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Comparação da precisão de dois métodos
É prática comum a necessidade de comparar dois métodos, não apenas relativamente aos erros sistemáticos mas também às respectivas precisões. Efetuando n replicadas da análise de um determinado produto, o desvio padrão obtido por cada método, pode ser comparado, permitindo por hipótese sobre as respectivas características dos procedimentos. Mesmo quando se trata de comparar a acurácia de um método, relativamente a outro, vimos num exemplo anterior que para aplicação do teste era necessário verificar previamente a hipótese de homogenidade de variâncias.

Sob a hipótese de normalidade e homogenidade de variâncias a estatística S12/S22, tem uma distribuição F com n1-1,n2-1 graus de liberdade. Deve escolher-se as amostras 1 e 2 de forma a que vobs seja maior que 1. Sob a hipótese nula o quociente entre os desvios padrões deverá ter um valor aproximadamente igual a 1. Desvios significativos deste valor dificilmente poderão ser explicados por erros aleatórios indicando que a hipótese nula deve ser rejeitada.

teste F

Exemplo: ( Analyst 1982, 107, 1047 , D. Ballinger, A. Lloyd , A. Morrish) Um método proposto para a determinação do consumo químico de oxigênio em águas residuais foi comparado com o método de referência (método do sal de mercúrio). Os resultados seguintes foram obtidos para uma amostra de esgotos. Foram feitas 8 determinações.

Método Média Desvio padrão
Standard 72 3.31
Proposto 72 1.51
Poderá concluir-se que a precisão do método proposto é significativamente maior do que o método padrão?

Ho : 12= 22 vs H1: 22>12
vobs: (3.31)2/(1.51)2 = 4.8
f(7,7) 0.95= 3.79

Como o valor observado excede o quantil relativo ao valor 0.95 da função de distribuição rejeita-se a hipótese nula.

Teste relativo à precisão de um método por comparação com um valor hipotético
No caso de queremos por a hipótese de um método ter um grau de precisão, dado em termos do desvio padrão , igual a 0, a estatística conveniente será obtida por comparação do desvio padrão amostral com este valor teórico. Sob a hipótese de normalidade, o quociente entre o desvio padrão da média de n variáveis aleatórias, e o desvio padrão teórico dessas variáveis, multiplicado por n-1 tem uma distribuição qui-quadrado com n-1 graus de liberdade. Tomando o produto de n-1 pelo quociente entre s2 e 0, esperamos sob validade da hipótese posta que este valor se encontre dentro de limites "prováveis" de uma distribuição qui-quadrado com n-1 graus de liberdade.

Teste Q

Exemplo: Relativamente ao método testado do exemplo anterior e supondo verificada a hipótese de normalidade das observações, poderíamos, sem fazer qualquer comparação com outro método simplesmente testar a hipótese do erro aleatório ser inferior a 3.
Ho: 2= 02 vs H1: 2< 02

qobs = (1.512/32).7=1.77
f(7)0.05=2.17

Como 1.77<2.17 rejeitamos a hipótese do desvio padrão ser igual a 3 aceitando a hipótese alternativa.

Comparação de médias de observações
Para a avaliação da acurácia e precisão de um método referimos uma série de testes, que nos permitiam fazer comparações com valores estipulados, ou com resultados de observações para outro teste. Foi no entanto realçada que à validade ou não da hipótese posta, estava subjacente um caráter específico do método, relativo apenas à experiência que conduziu à obtenção da amostra. Ou seja, se um determinado composto foi usado, as hipótese são válidas para esse composto. Se a generalização não é posta em causa ou o método é específico para o tipo de amostra, então a hipótese considerada não necessita de corroborações adicionais e os procedimentos descritos são perfeitamente válidos.

Vimos igualmente, para o caso de comparação de duas amostras que podíamos utilizar amostras de diferentes concentrações desde que o erro não fosse dependente dessa mesma concentração. Se assim não for, e o método deva ser testado para uma grande amplitude de amostras tipo, podíamos conceber para cada uma, em separado, um teste. Este processo pode não ser prático, exigindo um grande esforço de análise.

