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No Brasil os
comentários de ações contrárias à ética têm merecido estaque na
mídia. Ficou fácil ficar famoso pela falta de ética. Pena que isso
não ocorra pelas coisas bem feitas. A ética faz sentido? Por quê
entrar em um concurso público, para se aposentar em um ano com
salário integral, passou a ser apenas notícia de um dia e nada
acontece? A lei permite, dizem os advogados. Problema da lei, dizem
os administradores. Sorte, diz o interessado. Pouca seriedade,
argumentam os que têm ética. A memória curta dos brasileiros parece
se enfraquecer na medida em que o mau exemplo vem dos profissionais
e de autoridades que deveriam servir de referência. A ética faz
sentido ?
Ponto de partida para
compreender uma liderança ética são os valores: honestidade,
integridade, responsabilidade pelos próprios atos, justiça. Tudo
isso se espera de um líder, de qualquer pessoa em posição de poder e
responsabilidade em uma organização, seja ela pública, privada ou de
serviços. Antes, a falta de ética representava um risco para
empresas que lidavam com seguros, por exemplo. Agora, qualquer
instituição corre o risco de ver seu nome nos jornais se não for
administrada por lideres honestos. Na esfera pública ou privada,
altos executivos que não se exercitem na liderança ética podem
causar problemas que dificilmente facilitarão a sobrevivência da
organização. Ética é a parte da filosofia que estuda os valores de
conduta, o que é bom ou mau, certo ou errado e os motivos que levam
uma ação a ser ou não moral. Na prática as organizações éticas
operam com padrões muito mais altos e exigentes do que os previstos
na legislação ou nos regulamentos. E essa cultura ética costuma
contribuir para os bons resultados financeiros da empresa, e não ao
contrário, como seria de se esperar em ambientes empresariais
competitivos, por vezes bastante afastados da moral. Parece que a
ética faz sentido. Muitas empresas brasileiras já possuem um código
de ética, ou alguma forma de compromisso para a liderança ética. Um
documento ou um comitê para analisar questões éticas pode não ser
suficiente. Seu uso inadequado pode acarretar multas altíssimas,
ações que lesam a organização, denigrem a sua reputação e encerram a
carreira de profissionais maduros. Um desgaste desnecessário. Quando
a ética é compreendida em seu sentido real, as leis e diretrizes -
se boas - reforçam a atitude correta dos dirigentes ou empregados da
empresa. O código de ética, se seguido com voluntariedade e
compromisso, previne e detecta violações da lei, reduz multas e
penalidades e assegura altos níveis de conduta moral. A ética pode
ser a mais importante defesa contra atividades ilegais. Um
componente significativo de um processo eficaz de ética nos negócios
costuma ser um programa que sensibilize, treine e aguce a percepção
dos gerentes e dos empregados em relação a seu papel ético dentro da
empresa. A maior parte desses programas parte de uma forma de
instrução viva, realista, dinâmica, com poucos alunos para facilitar
a interação do grupo e aulas de no máximo quatro horas. Cada setor
da empresa ou organização tem um treinamento específico para que se
analise, com profundidade, as questões éticas correspondentes. A
disciplina no local de trabalho é fruto de um treinamento colegiado
que corrige, modela, reforça e aperfeiçoa. A autodisciplina se
consegue quando cada membro da equipe conhece as regras, compreende
seu objetivo e entende que vale a pena cumpri-las. Facilita essa
disciplina o supervisor hábil que diz com clareza quais são as
expectativas da organização em relação a cada empregado, e
vice-versa. A consistência é logo percebida porque as regras não
mudam com freqüência, aplicam-se a todos os empregados igualmente e
são vividas pelos supervisores ou dirigentes. O objetivo não é
punir, mas corrigir e melhorar o desempenho, aprimorando o caráter
das pessoas. Em caso de falta de ética são discutidos os
encaminhamentos adequados, as penalidades a serem atribuídas,
evitando que o problema contamine a equipe e a organização. Na
economia global extremamente competitiva, a excelência no
gerenciamento da segurança e da saúde dos empregados não pode ser
apenas resposta a uma legislação. Tornou-se uma exigência econômica.
