1-Dados sumários sobre o autor e a obra
Autor: Joaquim Manuel de Macedo
Título da obra: A Moreninha
Editora:
Ática
Edição: 30a
Ano:1844
Dados biográficos do autor
Romancista, poeta, historiador e dramaturgo fluminense (24/06/1820-11/04/1882). Sua vasta obra é uma crônica fiel da pequena burguesia brasileira na segunda metade do século XIX. Nascido em Itaboraí, torna-se figura obrigatória nas rodas literárias e nos salões elegantes do Rio de Janeiro. Alcança grande popularidade não só com os romances que escreve, mas também por seu prestígio pessoal. Além de escritor, é médico e professor, elegendo-se deputado em várias legislaturas. Juntamente com Araújo Porto Alegre e Gonçalves Dias, funda a revista Guanabara, prestigioso órgão de divulgação do Romantismo. É patrono da cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras. Consagra-se logo no primeiro romance A Moreninha (1844). No ano seguinte, publica O Moço Loiro. Outros romances seus são Rosa (1849), Vicentina (1853) e a Luneta Mágica (1896). Escreve várias peças para o teatro, entre ela O Cego (1849) e Luxo e Vaidade (1860). É autor também de duas obras autobiográficas de interesse histórico, Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro (1863) e Memórias da Rua do Ouvidor (1878). Perto de completar 62 anos de idade, morre no Rio de Janeiro, esquecido e pobre.
Resumo da obra
Augusto, Leopoldo e Fabrício estavam conversando, quando Filipe chegou e
os convidou para passar um fim de semana na casa de sua avó que ficava na
Ilha de Paquetá. Todos ficaram empolgados, menos Augusto. Filipe
comentou a respeito de suas primas e de sua irmã, que provavelmente
estariam na ilha. Foi quando surgiu uma discussão que deu origem a um
aposta; Filipe desafiou Augusto dizendo que se ele não se apaixonasse
por uma das moças ali presentes, no prazo de um mês, seria obrigado a
escrever um romance sobre sua história.
Passaram-se quatro dias, Augusto recebeu uma carta, que lhe foi entregue
por seu empregado Rafael, a mando de Fabrício. A carta dizia que o namoro
de Fabrício com D.Joaninha não estava indo muito bem, pois ela era muito
exigente. Ela fazia-lhe pedidos absurdos como escrever quatro cartas por semana
, passar quatro vazes ao dia em frente à sua casa e nos bailes ele teria
que usar um lenço amarrado em seu pescoço , da mesma cor da fita rosa presa a
seus cabelos. Terminando a leitura, Augusto começou a rir porque era ele
quem sempre aconselhava Fabrício em seus namoros.
Na manhã de sábado, chegou à ilha e encontrou seus amigos, que estavam a
sua espera. Entrando na casa, se dirigiu à sala e se apresentou, em seguida foi
procurar um lugar para sentar-se perto das moças. Foi então que ele se deparou
com D.Violante, que lhe ofereceu um assento. Ela falou por várias horas sobre
suas doenças, e perguntou o que ele achava. Augusto já irritado de ouvir
tantas reclamações, disse que ela sofria apenas de hemorróidas. D.Violante se
irritou, afirmando que os médicos da atualidade não sabem o que falam.
Fabrício chegou interrompendo a conversa e chamou Augusto para um diálogo em
particular. Os dois começaram a discutir sobre a carta, pois Augusto disse que
não pretendia ajudá-lo em seu namoro com D.Joaninha. Fabrício então
declarou guerra a Augusto.
Logo após a discussão, chegou Filipe chamando-os para o jantar. Na mesa, após
todos terem se servido, Fabrício começou a falar em tom alto, dizendo que
Augusto era inconstante no amor. Ele, por sua vez, não respondeu as
provocações, mas, na tentativa de se defender, acabou agravando ainda mais a sua
situação perante todos.
Após o jantar, foram todos passear no jardim e Augusto foi isolado por todas as
moças. Apenas D.Ana aceitou passear com ele. Augusto quis dar explicações
à D.Ana, mas preferiu ir a um lugar mais reservado. Ela sugeriu então que fossem
até uma gruta, onde sentaram num banco de relva.