Deste modo torna-se inequívoca a necessidade de outra metodologia quando a variabilidade deva ser testada relativamente aos erros aleatórios e a outro fator adicional. Precisamente o método que se descreve em seguida, permite-nos comparar resultados obtidos quando não apenas o erro aleatório está a ser considerado, mas quando existe um outro fator que pode ser preponderante na explicação da variabilidade, a ANÁLISE DE VARIÂNCIA, normalmente descrita por ANOVA. Esta metodologia é uma poderosa ferramenta na análise estatística subjacente à experimentação. Ilustrações da sua aplicabilidade são por exemplo as seguintes situações, relativas à comparação:

Em todas as situações descritas existem duas fontes de variação. Uma sempre presente, relativa ao erro inerente às medições efetuadas, outra que pode ser classificada de duas formas: fator controlado ou de efeito fixo, como nas três primeiras situações (armazenamento, método, analista), ou fator de efeito aleatório ( amostragem).
One-Way ANOVA
A tabela seguinte indica os resultados obtidos num estudo sobre a estabilidade de um reagente fluorescente armazenado em diferentes condições. Os resultados apresentados são relativos ao sinal de fluorescência de soluções diluídas de igual concentração. Foram efetuadas três replicadas para cada amostra.
condições de armazenamento replicadas médias
A- Preparado fresco 102,100,101 101
B- guardado 1 hr no escuro 101,101,104 102
C- guardado 1 hr a meia luz 97,95,99 97
D- guardado 1 hr em luz forte 90,92,94 92
média global 98
A tabela mostra que as médias para cada grupo são diferentes. Ainda que esta diferença possa ser explicada em parte por erros aleatórios, queremos determinar até que ponto estes são explicativos, ou se a diferença não será significativa podendo ser justificada pelo fator controlado, neste caso a luminosidade. Se tivermos em a soma dos quadrados dos desvios totais, SST:


SST = SSE + SSR

Consideremos um caso geral de p amostras de dimensão ni num total de n observações:

significa que a variabilidade total pode ser decomposta numa soma que explica :

SSE -> a variação aleatória global soma da variação dentro de cada amostra

SSR -> a variação entre amostras

Relativamente aos graus de liberdade de cada estatística,

Podemos estudar a distribuição das médias dos desvios quadrados

Vamos analisar em detalhe o modelo que está subjacente aos dados, realçando antes a diferença entre um modelo de fator fixo e aleatório.

Exemplo: Suponhamos que se pretendia realizar um estudo comparativo para um grupo de laboratórios perfeitamente definido, a fim de identificar o viés analítico inter -laboratorial . Este modelo corresponde a um modelo de fator controlado, ou fixo. O modelo é assim estabelecido uma vez que a variabilidade tem duas componentes, uma relativa ao erro aleatório, intra-laboratórial, e outra fixa , resultante de variação inter-laboratórial, que está definida apenas para o grupo em estudo. Se no entanto o estudo fosse relativo a todos os laboratórios, a dimensão elevada dos mesmos não permitiria um censo, sendo escolhida uma amostra aleatória de laboratórios onde o estudo seria efetuado. Neste caso referimo-nos a um modelo aleatório porque além do erro aleatório, igualmente presente no modelo anterior, intra -laboratorial, existe um outro fator também aleatório, resultante igualmente da variação entre laboratórios. A diferença fundamental reside no fato de se estudar um grupo perfeitamente definido, para o qual pode ser formalizada como uma constante, a componente descritiva de cada elemento do grupo ou essa componente é uma variável aleatória resultante da escolha de uma amostra para representar uma população.µ

.....

O outup de ANOVA para o exemplo descrito (MINITAB)

ANALYSIS OF VARIANCE
SOURCE      DF        SS        MS        F     p
FACTOR       3    186.00     62.00    20.67    0.000
ERROR        8     24.00      3.00
TOTAL       11    210.00
         INDIVIDUAL 95 PCT CI'S FOR MEAN  BASED ON POOLED STDEV
 LEVEL      N      MEAN     STDEV  ------+---------+---------+---------+
    C1      3    101.00      1.00                           (----*-----) 
    C2      3    102.00      1.73                       (-----*-----) 
    C3      3     97.00      2.00               (----*-----) 
    C4      3     92.00      2.00  (-----*-----) 
                                   ------+---------+---------+---------+
POOLED STDEV =       1.73              92.0      96.0     100.0     104.0
Como p<0.05 rejeitamos a hipótese de igualdade de v. médios

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