Líderes com visão de futuro sabem que bons resultados na área de
segurança correspondem a bons resultados financeiros para a empresa,
especialmente quando se trata de controle de qualidade e custo,
produtividade, serviços ao cliente e lucros. No entanto, tem
crescido a pressão das empresas para responder rapidamente às
demandas do mercado e se alcançar os lucros esperados pelos
investidores. Isso tem gerado problemas éticos sérios, com
conseqüências incalculáveis. A pressão sobre o empregado pode
provocar desde a violação de registros e de relatórios até fraudes
que acabam por prejudicar os funcionários envolvidos. Essa situação
abriu espaço para contadores e consultores íntegros aconselharem
seus clientes a respeito de práticas éticas. Algumas empresas de
consultoria já possuem uma área específica para lidar com problemas
éticos de vários tipos. A ética nos negócios deixou de ser
considerada apenas uma questão de foro íntimo. A ética das virtudes,
desenvolvida por brilhantes defensores da ética, pode dar todos os
fundamentos para uma atuação correta, porém em nível pessoal. Dando
um passo à frente, as organizações começam a tratar a ética desde um
ponto de vista corporativo: programas de ética, definição de
diretrizes, códigos, comitês, profissionais especializados, tudo que
promova a construção de um clima de ética. Em nível mais macro,
instituições internacionais se mobilizam para conseguir que a ética
esteja presente no planejamento econômico, tecnológico, político,
jurídico, social, em todas as esferas de atividade, em âmbito
setorial, regional ou global. Essa tendência tem gerado propostas de
legislação, criação de organismos, acordos, uma gama de novas formas
de solução para problemas antigos.
(Revista Conjuntura
Econômica, Junho de 2001) Ver
Eva E. Tsahuridu, Mermaids and ethics: The role of women in
organizations. In www http://www.crasp.com.br/
A ARTE DE DAR MÁS
NOTÍCIAS
L. A. COSTACURTA
JUNQUEIRA Vice-Presidente
do MVC
Criticar o estilo ou
desempenho de um subordinado.
Dizer a um cliente que não
pode atender sua solicitação.
Demitir um de seus
funcionários.
Quem não enfrentou pelo
menos uma das três situações descritas acima? Dar más notícias é
também uma das funções do executivo/gerente, embora certamente não
seja tarefa das mais agradáveis. Erros e problemas fazem parte do
nosso dia-a-dia, e procrastinar seu trato é muito perigoso.
Ignorá-los também é uma solução inadequada. No entanto, vale lembrar
que erros e problemas podem representar uma grande fonte de
aprendizagem e melhoria contínua, e alguns benefícios podem ser
extraídos nestes momentos, quando é necessário a "arte de dar más
notícias":
-
Constitui uma
relação de confiança entre as partes.
-
Constitui um
sinal de respeito para com os outros.
-
Faz com que os
problemas não fiquem piores.
-
Não se pode
melhorar se os erros são desconhecidos.
Qual seria então uma boa
estratégia para se dar más notícias? Sugerimos, entre outras, as
seguintes posturas:
-
Uma atitude
sincera e de ajuda.
-
Colocar-se no
lugar do outro.
-
Escolher o melhor
momento.
-
Deixar claro suas
motivações/intenções.
-
Ir direto ao
assunto, focalizar o lado do "negócio".
A experiência mostra que
algumas frases podem ajudar nessa difícil arte:
"Tenho algumas informações
que acho poderiam ser úteis a você".
"Estou preocupado com você
e imaginei que poderia estar interessado em ouvir o que
observei".
"Há um problema a respeito
de ... Eis o que acho que está acontecendo".
Por outro lado, certas
posturas e comportamentos devem ser evitados, tais como:
-
Partir do
princípio que a outra parte não pode administrar o problema ou que
não está interessada nele.
-
Tirar conclusões
baseado em seus preconceitos.
-
Só das más
notícias.
-
Evitar assumir
responsabilidades
Há também alguns riscos
envolvidos no processo de se dar más notícias, e devemos estar
atentos para os seguintes:
-
Ter em mente que
sempre haverá algum tipo de conseqüência.
-
Estar pronto para
administrar o conflito que será causado.
-
Estar pronto para
mudar o que for necessário.
-
Predispor-se a se
envolver ou trabalhar mais.
Também ajuda muito no
processo evitar os comportamentos chamados defensivos, tais
como:
-
Ter sempre claro
qual é seu objetivo.
-
Reconhecer e
aceitar os sentimentos da outra pessoa.
-
Evitar olhar as
intenções da outra parte com visão negativa.
Em alguns casos a utilização de uma terceira
pessoa, um facilitador, pode ajudar no processo, especialmente em
função das características de mentalidade dessa pessoa. Essas são
algumas das boas idéias acerca do processo de se dar más notícias, e
outras certamente poderão ser desenvolvidas e praticadas. O
importante é que a procrastinação seja evitada, que se vá direto ao
assunto o que a motivação seja construtiva. Seus momentos difíceis
poderão se tornar menos desgastantes e o resultado final certamente
será positivo.
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