Começaram a conversar e Augusto contou sobre seus antigos amores e entre eles do
mais especial, que foi aos treze anos, quando viajando com seus pais
conheceu uma linda garotinha de oito anos, com quem brincou muito na
praia, quando um pobre menino pediu-lhes ajuda. Eles foram levados a uma cabana
onde estava um velho moribundo a beira da morte. Sua mulher e seus filhos
estavam chorando. As crianças comovidas deram todo o dinheiro que possuíam à
mulher do pobre velho. O velho agradeceu e pediu de cada um deles um objeto de
valor. O menino deu-lhe um camafeu de ouro que foi envolvido numa fita verde e a
menina deu-lhe um botão de esmeralda que foi envolvido numa fita branca,
transformando-os em breves. O camafeu ficou com a menina e a esmeralda com o
menino.
Depois trocados os breves, o velho os abençoou e disse que no futuro eles
se reconheceriam pelos breves e se casariam. Foram embora e a menina saiu
correndo de encontro a seus pais sem ter revelado o seu nome, e a partir
daquele momento nunca mais se viram. Acabada a história Augusto levantou-se para
tomar água. Ao pegar um copo de prata foi interrompido por D.Ana que resolveu
lhe contar a história da gruta, que era a lenda de uma moça que se
apaixonara por um índio que não a amava e de tanto ela chorar, deu origem
a uma fonte, cuja água era encantada. Disse também que quem bebesse daquela água
teria o poder de adivinhar os sentimentos alheios e não sairia da ilha sem
se apaixonar por alguém. D.Ana explicou também que a moça cantava uma canção
muito bela, quando de repente eles escutaram uma linda voz. Augusto perguntou a
D.Ana de onde vinha aquela melodia e ela explicou que era Carolina que cantava
sobre a pedra de gruta e ele ficou
encantado.
Logo após o passeio, foram todos até a sala para tomar café e a Moreninha
derramou o café de Fabrício sobre Augusto. Ele foi se trocar no gabinete
masculino quando Filipe entrou e sugeriu que ele fosse se trocar no gabinete
feminino, para que pudesse ver como era.
Augusto aceitou e enquanto se trocava, ouviu vozes das moças que iam em direção
ao gabinete. Ficou apavorado, pegou rapidamente as roupas e se enfiou debaixo de
uma cama. As moça entraram, sentaram-se e começaram a conversar sobre assuntos
particulares. O rapaz ouviu toda a conversa e quase não resistiu ao ver as
pernas bem torneadas de Gabriela na sua frente. De repente ouviram um grito e
Joaninha disse que a voz parecia com a de sua prima D.Carolina. Todos saíram
correndo para ver o que estava acontecendo e Augusto aproveitou para terminar de
se trocar e saiu do gabinete para ver a causa daquele grito.
O grito era da Moreninha que viu sua ama D. Paula caída no chão, devido a alguns
goles de vinho que tomou junto do alemão Kleberc. D.Carolina não queria
acreditar que sua ama estivesse bêbada e levaram-na para o quarto. A
Moreninha estava desesperada quando Augusto, Filipe, Leopoldo e Fabrício
entraram no quarto e percebendo a embriaguez da velha senhora começaram a dar
diagnósticos absurdos. D.Carolina só acreditou em Augusto e não aceitou o
verdadeiro motivo do mau estar de sua ama. Todos saíram do quarto e se dirigiram
até o salão de jogos. Augusto foi conversar com D.Ana e perguntou sobre o
paradeiro da Moreninha. D.Ana disse que ela estava no quarto cuidando de sua
ama. Augusto foi até até o aposento e chegando na porta viu uma cena
inesquecível; ela lavava com suas delicadas mãos os pés de sua ama e ele
comovido se ofereceu para ajudá-la. Depois disso Augusto sugeriu que a deixasse
repousar pois no dia seguinte estaria bem.
D.Carolina foi se trocar para em seguida ir ao Sarau, colocou um vestido muito
bonito mas fora dos padrões normais, pois mostrava parte de suas pernas. Todos
queriam dançar com ela e Fabrício pediu-lhe a terceira dança, mas a garota
mentiu dizendo que iria dançar com Augusto. Ele por sua vez dançou com todas as
moças e jurou-lhes amor eterno, inclusive para a Moreninha. No fim da festa
Augusto encontrou um bilhete que estava em seu paletó, dizendo para ir à
gruta no horário marcado e logo após encontrou outro no qual dizia que aquilo
era uma armadilha.
