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Poesias Sociais

de José Araujo de Brito Neto

Estrela Solitária

Ao Estado do Pará, sobre o seu descaso.

Alfa, a mais alta. Tão pobre, sozinha e baixa. A estrela brilhante, De um cintilante que não ‘Para’.

A estrela morena, Que fusca por si só. Pontas em ‘Art Noveau’, Brilho magistral

Irmã tão galharda, Mas bela, explorada. Entranhas ditosas, Usadas e Mercuradas.

Teu brilho verde estuprado, O sangue escorre. Disvirginada, Indignada sem voz.

Sozinha tão alta, Choras o obrigar de teus filhos. Injustiçada, estrela Louçã, Criada da noite.

Estrela central, De um céu Vermelho e Branco. Brilho fosco, Ditos murmurantes.

Astro inquieto a clamar, Estrela Agonizante. Distante, baixa e triste, Universo a diserdar.

Alpha solitária, A decadência o teu semblante. Das Glorias que Brilhou, O passado marcante.

A solidão foscal, De um céu sufocante. Singelo brilhar, Solidão imposta, Insana.

Os Sinos de Blem

Sobre a Procissão do Círio de Nazaré em Belém do Pará

Meu Blem do Parar. Sinos mudos e surdos. Cantares, suores da Sé. Um braço índio a tocar.

Blem Blem. Blem Belém. Blem Blem.

A santa erguida, Os sinos Amém. Povo colorido, Surrado cativo.

Tem português rico, Penúrias do Porto. Se fez rei da festa, Encima do outro.

Tem Blem. Bem Tem. Tem Belém.

Caboclo explorado, Criança no colo. Promeça a "Virgê", Anjinho coitado.

Que Blem. Blem quem. Bem quem.

Promessa de braço, Cabeça, retrato. Casa, casamento. Encima dos barcos.

Tudo se ruma, Sem rumos, empurros. O pobre pisado, Cantando os agrados.

Tem fogo a fartura, À santa soltar. Maior é o gosto, Quem pode comprar.

Tem Bem. Blem Tem. Blem Blem.

Ambulante nas "Praça", Vendendo sustento. Pedindo um emprego, Pra "Virgê"atender.

Não tem. Tem Blem. Blem tem.

"Fundidos" se unem, Em um só Soar. Suaves surrados, Ruídos se vão.

Blem Belém. Blem Belém. Blem Blem ...(..)

Sem

Homenagem aos mortos em Eldorado dos Carajás em 1996. Sobre as passeatas que mobilizaram o País

Aqui alheia o coração de minha pátria, No alto pulsa o coração da burguesia. Somos restos vagando por becos, rodovias, Com a imensidão dos povos, noite e dia

Num país que reina a utopia, De um coração de eterna galhardia. Ditos escritos, Incertos conflitos.

Rota de luzente. Surge a foice. Surge armada. Heis a morte.

O que será? Será sem. A todas nossas vidas o que não será. Sem será?

O que importa a ilusão defronte a saga. Nas ruas só porém da margem esquerda. Índios, brancos, irmãos, companheiros. Hoje o luto cobre o mastro em sermões de tristes fatos.

Só não basta pintar caras, Mas as bundas talvez. Nas ruas, Pobres de todas as classes.

Do alto varandas, mangas, bustos, E como é lindo lá de cima. Eles lá, nos aqui. Em poses fecham as janelas.

Longe dos sem documentos, Vem-se o vento, O esquecimento, Sem terra.

Maria Sina

A mulher e a Periferia

Foi na praça onde te vi. Teu sorriso um eterno complôr. Meu vestido de chita rendado, Não exaltou teus suspiros. Foi num dia sete de agosto. Tu não eras tão moço ali. A barba crescia, Meus seios desciam.

E quanto tempo se passou. Dois, quatro, seis, dez. Os anos que a inocência fez. Agora exaltam o tempo que perdi aqui.

Num barraco, Subúrbio, lonas cobertas. Cozinho feijão. Cuido de João.

E tu meu querido sorriso da praça, Joaquim? Num boteco a beber. Cansado, pançudo, Nervoso, desempregado.

E eu a fazer. Da venda fiado, Pretexto furado. Mas eu a fazer.

Sua cama arrumar. Te esperar. Como a próxima sessão da tarde, Na tevê preto e branco das segundas mãos.

Mais ao menos que espere. O cheiro da cana exalo. A conta do bar dispara. E só assim tu vens a mim.

De tabefes me enches a cara. O amor, desejo, raiva, Se confundem no quarto, De madeira sofrida, quase caindo.

Lavo as roupas alheias, E peço a virgem minha vida mudar. Os dentes caidos, podres, Não revelam além procissão.

E passam doze, quinze, vinte, E não muda tal situação. Só as marcas de minha sina, E João que é da vida.

Penso, lavo, insisto, Espero a cova. As prestações estavam em conta, E o caixão é de lei

(..)

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