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Maria Cecília Coutinho de Arruda, Prof. da FGV/EAESP 

No Brasil os comentários de ações contrárias à ética têm merecido estaque na mídia. Ficou fácil ficar famoso pela falta de ética. Pena que isso não ocorra pelas coisas bem feitas. A ética faz sentido? Por quê entrar em um concurso público, para se aposentar em um ano com salário integral, passou a ser apenas notícia de um dia e nada acontece? A lei permite, dizem os advogados. Problema da lei, dizem os administradores. Sorte, diz o interessado. Pouca seriedade, argumentam os que têm ética. A memória curta dos brasileiros parece se enfraquecer na medida em que o mau exemplo vem dos profissionais e de autoridades que deveriam servir de referência. A ética faz sentido ?

Ponto de partida para compreender uma liderança ética são os valores: honestidade, integridade, responsabilidade pelos próprios atos, justiça. Tudo isso se espera de um líder, de qualquer pessoa em posição de poder e responsabilidade em uma organização, seja ela pública, privada ou de serviços. Antes, a falta de ética representava um risco para empresas que lidavam com seguros, por exemplo. Agora, qualquer instituição corre o risco de ver seu nome nos jornais se não for administrada por lideres honestos. Na esfera pública ou privada, altos executivos que não se exercitem na liderança ética podem causar problemas que dificilmente facilitarão a sobrevivência da organização. Ética é a parte da filosofia que estuda os valores de conduta, o que é bom ou mau, certo ou errado e os motivos que levam uma ação a ser ou não moral. Na prática as organizações éticas operam com padrões muito mais altos e exigentes do que os previstos na legislação ou nos regulamentos. E essa cultura ética costuma contribuir para os bons resultados financeiros da empresa, e não ao contrário, como seria de se esperar em ambientes empresariais competitivos, por vezes bastante afastados da moral. Parece que a ética faz sentido. Muitas empresas brasileiras já possuem um código de ética, ou alguma forma de compromisso para a liderança ética. Um documento ou um comitê para analisar questões éticas pode não ser suficiente. Seu uso inadequado pode acarretar multas altíssimas, ações que lesam a organização, denigrem a sua reputação e encerram a carreira de profissionais maduros. Um desgaste desnecessário. Quando a ética é compreendida em seu sentido real, as leis e diretrizes - se boas - reforçam a atitude correta dos dirigentes ou empregados da empresa. O código de ética, se seguido com voluntariedade e compromisso, previne e detecta violações da lei, reduz multas e penalidades e assegura altos níveis de conduta moral. A ética pode ser a mais importante defesa contra atividades ilegais. Um componente significativo de um processo eficaz de ética nos negócios costuma ser um programa que sensibilize, treine e aguce a percepção dos gerentes e dos empregados em relação a seu papel ético dentro da empresa. A maior parte desses programas parte de uma forma de instrução viva, realista, dinâmica, com poucos alunos para facilitar a interação do grupo e aulas de no máximo quatro horas. Cada setor da empresa ou organização tem um treinamento específico para que se analise, com profundidade, as questões éticas correspondentes. A disciplina no local de trabalho é fruto de um treinamento colegiado que corrige, modela, reforça e aperfeiçoa. A autodisciplina se consegue quando cada membro da equipe conhece as regras, compreende seu objetivo e entende que vale a pena cumpri-las. Facilita essa disciplina o supervisor hábil que diz com clareza quais são as expectativas da organização em relação a cada empregado, e vice-versa. A consistência é logo percebida porque as regras não mudam com freqüência, aplicam-se a todos os empregados igualmente e são vividas pelos supervisores ou dirigentes. O objetivo não é punir, mas corrigir e melhorar o desempenho, aprimorando o caráter das pessoas. Em caso de falta de ética são discutidos os encaminhamentos adequados, as penalidades a serem atribuídas, evitando que o problema contamine a equipe e a organização. Na economia global extremamente competitiva, a excelência no gerenciamento da segurança e da saúde dos empregados não pode ser apenas resposta a uma legislação. Tornou-se uma exigência econômica. Líderes com visão de futuro sabem que bons resultados na área de segurança correspondem a bons resultados financeiros para a empresa, especialmente quando se trata de controle de qualidade e custo, produtividade, serviços ao cliente e lucros. No entanto, tem crescido a pressão das empresas para responder rapidamente às demandas do mercado e se alcançar os lucros esperados pelos investidores. Isso tem gerado problemas éticos sérios, com conseqüências incalculáveis. A pressão sobre o empregado pode provocar desde a violação de registros e de relatórios até fraudes que acabam por prejudicar os funcionários envolvidos. Essa situação abriu espaço para contadores e consultores íntegros aconselharem seus clientes a respeito de práticas éticas. Algumas empresas de consultoria já possuem uma área específica para lidar com problemas éticos de vários tipos. A ética nos negócios deixou de ser considerada apenas uma questão de foro íntimo. A ética das virtudes, desenvolvida por brilhantes defensores da ética, pode dar todos os fundamentos para uma atuação correta, porém em nível pessoal. Dando um passo à frente, as organizações começam a tratar a ética desde um ponto de vista corporativo: programas de ética, definição de diretrizes, códigos, comitês, profissionais especializados, tudo que promova a construção de um clima de ética. Em nível mais macro, instituições internacionais se mobilizam para conseguir que a ética esteja presente no planejamento econômico, tecnológico, político, jurídico, social, em todas as esferas de atividade, em âmbito setorial, regional ou global. Essa tendência tem gerado propostas de legislação, criação de organismos, acordos, uma gama de novas formas de solução para problemas antigos.