No dia seguinte, Augusto foi até a gruta no horário marcado e encontrou as
quatro jovens e antes que elas pudessem falar, foram surpreendidas pelo rapaz
que contou cada uma o que ouvira no gabinete. As moças ficaram revoltadas e
depois de irem embora Augusto foi surpreendido pela Moreninha que começou a
contar a conversa dele com D.Ana. Mas primeiro ela tomou um copo da fonte e foi
por este motivo que Augusto ficou mais impressionado pois lembrou-se da lenda da
fonte encantada, e logo depois do susto, declarou-se a ela.
Depois de acabadas as comemorações, as pessoas voltaram para suas casas. Augusto
não se cansava de contar sobre D.Carolina para Leopoldo, que sempre dizia que
aquilo era amor. Os rapazes acharam conveniente visitar D.Ana, Augusto se
encarregou dessa tarefa no domingo.
D. Ana foi recebê-lo e contou-lhe que D.Carolina estava triste até saber se sua
vinda para a ilha. Durante o almoço Augusto viu um lenço na mão de
D.Carolina e adivinhou que ela o tinha bordado e após muita conversa
D.Carolina resolveu ensiná-lo a bordar.
Depois do almoço, Filipe e Augusto foram jogar baralho, quando ouviram o chamado
da Moreninha para a primeira aula de bordado. A lição acabou ao meio dia e
Augusto achou prudente ir embora, despediu-se de todos e combinou com
D.Carolina, que no domingo seguinte voltaria e traria o lenço já terminado.
No domingo seguinte, Augusto voltou até a ilha e levou o lenço totalmente
pronto, para que sua mestra pudesse o ver, ela não acreditou que ele fizera um
trabalho tão bem feito e começou a chorar, dizendo que ele tinha outra
mestra. Augusto tentou explicar-se de todas as maneiras possíveis, e disse que o
lenço fora comprado de uma velha senhora.
Depois de muita insistência a
Moreninha aceitou a situação, pois D.Ana disse-lhe que sua atitude era infantil.
Depois do incidente Augusto chamou a Moreninha para um passeio e percebeu que
ela estava um pouco nervosa, foi então, que ele perguntou-lhe se havia um amor
em sua vida, ela respondeu com a mesma pergunta e Augusto disse que o grande
amor de sua vida era ela. A Moreninha ficou imóvel e disse que o seu amor
poderia ser ele.
Augusto voltou para sua casa e foi proibido de voltar à ilha por seu pai pois
seus estudos estavam sendo prejudicados. D.Carolina não era mais a mesma desde a
partida de Augusto que agora estava em depressão. Seu pai, vendo que estava
prestes a perder seu filho, achou melhor que Augusto voltasse à ilha e
pedisse a mão da Moreninha em casamento.
Chegando próximo à ilha, viram a Moreninha cantando sobre a pedra, e ela ao
vê-los ignorou-os. D.Ana foi recebê-los e o pai de Augusto explicou a situação
se seu filho. Eles foram até a sala e de repente a Moreninha apareceu com seu
vestido branco chamando a atenção de todos, foi então que o pai de Augusto fez o
pedido diretamente a Moreninha, pois seu filho não tinha coragem o suficiente. A
moça ficou assustada e disse que daria a resposta mas tarde na gruta mas D.Ana
disse ao pai de Augusto que não se preocupasse, pois a resposta seria sim.
Augusto, ansioso, foi até a gruta e chegando lá encontrou a Moreninha, os dois
conversaram e ela perguntou se ele ainda amava a menina da praia. Ele disse que
não pois seu amor pertencia somente a ela. Ela disse que não poderia se casar
pois ele já estava comprometido com outra pessoa. Irritado, ao sair da gruta foi
surpreendido quando ela lhe mostrou o breve verde. Augusto não agüentou a emoção
e pegando o breve ajoelhou-se aos pés da Moreninha, começando a desenrolar o
breve reconhecendo o seu camafeu.
