persistem como carreadores inaparentes.

A forma inaparente aparece na maioria dos animais positivos em testes sorológicos. não há aparecimento de nenhuma anormalidade clínica resultante da infecção. O soro desses animais contém anticorpos contra o vírus e o próprio vírus, porém em concentração dramaticamente menor do que em animais com sinais da doença e são reservatórios da infecção por períodos extensos. Como todos os animais infectados são considerados carreadores do vírus por toda a vida, e como se tornam positivos em relação à presença de anticorpos, todos os animais testados e com resultados positivos são considerados com o mesmo potencial de transmissão do vírus, embora possa existir diferenças enormes no conteúdo de vírus no sangue de cada animal positivo. Esta decisão é devido ao fato de que qualquer animal infectado poderá desenvolver sinais clínicos de AIE quando tratado com drogas imunossupressoras ou quando submetido a stress.

Em termos gerais, existe um risco baixo de se adquirir a infecção de um animal com a doença inaparente.

Transmissão

O principal meio de transmissão do vírus é através de insetos hematófagos. Muitas espécies parecem estar implicadas, incluindo os tabanídeos (Tabanus spp e Hybomitra spp, Chrysops flavidus), mosca de estábulo (Stomoxys calcitrans), borrachudos (Simulinium vittatum), mosquitos (Psorophora columbiae, Aedes vexans e Anopheles spp) e possivelmente Culicoides spp. A transmissão por estes artrópodos são puramente mecânicas e não biológicas (não ocorre replicação do vírus no artrópodo). A ocorrência da transmissão depende de vários fatores:

1) O título do vírus no sangue do hospedeiro: Uma vez o hospedeiro infectado, está infectado para toda a vida. Muitas vezes, após a infecção inicial, haverá episódios recorrentes em que os sinais clínicos como febre serão aparentes. É durante estes episódios de febre que se verifica o pico da viremia e a transmissão ocorre com maior probabilidade.
2) Características de estrutura e comportamento do vetor: Quanto maior a quantidade de sangue transferida, maior a probabilidade da infecção ocorrer. É por esta razão que os tabanídeos são os vetores mais importantes: eles são os artrópodos com maior capacidade de ingestão de sangue. Outras variáveis a considerar são: a dor causada pelo vetor, o local da picada e a persistência do vetor. Para que a transmissão ocorra, o vetor deve iniciar a ingestão em um animal infectado, interromper e continuar a se alimentar em um animal não-infectado. O vírus se mantém infectivo no vetor por até 4 horas. Os mosquitos, que causam pouco desconforto e se alimentam de sangue de vasos mais superficiais, normalmente completam sua alimentação em um só hospedeiro, não tendo importância na transmissão. Já os tabanídeos causam maior desconforto e são expulsos do animal antes de completarem a refeição.
3) Densidade populacional do vetor: Quanto maior a população de vetores perto de um hospedeiro infectado, maior a probabilidade de transmissão. As populações de vetores são sazonais, portanto, existe uma maior chance de infecção no verão e outono, quando as densidades dos vetores atingem seu pico.
4) Características comportamentais do hospedeiro: Existem relatos de que potros têm menos probabilidade de adquirir a infecção, se comparado com adultos. Uma explicação para isso seria que os tabanídeos são mais fortemente atraídos por animais maiores e mais escuros. Um fato interessante é que animais com a forma crônica da infecção estão freqüentemente deprimidos e permitem que os tabanídeos completem sua alimentação enquanto que animais comm a infecção aguda são mais ativos e defensivos, expulsando o inseto. Neste caso, é mais provável que ocorra a transmissão.
5) População e densidade do hospedeiro: Uma vez que o tabanídeo tenha sido expulso de um animal, ele vai tentar terminar a ingestão de sangue no mesmo animal ou em um animal próximo. Se a densidade populacional dos hospedeiros é baixa, a transmissão é mais difícil de ocorrer.

OUTRAS FORMAS DE TRANSMISSÃO

O vírus está presente em todas as secreções e excreções (incluindo colostro, leite, saliva, urina e sêmen) do animal infectado. A transmissão do vírus requer a transferência de células sangüíneas de um animal infectado para um animal não-infectado e pode ocorrer também de outras maneiras que não através de um vetor. A infecção transplacentária pode ocorrer e é mais provável de ocorrer se a égua está apresentando sinais clínicos da doença durante a gestação. Neste caso, a égua pode abortar ou o potro poderá adquirir a infecção através da ingestão de colostro ou leite contendo leucócitos infectados com o vírus, embora o trato gastrointestinal não seja a porta principal de entrada do vírus.

