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Catacumbas do Inferno

Domingo, Abril 04, 2004

É mais fácil crer que se sabe aquilo em que se crê sem ter conhecimento, do que conhecer e saber de fato ou saber que não há como saber. - Ou não!... Talvez crer cegamente seja um processo muito mais engenhoso de se moldar a si mesmo. Sim, crer sem saber seria muito doloroso. Tremo ao imaginar-me tentando negar a razão e a realidade infestado por uma crença cega e ilógica sem qualquer base racional. Tremo por medo e covardia. Medo dessa visão aterrorizante de encontrar-me nesse estado lamentável. E covardia para encarar um esforço tão intenso e complicado para negar a razão e a realidade criando verdades alternativas guiado por uma fé absurda.

Domingo, Março 28, 2004

Se você tivesse que escolher entre felicidade ou liberdade, o que você escolheria? Por que?


Quarta-feira, Março 24, 2004

Estou crente hoje. Creio em Deus novamente, mas só por hoje.

É bom ter outra vez essa sensação causada pela fé. Eu já não a tinha desde os meus 14 anos. Nessa idade eu ainda tinha fé, mas então eu comecei a observar, pensar e raciocinar. Não há fé que resista aos ataques da lógica e da razão...

Mas o Deus imaginado por mim agora se apresenta de uma forma muito diferente do Deus que a minha fé alimentava nos meus 14 anos. Com aquela idade, o meu Deus proferia palavras, tinha propósitos inteligíveis, e tinha até mesmo vontades humanas. Já o Deus em que creio agora, esse jamais disse coisa alguma usando nossa forma de comunicação. Ele não tem semelhança alguma conosco. O meu Deus de hoje revela as suas vontades, que não são ordens, através das manifestações da natureza e das sensações intensas onde a razão nos foge. A minha forma de crer em Deus hoje é um canto íntimo de adoração herética e irracional a um êxtase divino. Nós só podemos compreender esse Deus, superficialmente, através da observação atenta das coisas da natureza e dos seus fenômenos. E só podemos tocá-lo quando Ele manifesta o fenômeno natural mais intenso que pode brotar em nós como parte da natureza que somos, o orgasmo.

Sábado, Março 20, 2004

Dica valiosa pra você. 

Abra o kazaa, procure "Allan Holdsworth", e baixe.

Passar bem.

Sexta-feira, Março 12, 2004

Bauer e a Máquina 

Herr Bauer não sabe o porquê dessa máquina, ela é um enigma que agora ele não pode mais decifrar, ele já não entende nem mesmo como ela funciona. Na verdade não se lembra de tê-la visto funcionando, mas sabe que ela alguma vez funcionou.
Herr Bauer não se lembra de uma razão para ela ser.
No começo havia uma razão, mas Herr Bauer ficou tão entusiasmado mechendo naquelas pecinhas e com aquele monte de idéias, que mais e mais idéias foram surgindo sem parar e assim naquele turbilhão de criações loucas essa razão de ser de toda aquela tempestade e de sua máquina se perdeu na sua memória. Morreu!
Morreu em sua mente cedendo lugar à alguma coisa quotidiana qualquer, ou quem sabe à uma idéia filha dela própria, mas isso não serviu para salvá-la se foi assim que aconteceu. Também não serviu para salvá-la a documentação do projeto, que é um maço de folhas em branco numa pasta velha - que ele encontrou por um acaso procurando uma canetinha de escrever em cd no quartinho de bagunça - mais uma folha no topo onde se lê "Stroplusceratróica".
E não poderia ser diferente a documentação desse projeto fantástico, a "Stroplusceratróica" não foi planejada, não foi sequer imaginada.
A "Stroplusceratróica" é uma manifestação espontânea do poderoso incosciente de Herr Bauer concretizada. Todas as idéias que lhe vinham à cabeça eram logo transformadas em ações!
É uma máquina grande, complicada e pesada, que o Herr Bauer adora e da qual se orgulha, porque sabe que é fantástica e que ninguém jamais criou ou criará coisa igual. É quase uma obra de arte. Mas ele não se lembra pra que serve.