O pai de Augusto e D.Ana entraram na gruta e não entenderam o que estava
acontecendo, acharam que os dois estavam malucos e Augusto dizia que encontrara
sua mulher e a Moreninha por sua vez dizia que eles eram velhos conhecidos. Logo
após Filipe, Leopoldo e Fabrício viram a alegria do novo casal, mas Filipe foi
logo dizendo que já se passaram um mês, Augusto perdera a aposta e deveria
escrever um romance.
Augusto surpreende a todos dizendo que o romance já estava pronto e se
intitulava A Moreninha.
2-Personagens
As personagens mais importantes são Augusto e Carolina.
A personagem que mais nos chamou atenção foi Augusto que era um estudante de
medicina alegre, jovial e inconstante em seus amores. Este personagem nos chamou
mais atenção porque o autor lhe confere complexidade já que no início da
história o personagem é descrito de uma forma e no final dela é descrito de
outra.
A personagem central é D.Carolina, menina de quatorze anos , possuía
cabelos negros, olhos escuros, era travessa, inteligente, astuta e persistente
na obtenção de seus intentos.
3-Enredo
O enredo apresenta unidade e organicidade pois a história possui início, meio e
fim.
O clímax do enredo ocorre quando D.Carolina revela a Augusto, ao deixar cair um
breve contendo um camafeu, que é a mulher a quem ele tinha prometido se casar na
sua infância.
O desfecho dá-se no final da história.
4-Ambiente
O tipo de ambiente predominante é físico. Foram encontradas algumas descrições interessantes, a que mais nos agradou foi: "A Ilha de... é tão pitoresca como pequena. A casa da avó de Filipe ocupa exatamente o centro dela. A avenida por onde iam os estudantes a divide em duas metades, das quais a que fica à esquerda de quem desembarca, está simetricamente coberta de belos arvoredos, estimáveis, ou pelo aspecto curioso que oferecem. A que fica à mão direita é mais notável ainda; fechada do lado do mar por uma longa fila de rochedos e no interior da ilha por negras grades de ferro, está adornada de mil flores, sempre brilhantes e viçosas, graças à eterna primavera desta nossa boa Terra de Santa Cruz."
5-Tempo
A seqüência narrativa e a ação dos personagens se dão em tempo cronológico pois ocorrem em três semanas e meia.
6-Foco Narrativo
A narração é feita em 3a pessoa, narrador onisciente. A importância para a obra e a repercussão no leitor é que a utilização deste tipo de narrador causa o aprofundamento psicológico das personagens, o que não ocorreria se o narrador não fosse onisciente ou em 1a pessoa.
7-Verossimilhança
A obra retrata uma realidade presente do autor fantasiada.
8-Escola Literária
A obra retrata as características do movimento literário a que pertence à medida
que possui espírito romântico (final feliz), nostalgia medievalista
(indianismo), idealismo, culto à natureza, cristianismo (Festa de San’t Ana),
sentimentalismo, linguagem popular e liberdade criadora.
As citações encontradas que comprovam algumas características citadas são:
"--Estou habilitado para convidá-los a vir a passar a véspera e dia de San’t Ana
conosco, na ilha de..." e "Mas Ahy era tão formosa e sua voz tão sonora e
eterna, que o mesmo não pôde vencer do insensível moço, pôde do bruto rochedo;
com efeito, seu canto havia amolecido a rocha e as suas lágrimas a
transpassaram."
Na obra não há fugas dos padrões próprios da escola.
9-Mensagem
A mensagem descoberta foi que não devemos subestimar nossos sentimentos pois estes mudam com o tempo. A mensagem da obra contribuiu para o nosso enriquecimento cultural à medida que houve a aquisição de uma nova experiência de vida e assimilação de valores de uma época. A mensagem provocou reflexões sobre o verdadeiro sentido do amor.
10-Conclusão
Valeu a pena ler a obra porque a leitura foi interessante e agradável por provar
mais uma vez a importância da redescoberta dos valores mais puros, honestos e
genuínos presentes na alma do ser humano. A importância da obra dentro do
Romantismo foi ter sido a primeira obra expressiva deste movimento literário no
Brasil. O tema é a fidelidade a um
amor de infância. A obra tem valor para o
nosso tempo pois resgata sentimentos como honra, fidelidade e amor que não são
muito valorizados totalmente.