(Revista Conjuntura Econômica, Junho de 2001)
Ver Eva E. Tsahuridu, Mermaids and ethics: The role of women in organizations. In www
http://www.crasp.com.br/

 

A ARTE DE DAR MÁS NOTÍCIAS

L. A. COSTACURTA JUNQUEIRA Vice-Presidente do MVC

Criticar o estilo ou desempenho de um subordinado.

Dizer a um cliente que não pode atender sua solicitação.

Demitir um de seus funcionários.

Quem não enfrentou pelo menos uma das três situações descritas acima? Dar más notícias é também uma das funções do executivo/gerente, embora certamente não seja tarefa das mais agradáveis. Erros e problemas fazem parte do nosso dia-a-dia, e procrastinar seu trato é muito perigoso. Ignorá-los também é uma solução inadequada. No entanto, vale lembrar que erros e problemas podem representar uma grande fonte de aprendizagem e melhoria contínua, e alguns benefícios podem ser extraídos nestes momentos, quando é necessário a "arte de dar más notícias":

  • Constitui uma relação de confiança entre as partes.
  • Constitui um sinal de respeito para com os outros.
  • Faz com que os problemas não fiquem piores.
  • Não se pode melhorar se os erros são desconhecidos.

Qual seria então uma boa estratégia para se dar más notícias? Sugerimos, entre outras, as seguintes posturas:

  • Uma atitude sincera e de ajuda.
  • Colocar-se no lugar do outro.
  • Escolher o melhor momento.
  • Deixar claro suas motivações/intenções.
  • Ir direto ao assunto, focalizar o lado do "negócio".

A experiência mostra que algumas frases podem ajudar nessa difícil arte:

"Tenho algumas informações que acho poderiam ser úteis a você".

"Estou preocupado com você e imaginei que poderia estar interessado em ouvir o que observei".

"Há um problema a respeito de ... Eis o que acho que está acontecendo".

Por outro lado, certas posturas e comportamentos devem ser evitados, tais como:

  • Partir do princípio que a outra parte não pode administrar o problema ou que não está interessada nele.
  • Tirar conclusões baseado em seus preconceitos.
  • Só das más notícias.
  • Evitar assumir responsabilidades

Há também alguns riscos envolvidos no processo de se dar más notícias, e devemos estar atentos para os seguintes:

  • Ter em mente que sempre haverá algum tipo de conseqüência.
  • Estar pronto para administrar o conflito que será causado.
  • Estar pronto para mudar o que for necessário.
  • Predispor-se a se envolver ou trabalhar mais.

Também ajuda muito no processo evitar os comportamentos chamados defensivos, tais como:

  • Ter sempre claro qual é seu objetivo.
  • Reconhecer e aceitar os sentimentos da outra pessoa.
  • Evitar olhar as intenções da outra parte com visão negativa.

Em alguns casos a utilização de uma terceira pessoa, um facilitador, pode ajudar no processo, especialmente em função das características de mentalidade dessa pessoa. Essas são algumas das boas idéias acerca do processo de se dar más notícias, e outras certamente poderão ser desenvolvidas e praticadas. O importante é que a procrastinação seja evitada, que se vá direto ao assunto o que a motivação seja construtiva. Seus momentos difíceis poderão se tornar menos desgastantes e o resultado final certamente será positivo.