-billy (eu)

Sábado, Março 06, 2004

Vote no Hugo 

Hoje de manhã alguém bateu na minha porta. Era um casal bem vestido e arrumado. O homem falou primeiro, e disse:

João: Olá! Eu sou João, e esta é Maria.
Maria: Olá! Gostaríamos de convidá-o para vir votar no Hugo com a gente.
Eu: Como assim? O que é isso? Quem é Hugo, e por que vocês querem que eu vote nele? Nem é dia de eleição hoje.
João: Se você votar no Hugo, ele lhe dará um milhão de dólares, e se não, ele te cobre de pancada.
Eu: Mas o que é isso? Extorsão da máfia?
João: Hugo é um multibilionário filantropo. Hugo construiu esta cidade. A cidade é dele. Ele pode fazer o que ele quiser, e ele quer te dar um milhão de dólares, mas isso só é possível se você votar nele.
Eu: Mas isso não faz o menor sentido. Se o Hugo construiu a cidade, é dono dela e pode fazer o que quiser, entao por que ele preisa ser eleito? E por que ele...
Maria: Quem é você para questionar o presente do Hugo? Você não quer o milhão de dólares? Não vale a pena por votar nele uma vez só?
Eu: Bom, talvez, se for pra valer, mas...
João: então venha com a gente votar no Hugo.
Eu: vocês já votaram no Hugo?
Maria: Ah, claro, e...
Eu: E vocês já receberam o milhão de dólares?
João: Bom, na verdade não. Você só recebe o dinheiro depois de sair da cidade.
Eu: Então por que vocês não saem?
Maria: Você só sai quando o Hugo deixar, ou você não leva o dinheiro, e ele te cobre de pancada.
Eu: Vocês conhecem alguém que votou no Hugo, saiu da cidade e ganhou o dinheiro?
João: Minha mãe votou no Hugo por anos. Ela saiu da cidade ano passado, e tenho certeza de que ela ganhou o dinheiro.
Eu: Você não falou com ela depois disso?
João: Claro que não, o Hugo não deixa.
Eu: Então por que você acha que ele vai te dar o dinheiro se você nunca falou com alguém que conseguiu o dinheiro?
Maria: Bom, ele te dá um pouquinho antes de você ir embora. Pode ser um aumento de salário, pode ser um pequeno prêmio de loteria, pode ser que você ache uma nota de cinquenta na rua.
Eu: E o que isso tem a ver com o Hugo?
João: O Hugo tem uns 'contatos'.
Eu: Sinto muito, mas pra mim isso parece um golpe maluco.
João: Mas é um milhão de dólares, você vai arriscar? E lembre, se você não votar no Hugo, ele te cobre de pancada.
Eu: Talvez se eu pudese ver o Hugo, falar com ele, pegar os detalhes diretamente com ele...
Maria: Ninguém vê o Hugo, ninguém fala com o Hugo.
Eu: Então como vocês votam nele?
João: Às vezes nós fechamos os olhos e votamos, pensando no Hugo. Às vezes votamos no Carlos, e ele conta pro Hugo.
Eu: Quem é Carlos?
Maria: Um amigo nosso. Foi ele que nos ensinou a votar no Hugo. A gente só precisou levá-lo pra jantar algumas vezes.
Eu: E você simplesmente acreditou no que ele disse, quando ele contou que existia um Hugo, e que o Hugo queria que vocês votassem nele, e que o Hugo daria uma recompensa?
João: Claro que não! Carlos trouxe uma carta que o Hugo lhe mandou anos atrás, explicando tudo. Tem uma cópia aqui, veja você mesmo.

João me entregou uma fotocópia de uma carta com o cabeçalho "Do punho de Carlos". Havia onze items ali:

1. Vote no Hugo e ele lhe dará um milhão de dólares quando você sair da cidade.
2. Use álcool com moderação.
3. Cubra de pancadas quem não for como você.
4. Coma bem.
5. O próprio Hugo ditou esta lista.
6. A lua é feita de queijo verde.
7. Tudo que o Hugo diz está certo.
8. Lave as mãos depois de ir ao banheiro.
9. Não beba.
10. Só coma salsicha no pão, e sem condimentos.
11. Vote no Hugo, ou ele te cobre de pancada.