A transmissão iatrogênica também é comum. O vírus da AIE pode permanecer infectivo em agulhas contaminadas por até 4 dias. Pode ser transmitido também por equipamento cirúrgico, sondas e todos os instrumentos utilizados na lida com os animais e que possa carrear o sangue infectado.


Tabanídeo transmissor do vírus da AIE

Diagnóstico

IMUNODIFUSÃO

Atualmente, o único meio seguro de se diagnosticar a infecção é através de um exame de sangue. A técnica utilizada é a Imunodifusão em gel de ágar (IDGA). Desde 1970 est4e teste, que detecta a presença de anticorpos contra uma proteína do vírus, tem sido usado e reconhecido internacionalmente como o teste sorológico - gold para o diagnóstico da AIE. Trata-se de uma prova qualitativa, isto é, identifica o animal portador e não-portador. Sua especificidade é alta devido ao fato de que as reações inespecíficas poderão ser identificadas pela formação de linhas de "não-identidade". Por isto, é o método escolhido para certificar animais como livres da doença para exportação, transporte e eventos. Uma vez que o vírus sofre alta variação antigênica, resultando em mutantes comm diferentes antígenos, o antígeno escolhido na prova de Imunodifusão é a proteína principal do core viral: a p26. Esta proteína mostrou ser altamente conservada em diferentes variantes isoladas.

O TESTE


O teste é bastante simples. Em uma placa ou lâmina contendo ágar solidificado são feitas 7 cavidades (1 central e 6 circundando-a). Na cavidade central é colocado o antígeno (p26) enquanto nas demais alternam-se soro controle positivo e soro teste. Durante a incubação (48hs), ocorre a difusão do antígeno da cavidade central e de anticorpos se presentes, das cavidades externas. Se no soro teste existe anticorpos contra o antígeno p26, forma-se uma linha de precipitação no encontro desses anticorpos com a p26. É a presença desta linha que determina se a amostra é positiva ou negativa. Como existem as 3 cavidades com o soro positivo padrão, haverá formação de linhas de precipitação entre as cavidades contendo este soro e a cavidade contendo o antígeno p26. Quando um animal é positivo e no seu soro existem anticorpos, haverá a formação de uma linha de precipitação entre este soro e o antígeno (p26) que será contínua à linha formada entre o antígeno e o soro padrão positivo.

Em algumas situações, pode ser difícil determinar se o teste é negativo ou positivo. No caso de não haver anticorpos suficientes para a formação de uma linha visível, poderá ocorrer um resultado falso negativo. Este teste não conseguee detectar animais positivos durante os primeiros 5 a 7 dias dos episódios clínicos, e este animal virá a dar um resultado positivo somente 15 a 25 dias após a inoculação do vírus.

Em outros casos, potros nascidos de éguas infectadas também terão resultado positivo, mesmo que não estejam infectados. Isto ocorre quando os potros mamam o colostro contendo anticorpos contra o vírus da AIE e estes anticorpos reagem com o antígeno no teste formando as linhas de precipitação. Se os potros forem retestados mais tarde e tiverem o resultado negativo, poderão ser considerados livres da infecção.

O Controle da AIE

O controle da AIE compreende minimizar ou eliminar o contato dos animais com secreções, excreções e sangue de animais infectados. Isto pode ser bastante eficaz se houver um rígido controle dos animais utilizando o teste de Imunodifusão e separando os animais positivos dos negativos. Uma vez feita esta separação, deve-se retestar os animais negativos após 30 a 60 dias até que não apareçam mais casos positivos. Uma vez identificados e separados os positivos, esses animais devem ser mantidos a uma distância segura dos negativos. O teste de Imunodifusão deve ser feito de maneira constante e permanente em fazendas, haras, sociedades hípicas, jóquei clubes etc.