Eu: Parece que isso foi escrito no bloco do Carlos.
Maria: Hugo não tinha papel.
Eu: Tenho um palpite que se fôssemos conferir, descobriríamos que essa letra é do Carlos.
João: Claro que é, o Hugo ditou.
Eu: Pensei que vocês tinham dito que ninguém vê o Hugo.
Maria: Não agora, mas tempos atrás ele falava com algumas pessoas.
Eu: Pensei que vocês tinham dito que ele era um filantropo. Como é que um filantropo bate nas pessoas só porque elas são diferentes?
Maria: É o desejo de Hugo, e o Hugo está sempre certo.
Eu: Como você sabe?
Maria: O item 7 fala: "tudo que o Hugo diz está certo". Pra mim isso é suficiente.
Eu: Talvez o seu amigo Carlos tenha inventado isso tudo.
João: De jeito nenhum! O item 5 fala: "o próprio Hugo ditou esta carta". Além disso, o item 2 fala "use álcool com moderação", o item 4 diz "coma bem", e o item 8 diz "lave as maos depois de ir ao banheiro". Todo mundo sabe que isso é certo, então o resto deve ser verdade também.
Eu: Mas o item 9 diz "não beba", o que não bate com o item 2. E o item 6 diz que "a Lua é feita de queijo verde", o que está simplesmente errado.
João: Não há contradição entre 9 e 2, 9 só esclarece 2. E quanto ao 6, você nunca esteve na Lua, então não pode ter certeza.
Eu: A ciência já estabeleceu muito bem que a Lua é feita de rochas...
Maria: Mas eles não sabem se as rochas vieram da Terra ou do espaço, então poderia muito bem ser queijo verde.
Eu: Não sou um perito, mas acho que a idéia é que dois ou mais corpos de bastante massa podem ter colidido durante a formação do sistema solar para criar o sistema Terra-Lua. Mas não saber exatamente como a Lua foi formada não tem nada a ver com ela ser feita de queijo.
João: Ahá! Você acabou de admitir que os cientistas não podem ter certeza, mas nós sabemos que o Hugo está sempre certo!
Eu: Sabemos?
Maria: Claro, o item 5 diz isso.
Eu: Você está dizendo que o Hugo está sempre certo porque a lista diz, e a lista está certa porque o Hugo ditou, e sabemos que o Hugo ditou porque a lista diz. Isso é lógica circular, é a mesma coisa que dizer que 'o Hugo está certo porque ele diz que está certo'.
João: AGORA você está entendendo! É tão bom ver alguém entender o jeito de pensar do Hugo!
Eu: Mas... ah, dexa pra lá. E que história é essa com as salsichas?
João (enquanto Maria enrubesce): É um esclarecimento do item 4. Salsicha, só no pão, sem condimentos. É a maneira do Hugo. Qualquer coisa diferente disso é errado.
Eu: Mas então pode comer hambúrguer sem pão? E bratwurst?
João: Peraí, peraí. Não vamos deixar as coisas mais complicadas do que elas são. É melhor deixar esses detalhes para os peritos profissionais no Hugo e suas regras.
Eu: E se não tiver pão?
João: Sem pão, nada de salsicha. Salsicha sem pão é errado.
Eu: Sem molho? Sem mostarda?
João (Gritando, enquanto Maria parece chocada): Não precisa falar assim! Condimentos de todos os tipos são errados!
Eu: Então uma pilha enorme de repolho azedo com umas salsichas picadas em cima, nem pensar?
Maria (enfiando os dedos nas orelhas): Eu não estou escutando!! La la la, la la, la la la.
João: Mas que nojento! Só um pervertido comeria isso...
Eu: Mas é bom! Eu como sempre!!
João (amparando Maria, que desmaia): Se eu soubesse que você era um desses, não teria desperdiçado meu tempo. Quando o Hugo cobrir você de pancada, eu vou estar lá, contando meu dinheiro e rindo. Eu vou votar nele por você, seu comedor-de-salsicha-cortada-com-repolho!

E assim João arrastou Maria pra o carro, e foram embora.

- Tim Gorski