ALGUMAS MEDIDAS DE CONTROLE

1) Só adquira ou permita a entrada de animais que apresentem o teste negativo para o exame da AIE. Mesmo com este exame, realize um novo teste logo após a aquisição do mesmo e após 30 dias, pois o animal pode estar na fase inicial da doença, quando o teste ainda não identifica-o como positivo.
2) Antes de introduzir um animal na propriedade, mantenha-o em quarentena pelo prazo de 30 dias até a realização de outro exame de AIE.
3) Realizar o controle do plantel a cada 3 meses em haras, fazendas de criação e a cada 30 dias em sociedades hípicas.
4) Utilizar somente agulhas e seringas descartáveis. Esterilizar todo o instrumento cirúrgico e qualquer outro material que possa ter entrado em contato com o sangue de um cavalo.
5) Controlar a população de moscas através da limpeza de dejetos, desinfecção das instalações e armadilhas para moscas.

O TESTE VALLÉE

O kit de diagnóstico para a AIE desenvolvido pela Vallée é um kit de Imunodifusão. A grande diferença entre este kit e outros existentes está na tecnologia de produção do antígeno desenvolvido por engenharia genética. Esta tecnologia consistiu no isolamento do material genético do vírus responsável pela expressão da proteína chave para o diagnóstico da doença (p26). Este material genético isolado foi inserido em uma bactéria, que atuou como uma carreadora do gene que passou a produzir grandes quantidades dessa proteína p26 do vírus da AIE. Esta proteína produzida foi submetida a etapaas de purificação resultando em um produto de altíssima qualidade, eliminando-se totalmente a ocorrência de linhas de precipitação inespecíficas.

O teste se baseia na migração dos antígenos e anticorpos em gel de ágar em direções opostas resultando na formação de linhas de precipitação visíveis. Cavalos infectados mesmo com vírus de diferentes linhagens possuem anticorpos precipitantes contra o maior antígeno grupo-específico, a proteína p26.

Leitura

A primeira linha de precipitação que deve ser observada é aquela formada entre os poços contendo o soro padrão e o antígeno. A ocorrência desta linha de precipitação é imprescindível para a leitura da prova. Se a linha não é nítida, o teste deve ser repetido e não se faz a leitura dos soros suspeitos, uma vez que o padrão positivo não apresentou reação.

Resultados

Uma vez constatada a linha de precipitação entre os poços contendo o antígeno e o soro padrão, deve-se proceder à leitura dos soros testes.

Observar as seguintes características das reações:

REAÇÃO NEGATIVA:
não ocorre linha de precipitação entre os poços contendo o antígeno e o soro teste.
as linhas de precipitação entre os poços cotnedo o antígeno e o soro padrão são retas e prolongam-se até a cavidade contendo o soro teste sem encurvar-se:


REAÇÃO POSITIVA:
ocorre uma linha de precipitação entre os poços contendo o antígeno e o soro teste e esta linha é contínua com a linha formada entre o antígeno e o soro padrão:


REAÇÃO POSITIVA FRACA:
as linhas de precipitação entre os poços contendo o antígeno e o soro padrão encurvam-se em direção ao poço contendo o soro teste.
ocorre ou não a formação de uma linha muito fraca entre os poços contendo o antígeno e o soro teste.


Interpretação

a. qualquer cavalo adulto que reaja à prova de Imunodifusão pode ser considerado infectado pelo vírus AIE.
b. um soro recolhido durante o período de incubação da AIE poderá fornecer um resultado fraco-positivo. A retestagem após 2 ou 3 semanas produzirá uma reação mais forte.
c. soros de potros que mamam em éguas infectadas podem fornecer resultados positivos devido aos anticorpos presentes no colostro.

Precauções

1. o produto deve ser armazenado à temperatura de 2oC a 8oC. Se os reagentes não forem utilizados no prazo de 15 dias, devem ser aliquotados e congelados. Não deixar o produto em temperatura ambiente por períodos prolongados.
2. tratar todos os reagentes e amostras como capazes de transmitir o vírus AIE. Esterilizar todo o material utilizado após realizar o teste.
3. não utilizar reagentes com data já vencida.
4. se os controles positivos do kit não apresentarem reação, não use o kit.
5. como em qualquer trabalho laboratorial, recomenda-se o uso de luvas durante a manipulação dos reagentes e durante todo o teste.

Conclusão

Não existe tratamento para a AIE. Não existe vacina para prevenir a AIE. A identificação do animal portador é o ponto chave para o controle da doença. Ao realizar o teste de diagnóstico da doença, você estará contribuindo para o controle da enfermidade. Evitar que a doença se espalhe é responsabilidade de todos.

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